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Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Qua, 02 de Março de 2005 21:00

Há pouco tempo, o levantamento "Perfil da Juventude Brasileira", do Instituto Cidadania, baseado em respostas coletadas em uma amostra de 3,5 mil brasileiros de 15 a 24 anos, revelou que 39% de nossos jovens não freqüentam cinemas; 36% não vão a shows; 62% não vão a teatros e 69%, a museus. Esta pobre vida cultural já fora constatada pela Unesco, que pesquisou hábitos de leitura: 62 % dos adolescentes não lêem livros, 57 % não lêem revistas e 80% nem folheiam jornais. Agora, o órgão acrescentou outro dado para visualizarmos melhor como vivem os jovens neste país: 57% não praticam atividades esportivas, sendo o problema maior entre os pouco escolarizados. Não estamos sós, pois em 126 países a educação física é marginalizada e considerada "não produtiva" e "não intelectual". Entretanto, no nosso caso, não se pode afirmar ser esta a causa do sedentarismo generalizado, uma vez que atividades intelectuais também são deixadas de lado e pouco incentivadas pela educação pública, da qual dependem mais de 80% dos estudantes.

Faço esta observação, pois, como já comprovou por A mais B o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em países em desenvolvimento a educação escolar pesa quase seis vezes mais no desenvolvimento do indivíduo que nos países desenvolvidos. Nestes, o peso é de 6%; aqui, 33%. Assim, o que nossos jovens pensam e fazem sofre influência decisiva da escola, à qual podem ser atribuídas terríveis falhas de formação dos cidadãos, em todas as áreas.

Antes que professores e autoridades nos acusem de estarmos sendo injustos na avaliação, lembro que estamos nos referindo ao quadro geral do ensino público e não a casos isolados de sucesso e eficácia dentro do sistema, que existem. Este, aliás, foi um ponto levantado na primeira etapa da Pesquisa Nacional Qualidade da Educação, iniciada em dezembro pelo INEP, que realizou fóruns de discussão com dez grupos de pais de alunos em locais diversos como Rio de Janeiro, Belém, Brasília, Curitiba e Recife. O Relatório Analítico dos Grupos Focais, que precede um estudo com dez mil entrevistas até o fim de fevereiro, chama a atenção para uma queixa das famílias: a falta de padronização entre escolas públicas. Eles reclamam que as situadas em áreas carentes são pequenas e sem infra-estrutura. Levando em conta que 45% dos brasileiros do zero aos 17 anos (27,4 milhões) vivem na pobreza, conclui-se que quase metade das crianças e adolescentes do país, justo os que requerem maior atenção do Estado, não têm acesso ao desenvolvimento físico e intelectual integral.

Como para corroborar a queixa, o INEP divulgou resultados do censo escolar 2004 relativos às bibliotecas escolares: dos 58.659.503 alunos da educação básica e profissional, somente 52,8% contam com bibliotecas, sendo que 68,3% das escolas usam o espaço para fins pedagógicos, em menos da metade (48,7%) é usado por iniciativa dos alunos e em 10,6% por iniciativa da comunidade. Em 1,2% dos casos (o que totaliza 704 bibliotecas) o espaço existe, mas é solenemente ignorado. Lembramos que, no último Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), quando se constatou que 59% das crianças da quarta série não sabem ler, o INEP, ao cruzar os dados com as condições dos estabelecimentos, verificou que a existência e uso efetivo de bibliotecas é fator capital no desempenho escolar.

Quanto à pesquisa sobre prática esportiva, que inaugura o Ano do Esporte e da Educação Física (declarado pela ONU), apenas soma outro dado preocupante no que diz respeito à precariedade do ensino. O Ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, declarou que, das nossas 180 mil escolas públicas, metade sequer têm quadras esportivas. A solução, a seu ver, é investir na educação agora, para não investir em presídios e hospitais amanhã. A pesquisadora da Unesco, Miriam Abramozay, diz que políticas públicas em esportes são recentes aqui e não sabemos da sua importância para a educação, saúde e inclusão social. A Unesco responde: o esporte incentiva o espírito de cooperação, a obediência às regras e a autoconfiança.

Voltemos à pesquisa com os pais. Segundo o INEP, entre as reivindicações mais ouvidas, estão: mais envolvimento dos alunos com a escola, aumento da jornada diária e atividades extra-classe. O Plano Nacional de Educação prevê o aumento da jornada para sete horas, mas o MEC não deu sinais de que a meta será cumprida e fala apenas em esticar o ensino fundamental para nove anos. Não é isso, porém, que os pais ouvidos, pertencentes a todas as classes sociais, pedem, mas sim que a escola acolha os alunos durante o dia e invista em atividades culturais, intelectuais e físicas, para que se torne o espaço de formação plena da criança e do jovem. Como determina a LDB e querem os cidadãos.
Vamos ouvi-los?


 
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