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Monografias e Trabalhos Diferença e Diversidade: Tecendo os caminhos da Inclusão da Escola do Hospital
Diferença e Diversidade: Tecendo os caminhos da Inclusão da Escola do Hospital PDF Imprimir E-mail
Escrito por jacyara coy souza evangelista   
Qua, 22 de Julho de 2009 00:00

 

Esta pesquisa teve como proposição a continuidade ao estudo sobre o atendimento educacional em ambiente hospitalar . A educação nesse contexto ainda é um tema novo e pouco discutido no meio acadêmico. Considerando as variáveis que lá se instalam, procuramos neste estudo evidenciar como as diferenças e a diversidade existentes na classe hospitalar podem contribuir para a construção de conceito ampliado de inclusão. Esse trabalho teve como objeto principal o cenário da Escola no Hospital – Projeto Vida e Saúde, implantado na unidade pediátrica das Obras Sociais Irmã Dulce, desde 2001. Apresenta a heterogeneidade a as interações dos atores envolvidos: pedagogas, alunos/pacientes, familiares e funcionários ,em um complexo sistema de inter-relações, e a inclusão do pedagogo nesse espaço ,os diferentes papéis que desempenha em sua atuação pedagógica, a condução e mediação nos processos de ensino-aprendizagem. Observou-se que o ato de aprender nessa escola possibilita a geração de novos conhecimentos, enriquecidos pelas trocas de experiências com os mais diversos grupos sociais ; o resgate a auto-estima , amenizando as tensões geradas pela hospitalização; respeita e valoriza as diferenças, transpondo os desafios, as incertezas, entrelaçadas por laços de afeto e de esperança, e assim , portanto, promove a inclusão.


 

 

Palavras-chaves: escola hospitalar, diferenças, diversidades, inclusão.

 

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Introdução


O Apresentação do objeto de Estudo

A presente pesquisa resulta dá continuidade do estudo sobre o Atendimento Educacional em Classe Hospitalar, com o objetivo de proporcionar maior familiaridade e tornar mais explícito o trabalho neste contexto. Sendo assim, tomamos como norte o Projeto Vida e Saúde, implantado na pediatria no Hospital da Criança – unidade das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), localizado em Salvador (BA), no Bairro de Roma, para esta investigação.

A iniciativa da Escola no Hospital da OSID tem garantido o processo educacional no seu sentido mais amplo: a inclusão – compreendida como uma política que inclui em seu sistema social pessoas com necessidades educativas especiais (Ventin, et. al. 2006), não apenas aquelas cujas características são visivelmente aparentes, mas atender uma parcela revelada pelas minorias, as crianças e jovens que necessitam de atenção e cuidados em sua saúde, justificando assim, a existência das Classes Hospitalares.

O conceito de escola inclusiva de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial (MEC-SEESP, 1998), implica em uma nova postura da escola regular, que deve propor projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia, na avaliação, estratégias de ensino, ações que favoreçam a inclusão social e práticas educativas diferenciadas que atendam a todos os alunos (Brasil, 1998).

O movimento em favor da educação inclusiva surgiu nos Estados Unidos com a Lei Pública 4142, em 1975, com pretensões de garantir a inserção de alunos com necessidades educativas especiais na escola comum. Essa proposta limitava-se apenas a integração desses indivíduos em instituições escolares, mas não assegurava suas aprendizagens.

No Brasil essa proposta iniciou-se em 1994, tendo como princípios norteadores a Declaração de Salamanca, comprometendo-se com a construção de um sistema educacional que atendesse a população de pessoas com necessidades educativas especiais.

Ao longo da sua aprendizagem qualquer menino ou menina, pode apresentar alguma necessidade educacional especial, temporária ou permanente, acometido por doenças que precisam de tratamento prolongado, com isso, acabam internados para realização de procedimentos médicos, clínicos e por exigência do tratamento e da estada no hospital, constituí-se uma necessidade educativa especial, cujo atendimento possível é a classe hospitalar.

O Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a Secretaria de Educação Especial elaboraram um documento de estratégia e orientações que normatiza a oferta do atendimento pedagógico em ambientes hospitalares, iniciativas de inclusão de serviços recreativos e educacionais, nesses espaços estão buscando tratar a criança e o jovem hospitalizados, não somente como pacientes, mas como sujeitos de direitos, interesses e necessidades (Paula, 2004).

Em meio há tantas mudanças na saúde e na educação, muitas pesquisas têm contribuído de maneira significativa para ampliar a discussão sobre a condição da hospitalização, do ambiente, das atividades educacionais, sociais, lúdicas, entre outros aspectos, que influenciem no processo educacional desses sujeitos. De acordo com Paula (2004), pouco se tem discutido as questões sobre o comportamento dessas crianças e adolescentes frente a sua internação, dos seus sentimentos e interações.

Entender esses processos exige um novo posicionamento diante da realidade dessas crianças e adolescentes que estão nas classes hospitalares. Ao escutá-los percebe-se uma variedade lingüística bem distinta, em decorrência das suas origens e lugares que residem. È necessário destacar que, as classes hospitalares são multisseriadas, com níveis de escolaridade e patologias diversas, nesses espaços mesclam-se várias concepções culturais, e essas diferenças e diversidades podem constituir-se um bom viés para tecer caminhos para a inclusão.

Segundo Silva (2000), a diferença expressa entre os alunos nesses espaços é, o que o outro é, o que o outro é, ele é branco, ele é religioso, ele é deficiente, a diferença é o que está sempre no outro, que está separado do outro e de nós para ser protegido ou para nos protegermos dele. Em ambos os casos somos impedidos de realizar e de conhecer a riqueza da experiência da diversidade e da inclusão, como acrescenta Mantoan (2003).

Na perspectiva da diversidade, ainda há um caminho a percorrer, no sentido de admitir, respeitar e considerar as diferentes formas de relacionamentos entre os indivíduos, como enfatiza Salvador (2005). Assim, este trabalho depositou suas proposições em analisar como as diferenças e diversidades podem contribuir para as interações e construções do saber na escola hospitalar, tendo como objeto dessa pesquisa o cenário do Hospital da Criança das Obras Sociais Irmã Dulce .


Ø Justificativa

Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, todas as crianças e jovens brasileiros, até 18 anos têm assegurado por lei seu direito ao desenvolvimento integral, englobando o direito a educação, à cultura, ao brincar, etc. Quando acontece a doença, o menino e a menina passam a ter uma mudança de hábito em sua vida e se defronta com situações que alteram sua rotina e a de seus familiares.

Dentre essas alterações está à impossibilidade de freqüentar a escola, que é um espaço de contato e identificação social e da vida. A manutenção desse laço é uma necessidade para a criança, e a possibilidade de mantê-lo é através da classe hospitalar, que possibilita o atendimento educacional de jovens e crianças internadas, que necessitam de educação especial e que estejam em tratamento de sua saúde (Brasil,1997).

Esta mudança torna as unidades de saúde, e em especial os hospitais, referência cotidiana de algumas pessoas, inclusive crianças e adolescentes. Deste contato cada vez mais intenso com o ambiente hospitalar resulta, para a educação, repensar formas e espaços diferenciados de ensinar e aprender.(Nascimento e Schilke, 2007, p.96)

Conforme a Resolução 41, de 13 de outubro de 1995, prevê, que toda criança hospitalizada tem direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programa de educação para a saúde e acompanhamento do currículo escolar durante sua hospitalização.

Entendemos que estamos na era dos direitos, a escola hospitalar representa um dos muitos recursos para atender de maneira integral crianças e jovens internados, e para atendê-los faz-se necessário um currículo flexível, e ou adaptado, pois os diferentes níveis de desenvolvimento, faixa etária, patologias, etnias, gênero, religião, escolarização e hábitos culturais são presenças marcantes neste espaço.

Nesse contexto, a idéia de uma pesquisa para explorar parte dessa realidade, das classes hospitalares, suas exigências e implicações sociais, conflitos e desafios constantes entre os atores desses espaços, se configuram uma necessidade imediata . Essa investigação desenvolveu-se a partir de fontes já elaboradas, constituídas, principalmente de livros e artigos científicos, aprofunda as informações, permitindo assim uma aproximação conceitual com o objeto em estudo.

Dessa forma, recorremos a diversos autores a fim de fundamentar as concepções apresentadas e dentre esses consultados, destacamos Alves (2002), Barros (2007), Ceccim (1997), Fonseca (2003,) Mantoan (2003), Paula (2007), Ventin (2006), dentre outros, pelas contribuições a respeito da temática estudada. Este estudo possibilitará que os educadores que atuam ou desejam atuar nessa modalidade de ensino e demais profissionais interessados na área, possam fazer uma reflexão mais acurada sobre o tema, auxiliando-os na superação dicotômica entre inclusão-exclusão como problema para melhor atender crianças e adolescentes hospitalizados.

Ø Problema

Como as diferenças e a diversidade existentes nas classes hospitalares podem servir de viés contribuindo para as interações, construções de saberes, favorecendo o processo de inclusão?


Ø Objetivo


Evidenciar as contribuições que a diferença e a diversidade presentes no contexto da classe hospitalar podem proporcionar a interação, a construção de saberes e a inclusão aos sujeitos que atuam nesse espaço.

Ø Metodologia


Essa pesquisa, quanto ao seu objetivo classifica-se em exploratória, que segundo Alves (2002, p.52), ocorre “se o autor tem como objetivo tornar mais explícito o problema, aprofundar as idéias sobre o objeto de estudo”. Esse tipo de pesquisa permite aprofundar o levantamento bibliográfico (...).

