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Escrito por Alan Henrique Pardo de Carvalho   
Qua, 02 de Março de 2005 21:00

Como coordenador de cursos e professor no ensino superior (apesar de que há bem menos tempo do que diversos colegas na instituição onde atuo), tenho me deparado com uma questão que pode parecer à primeira vista "infantil" ou "juvenil" já que estamos nesse nível de ensino: as faltas e atrasos de nossos alunos.

Sei que existem posições diversas a respeito e que se trata de um tema controverso, mas sei que muitos professores se preocupam com isso e tentam sensibilizar os alunos a respeito de diferentes formas. A intenção deste texto é apresentar uma delas, que não se supõe ser a melhor e nem a pior. É apenas uma forma de encarar o problema.

Deixando de lado a questão do limite de faltas determinado pela legislação educacional, sabemos que existem situações em que os alunos acabam não conseguindo deixar de faltar a uma ou mais aulas, ou mesmo não conseguem chegar no horário determinado para o início das atividades e até precisam sair mais cedo. Obrigações profissionais de última hora, trânsito, dependência do transporte coletivo, distância do local de trabalho ou residência das instituições onde estudam são alguns dos fatores que se pode apontar à primeira vista. Imprevistos também acontecem, como emergências familiares ou profissionais, por exemplo.

Para o "trabalhador-aluno" essas situações podem ser consideradas até mais penosas, pois o trabalho é a prioridade para eles (muitos são responsáveis pelo sustento de seus lares ou contribuem significativamente para isso) e vêem o estudo como o caminho para seu progresso pessoal e profissional, dedicando o pouco tempo de que dispõem ao seu curso e, às vezes, sacrificando noites de sono ou finais de semana em função das atividades que necessitam cumprir para o desenvolvimento de seus estudos. Muitos ficam "entre a cruz e a caldeirinha" na hora de tomar certas decisões.

Sabemos também que existem dias em que simplesmente não se tem vontade de ir às aulas, de respeitar seu horário de início e término ou de acompanhar as atividades e isso ocorre por razões diversas, não cabendo aqui uma discussão a respeito. Apenas "bate" à vontade e pronto. Ressalto que não é o caso de condenar ninguém por tomar esse tipo de decisão e nem é esse o motivo de ter levantado essa questão.

Quero apenas discutir sobre o quanto se perde com isso e vejo dois lados muito bem definidos: um é o financeiro (e estou tratando aqui apenas da realidade das instituições privadas, já que nas públicas não é o aluno - ou seus pais - o responsável pela contrapartida ao serviço educacional prestado, mas sim a sociedade).

Sobre o primeiro, a percepção que tenho é a de que cada vez mais temos alunos preocupados com o retorno daquilo que investem (a relação custo x benefício) - e novamente destaco que para vários é sacrificante esse investimento -, pois hoje o nível superior já não é mais um diferencial e sim um pré-requisito para a sobrevivência profissional em muitas carreiras.

Além disso, a necessidade da educação continuada tem feito com que muitos voltem às instituições para cursos de pós-graduação, seqüenciais ou até mesmo uma segunda graduação. Muitos alunos sentem-se como consumidores e reclamam quando algo lhes falta, seja em termos pedagógicos ou sobre qualquer outro aspecto que os incomode em relação à sua vida acadêmica.

Aproveitando esse espírito de relação "mercadológica" imposto cada vez mais pelos alunos às instituições, quantas vezes o aluno já parou para pensar em quanto perde financeiramente ao não estar nas aulas todos os dias e nos horários estipulados, ou mesmo em não participar de uma atividade? Existem diversas formas de saber e creio que valha à pena demonstrar uma.

Num exemplo hipotético, se o aluno paga R$ 700,00 mensais para a instituição, em um semestre terá pago R$ 4.200,00. Supondo que nesta instituição um semestre letivo tenha 400 horas-aula, o aluno perderá R$ 10,50 por hora. Um dia de quatro horas-aula perdidas corresponde a R$ 42,00, o que corresponde a mais de 15% do salário mínimo atualmente em vigor. Há famílias no Brasil, e não são poucas, em que a renda mensal per capita pode não chegar a quatro horas-aula perdidas pelo aluno dessa instituição.

