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Diplomas para todos; e os empregos? |
Escrito por Paulo ElpÃdio de Menezes Neto |
Qua, 02 de Março de 2005 21:00 |
Nos domÃnios de Castela, sob a Coroa espanhola, por volta do pelo século XVI, a expansão do aparato burocrático do Estado abriu um mercado inusitado, com a criação de numerosos postos para o atendimento de necessidades militares e administrativas do reino. As "letras", entendida como uma carreira a serviço da Igreja e do Estado, eram as formas mais eficazes de ascensão social. As universidades, por sua vez, convocadas a emprestar a sua contribuição à formação dessa nova classe de funcionários, passaram, em pouco tempo de duas para vinte, reunindo uma população estudantil em torno de 20 mil pessoas ao ano. Logo, produzia-se, por ali, mais diplomados do que a burocracia podia absorver. A solução veio rápida, afinal aos agentes do Estado nunca faltaram recursos e motivação para seus exercÃcios regulatórios. O atestado de "limpeza de sangue", processo seletivo sutil, concebido pelos planejadores da época, afastando as linhagens "manchadas" pela ascendência moura ou judia, freou a produção de doutores e letrados, pondo ordem no mercado de emprego. O "numerus clausus" adotado em muitos paÃses do ocidente, onde floresceu o ensino universitário, funcionou como uma espécie de "limpeza social", servindo como processo regulador e, ao mesmo tempo, seletivo, pelo qual as oportunidades não se distribuÃam a todos. A questão pode ser vista, a um só tempo, como reserva de privilégios à elite dominante, ou como mecanismo tipicamente capitalista de adequação da demanda por educação à s possibilidades da oferta de empregos. Em qualquer uma das hipóteses que se tome como referência, em um amplo processo de mobilidade e ascensão social, continua de pé a questão que não pode ser omitida: qual o uso e a destinação do diploma universitário? Afora as funções reservadas aos pesquisadores, no âmbito das ciências puras e aplicadas, dos quais se exigem elevados padrões de qualificação, por essa razão, uma minoria, as nossas universidades permaneceram fiéis ao compromisso de formar profissionais para o mercado e a economia. Diz-se que a instituição cumpre, assim, inalienável compromisso social. Não se pode dizer o contrário, ainda que os graduados, egressos das universidades brasileiras demonstrem, no geral, débil capacitação para o exercÃcio de funções para as quais foram pretensamente preparados. O princÃpio baseado no reconhecimento do direito de todos a ingressar na universidade foi desfraldado no dogma dos anseios redentoristas, razoáveis e dignos de reverência, não estivéssemos embarcando em um equÃvoco arriscado. Em primeiro lugar, escapa à s possibilidades da universidade - e à sua vocação de origem - promover as grandes reformas sociais que, na verdade, hão de vir, quando vierem, pela interveniência de outras instâncias mais poderosos para a realização do bem comum. Secundo, seremos o único paÃs deste atormentado planeta, caso se realizem esses ideais, a garantir "universidade para todos", ignorando uma prosaica realidade, a incapacidade do chamado mercado de emprego para absorver essa mão de obra diplomada. Terceiro, privilegiando a generosa unção e tonsura de legiões de bacharéis e doutores para um mercado em processo de mudança e de hipertrofia, pelo menos à vista das atuais carreiras universitárias, relegou-se à formação de profissionais de nÃvel médio ao esquecimento, enquanto se multiplicam as oportunidades de novos empregos para trabalho qualificado em relação aos baixos nÃveis de oferta, a dar-se crédito à queixa dos empresários do setor. O contingente de vagas não preenchidas com as bolsas do PROUNI, conforme noticia a imprensa, parece exprimir uma realidade que poucos desejam enxergar. Associado este fato à s elevadas taxas de evasão nos cursos superiores, em instituições públicas ou privadas e à dramática taxa de desemprego entre profissionais egressos das universidades, temos um problema a considerar. Para nosso desalento e dos que encontram ainda razões para a prática olÃmpica do otimismo, lembremo-nos que já assistimos a esse filme, encenado por outros atores e realizado por outros diretores. A platéia é que continua a mesma. |
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