Quanto ao delineamento da pesquisa ou modelo conceitual, essa pesquisa se caracteriza como bibliográfica de cunho qualitativo que Alves (2002, p.53), conceitua:

(...) “é aquela desenvolvida exclusivamente a partir de fonte já elaboradas – livros, artigos científicos, publicações periódicas, as chamadas fontes de” papel “. Tem como vantagem cobrir uma ampla gama de fenômenos que o pesquisador sozinho não poderia contemplar diretamente”.

Confirmado por Gil (2002, p.44) , esse tipo de pesquisa “se desenvolve com base em material já elaborado, constituído, principalmente, de livros e artigos científicos”.

A pesquisa bibliográfica aprofunda as idéias, possibilitando uma aproximação conceitual com o objeto em estudo. Assim, recorre-se a diversos autores a fim de fundamentar as concepções apresentadas. Dentre os autores consultados, destacam-se Alves (2002), Barros (2007), Ceccim (1997), Fontes (2005), Fonseca (2003), Gil (2002), Mantoan (2003), Nascimento (2004), Ortiz (2005), Paula (2004, 2005, 2007), Sassaki (1999), Ventin (2006), dentre outros, pelas contribuições a respeito da temática proposta.

Ø Procedimentos


Para realizar esse estudo foram seguidos os seguintes procedimentos, pertinentes às etapas da pesquisa bibliográfica :

Ø Seleção dos Títulos que tratam sobre o tema;

Ø Revisão da Literatura;

Ø Compilação da idéias pertinentes ao objeto de estudo;

Ø Fichamento;

Ø Análise e interpretação dos títulos à luz do referencial teórico e construção do texto.

Ø Apresentação da Estrutura do Trabalho


Diante da necessidade de novas discussões sobre a escola no hospital, sua função educativa, as relações entre os sujeitos que a compõem, suas interações, seus saberes, é que procuramos descrever nas páginas seguintes um pouco do universo das crianças e jovens que são inseridas nesse contexto durante a hospitalização. No capítulo I , abordaremos os conceitos de Educação Especial, e da Educação Inclusiva no contexto da classe hospitalar. No capítulo II , evidenciaremos como a presença da diferença e das diversidades existentes na escola do hospital contribui para as interações e construções de saberes, favorecendo o processo de inclusão dos sujeitos que atuam nesse espaço.

Ø Revisão da Literatura


Vivemos em uma sociedade heterogênea composta por diferentes grupos humanos com interesses, classes e identidades em conflitos. Essas diferenças vão desde características físicas, psicológicas, sociais, culturas, religiosas até o que Werneck (2006) chama de “diversidade em última instância”, ou seja, as diferenças ou anormalidades.

No ano de 1994, o Brasil como signatário dos princípios da proposta da Declaração de Salamanca, comprometendo-se com a construção de um Sistema Educacional que atendesse a população de alunos com necessidades educacionais especiais.

(...) apareceu à proposta de Inclusão de “alunos com deficiência”, numa perspectiva inovadora com relação à proposta de integração da década de 70 (...).O que muda na proposta de inclusão ´que os sistemas educacionais passam a ser responsável por criar situações de promover uma educação de qualidade para todos e fazer adaptações que atendam às necessidades educativas especiais dos “alunos com deficiência” (Santos, 2002,p.31).

A partir daí, o Sistema Educacional deixou de ter um caráter assistencialista, garantindo ingresso dos alunos deficientes em salas regulares, com o diferencial de oferecer suporte, implementando as condições necessárias para inclusão dos portadores de necessidades educacionais especiais (NEE).

A temática de inclusão educacional começa a ser ampliada por educadores e pesquisadores que já percebem que as diferenças existentes entre os seres humanos são normais a exemplo do que pensam, Santos (2002), Dutra (S.D.), e Paula et. al (2004), que cada criança tem seu ritmo próprio para aprender e se desenvolver.

Na perspectiva inclusiva todos os alunos e não somente os com deficiência devem ser acolhidos, sendo assim, suprime-se a subdivisão dos sistemas escolares em modalidades de ensino especial e regular.

A educação inclusiva busca valorizar as diferenças como fator de enriquecimento do processo educacional transpondo barreiras para a aprendizagem e a participação com igualdade de oportunidades.

As escolas, por certo, precisam ser reestruturadas para acolher toda a diversidade representada por seu alunado, quer seja aqueles que apresentam deficiências físicas, mentais, sensoriais ou múltiplas, mas também, as que apresentam características atípicas, etc. Essa ação se contrapõe à homogeneização padronizada dos alunos, mostra o sistema educacional adaptando-se às necessidades dos seus educandos do que eles adaptando-se às escolas.

Vários autores têm se debruçado para evidenciar a importância da política de inclusão, colocando-se a favor de uma conceituação mais ampliada desta questão. Podem-se destacar os estudos de Mantoan (2005, 2006), enfatizando que, os ambientes humanos de convivência e de aprendizados são plurais por natureza. Batista, Machado, Vasquez et al (2006), indicam que a escola amplia as relações iniciadas na família. Carvalho (2005), enfatiza que o paradigma da diversidade em suas abordagens, entendida como vantagem para o trabalho pedagógico , se for valorizada pelo educador, o mais importante e significativo recurso existente na sala de aula é o aluno.

Assim sendo, quanto mais diversas forem as características e suas manifestações, tanto mais os processos educativos vão se aprimorando como conseqüência da diversidade.”Ao refletir sobre a abrangência de sentidos e de significado do processo de educação inclusiva, estamos considerando a diversidade de aprendizes e seu direito à equidade” (Carvalho,2005,p.31).

Mittler (2003) indica que, os objetivos da inclusão está atualmente no coração da política educacional e da política social. No campo da educação, a inclusão envolve um processo de reforma (...) com o objetivo de assegurar todos os alunos possam ter acesso a toda gama de oportunidade educacional e social oferecidas pela escola.

E isto inclui, propostas diversificadas, currículos flexíveis, avaliação, registros, relatórios de aquisição acadêmica adequados às habilidades construídas, e por fim suas interações cotidianas.

Staiback e Staiback (1999), fala que as sociedades estão tornando-se multiculturais, e a inclusão é um dos princípios fundamentais em que a transformação da sociedade deve se basear, portanto, em uma sociedade cada vez mais diversificada, o ensino inclusivo, necessita mostrar e ensinar aos alunos a aceitar as pessoas que são diferentes.

Portanto, a classe hospitalar se constitui em um espaço eminentemente inclusivo, pois acolhe crianças e adolescentes com uma diversidade culturais imensa, além dos aspectos sociais, e patológicos a do próprio ambiente em que a escola está inserida.

Capítulo I


A Educação Especial e a Educação Inclusiva no contexto da Educação Hospitalar

A educação de pessoas com necessidades educativas especiais vem tomando impulso na contemporaneidade, a partir dos movimentos internacionais e da implantação de políticas de inclusão dos alunos com NEE no sistema regular de ensino, e tem sido a questão mais discutida nas últimas décadas no Brasil.

O conceito de necessidades educacionais especiais teve origem no “Relatório Warnock” (Grã-Bretanha, 1979), o qual afirma que nenhuma criança deve ser considerada ineducável, e que a finalidade da educação é a mesma para todos, por ser um bem a que todos têm o mesmo direito. Após destacar que a meta da educação é propiciar uma formação que assegure a qualquer pessoa dirigir sua própria vida e a ter acesso ao mercado de trabalho, o relatório menciona que as crianças encontram “diferentes obstáculos em sua caminhada na direção deste objetivo e que para alguns, inclusive, os obstáculos são tão grandes que a distância a percorrer será enorme . Neles, porém, qualquer progresso é significativo”. (Duk,2006,p.61).

Por Educação Especial, modalidade de educação escolar – conforme especificado na Lei nr, de 20 de dezembro de 1996, e no Decreto nr, de 20 de dezembro de 1999, entende-se um processo educacional definido em proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar , e , em alguns casos substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentem necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica (Brasil, 1999).

Complementando o exposto, surge a necessidade de conceituar a Educação Especial, visto que a Pedagogia Hospitalar centra-se, como afirma MATOS “exclusivamente na situação emergencial, especial e transitória do educando hospitalizado” (2003, p.42), na consecução da Educação Básica, que compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio.

Nos meados de 1999, o referido decreto que regulamenta a Lei no. 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a integração das PNEE, define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidade de ensino, enfatizando a atenção complementar da educação especial ao ensino regular (Brasil,1999).

Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB no.2/2001, no artigo segundo, resolvem que:

“os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos” (MEC/SEESP, 2001).

Conforme as Orientações Gerais e Marcos Legais do Ministério da Educação Especial, o atendimento educacional especializado pode ocorrer fora de espaço escolar, sendo nesses casos, certificada a freqüência do aluno mediante relatório do professor que o atende.

Nessa direção, conforme Barros (2007) surge a Classe hospitalar como uma modalidade de atendimento prestado a crianças e adolescentes internados em hospitais e parte do reconhecimento de que esses jovens pacientes , uma vez afastados da rotina acadêmica e privados da convivência, vivem sob risco de fracasso escolar e de possíveis transtornos de desenvolvimento .

Configura-se classe hospitalar o serviço destinado a promover, mediante atendimento especializado, a educação escolar a alunos impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique hospitalização ou atendimento ambulatorial; e o Ministério de Educação e Cultura (MEC) através da Lei de Diretrizes e Bases regulamenta e determinam os fins da educação, os caminhos a serem percorridos e os mais adequados para atingi-los (Brasil, 1994).