E se o aluno falta os 25% da carga horária por disciplina facultados pela legislação ao final de um semestre de 400 horas-aula terá faltado 100 horas, ou R$ 1.050,00. Isso sem contar possíveis reprovações por excesso de faltas que acarretarão a necessidade do aluno ter de cursar aquela disciplina novamente, pagando por isso. Ao final de um curso de quatro anos serão pelo menos R$ 8.400,00 (!) que o aluno terá perdido, pois teve de investir da mesma forma e não terá como se beneficiar do serviço educacional prestado durante aquele período.

Aí entra o segundo lado da questão que para mim é bastante claro: o que é o "serviço educacional"? Quantas vezes o aluno já parou para pensar em quanto perde "intelectualmente" (não achei um termo melhor) ao não estar nas aulas todos os dias e nos horários estipulados? Aqui a história é completamente diferente, pois não se trata apenas do conteúdo abordado (isso o aluno pode perguntar ao professor ou aos colegas e ler num outro dia), mas da aula.

E a aula é muito mais do que o conteúdo puro e simples, pois para esse não precisamos de professor, nem de alunos, nem de sala de aula, nem de instituições. É a experiência que o professor tem sobre aquele assunto, que compartilhou com os alunos e com isso enriqueceu a aula e que aquele que faltou não terá mais como aproveitar.

É a experiência dos outros alunos, que pode surgir quando um comenta sobre como uma determinada questão é tratada na empresa em que atua e a partir daí a discussão se enriquece. Isso o aluno que faltou ou não esteve na discussão não terá mais como participar.

São as perguntas formuladas pelos alunos durante a aula, que podem levar todos a pensarem naqueles assuntos abordados de outra maneira e até a encontrar soluções criativas e inovadoras para determinados problemas. Isso não pode ser recuperado pelo aluno que faltou ou não acompanhou a discussão.

São as dinâmicas conduzidas pelo professor ou a exibição de filmes ou trechos de filmes, atividades que se bem aplicadas contribuem consideravelmente para o desenvolvimento de um assunto. O aluno que não participou, pois não estava lá (em corpo ou em alma), não tem mais como se beneficiar da experiência vivida naqueles momentos, das discussões decorrentes.

Às vezes o professor pode trazer um outro profissional daquela área como palestrante convidado, que poderá também contribuir com seu conhecimento e experiência não só com a apresentação propriamente dita, mas abrindo um debate com a turma no qual alunos, professor e palestrante discutirão o assunto, levantarão questões, concordarão ou discordarão das posições apresentadas e tudo isso contribui para o desenvolvimento do assunto. Mas o aluno que não esteve presente a essa atividade não tem mais como aproveitar-se do que foi discutido para aumentar sua compreensão sobre o assunto.

Ou seja, cada aula é um momento único, no qual a interação entre o professor, o conteúdo e os alunos provoca situações que não serão vividas novamente, sensações e sentimentos particulares, discussões que não se repetirão, piadas que serão contadas apenas uma vez. O conhecimento é desenvolvido, é criado, é construído a partir dessa interação, dessa vivência, da internalização e transformação de tudo o que ocorre durante as aulas (e depois, quando os alunos continuam a pensar em tudo o que aconteceu, em tudo o que foi discutido).

E o conhecimento é algo bem diferente do que simplesmente ler um trecho de um livro, uma apostila ou um slide de apresentação preparado pelo professor para tentar absorver o conteúdo perdido. É possível que alguém que não participe dessa vivência construa seu conhecimento sobre o assunto de uma disciplina? Sim, mas não será a mesma coisa, não com a mesma riqueza.

Muitas vezes, para vender uma idéia, um produto ou um serviço, a estratégia adotada é a de mostrar o quanto o outro está perdendo sem aderir àquela idéia, sem adquirir o produto ou serviço que se deseja oferecer. Isso dá certo em alguns casos, já que poucas pessoas gostam de perder (eu, pelo menos, não conheço nenhuma). Talvez seja uma estratégia que possa ser adotada pelos professores que se preocupam com isso e cada um pode encontrar diferentes maneiras de mostrar esses aspectos aos seus alunos e gerar uma discussão a respeito.


 

Autor deste artigo: Alan Henrique Pardo de Carvalho - participante desde Qui, 11 de Novembro de 2004.

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