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Edições Anteriores 219 Cartilha do Mau Professor de Administração
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Escrito por Luiz Eduardo da Silva Amaro   
Qua, 07 de Abril de 2010 00:00

Em julho de 2009, diante de uma emergência, tivemos que contratar dois novos professores para o curso de Administração que coordeno. Devido à situação inesperada, esses profissionais não fizeram o processo normal de seleção, que culmina com uma aula de 40 minutos dada perante uma banca de professores de Administração e Pedagogia, mais a presença de qualquer outro docente da instituição que queira assisti-la.

Tendo recentemente concluído seus mestrados e ainda “verdes”, em termos de experiência em sala de aula, os dois professores me inspiraram a colocar no papel alguns conselhos sobre os quais deveriam refletir. Minha ideia era fazê-los evitar alguns erros – mas não todos! – por mim cometidos, devido à péssima formação docente que recebi há vinte anos, apesar de meu mestrado tipo “acadêmico” ter sido em uma universidade federal muito bem conceituada dentre os cursos de Administração.

 


À medida em que ia relacionando os erros mais comuns observados em uma década de docência e coordenação no ensino superior, comecei a perceber que estava, na verdade, escrevendo a Cartilha do Mau Professor de Administração, que foi repassada não somente para os recém contratados, mas para todos os cinquenta docentes do curso, a fim de provocar a reflexão e o debate. Reproduzo aqui a cartilha, com introdução e tudo.


Prezada professora, prezado professor,


Mais um semestre se inicia e, com ele, o desafio de ensinar. Inspirado nos relatos orais e escritos de alunos que chegaram até mim ao longo dos anos de docência e coordenação universitária, apresento, a seguir, a Cartilha do Mau Professor de Administração. Seguindo-a a risca, pode ter certeza: você e eu teremos um semestre inesquecível.


1. No primeiro dia de aula e sempre que surgir a oportunidade, fale sobre si, seus títulos e suas realizações, mas não mostre o mínimo interesse em conhecer seus alunos. Aliás, se possível, mostre-se até impaciente quando eles tentarem mostrar quem são. Justifique a sociedade egóica em que vivemos.

2. Não prepare suas aulas. Afinal, quase ninguém prepara mesmo. Entre para a sala e conte o que fez durante o dia. Ajude a construir uma nova categoria de aula: a aula narrativa, que eu também chamo de proto-aula.

3. Quando não tiver o que narrar, passe a mão num filme e traga para a sala de aula. Afinal de contas, quem não gosta de um cineminha depois de um dia cheio? No final, pergunte se alguém tem alguma coisa para dizer. Se ninguém tiver, não insista.

4. Utilize-se do PowerPoint intensamente, não só durante a apresentação de conceitos e teorias (conhecimentos), mas principalmente na hora de ensinar as técnicas e ferramentas (habilidades) necessárias a toda ciência aplicada.

5. Ao seguir o item 4, leia os slides, de preferência, de costas para a turma, finalizando a leitura de cada um com uma indagação sumária: ok? Imediatamente passe para o próximo, não dando tempo para o aluno escrever ou indagar nada e fazendo-o sair da sala de mãos – e cabeça – vazias, já que, sendo você um mau professor, também não disponibilizou, previamente, o material.

6. Ignore que a Administração é uma ciência social aplicada. Encha os alunos de teorias e conceitos, mas nunca ensine a eles como aplicá-las para tomar decisões e resolver problemas, função maior de um administrador.

7. Leve o item anterior adiante: nas avaliações, cobre só a memorização de conteúdos (decoreba), inclusive fórmulas. E exija respostas idênticas às que você deu em sala de aula. Afinal, você já as sabe de cor e levou muito tempo para isso.

8. Se você for aluno de mestrado ou doutorado, imite seus professores: reproduza na graduação, para alunos com espinha na cara e pouca experiência profissional, os mesmos métodos de ensino usados pelos seus mestres.

9. Evite exemplos que façam parte do contexto dos alunos. Traga exemplos do estrangeiro. Quanto mais longe, melhor. Afinal, um exemplo americano ou japonês sempre impressiona. Com isso, as chances de ser questionado diminuem e você se livrará de ter que ler revistas e jornais de negócio da sua realidade para se manter atualizado.

10. Esqueça que está ensinando para adultos (andragogia) e que adultos só se interessam por coisas que façam sentido para eles. Continue achando que está ensinando para crianças (pedagogia) e que tudo o que disser em sala de aula será aceito por elas, sem discussão.

11. Ignore o que Freud disse: "A onisciência é um comportamento infantil", ou seja, só uma criança acha que sabe tudo. Imponha suas verdades. Se necessário, finalize com um "É assim porque eu tô dizendo e pronto!" Que criança não faria isso?

12. Sempre que possível – e principalmente se for do sexo masculino - corrija as provas na frente dos alunos, assim que entregarem. Com isso, poderá ser adulado e se sentir querido, com um monte de alunos(as) ao seu redor, enquanto os outros colam lá atrás, sem a menor cerimônia.

13. Por último, mas não menos importante, nunca discuta a questão ética, histórica ou cultural dos conteúdos ensinados. Você é professor de Administração e não tem tempo para ficar filosofando em sala de aula. Além do mais, essa discussão é estéril: o mundo é dos espertos!

 
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