As leis asseguram os direitos dos deficientes,buscando a promoção de igualdade e oportunidades educacionais. Correia (S.d.) ressalta que estas leis colocam os alunos com NEE num contexto onde é dado à sociedade o papel pela mudança, sendo que, não apenas a sua condição – a problemática deve ser observada, mas também, os aspectos sociais podem alimentar sentimentos permanentes de incapacidade, criando no aluno sucessivas situações de desvantagens.

Não devemos esquecer que, tudo isso afirmado, causa um grande choque na vida das pessoas, mesmo que estas estejam cientes de todas as suas implicações e conseqüências das normas regulamentadas por esses direitos. Como nos alerta Bobbio:

“A existência de um direito, seja em sentido forte ou fraco, implica sempre a existência de um sistema normativo, onde por” existência “deve entender-se tanto o mero fator exterior de um direito histórico ou vigente quanto o reconhecimento de um conjunto de normas como guia da própria ação. A figura do direito tem como correlato à figura da obrigação”.(Bobbio,1992).

de se considerar que , a complexidade encontrada no alunado da escola regular assemelha-se ao alunado da escola hospitalar nas suas necessidades, interesses, desejo de saber e aprender. Visto isso, cabe aos sistemas de ensino ao estabelecer as bases da educação especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar profissionais especializados necessários a atender aqueles alunos que exijam auxílio contínuo no seu cotidiano escolar, e ao professor que irá atuar na educação especial , necessita ter na sua formação inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e específicos da área.

Quando a valorização da diversidade é tratada junto com a promoção da equidade, é possível pensar nesses avanços, do que precisa e pode ser realizado a partir do que ainda não temos, do que precisamos ter.

Como nos afirma o Relatório da Situação da Infância e da Adolescência Brasileiras (2003), Por ser um valor cada vez mais presente nas discussões em todas as áreas, existem hoje métodos aprimorados de promoção e, sobretudo, de gestão da diversidade, algo que podemos e devemos considerar para abordar com efetividade a questão da inclusão, da equidade, da promoção e garantia dos direitos de cada criança e adolescente no nosso país, e em particular , nas nossas escolas e nos espaços onde essas estejam inseridas.


1.1 A Educação Inclusiva e a classe hospitalar


A educação para todos, concebida em Jomtien, na Tailândia serviu de marco para o delineamento e a execução de políticas educativas no mundo inteiro, consolidando-se como um conceito presente nas agendas dos diferentes governos para a garantia de acesso e permanência na Educação Básica, por meio da satisfação das necessidades básicas de aprendizagem de crianças, jovens e adultos oriundos de diferentes grupos e culturas (Torres, 2001).

O princípio fundamental do Marco de Ação da Conferência Mundial sobre Necessidades Especiais (Salamanca,1994) é que:

“todas as escolas devem acolher a todas as crianças, independentemente de suas condições pessoais, culturais ou sociais; crianças de rua, minorias étnicas, lingüísticas ou culturais, de zonas desfavorecidas ou marginalizadas, o qual traça um desafio importante para os sistemas escolares. As escolas inclusivas representam um marco favorável para garantir a igualdade de oportunidades e a completa participação, contribuem para uma educação mais personalizada, fomentam a solidariedade entre todos os alunos e melhoram a relação custo-benefício de todo o sistema educacional”.

Assim, o Sistema Educacional deixou de ter um caráter assistencialista, garantindo o ingresso dos alunos deficientes em salas regulares, com o diferencial de oferecer suporte, implementando as condições necessárias para a inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais.

Para Guijarro (2003) , a perspectiva da inclusão significa avançar para um único sistema educacional que seja mais diversificado, superando a atual separação entre programas e modalidades diferenciadas, orientados a diferentes grupos.

Apesar da imensa discussão sobre a necessidade iminente de mudança do sistema regular de ensino em um espaço mais democrático, justo, e inclusivo, há ainda muita resistência por parte dos educadores , e essas práticas ainda são incipientes em nossas escolas. Mas, há muito que se discutir a respeito desse fenômeno que surge na contemporaneidade que é a inclusão.

A educação inclusiva implica eliminar as barreiras que se contrapõem à aprendizagem e à participação de crianças, jovens e adultos, com a finalidade de que as diferenças socioeconômicas, culturais, individuais , religiosas, e de gênero não se transformem em desigualdades educacionais e, portanto, em desigualdades sociais .

A educação inclusiva tem como foco principal o contexto educacional em garantir melhores condições de ensino e aprendizagem, para que todas as pessoas participem e possam se beneficiar de uma educação de qualidade . A inclusão se refere à aprendizagem e a participação de todos os estudantes vulneráveis que se encontram sujeitos à exclusão, não somente aqueles com deficiência ou rotulados como apresentando Necessidades Educacionais Especiais (UNESCO, 2000).

Como define o Ministério de Educação e Cultura (2002), Uma ação que possibilite o acompanhamento pedagógico-educacional do processo de desenvolvimento e construção do conhecimento de crianças , jovens e adultos matriculados ou não nos sistemas de ensino regular, no âmbito da educação básica e que se encontram impossibilitados de freqüentar a escola (Brasil, 2002, p.13).

Nesse princípio, a criação da Classe Hospitalar, surge, das necessidades, e do reconhecimento formal através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (in: Educação Inclusiva), de que as crianças e os adolescentes hospitalizados, independentemente do período de permanência na instituição ou de outro fator, têm necessidades educativas , e direitos de cidadania, onde se inclui a escolarização.

Em conformidade com a questão de direitos, Barros (1999, p.93) acrescenta :

O acompanhamento escolar de jovens e crianças hospitalizadas, seja por quais forem às patologias, portadoras ou não de deficiência, é uma prática que se inscreve sob o título da equidade – a equiparação de oportunidades apesar das diferenças – uma pausa de destaque nas agendas sobre qualidade de vida, cidadania e democratização.

Ainda essa autora diz que, nos termos da política de educação especial, da política de inclusão ou da política de atenção à diversidade do Ministério da Educação, crianças e adolescentes hospitalizados são portadores de necessidades especiais. A educação inclusiva, apesar de encontrar muitas resistências, por parte de muitos educadores, que ainda não compreenderam essa proposta – busca o resgate de valores sociais fundamentais , tão importantes, condizentes com a equiparação de oportunidades para todos, indistintamente.

Numa escola inclusiva, alunos e professores aprendem juntos, é uma via de mão dupla, onde o professor e o aluno interagem. Ultrapassar as barreiras, enfrentar os desafios, sem medos, sem pressa, obedecendo ao tempo de aprendizagem cada um dos educandos, sua especificidade, num vai-e-vem constante de construções e reconstruções de sentidos e significado.

Como nos lembra Freire (2006), esse caminho não é fácil; olhar para o outro o reconhecendo como legítimo outro, tira-nos do falso lugar das certezas e nos coloca no caminho instigante das incertezas. E assim, poderemos alcançar esse caminho onde há muitas possibilidades de continuar seguindo em frete.


1.2 A Educação Hospitalar uma brevíssima abordagem


A criança hospitalizada, durante muito tempo no Brasil,independentemente da classe econômica, idade, gênero e raça, foi tratada como se fosse uma categoria excluída do sistema social, principalmente no que se refere aos aspectos lúdicos, sociais e culturais. Durante o período em que permanecia internada, era privada de seus direitos como criança, de ser acompanhada por seus familiares, impossibilitada de brincar e interagir com seus pares, sem ter acesso a atividades estimulantes nesta fase de sua vida.

O tempo de internação para estas crianças é marcado muitas vezes por dor e sofrimento, e se desenvolvem traumas que dificultam o processo de recuperação e o restabelecimento de sua saúde, salienta Paula (2001).

Face ao exposto, em julho de 1990, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos e a Câmara dos deputados convertem em lei o Estatuto da criança e do Adolescente (ECA), destinado a cumprir os direitos do público infanto-juvenil , constituindo-se em tarefa de todas as pessoas (Brasil, 2003).

A partir disso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (S.B.P.) ganha ampla repercussão nas organizações não-governamentais de luta pelos direitos da Criança e do Adolescente hospitalizados, culminando na Resolução 41 (1995), do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente com a chancela do Ministério da Justiça, onde constam vinte itens em defesa do infanto-juvenil hospitalizado.

Certamente que, essas novas políticas não são garantia de efetivas mudanças, mesmo prevista por lei que crianças e adolescentes tenham acompanhamento pedagógico nas unidades hospitalares e professores para realizá-lo dentro dos ambientes clínicos públicos e privados, ainda se tem feito muito pouco para garantir a continuidade do processo de escolarização de meninos e meninas que se encontram em tratamento nesses espaços.

Salvo algumas exceções que têm se preocupado em manter esse vínculo , em atenção às crianças e suas necessidades biopsicosociais, os órgãos públicos, as academias e a sociedade em geral pouco reconhecem esses espaços educativos como modalidade oficial de ensino. Em nosso país, “são raras as Secretarias de Educação que implantam essas práticas educativas nos hospitais, garantindo-lhes apoio logístico, humano e assistência”, como ressalta Paula (2004).

Fica evidente que ainda são poucas e isoladas as iniciativas voltadas para a compreensão dessa prática educacional, o que favorece o deslocamento do trabalho dos profissionais que direta ou indiretamente mantém ligação com crianças e/ou adolescentes hospitalizados.

