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Adolescente: vale a pena trabalhar? PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Geraldo Caliman   
Qua, 18 de Agosto de 2004 21:00

O trabalho sempre foi visto como um recurso para a educação dos jovens. Se de um lado, até educadores historicamente justificaram o trabalho como um recurso positivo no itinerário formativo, por outro, nos perguntamos hoje: vale a pena o trabalho de crianças e adolescentes?

Vejamos alguns elementos que nos ajudam a encontrar uma resposta adequada a esses questionamentos.

Antes de tudo, estamos falando aqui de trabalho infantil, isto é, trabalho de crianças e adolescentes: durante um período da vida que deveria ser dedicado ao crescimento físico, intelectual, emocional, cultural, social etc.

Em segundo lugar estamos falando de trabalho, e trabalho aqui significa uma atividade "produtiva" que serve para remediar a própria sobrevivência, para contribuir com a renda familiar através de serviços na rua (vender fruta, engraxar sapatos, vigiar carros etc.), em casa ("ajudar" os pais na fabricação de sapatos, de tapetes, na oficina...), na casa dos outros (doméstica, baby siters...), na roça (nas carvoarias, nas colheitas...), nas fábricas (de tijolos, de bola e de produtos os mais diversos etc.).

Segundo uma estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem cerca de 250 milhões de menores trabalhando pelo mundo afora. Muitos deles em atividades produtivas que eu chamo de "ladronas" porque roubam os bens mais preciosos das crianças e adolescentes. São aquelas atividades produtivas que exigem muito esforço físico e portanto, roubam a possibilidade de um crescimento físico normal; que demandam muito tempo e portanto, roubam o tempo que deveria ser dedicado à aprendizagem de outras coisas (valores, liderança, o que é certo e o que é errado, o senso dos limites, a capacidade de cooperar com os outros etc.); que roubam o tempo livre (diversão) de maneira que não sobra tempo nem para brincar, jogar, estar junto com os outros; que roubam o tempo da escola e portanto, impedem que as crianças se desenvolvam na área das habilidades e dos conhecimentos essenciais para a vida e impedem que elas possam construir um futuro melhor que o dos seus pais; que roubam a possibilidade de um desenvolvimento psíquico e emocional porque em muitos casos essas crianças e adolescentes acabam ficando sempre em companhia de adultos no ambiente de trabalho e perdem a oportunidade de conviver e socializarem-se com os amigos. A lista desse roubo é grande e não cabe aqui.

E então, se o trabalho rouba tantas preciosidades das crianças e adolescentes, ele é sempre prejudicial? Ressentindo-se desse dilema, um relatório anual do UNICEF de 1997 (pg. 24) dizia o seguinte: "Por um lado o trabalho é positivo, enquanto favorece ou melhora o desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral ou social da criança, sem atrapalhar a escola, os momentos de diversão e de repouso. Por outro lado o trabalho infantil tem um potencial de destruição e de exploração".

Por isso é preciso distinguir entre o tipo de trabalho que pode beneficiar (trabalho educativo) e aquele que tende a explorar (intolerável). Entre esses dois extremos existem muitos tipos de trabalho que podem prejudicar porque exploram ou "roubam" qualquer coisa das crianças e adolescentes: são os trabalhos que ocupam as crianças e adolescentes o dia inteiro; que exigem um elevado número de horas de trabalho por dia; que exercem pressão física, social ou psicológica; que mantém as crianças na rua em más condições; que pagam um salário inadequado; que sobrecarregam as crianças e adolescentes com uma de responsabilidades para as quais eles não estão preparados; que impedem de frequentar a escola; que comprometem a dignidade e a auto-estima (casos de escravidão, trabalho forçado, exploração sexual); que prejudicam o desenvolvimento social e psicológico.

No meu modo de entender o trabalho produtivo para crianças e adolescentes até 13 anos é um mal, um abuso, e deve ser proibido e abolido. Para adolescentes / jovens (da faixa de idade entre 14 e 17 anos) o trabalho pode ser considerado um mal-menor, ou seja, uma situação que a sociedade pode tolerar sob certas condições: a primeira condição é de que seja um trabalho que respeite os critérios que vimos no parágrafo anterior; uma segunda condição é que seja um trabalho educativo no sentido que seja monitorado por uma instituição educativa e pelos pais com a finalidade de, ao mesmo tempo que possa gerar uma renda para ajudar em casa, ajude o adolescente no seu crescimento físico, intelectual, vocacional, humano, etc.

Para os jovens, (18 anos pra cima) o trabalho não é somente recomendável, mas é uma necessidade. O jovem, podendo, deve sempre dar prioridade aos estudos e à formação; quanto mais tempo dedicado para a formação e aos estudos, mais probabilidade ele terá de encontrar um trabalho qualificado e rentável.

Portanto, a resposta à pergunta "se vale à pena o trabalho para crianças e adolescentes" não assim tão fácil. Precisamos lutar contra o trabalho infantil porque ele rouba oportunidades preciosas para o crescimento físico, cognitivo, afetivo e social das crianças. Precisamos regulamentar o trabalho dos adolescentes de modo que ele seja executado dentro de condições aceitáveis e de um equilíbrio entre a dimensão educativa e a dimensão produtiva do trabalho. Precisamos dar oportunidade para que os jovens possam se preparar bem (culturalmente, profissionalmente, humanamente e cristãmente) para o mercado de trabalho. Na esperança de que os governos providenciem oportunidades de trabalho para eles.

 

Autor deste artigo: Geraldo Caliman - participante desde Sex, 13 de Agosto de 2004.

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