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Edições Anteriores 39 A dimensão ética na educação a distância
A dimensão ética na educação a distância PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Leonardo José Melo Brandão   
Qua, 17 de Novembro de 2004 21:00

O Brasil enfrenta, dentre tantos outros, um desafio de importância capital para seu futuro: promover a universalização do ensino, considerando que esta expressão tão em voga, universalização, deveria ser sempre compreendida como a oferta, a qualquer brasileiro, de qualquer idade, independente de sua condição sócio-econômica ou localização geográfica, de algo que é seu por direito e previsão constitucional, um ensino de qualidade.

Como, afinal, combater e vencer os inúmeros obstáculos que impedem que a população usufrua de um ensino adequado, base necessária para que todo e qualquer plano de inclusão social deixe de ser paliativo e torne-se efetivo, com resultados perenes, e que indiquem evolução, e não retrocesso ou estagnação?

Hoje cada vez menos basta a alfabetização tradicional, e é cada vez mais necessário o contato e o domínio das tecnologias que transformam veloz e inexoravelmente nossa realidade, e vendo que já não basta a mera posse de um diploma universitário como chave para ingresso e ascensão em mercados de trabalho crescentemente exigentes quanto à qualificação de mão-de-obra, nos contam os estudos amplificados pelas notícias de jornais.

Como, então, superar as deficiências da educação brasileira em todos os seus níveis - básico, intermediário e superior?

Se alargamos nossa análise, e nos debruçarmos para além da questão da empregabilidade no ambiente globalizado, a questão ganha tons ainda mais urgentes: se nossa sociedade é informacional, a incapacidade de apreender, lidar, criticar e gerar informação é fator de desqualificação do ser humano, e portanto é também raiz para uma segregação impiedosa, muitas vezes cinicamente ignorada.

E a parcela dos estudantes que se vê alijada deste mundo informacional é exatamente a parcela que, não tendo outra opção por restrições econômicas, vale-se da educação pública.

No ensino público, escolas de ensino fundamental recebem alunos que já carregam o ônus de uma alimentação inadequada, geradora de problemas de aprendizado. Confrontados diariamente por um mundo de consumo sedutor, mas via de regra completamente inacessível, alunos que muitas vezes não possuem estrutura familiar adequada que os apóie, e não têm exemplos de quem vença pelo estudo a seguir, passam a apostar seus sonhos - e a cevar suas futuras frustrações - na trilha do sucesso rápido de alguns poucos jogadores de futebol ou músicos de sucesso, ou nos caminhos da criminalidade, especialmente do tráfico de entorpecentes.

Qualquer que seja, nenhuma das opções que aparentemente lhes assegurará riqueza e poder demanda esforço nos bancos escolares...

As escolas de ensino médio, ensino técnico, herdeiras destes problemas, às vezes amplificam as deficiências nascidas na etapa anterior, além de a estas acrescentarem outras, novas e exclusivamente "suas".

Não por outras razões o aluno de escolas públicas de ensino básico e médio, no Brasil, tem dificuldades significativas, e infelizmente, na maior parte dos casos quase intransponíveis, para obter acesso a universidades públicas - que também agravam e geram deficiências na formação de seus estudantes.

No caso de estabelecimentos de ensino particular, se ausentes alguns dos problemas que afetam o desempenho do aluno de escola pública, temos presentes problemas comuns a esta, inclusive quanto à má formação de professores.

Ou seja, em maior ou menor grau padece o país de sérios problemas no setor educacional.

Neste cenário, a educação a distância ganha extrema importância, não como uma panacéia que resolverá os tantos problemas de ensino do país, mas como forma alternativa de combate a diversas das mazelas da área educacional.

A educação a distância pode servir como um novo movimento em direção à cura e recuperação do sistema educacional brasileiro que, enfermo, afeta de maneira negativa o potencial de desenvolvimento do país, e impede a construção de uma sociedade que, por nossa Constituição, se pretende seja livre, justa e solidária.

Pela sua importância, e pelo potencial que representa, a educação a distância não pode prescindir de compromisso com o aperfeiçoamento e com a ampla aplicação dos instrumentos tecnológicos em constante evolução, viabilizadores de uma nova forma de ensino que, em soma aos métodos tradicionais, componha uma ação transformadora da vida de quem hoje anda à margem das oportunidades de nossa sociedade, ou que para esta excludente condição se encaminha.

Não podemos nos contentar com a simples substituição, pelo avanço tecnológico, dos métodos ancestrais de ensino à distância, suportados pelo envio de material pelo correio, ou pela comunicação unidirecional dos cursos televisivos, onde a participação do aluno é sobretudo como receptor passivo de informações, de quem se exige, afinal, tão somente preencher testes e formulários padronizados.