As iniciativas para reconhecer essa categoria de ensino como Educação Especial, se considerou a partir de uma política fundamentada no princípio de que toda criança portadora de qualquer necessidade especial não podia ser privada da oportunidade de educação, e da oportunidade tanto de atingir quanto de manter níveis adequados de aprendizagens, a exemplo da criança hospitalizada.

Uma dessas iniciativas para organizar as políticas da Educação Inclusiva, que aconteceu na Conferência Internacional realizada pelo governo da Espanha em cooperação com a União das Nações Unidas (UNESCO), em Salamanca (Espanha,1994) que define princípios, políticas práticas em Educação Especial. Nesse documento encontra-se alicerçada a defesa do acesso à educação para toda criança, independente de quaisquer condições.

Nesse mesmo documento declara que , o desafio que confronta a escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de bem-sucedidamente educar todas , incluindo as que possuam desvantagens severas. O mérito de tais escolas não reside somente no fato de que elas sejam capazes de promover uma educação de alta qualidade a todas as crianças: “o estabelecimento de tais escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes discriminatórias de criar comunidades acolhedoras e de desenvolver uma sociedade inclusiva” (Salamanca,1994).

Nesse caminho, a Educação Hospitalar no contexto da Educação Inclusiva busca recuperar a socialização da criança por meio de um processo de inclusão, pois esta tem de ser considerada em toda sua globalidade dentro do hospital , sendo ela o centro em torno da qual a ação e a reflexão de todos deve se organizar. Quaisquer que sejam as razões de hospitalização, que envolva doenças graves ou benignas, agudas ou crônicas, caracterizam-se para a criança em uma experiência dolorosa.

Como nos fala Reiner (2003), a instituição hospitalar, ao cumprir , sua função, não pode se contentar em tratar um doente, uma doença, mas uma pessoa com um todo que deve ser respeitada [...].

De acordo com Fonseca (2002), entende-se por Classe Hospitalar - Locus específico de Educação destinado a prover acompanhamento escolar a alunos impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique hospitalização ou atendimento ambulatorial.

Barros (2007), citando Reiner (2003) argumenta que, a sociedade civil vem atuando de forma silenciosa em favor da educação hospitalar com programas de apoio, em contação de histórias, entre outras atividades. No entanto, verifica-se que ainda, há muito que se fazer nessa área devido a pouca atenção com que a sociedade trata a questão da classe hospitalar, dos professores e de suas variáveis dentro desse ambiente.

Ainda os mesmos autores afirmam que, a classe hospitalar permite a criança doente conservar os laços com sua vida anterior á internação. É um lugar neutro, resultado de projeto de futuro, pois a criança, depois de sua hospitalização, retornará sua vida normal de criança (Reiner-Rosenberg apud Barros, 2007).

Nesse percurso, a implantação da Escola no Hospital – Projeto Vida e Saúde das Obras Sociais Irmã Dulce, surge em 2001, no Hospital da Criança (H.C.) , em uma das Unidades do Hospital Santo Antonio, essa ação partiu da OSID em parceria com a Prefeitura Municipal de Salvador, através da Secretaria de Educação e Cultura (SMEC) com o objetivo principal de oferecer padrões de qualidade em assistência sócio-educacional, assegurando os direitos da criança e do adolescente hospitalizados, contribuindo para a efetivação da auto-estima e seu nível de escolarização formal.

O Projeto Vida e Saúde atende multidisciplinarmente a acompanhantes/responsáveis dos pacientes; reduz os níveis de evasão e atraso escolar; promove a saúde através de cidadania, além de oportunizar a integração dos pais/acompanhantes nessa parceria educacional com vistas a estimular a inserção da família no processo de formação dos seus filhos, (Zaballa,1998), “tudo isso num ensino que atenda à diversidade dos alunos em processos autônomos de construção de conhecimento”.

Atualmente, o Projeto Vida e Saúde, conta com uma equipe de quatro professoras (concursadas) uma coordenadora , e também com a participação da equipe multidisciplinar do Hospital da Criança composta de uma médica, enfermeiras, uma assistente social, uma terapeuta ocupacional, terapeutas do riso, uma religiosa, uma voluntária e o apoio técnico-pedagógico da Coordenação Regional de Ensino (CRE/ SMEC, Cidade Baixa), para o atendimento biopsíquicosocial dos alunos/pacientes.

A questão do atendimento à criança hospitalizada, tem sido objeto de estudo de alguns pesquisadores das mais diferentes áreas do conhecimento, que buscam refletir sobre a humanização nos sistemas de saúde, como também, procuram modificar práticas organicistas existentes na área que priorizam a doença e não a criança enferma . Segundo Paula (2001) , As práticas de inclusão de serviços recreativos e educacionais em instituições hospitalares, estão procurando tratar a criança e os adolescentes internados não somente como pacientes, mas como sujeitos de direitos, interesses e necessidade .

Como ressalta Ceccim (1999), A psiquiatria infantil enfatiza para os riscos sofridos pelas crianças ao permanecerem internados em hospitais. (...) é preciso destacar que criança que necessita de internação hospitalar, necessita também, de especial atenção aos determinantes do desenvolvimento psíquico e cognitivo e aos efeitos de uma hospitalização na produção de referenciamento social à subjetividade.

A Educação hospitalar, portanto, procura ter uma prática centrada no contexto em que está inserida, respeitando o seu tempo e seu espaço, explorando os conhecimentos nele disponíveis, conhecendo sua rotina, além de explorar junto à criança e o adolescente internado este ambiente, estabelecendo um diálogo onde o próprio educador procura perceber no seu educando/paciente sua visão de mundo, suas necessidades e, a partir disso, possam criar uma ação pedagógica que vá ao encontro de sua realidade.

Em sua ação pedagógica educacional, a educação hospitalar visa dar continuidade ao ensino dos conteúdos da escola de origem da criança , além de trabalhar com metodologias e temáticas apropriadas a cada faixa etária, e aos níveis de escolarização dos educandos enfermos , o que ajuda a sanar dificuldades de aprendizagens ao mesmo tempo oportunizando a construção de novos saberes.

Dando continuidade a essa discussão, buscamos a completude nas palavras de Ceccim (1999):

Parece-me que, para a criança hospitalizada, o estudar emerge como um bem da criança sadia e um bem que ela pode resgatar para si mesma como vetor de saúde no engendramento da vida, mesmo em face do adoecimento e da hospitalização.

Dessa forma , o atendimento pedagógico educacional deixa de ser visto apenas como entretenimento para a criança hospitalizada, diminuindo assim , a tensão gerada pela internação, e passa a ser entendida como uma necessidade junto ao tratamento da saúde.

Hoje, a necessidade de uma educação democrática vem sendo reivindicada internacionalmente, entretanto, somente uma educação que fortalece a diferença e a diversidade pode ser entendida como democrática.

Nesse entendimento, as ações dos educadores da escola no hospital , buscam conhecer a história de vida e os interesses dos seus educandos/pacientes, o que favorece as atividades que serão trabalhadas em sala de aula, utilizando-se de estratégias diversificadas, possibilitando a apropriação dos saberes e uma atuação pedagógica inclusora.

Conforme Ortiz e Freitas (2005, p. 36), a educação da criança não é responsabilidade exclusiva do hospital, mas é, antes de tudo, uma tarefa que se faz em parcerias. O hospital instaura a construção de espaços dialógicos entre a família e a escola, exercendo, com postura mediadora, o reconhecimento do papel de destaque de cada elo para efetivar a atenção às necessidades da criança .

Ainda essas autoras, a atuação educativa é essencialmente dialógica, primando pela relevância da proposição de ajuda ao enfermo para superação da enfermidade e transformação deste aprendizado em forma de aperfeiçoamento, já que o foco de sua ação é o ser humano. (Ortiz e Freitas, 2005).

Paula (2001) ressalta ainda que , parte das crianças internadas no nosso país, é pertencente a classes populares com maiores propensões a doenças e, que sofrem e ciclo da pobreza, internações e reinternações nos hospitais. Geralmente estas crianças recebem uma assistência precária no que diz respeito não somente aos aspectos físicos, mas também , no que se refere às condições de saúde e de educação.

Dessa forma, o atendimento educacional hospitalar deve estar vinculado aos sistemas de ensino como uma unidade de trabalho pedagógico da Secretaria Estadual, Distrito Federal e Municipal de Educação, como também as direções clínicas dos sistemas e serviços de saúde em que se localizam. Conforme Brasil (2000), compete a Secretaria de Educação atender á solicitação dos hospitais para o serviço de atendimento pedagógico, a capacitação dos professores, a provisão de verbas e materiais para o referido atendimento.

Capítulo II

A presença da Diferença e das Diversidades no contexto da Classe Hospitalar


As relações pessoais que se dão entre os atores da escola hospitalar – professores, alunos/pacientes, acompanhantes, profissionais da área de saúde e outras denotam a diversidade de fatores , como estranheza ao ambiente e desconforto, que contribuem na formação das variáveis que interferem neste espaço.

Para Ortiz e Freitas (2005, p. 43), A hospitalização, vista como uma experiência complexa, compreende também um processo de inter-relações, onde os profissionais de saúde, pacientes e suas acompanhantes e familiares estabelecem um elo de fortalecimento nos diálogos , atitudes, gestos, olhares e nos silêncios, revelando toda a intensidade subjetiva que perpassa uma situação de risco.

Ainda as mesmas autoras, a intervenção educacional assume um risco de lnsinuar a existência do mundo extra-hospitalar – a escola , como articuladora de processos de aquisição de aprendizagem, desenvolvimento de competência intelectual e interação entre pares, compondo um novo quadro de qualidade de vida, entrecruzando sentidos e construindo sentidos para ressignificar o adoecimento .

