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Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Qua, 03 de Junho de 2009 15:48

Da mesma forma que os jovens que pretendem preparar para a vida cidadã e o mercado de trabalho, o ensino médio no Brasil ainda não se encontrou. A diferença é que,  se é natural que adolescentes e jovens adultos entre 15 e 18 anos se sintam perdidos, enfrentem crises existenciais, se queixem da falta de espaço para crescer e descobrir a si mesmos, não é aceitável que justamente a modalidade de ensino que os atende também permaneça num estado de indefinição, sem ter para onde se expandir, sem conseguir responder com clareza quais são seus objetivos e que estratégias usará para alcançá-los.

 

Estamos sendo injustos? Longe disso. Ninguém ignora que há uma política nacional visando a reformulação total do ensino médio. Prova disso é que mais uma edição do Enem, exame de avaliação de concluintes do ensino médio, foi fechada, com o envio dos resultados para os milhares de participantes. Avaliação, não negamos, inovadora, quando se propõe a medir não o decoreba de conteúdos, mas a habilidade do indivíduo em usar os conteúdos na solução de problemas práticos. Há falhas: o Enem é optativo e está sendo erroneamente direcionado para se tornar um novo vestibular, quando deveria ter como prioridade diagnosticar os entraves à reforma do ensino em cada escola do país. Contudo, sua concepção reflete o novo olhar que a Lei de Diretrizes e Bases lançou sobre a educação _ um olhar que capta um mundo em transformação fora das paredes da sala de aula.

 

Entretanto, o enorme aumento da demanda pelo ensino médio, desejável mas não esperado, deu margem à expansão sem qualidade na rede pública, responsável por quase 90 por cento do atendimento _ sem que os educadores tenham tempo de respirar e se adaptar às inovações, sem espaço físico e condições materiais de atender convenientemente os alunos. Escolas do ensino fundamental, ociosas à noite, são improvisadas. O horário noturno, que deveria ser opção para quem trabalha durante o dia, se tornou um paliativo para a falta de vagas. Se não faltam professores, poucos têm know-how para elaborar projetos baseados nos princípios da contextualização e da interdisciplinaridade. As escolas ainda não têm projetos pedagógicos claros, afinados com as peculiaridades de sua clientela. São alguns dos problemas, fartamente divulgados pela mídia, com que o ensino médio vem se defrontando.

 

Embora exista a perspectiva da melhoria desse quadro, com a entrada de recursos financeiros, com a valorização do magistério e a reciclagem de todos os profissionais do ensino, inclusive diretores, incumbidos de organizar o caos em cada estabelecimento e zelar para que as metas da LDB sejam alcançadas, a verdade é que elas permanecem no mundo das idéias.

 

O consolo é que as discussões sobre como tornar o ideal viável alertaram para a urgência de tirar o atual ensino médio da situação absurda em que se encontra exatamente como em filmes de ficção científica, ele é como um buraco entre duas dimensões: uma, o ensino fundamental obrigatório, antes suficiente para a maioria da população; a outra, o ensino superior. Por três anos, o jovem que quiser chegar ao mundo privilegiado do conhecimento, da pesquisa e da especialização profissional fica nessa fronteira, memorizando fórmulas estranhas, com um só propósito: sair do limbo e passar pela porta da universidade.

 

A LDB situa o ensino médio no mundo real e esse é seu maior mérito. Em primeiro lugar, na nova ordem social, as chances de crescimento profissional para quem possui só o ensino fundamental são mínimas. Portanto, há que universalizar a chamada educação “secundária” _ e só 51 por cento dos estudantes brasileiros, por enquanto, chegam a concluí-la. Em segundo lugar, seus três anos de duração não podem se resumir a um adestramento para o vestibular. Eles fazem a diferença na formação do indivíduo, já que o adolescente está ansioso para ser aceito na sociedade, mas não sabe como; quer achar um rumo, mas não está certo sobre sua vocação; quer aprender, mas tem o hábito de tudo questionar. Este precioso tempo tem que ser aproveitado para fazer com que ele, independente de almejar ou não a graduação, se encontre, adquira as competências indispensáveis à sobrevivência e ao constante aprimoramento num mercado de trabalho exigente e imprevisível; e também para que desenvolva uma visão crítica deste nosso mundo globalizado, identificando, valorizando e respeitando as diferenças que formam o quebra-cabeça.

 

Este deve ser o propósito do Novo Ensino Médio (como é chamado por alguns). Para que possa começar a existir, é preciso uma nova maneira de conceber os currículos _ com ênfase na contextualização, na correlação dos conteúdos com os acontecimentos políticos, econômicos e sociais; e levando em conta a realidade dos alunos, sua linguagem e formas de expressão. Não podemos perder esse ideal de vista, priorizando o mero aumento de vagas para atender os que estão ingressando, sem garantir aos concluintes uma educação que os torne capazes de encarar de frente a sociedade do conhecimento. Mais que os alunos que participaram do Enem, neste momento, é nosso próprio sistema de ensino que está sendo avaliado em sua capacidade de responder a desafios. Com uma diferença: atingir a nota máxima não é mais que sua obrigação.

 

 

* Educador e Presidente da Associação de Ensino Superior do Rio de Janeiro

 

www.magnomaranhao.pro.br

 

 

 
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