E a educação a distância, pelo que representa como possibilidade de fermento para a evolução do país, demanda uma atuação ética por parte de todos os que com ela pretendam lidar - Governos, escolas, professores, alunos, que se realize para além das normas legais existentes, e se cristalize em compromisso com o desenvolvimento do setor de ensino brasileiro.

Ao Poder Público, então, cabe criar políticas que sejam passíveis de efetiva concretização, e que não existam unicamente no plano das idéias e das normas. É importante, por exemplo, que sejam geradas condições para que as escolas e os alunos possam ter acesso efetivo - o que inclui o aspecto qualitativo - à tecnologia que hoje afeta nosso cotidiano, por meio de iniciativas que permitam a inclusão digital das parcelas mais carentes da sociedade.

A partir da flexibilidade concedida à imaginação pela tecnologia, e reconhecendo as diversidades sócio-econômicas do país, o Poder Público deve ser capaz de moldar, e facilitar que outros agentes moldem, espaços de educação, que atendam às diferentes necessidades, que geralmente exigem diferentes formas de satisfação, não pretendendo erguer um modelo único e rígido de educação a distância.

Devem ser criados, pelos órgãos públicos competentes, crivos claros e racionais, para que seja feita a análise dos cursos que venham a ser oferecidos, crivos estes severos o suficiente para que seja assegurada, preservada, a qualidade
indispensável para certificar a tais cursos valor e confiabilidade, mas crivos flexíveis em medida suficiente para não excluir, por excesso de rigorismo e burocracia, quem demanda exatamente inclusão.

O Governo federal, principalmente via Secretaria de Educação a Distância (SEED), ligada ao Ministério da Educação e Cultura, por exemplo, desenvolve políticas voltadas à educação a distância, traçando metas e criando regras, o que mostra percepção da importância e das possibilidades desta forma de ensino.

Pois que a sociedade inclua entre seus deveres éticos colaborar, sugerir e cobrar que as iniciativas governamentais não sejam estéreis.

Alunos devem perceber a educação a distância como a oportunidade de aprendizado, de reciclagem, de aperfeiçoamento, de interação com um mundo que gera informações incessantemente, e que espera que os que nele transitem saibam se informar.

Ver a educação a distância como oportunidade de realização de um curso sem o compromisso de uma presença em sala de aula, sem a convivência com o ambiente escolar, sem a cobrança que se presume seja maior no ensino presencial é retirar a credibilidade do ensino a distância, prejudicando-lhe o desenvolvimento e encurtando-lhe as possibilidades.

A ética, para o aluno, cristaliza-se na adesão sincera a um projeto de educação do qual ele deve ser personagem ativo, assim contribuindo para que o ensino a distância se aperfeiçoe, se expanda, seja entendido como forma viável de educação, e não se transforme em uma falsificação "virtual" canhestra do já combalido sistema educacional existente.

Educação a distância, para quem dela vai ser o principal alvo e beneficiário, não pode, jamais, ser sinônimo de educação sem cobrança, educação sem compromisso, uma "não educação".

Professores devem acreditar na viabilidade da implementação e utilização de novas ferramentas que, muito mais do que lhes propiciar ganho de tempo, praticidade, celeridade ou outro dos frutos do avanço tecnológico, lhes permitirá cumprir melhor a missão de educar com mais eficácia e abrangência, dialogando com quem hoje não tem acesso às escolas.

Não há ética na atuação do docente que não se compromete com sua missão, e restringir seu compromisso às formas tradicionais de educação, tendo acesso à educação a distância, é fraudar este compromisso.

E é também fundamental que o professor veja na educação a distância a oportunidade de seu próprio aperfeiçoamento e reciclagem, como novas oportunidades de um aprendizado que afinal, espera-se, traduzir-se-á em uma elevação do nível geral das aulas ministradas.

As instituições de ensino por fim, só poderão qualificar como éticas suas ações no campo da educação a distância se, cumulativamente, souberem que esta forma de ensino não é apenas uma maneira de redução de custos e de maximização de ganhos, mas sim uma nova porta de entrada, franqueada àqueles que hoje estão à margem do processo educacional.

O compromisso ético das escolas deve se manifestar na formação adequada de professores, habilitando-os a não apenas dominar o conteúdo das disciplinas, mas a obterem, das tecnologias a serem manejadas, o melhor resultado possível, seja em estudos e pesquisas particulares, seja na comunicação com seus alunos, com outros professores e com as próprias instituição de ensino.

Sem que haja o envolvimento de todos, e caso este envolvimento não seja marcado pela ética que deveria condicionar a atuação de todos os envolvidos com ensino, corre-se o risco do mau uso da educação a distância.

E, uma vez mais, haverá o descumprimento do dever de levar educação de qualidade a quem dela tanto necessita, como passo em direção a uma vida digna.


 

Autor deste artigo: Leonardo José Melo Brandão - participante desde Qui, 23 de Setembro de 2004.

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