Dentro da realidade vivida no contexto da escola no hospital, o professor articulará suas técnicas e métodos pedagógicos que lhe favorecerão na escuta apurada e num olhar sistematizado sob os alunos enfermos, analisando e assimilando fatores que favoreçam a ação educativa (Vasconcelos,2002).

Em conformidade com Arroyo (2000, p.47):

A capacidade de escuta sempre atenta e renovada da realidade onde se formam as crianças, adolescentes e jovens, faz parte de nosso dever de ofício. A arte de diagnosticar, auscultar, perceber; é tão importante nos profissionais da saúde quanto a capacidade e o tino para regular e intervir. Todo ofício é uma arte reinventada que supõe sensibilidade, intuição, escuta, sintonia com a vida, com o humano . (Arroyo,2000,p.47).

A escuta, referendada por Ceccim (1997,) implica em:

Apreensão/compreensão de expectativa e sentidos, ouvindo através das palavras, as lacunas do que é dito e os silêncios, ouvindo expressões e gestos, condutas e posturas (...), busca perscrutar os mundos interpessoais que constituem nossa subjetividade para cartografar o movimento das forças de vida que engendram nossa singularidade.

A escuta pedagógica, nesse ambiente emerge como metodologia para acolher a ansiedade e as dúvidas das crianças e jovens hospitalizados como também, criar situações coletivas de reflexão sobre eles, que venham colaborar para a construção de conhecimentos, na compreensão de sua existência e que lhes possibilitem a melhora de seu quadro clínico.

Compreendendo desse modo , encontramos eco nas palavras de Vasconcelos (2002) :

Prática de ouvir os alunos, tem se mostrado muito eficaz, pois eles têm avaliações importantes sobre o (...) trabalho e a escola, muitas vezes, têm clareza sobre aspectos que a equipe escolar leva anos para descobrir, através de seus comentários, de suas brincadeiras, podem dizer muito. (...). A fala é a alma das representações que ultrapassam a visão e multiplicam as possibilidades.

Ao escutar os alunos/pacientes atentamente, percebemos uma variedade cultural bem distinta, pois estes são na sua maioria oriundos das mais diversas localidades do Estado da Bahia, além de outras, identificados muita vezes pela variedade lingüística, que ora desperta a curiosidade e estranhamento no grupo, o que requer mediação do professor para não privilegiar uma cultura em detrimento de outra.

Os grupos culturais que se imbricam na escola do hospital podem ser identificados pela etnia, gênero, idade, locação geográfica, renda, classe social, ocupação, nível de escolarização, e credo. Dessa forma , essas diferenças culturais se consistem num bom viés para a troca de saberes e construção do conhecimento no processo de ensino e aprendizagem.

Uma vez que há necessidade em adaptar a educação escolar à diversidade da educação hospitalar , Ceccim e Fonseca (1999, p.36), ressaltam que:

Os espaços e tempos da aprendizagem para crianças ou adolescentes hospitalizados seguem regularidade e intensidade diferentes da escola comum e atendem, além das demandas intelectuais, às necessidades de pertencimento a uma comunidade afetiva e de inclusão sociointerativa.

Para Vigotsky (1987) , é fundamental ao desenvolvimento dos processos internos de interação com outras pessoas, uma vez que o ensino transcende o indivíduo e atinge o grupo.

Fontes (2005) , citando Bakhtin (1978), ao expressar seus pensamentos por meio das palavras, quando a criança se socializa, ela constrói redes de relacionamento, uma vez que não é possível existir o “eu” se não houver o “outro”. portanto, ir á escola como meio de se socializar, cria grande expectativa nas crianças e na escola, a quem foi dada à missão de educar -- formalmente.

Como em qualquer sala de aula, é comum entre outras, a diferença no nível de escolarização entre os alunos, no entanto, faz-se necessário respeitar os ritmos , o tempo de execução das atividades propostas, as diversas histórias de vida, que são relatadas a cada encontro áulico, sem perder de vista os diversos papéis da equipe multidisciplinar , atendendo sempre para o quadro patológico da criança.

Como nos fala Ceccim (1997), uma atitude de escuta às expectativas:

“cria um espaço propício ao encontro e aos afetos alegres, onde se intencione acompanhar o movimento de deixar ver e esconder – emoções, sentimentos, confusões, questões, que a criança usa para conectar-se com o desejo de crescer, conhecer, curar, viver”.

Ainda nas palavras desse autor , a classe hospitalar, além de atender às necessidades pedagógico-educacionais da criança e do adolescente hospitalizados (necessidades provenientes de atenção integral ao seu crescimento e desenvolvimento), obedece aos fundamentos políticos da educação, isto é, ratifica o respeito aos princípios democráticos da igualdade, da liberdade e da valorização da dignidade humana .

Quanto aos aspectos didádico-pedagógicos que instrumentalizam o educador em sua prática docente neste contexto , são de grande relevância, a sensibilidade em saber lidar com situações em que haja conflitos, cautela na atuação com as diferenças, a criatividade , a disponibilidade e a capacidade de adaptar-se as peculiaridades da dinâmica e rotina do ambiente hospitalar.

Mantoan (2004) diz que, as diferenças culturais, sociais, religiosas, étnicas , de gênero e de orientação sexual, enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais desvelada e destacada e, é imprescindível para se entender como aprendizado, e como entendemos o mundo e a nós mesmo.

Como vimos, a escola no hospital é um espaço compartilhado onde os alunos/pacientes e seus acompanhantes/responsáveis e professores se encontram para trocar experiências, saberes e também para falar sobre seus desejos, sentimentos de angústia, tristeza, medo, revolta, dores, solidão e incertezas.

São vários os aspectos que chamam a atenção nesse contexto, um deles diz respeito ao credo. Como as incertezas são constantes, a devoção conforta as pessoas nos seus sofrimentos, e não é raro, vê-las e ouvi-las rezando ou lendo a Bíblia, juntamente com seus familiares, visitantes e seus filhos enfermos.

As representações e manifestações de religiosidade, sejam por meio de símbolos ou práticas, também, estão presentes no cotidiano escolar, expressas pelos educandos e seus responsáveis em suas falas, em suas produções escritas, seus desenhos, demarcando assim, sua cultura, independentemente da opção religiosa o trabalho educativo na classe hospitalar das Obras Sociais Irmã Dulce procura exprimir valores e idéias como o respeito e a tolerância à diversidade de credo.

Ainda sobre essa questão, encontramos reforço nas palavras de Silva (2003):

“o reconhecimento de que, em termos de religiões, a variedade é, acima de tudo, humana, significa compreender o nosso lugar no panorama religioso, reconhecendo os “outros” menos como competidores, mas sim, verdadeiramente, como companheiros de aventura espiritual”.

Como salienta Paula (2004) , a escola no contexto de classes multisseriadas, além de representar a garantia do direito da criança e do adolescente hospitalizado continuar estudando, é também um espaço de socialização para os enfermos (...) um local de trocas de experiências multiculturais (,,,) um espaço de construção de conhecimento para os professores que aprendem a lidar com a diversidade .

È sabido que, a escola é um lugar constituído por uma população com diversos grupos étnicos com seus hábitos e costumes. Na escola do hospital não são raras a presença de crianças indígenas, ciganas, e aquelas que assumem suas características afro-descendente, despertando curiosidade, e muitas vezes, preconceito e discriminações.

A escola, enquanto instituição social responsável por assegurar o direito de educação a todo e qualquer cidadão, tem o dever de posicionar-se politicamente, contra toda e qualquer forma de discriminação e preconceito, assim como, as brincadeiras e juízo de valor sobre determinadas pessoas ou grupos sociais.

Para Zaballa (1998), estritamente vinculado à tolerância conseguir que o respeito mútuo seja assumido como princípio de atuação , supõe um ambiente que possibilite o diálogo e a abertura aos demais, um clima de participação em que se avaliem as opiniões, em que seja possível defender os diferentes pontos de vistas, em que exista a possibilidade de debater, o que cada um pensa, aceitando que há diversas perspectivas sobre um mesmo fato, e a convivência harmoniosa de opiniões discrepantes. E isso , implica fazer com que os alunos vejam ao que conduz a falta de respeito e sobre que princípio se sustenta .

Trindade (1994) nos chama atenção quando diz::

“é bom sinalizar que qualquer caminho trilhado no sentido de lidar com as diferenças no cotidiano educacional não é neutro, nem ideal. Todos nós estamos marcados por nossas visões de mundo, por valores incorporados ao longo da nossa existência, por idéias e ideais constituídos ou apreendidos, por concepções a respeito da vida e de mundo, È bom lembrar que a vida, no singular e no plural, é muito mais abrangente que nossa condição humana pode captar, compreender, capturar”.

Compartilhando esse pensamento, no que se refere à escolaridade dos educandos/pacientes o quadro também é bem diverso, há muitas crianças e adolescentes das escolas públicas e privadas, que apresentam bons índices de aprovação e desempenho e se mostram interessados em dá continuidade aos seus estudos, muitos levam atividades das suas escolas de origem para serem realizadas durante seu período de hospitalização.

Há um contingente de alunos/pacientes que recebem acompanhamento no horário oposto ao atendimento pedagógico em sala de aula ­­-­ são crianças que abandonaram a escola por motivo de doenças crônicas e que tiveram sucessivas reinternações; outras porque trabalham; outras pela discriminação que sofrem em relação a sua patologia e/ou síndrome; ou deficiência física ; há aquelas que ainda não tiveram a oportunidade de freqüentar uma escola, além de tantas outras, que apresentam doenças degenerativas com comprometimento, e prejuízos cognitivos, motores e intelectuais.

