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Qualidade de Ensino e Escola Ciclada |
Escrito por Renata Cabrera |
Qua, 02 de Março de 2005 21:00 |
Desde que surgiram as experiências mais expressivas de organização curricular por ciclos, na década de 90, elas têm sido alvo de crÃticas e debates por parte dos mais diversos setores da sociedade. De modo geral, as crÃticas convergem no sentido da "desresponsabilização" com a qualidade do ensino, ao permitir a progressão continuada dos alunos ao longo da sua escolaridade. Nos últimos dias, a discussão voltou à tona porque o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) divulgou um relatório parcial de uma pesquisa que vem desenvolvendo com os pais de alunos das redes públicas de ensino. A partir da divulgação dessa pesquisa, que tem por objetivo retratar a escola pública na opinião dos pais, vários jornais apontam a queixa com a qualidade do ensino e a sua relação com a escola organizada por ciclos. Isso é um fato que requer certo cuidado. Não podemos atribuir as mazelas da educação básica aos ciclos, principalmente, considerando que grande parte sistema de ensino público brasileiro ainda vive sob a égide da organização curricular por série. Em Mato Grosso, de acordo com dados da SEDUC, apenas 12,47% das escolas estão totalmente cicladas. Vários são os fatores que interferem na qualidade do ensino, como, por exemplo, professores bem qualificados e preparados, estrutura fÃsica, material didático, capital cultural, entre outros. Isso serve para ilustrar o quão complexa é a questão. Responsabilizar a escola ciclada por um ensino que não responde aos anseios de uma educação de qualidade é ser reducionista. Uma das maiores queixas que se tem quanto à escola ciclada é a de que os alunos vão progredindo ao longo da sua escolaridade sem se ter a garantia dos domÃnios das competências e habilidades para as etapas do ensino que estão cursando. Isso também foi evidenciado na pesquisa exploratória que o INEP realizou. A pesquisa retrata descontentamento dos pais no que se refere aos métodos de ensino e ao sistema de promoção adotado pelas escolas. Mostra ainda, que, na visão dos pais, organização curricular como a dos ciclos implica em menor empenho, tanto dos professores como dos alunos. Estes, por sua vez, têm seu desempenho comprometido, uma vez que afastado o fantasma da reprovação sentem-se menos exigidos em seus estudos. Penso que o que hoje se constitui em uma das maiores crÃticas à escola ciclada é, ao meu ver, um dos maiores argumentos ao seu favor, ou seja, se alguns alunos têm chegado à determinada etapa da sua escolarização sem terem sequer o domÃnio da lÃngua portuguesa, como noticiou recentemente a Revista Isto É, isso deve ser enfrentado e corrigido sim, mas a novidade é que esse aluno chegou a essa determinada escolaridade. Antes, no seriado, não seria possÃvel, pois estaria evadido do sistema escolar através de sucessivas reprovações. Ao contrário do simples ataque ao fato desse aluno ter chegado à determinada etapa do ensino sem o domÃnio dos saberes, a questão que deve ser posta é de como fazer para que esse aluno que agora permanece mais tempo na escola consiga também dominar todas as competências e habilidades necessárias para viver como cidadão crÃtico e participativo da sociedade da qual faz parte. Em linhas gerais, como pesquisadora dessa temática, posso afirmar que os pressupostos teórico-filosóficos que norteiam a proposta da escola ciclada se concentram no respeito aos ritmos diferenciados e na flexibilização do tempo escolar, portanto, estão apontando para a inclusão escolar. Se, o modelo de ensino em ciclos que vêm sendo vivenciado em nossas escolas não reflete tais pressupostos, é preciso que através de estudos, pesquisas e com muita discussão com toda a comunidade escolar, possamos chegar a um modelo que realmente atenda aos anseios de uma educação inclusiva e de qualidade. Ao contrário, podemos correr o risco de jogar o bebê junto com a água do banho. E a volta ao seriado significa apostar na educação como claro instrumento de seleção social. |
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