Assim também, os que se encontram em situação de risco e/ou abandono, moradores de rua, dependentes químicos, os que residem em instituições, e não muito raros, os com necessidades educativas especiais, que na sua maioria não estão sendo acompanhados por uma instituição especializada. Nesses casos, a intervenção pedagógica é feita através de um planejamento direcionado e específico de modo que venha atendê-los individualmente e nas suas prioridades, e ao receberem a alta hospitalar é feita uma observação diagnóstica , seguida de um encaminhamento, protocolado, para a matricula numa escola regular e/ou especial, quando esses são residentes da Capital (Salvador).

No que concerne ao atendimento pedagógico do aluno hospitalizado existe toda uma sistematização individualizada das atividades desenvolvidas, do tempo de permanência, conteúdos estudados, registros em pareceres, para efeitos legais de garantia a assiduidade e o aproveitamento do mesmo, que será enviado para sua escola de origem. Toda a rotina de atendimento do escolar/enfermo pós-alta hospitalar será arquivada para quaisquer esclarecimentos e/ou dúvidas que advenham de solicitações de outrem, e para futuros levantamento de dados estatísticos, de números de crianças atendidas durante o ano em decurso , que poderão ser contabilizados pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC) e pelo Projeto Vida e Saúde das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) .

Pede-se perceber nesse complexo e diversificado quadro da classe hospitalar,o trabalho especifico do pedagogo que atua nesse espaço, exige além da sua formação pedagógica e especializada , não podem faltar, para Paula (2006) : sensibilidade e abertura para saber lidar com o outro, sem preconceitos, discriminações e que lhe possibilite um atendimento igualitário.

Vale aqui relembrar a proposta de Paulo Freire (1998) :

“O que venho propondo (...) é um profundo respeito pela total autonomia do educador (...) é um profundo respeito pela identidade cultural dos alunos. Uma identidade que implica respeito pela língua do outro, pela cor do outro, pelo gênero do outro, pela classe social do outro, capacidade intelectual do outro: que implica a capacidade de estimular a criatividade do outro mas, estas coisas ocorrem num contexto social e histórico e não no ar puro e simples estas coisas ocorrem na história” (FREIRE,1998).

Como vimos, o papel do professor em qualquer contexto não é fácil tarefa , e especificamente num hospital. Decerto que as atribuições a ele designadas não são as mesmas dos profissionais de saúde que lá atuam, porém o trabalho comprometido do educador hospitalar implica em contribuir efetivamente para fluir a atividade educacional, mesmo tendo que conviver com todas as incertezas e variáveis que permeiam essa modalidade de educação.

Barros (2007), acrescenta que , o atendimento prestado em classe hospitalar é, também, fator que contribui para o enfrentamento do estresse da hospitalização. Esta contribuição é parte, alcançada graças ao significado e ao valor simbólico da escola na composição das experiências infantis e juvenis que, então resgatadas apesar da condição de hospitalização, reequilibram o desenvolvimento psíquico daquelas crianças e adolescentes.

 

2.1 A heterogeneidade e as interações na classe hospitalar - construindo saberes e promovendo a inclusão


No hospital, o acolhimento das crianças e dos adolescentes é considerado uma atividade global, não é simplesmente o caso de encontrar com alguém que esteja com boa vontade ou disponibilidade para atendê-las, pois o acolhimento, Reiner (2003) inclui todas as fases da hospitalização: desde a sua chegada, a permanência, a saída e o retorno à sua casa. Ele tanto diz respeito ao conjunto dos profissionais do hospital , quanto a cada um em particular.

Há um conjunto de dispositivos de acolhimento como : livros, revistas, jogos na sala de aula, decoração, telefones públicos, brinquedoteca, espaço para recreação, capela, dentre outros são concebidos para oferecer à criança e ao adolescente e seus acompanhantes o lugar central.

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A criança e seu acompanhante quando chegam ao hospital trazem consigo seus sentimentos de medo, ansiedades e um conhecimento do senso comum, sobre a saúde, a doença e a hospitalização, muitas vezes deturpados . Buscar informações sobre esses indivíduos, identificando suas origens, grau de escolarização,hábitos e gostos são cuidados necessários que favorecem a integração destes durante sua estada e na escola hospitalar.

Desse modo, compreendemos a integração como acessibilidade de espaço para que alguém faça parte de um grupo. O papel do pedagogo hospitalar, por estar representando um elo entre o ambiente clínico e o mundo exterior, pode facilitar a adaptação das crianças e seus respectivos acompanhantes a partir do estabelecimento de vínculos afetivos. Estes, são promovidos através da sistematização de dinâmicas sócio-educativas, que reúne família/pacientes e atividades lúdico-pedagógicas.

Os processos educativos realizados durante o tempo de internação, já que a hospitalização tem implicações tanto no nível cognitivo quanto afetivo, contribuem para que os pacientes se tornem também multiplicadores, co-participantes no processo de prevenção e esclarecimentos das suas doenças, como afirma Paula (2002), na medida em que se envolvem no ambiente de aprendizagem , os enfermos se interessam sobre suas patologias, tornando-se assim, agentes transformadores de sua qualidade de vida. .

Buscamos essas referidas afirmações nas palavras de Ceccim (1995) e Paula (2002):

“A escola no hospital para crianças e adolescentes e, para os acompanhantes, aparece como possibilidade de identificar o hospital não apenas como espaço de dor e da morte, mas também, como espaço da vida, de múltiplas aprendizagens e de constituição dos sujeitos sociais, ajudando-os a refletir as questões gerais do tratamento, assim como de suas próprias vidas.”

A escola no hospital possui especificidades que diferenciam da escola regular em diversos aspectos: rotatividade dos alunos, rotina diária, fragilidade emocional devido ao estado clínico e psicológico da criança (Barros,1999).

Diante dessa complexidade, a mesma autora afirma que, o pedagogo deve dispor-se como um dos pólos da interação com os educandos, mediando e orientando as inter-relações com e entre eles em volta do objeto de conhecimento. Entretanto, faz-se necessário um repertório diferenciado que inclua a percepção para as demandas imediatas do contexto da sala de aula, sem perder de vista sua heterogeneidade.

A partir do exposto, GIL (1999, apud Gabardo, 2002), argumentam que:

Nas salas de aula, as mudanças nas relações entre o aprendiz e o ambiente são previamente determinadas por grupos e subgrupos sociais dos quais o professor é o representante em classe. Ele é treinado para dispor a estimulação ambiental, de maneira adequada, na organização de condições propícias ao estabelecimento de novas relações do aluno com o ambiente”.

A diversidade cultural já é uma constante do cotidiano da escola. As normas instituídas, as representações que os professores tinham sobre a sua própria identidade profissional, sobre as suas realidades, contam muito das suas diferenças culturais e ideológicas. A heterogeneidade dos alunos, acentuadas em função de suas origens socioeconômicas, é a prova de diferentes culturas em presença de investimentos diferenciados na escolaridade e de uma maior ou menor participação com a cultura escolar.

No contexto da escola hospitalar o dialogo é via principal para as interações e a aprendizagem entre alunos e professores . “E o que é o diálogo? – É uma relação de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade. Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança” (Freire, 2001). O educador precisa reconhecer a sua significação para o educando, respeitando as limitações dos mesmos , e assim favorecendo uma relação baseada no respeito mútuo, propiciará um ambiente escolar favorável a uma aprendizagem significativa.

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Observamos que existe na classe hospitalar, uma rede complexa de relações, essas relações têm um potencial considerável para influenciar tanto positivamente quanto negativamente as aprendizagens que são construídas pelos alunos.

“[...] Perguntavam-nos se as crianças doentes, sofrendo a proximidade real ou fantasiosa da morte, estaria disposta a aprender. Aprender implica insistir investir na vida. As crianças aceitaram o convite [...] (Ribeiro,1993)”.

Nesse sentido , O professor como articulador dos processos de aprendizagem, pode contribuir para que a criança tenha a possibilidade de expressar as situações que está vivenciando na sua hospitalização, tais como: mudanças de sua rotina cotidiana, procedimentos invasivos, convivência com os grupos que não o seu, entretanto , o contato com outras crianças e com o educador, poderá auxiliar, no seu estado de ânimo e emocional , ajudando assim, na sua saúde.

Fontes e Vasconcellos, (2007) dizem que se a atividade for interessante para a criança , àquela voltada para sua realidade próxima e diretamente relacionada à constituição de sua subjetividade, as chances de motivar a sua participação são maiores.

De acordo com essas autoras, a educação hospitalar parece ser o princípio fundamental de toda a ação educativa a ser desenvolvida junto às crianças e jovem internados. A aprendizagem defendida como elemento propulsor do desenvolvimento ganha novos contornos numa atividade pedagógica em hospital.

A energia do encontro, da presença de sujeitos que se permitem influenciar e serem influenciados, mediados pelo conhecimento, faz emergir na classe hospitalar uma nova relação dialógica entre ensinantes/aprendentes e entre aprendentes. Sendo assim, não há como separar o ato de aprender do ato de ensinar. (Ortiz e Freitas, 2005, 41).

De acordo com esse processo, Freire (2001, apud Arosa, 2007) afirma:

Não há docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensino aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender (Freire, 2001, p.25).

Vigotsky (1994), ao destacar a importância das interações sociais, traz a idéia da mediação e da internalização como aspectos fundamentais para a aprendizagem, defendendo que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas. Portanto, é a partir de sua inserção na cultura que a criança através da inserção social com as pessoas que a rodeiam, vai se desenvolvendo.

Fontes e Vasconcellos (2007, citando Vigotsky ,1994), o convívio com sujeitos mais experientes da cultura tende a favorecer novas aprendizagens que estimulam o desenvolvimento cognitivo da criança.

Fonseca (2003) acrescenta que, a internação hospitalar em nada impede que novos conhecimentos e informações possam ser adquiridos pela criança e/ou pelo jovem e venha contribuir tanto para o desenvolvimento escolar ,(não ficando em defasagem nos conteúdos de seu grupo ou turmas) , quanto para o entendimento de sua doença e a recuperação de sua saúde.

A educação hospitalar é fértil em aprendizagens, oportuniza o trabalho com a diversidade humana e diferentes experiências culturais. Esse novo fazer pedagógico implica ao professor ter um olhar diferenciado no atendimento dos educandos impedidos de freqüentar a escola, submetendo-se a desafios constantes além do enfretamento impostos pela sua profissão .

Para Ortiz e Freitas (2005, p.66), a formação do professor para a prática de instâncias pedagógicas hospitalares é uma tarefa a ser esboçada no cotidiano, tendo como parâmetro a sua identidade com a aprendizagem, dentro de uma instituição identificada com a saúde.

Neste sentido, encontramos inspiração no pensamento de Matos (1998):

É importante que o educador cresça em habilidades junto a seus alunos, especialmente , no desenvolvimento da sensibilidade, da compreensão e da força de vontade, sobretudo, em dimensões de resistência ao desânimo, agir com paciência e audácia em suas atitudes, de modo que não se deixe abater em seus esforços no atingimento de suas metas formativas e, de sua tarefa de ajudar, por mais difíceis que possam parecer.

Falar em educação pautada na atenção às diferenças e às diversidades é também falar em ações educativas em espaços não-formais , e portanto, falar também de professores , não-tradicionais. Desse modo à heterogeneidade, característica forte da escola hospitalar, torna-se imprescindível, trabalhar para que aconteçam as interações na sala de aula .

Os diferentes ritmos, comportamentos, contexto familiar, valores, níveis de conhecimento de cada aluno imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca de experiências, visões de mundo, confrontos, e principalmente ajuda mútua, que resultam na ampliação das capacidades individuais.

Silva (2007, p.148) argumenta que, a criança inclusive a hospitalizada, traz consigo saberes construídos com base nas leituras de mundo realizado através da sua inserção na comunidade em que vive. Articular esses saberes e favorecer a participação de todos segundo suas possibilidades faz parte da ação político-pedagógico do professor, tendo como foco principal à promoção da aprendizagem e da cidadania.

Aliado ao exposto, o trabalho profissional da Classe Hospitalar é também o de restaurar os laços com o cotidiano escolar ,caractístico da vivência infantil em sociedade escolarizada, e operar pedagogicamente com o desenvolvimento psíquico e cognitivo destas crianças e adolescentes (Calegari, 2003).

Sendo assim, o educador assume, o papel de promotor do conhecimento, mediando a troca e a construção de saberes no espaço hospitalar. Estas experiências são desafiadoras e exigem do educador a capacidade de arriscar-se e acreditar no trabalho que está sendo realizado.

2.2 A Inclusão do Pedagogo no ambiente hospitalar - ainda uma conquista.


Faz algum tempo, que os cuidados com os pacientes, não se concentram mais entre os profissionais de saúde,estes já são compartilhados por outros das mais diversas áreas de atuação - psicóloga, terapeutas ocupacionais, reacreadores, educadores físicos, musicistas, brinquedistas, contadores de histórias, agentes culturais, religiosos e pedagogos, que contribuem de acordo com sua formação acadêmica, e isso se deve ao movimento de re-humanização das relações médico-paciente e hospital.

A ação educativa hospitalar passa a compor as diversas transformações pelas as quais nosso país vem passando na tentativa dicotômica de colocar a educação e a saúde como direito de todos os cidadãos, pois mesmo reconhecida legalmente, a prática educacional no ambiente hospitalar, ainda não apresenta reconhecimento nesse espaço e na academia, como anunciam Nascimento e Schilke (2007, p.97).

Para Silva (2002), a tarefa de cuidar é um dever humano, e não dever exclusivo de uma classe profissional. Entretanto , Paula (2002) diz que , ainda são poucos os hospitais que discutem de forma conjunta, coletiva e integral os aspectos da hospitalização para um atendimento global e multidisciplinar.

Paula (2002) garante que , a implantação das equipes multidisciplinares, nas quais diferentes profissionais começam a fazer parte desse cenário, possibilitam o contato e o diálogo dos enfermos com diferentes áreas do conhecimento que envolve informações sobre a doença e a hospitalização. Assim, se dá a inserção de novos profissionais, como no caso o pedagogo.

Uma das funções do pedagogo na escola do hospital é de estimular o crescimento intelectivo e sócio-interativo, além de favorecer a continuidade de aprendizagens escolares e a reintegração das crianças à escola de origem , mesmo estando doente elas continuam se desenvolvendo.

Como ressaltam Fontes e Vasconcellos (2007):

Num ambiente hospitalar, o desenvolvimento de crianças não é diferente. Mesmo doente, elas continuam interagindo, apropriando-se das informações disponíveis no meio e transformando-as em conhecimento. O papel da educação é, então estimular essa construção, possibilitando a cada uma delas uma reflexão sobre o meio, sua doença, seus sentimentos e ajudando-as a entender o que está acontecendo com elas e ao seu redor. Dessa maneira, a educação no hospital pode favorecer a auto-estima das crianças e do jovem para o enfrentamento da situação de hospitalização.

Como asseguram os PCN’s (p.46, 1997):

A escola na perspectiva de construção da cidadania precisa assumir a valorização da cultura de sua própria comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar o seu limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber.

Para atuar na Escola no Hospital convém que o pedagogo esteja preparado para trabalhar com a diversidade humana e diferentes vivências culturais, identificando as necessidades educacionais especiais das crianças impossibilitadas de freqüentar a escola, além de ter que definir e implementar estratégias de ensino diversificados e flexíveis que atendam as exigências curriculares desse alunado.

Compete ainda ao pedagogo, conforme determinação de Brasil (1996) : desenvolver um currículo flexibilizado e/ou adaptado, manter vínculo com as escolas de origem e sua adequada integração ou reintegração ao grupo escolar correspondente, além disso, faz-se necessário adequadar o ambiente e os materiais, planejar o dia-a-dia da classe , registrar e avaliar o trabalho pedagógico desenvolvido. Aliados a isso, muita dedicação, compromisso , e afeto.

Os desafios da escola hospitalar são incontáveis , lidar com o sofrimento , com a dor, a angústia, a tristeza das crianças, e logo depois ter que conquistá-la para aceitar o convite para ir à escola, torna o pedagogo um mágico, que ao tirar da sua caixa de ferramentas, livros, papéis, lápis coloridos, jogos... , materiais muitas vezes pouco atrativos na rotina da escola regular, já na escola do hospital esses materiais representam a possibilidade nesse momento de distanciamento do seu mundo exterior, a aproximação da sua vida normal.

Aprender implica investir na vida afirma Ribeiro, (1993, p.23). Os materiais escolares, a sala de aula e o professor representam para a criança e seus familiares/ acompanhantes, o lado saudável da vida.

Como alerta Ortiz e Freitas (2005, p. 54), as crianças e adolescentes hospitalizados, independentemente de suas patologias, são considerados alunos temporários da educação especial, por se estarem afastados da escola regular , privados da interação social propiciada na vida cotidiana e terem pouco acesso aos bens culturais como revistas, livros, atividades-artístico-culturais. Portanto, eles correm um risco maior de reprovação e evasão, podendo configurar um quadro de fracasso escolar.

Freqüentar a escola, interagir com seus colegas do hospital, aprender e conhecer sentidos, denotam prazer advindo do espaço escolar, e a criança internada anseia por esta normalidade, vão para a sala de aula prazerosamente, realizam as atividades sugeridas com interesse, muitas levam para os leitos suas produções, lápis e papel para desenharem suas fantasias, muitas reclamam quando chega o final de semana que não tem aula, quando saem de alta e retornam para consultas vão direto para classe e se inserem espontaneamente, por que sabem que faz parte desse lugar – a escola.

O hospital é um ambiente privilegiado dos profissionais de saúde em geral, associado ao movimento de humanização à presença do pedagogo nesse contexto é vista como um co-participante desse processo. Entretanto, sua formação não o prepara para essa prática, sua ação muitas vezes dentro do hospital é confundida como entretenimento, recreativa, espontaneista.

O pedagogo que atua no hospital, vem buscando o reconhecimento do seu papel e de sua atuação especifica nesse espaço, e são ainda raros os que fazem parte da equipe multidisciplinar.

Segundo Nascimento e Schilke (2007, p.97):

(...) a formação docente centra-se no cotidiano escolar regular e os cursos de formação de profissionais da saúde não consideram o pedagogo como participante da equipe multidisciplinar que trabalha no ambiente hospitalar. Dessa forma, o fazer educativo nesse ambiente não ganha espaço e legitimidade.

Contrapondo-se a esse pensamento, a implantação da Escola no Hospital da Obras Sociais Irmã Dulce, foi pensada desde a construção da unidade pediátrica em 2001, através das reflexões mediadas pela Dra. Célia Silvany, que ao pesquisar as condições de escolarização dos pacientes constatou que muitas crianças e adolescentes internados em período maior que cinco dias apresentavam pouca ou nenhuma atenção ao seu processo de escolarização, diante desse quadro, buscou parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC) e a contratação de pedagogas para prestação do atendimento.

Muitas pesquisas apontam para a formação do professor e dessa inovação pedagógica, demonstrados nos estudos de Fonseca (1999), Fontes (2003), Nascimento e Schilke (2007), Barros (2007). Em Salvador (BA) algumas iniciativas de formação do pedagogo para atuação em hospitais vêm acontecendo em cursos de extensão, ofertados pela UNICED (Universidade Aberta de Educação e Cultura) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), e pela Universidade Federal da Bahia (UFBA/FACED) voltados para os professores das redes Municipal e Estadual.

Sobre o exposto , Barros (2007), ressalta para a falta de treinamento mais consistentes, que prepare esse profissional para o ingresso na realidade hospitalar – esclarecendo suas rotinas, dinâmicas de funcionamento e especificidade dos quadros de adoecimento das crianças . Até então os professores tem sido seus próprios pesquisadores das suas ações , e mediadores das suas próprias propostas pedagógicas, que surgem das demandas complexas e diversas do ambiente hospitalar.

Vale destacar nessa discussão, que o desempenho dos pedagogos até então, se deve na sua maioria, da autoformação dos mesmos. São conhecimentos específicos alcançados pela busca constante de atualização e aperfeiçoamento teóricos e práticos inerentes à ação pedagógica para esse contexto. Cursos extensão, de especialização , capacitação em serviço, produções científicas , trocas de experiências com outros profissionais da educação e da saúde , leituras apuradas de autores que estudam a Educação Hospitalar, e outros tantos da área de Educação Inclusiva e da Educação Especial, o resultado desse esforço tem contribuindo para a realização do atendimento educacional pedagógico no hospital.

Assim sendo, como diz Arroyo (2000, p.44) o dever-ser que acompanha todo o ato educativo e todo educador exige reflexão, leitura, domínio de teoria e métodos. Porém, não se esgota aí seu aprendizado , porque se situa no campo dos valores e da cultura . È um saber de outra natureza .

Fontes (2003), considera que, o ofício do professor no hospital apresenta diversas interfaces ( políticas, pedagógicas, psicológicas, social, ideológicas), mas nenhuma delas é tão constante quanto o da disponibilidade de estar com o outro e para o outro.

Certamente, é menos doloroso enfrentar a hospitalização se temos alguém para compartilhar nossos sentimentos, nossas fragilidades, nossas inseguranças, nossos medos, através da fala , do olhar, da sensibilidade, da solidariedade, da compreensão do afeto.

O profissional da classe hospitalar também vivencia sensações e emoções de forma intensa e lida com elas na medida em que auxilia o aluno, da melhor forma possível, no convívio com a doença e o ambiente hospitalar. Aprender com essas sensações e emoções redimensiona o ensino e as ênfases cognitivas com que se opera o processo ensino-aprendizagem. (Calegari,2003).

Os conhecimentos se renovam, mudam de direção. Há muito que se aprender sobre Educação e Saúde, e principalmente sobre Educação em Saúde um campo a ser desvelado, principalmente, pelos educadores. Sabemos que hoje com a reformulação do curso de Pedagogia, há um leque de possibilidades de atuação para o pedagogo, entretanto , existe um longo caminho a percorrer... e um desses caminhos é o espaço do pedagogo dentro do hospital ­ ­ - ainda a ser conquistado.


Considerações Finais


A educação de crianças e jovens com necessidades especiais vem tomando impulso na atualidade a partir dos movimentos internacionais, e medidas de políticas públicas de inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais no sentido regular de ensino.

No Brasil, a criação da Lei nr. 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para integração da pessoa com necessidades educativas especiais, define a Educação Especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino.

Nesse entendimento, surge a classe hospitalar, como uma modalidade de atendimento pedagógico educacional que ocorre em ambientes de tratamento da saúde e domiciliar, garantindo assim a continuidade do processo escolar de crianças e adolescentes do ensino regular e a manutenção do vínculo com a escola, favorecendo o seu ingresso e/ou retorno.

Na perspectiva inclusiva todos os alunos e não somente os com deficiência devem ser acolhidos. A educação inclusiva, nesse sentido busca a valorizar as diferenças como fator de enriquecimento do processo educacional, transpondo barreiras para a aprendizagem e a participação igualitária de oportunidades.

Nessa direção , a classe hospitalar se constitui em um espaço eminentemente inclusivo, pois acolhe crianças , jovens e adultos com uma diversidade cultural bem distinta: nos seus aspectos sociais, étnicos, religiosos e patológicos e as diferenças do próprio ambiente em que a escola está inserida.

A escola no hospital é um lugar compartilhado onde as crianças, seus acompanhantes/responsáveis , e professores se encontram para trocar experiências, saberes e também para falar sobre seus desejos, sentimentos, incertezas. Dentre esses e outros aspectos, destacamos o pedagogo , seu papel e como se dá sua inclusão nesse espaço.

Quando propomos a realização desse estudo, entendemos que seria importante uma reflexão sobre a classe hospitalar e as relações que se estabelecem entre os sujeitos que a compõem, como as diferenças e diversidades existentes nesse contexto podem servir de viés , contribuindo para as interações, construções de saberes, favorecendo dessa forma a inclusão.

Nesse trabalho, pudemos verificar que mesmo vivenciando situações das mais adversas e inusitadas o pedagogo no ambiente hospitalar constitui-se num instrumento condutor para que uma teia de relações seja tecida de um saber específico entre indivíduos produtores da ação de ensinar e de aprender, teias construídas pelas histórias de vida dos alunos/pacientes, seus familiares, pedagogas e profissionais da saúde – médicos, enfermeiros, assistente social, terapeutas do riso e demais outros colaboradores.

Verificamos, que o atendimento pedagógico aparece como elemento que colabora de maneira importante para a auto-estima das crianças, e assim ajudando-as na melhora da sua saúde. As intervenções pedagógicas propostas pelas professoras contribuem de maneira significativas para novas descobertas e podem contribuir no desenvolvimento do potencial destas, fazendo-as perceber as que diferenças existentes nas pessoas , não sejam para marcá-las , mas como uma possibilidade de troca de experiências , saberes , e conseqüentemente de promoção da vida.

A metodologia desenvolvida nesse trabalho baseou-se em matérias já elaborados, constituídos em livros e artigos e produções cientificas, possibilitando o aprofundamento das idéias e uma aproximação conceitual com o objeto em estudo , recorremos a diversos autores a fim de fundamentar as concepções apresentadas.

Durante a pesquisa foi observado que, há muito que se fazer nessa modalidade de ensino especial, devido a pouca atenção dada pela sociedade civil e pelos governantes a questão da escola no hospital , dos pedagogos e suas variáveis dentro desse ambiente.

O reconhecimento de que as crianças e os adolescentes hospitalizados, uma vez afastados da convivência dos familiares e amigos, da rotina escolar podem correr o risco de evasão ou repetência , justificando-se assim, a existência da classe hospitalar, que atende, independentemente, do período de hospitalização ou de outro fator, têm necessidades educativas especiais e direitos de cidadania, e isso inclui a escolarização.

Podemos ainda constatar na literatura estudada, que a presença do pedagogo no hospital poderá ser fundamental como articulador dos processos de ensino e aprendizagens, onde este promove situações onde as crianças e jovens tenham a oportunidade de expressarem as situações vivenciadas durante a estada nesse ambiente, como mudança no cotidiano, procedimentos médicos , convivência com grupos diferentes dos seus, assim , o contato com outros pacientes, e com o educador podem contribuir também, positivamente no estado emocional e na saúde.

Silva (2002) citando Callegari (2003), posiciona-se favoravelmente às atividades pedagógicas desenvolvidas no hospital, “[...] estas atividades objetivam minimizar os efeitos da hospitalização [...], a possibilidade de a criança estudar no hospital evita a defasagem de conteúdos e uma possível exclusão social”.

Nesse estudo, procuramos evidenciar uma educação pautada na atenção as diferenças e as diversidades, e em ações educativas em espaços não formais, e dessa forma , também em educadores pouco-convencionais, que vivenciam cotidianamente experiências desafiadoras, além das exigências da sua profissão.

Atentamos para a necessidade de considerar o presente trabalho enquanto contribuição para um campo de pesquisa ainda inusitado, que vem surgindo timidamente, e ainda precisa de maior atenção e mais estudos a fim de alargar o entendimento da temática em questão.

A classe hospitalar se insinua no contexto antes hierarquizado pela ciência da saúde, como integrante da atenção e cuidado à criança enferma. A Educação da criança na contemporaneidade não é mais de responsabilidade exclusiva do hospital, mas é , antes de tudo, uma tarefa que se pode fazer em parcerias .

Diante do exposto, acreditando na importância da ação educativa e do pedagogo no contexto hospitalar para as crianças e adolescentes e seus familiares e de sua participação como integrante na equipe multidisciplinar, tais discussões não ignoram a especificidade e realidade desse ambiente, no entanto, as questões aqui apresentadas podem nos levar a reflexões sobre as transformações necessárias para que a educação e a saúde possam convergir para melhor atendimento àqueles que delas necessitam.

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Jacyara Coy Souza Evangelista(1)

(1) Professora da Rede de Ensino Municipal de Salvador - Pedagoga - Universidade Estadual do Estado da Bahia, UNEB

 

 

 

 

Autor deste artigo: jacyara coy souza evangelista - participante desde Sáb, 13 de Junho de 2009.

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