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A Educação no "apagar das luzes" PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Gounnersomn Luiz Fernandes   
Qua, 06 de Abril de 2005 21:00

Eu estava lecionando para um dos períodos iniciais de um curso de graduação (licenciatura), localizado na região metropolitana de Belo Horizonte - M.G., quando, em decorrência de uma chuva relativamente forte, a energia foi interrompida e a luz apagou. Esse acontecimento deixou os graduandos agitados e um grito veio lá do fundo da sala de aula: "Opa! Tira a mão daí...!". Isto fez passar em minha mente, de uma maneira instantânea e involuntária, algumas situações semelhantes de apagamento das luzes em salas de aulas, vivenciadas por mim ou relatadas por alguns outros companheiros de profissão, ao longo da minha carreira docente de mais de vinte anos.

Lembrei-me que no início dos anos 80, em escolas do antigo I grau (da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais), a ausência de luz em sala de aula, durante o horário noturno, gerava uma inquietação nos alunos, que começavam a conversar, todos ao mesmo tempo. Bastava a minha solicitação verbal, para que houvesse uma adequação na intensidade dessas conversas, inclusive com a ocorrência de um silêncio coletivo, para que aguardássemos o restabelecimento da iluminação ou a dispensa das aulas e retorno para nossas residências. Com o avançar dos anos, constatei e ouvi relatos de outros professores, que àquela solicitação para que os alunos colaborassem para a manutenção de um clima de calma, tranqüilidade e tolerância dentro da sala de aula, na ausência de energia elétrica somente era atendida sob insistência e firmeza.

O comportamento dos alunos, aí incluindo-se também os de II grau, nos momentos supra mencionados, foi modificando. De forma mais objetiva, aquela conversa coletiva e intensa foi paulatinamente sendo substituída por gritos histéricos e palavrões, que cessavam somente após o cansaço, o retorno da energia elétrica ou a saída da sala de aula para os corredores, para o pátio ou para fora da escola. Nesses momentos, de nada adiantava o professor pedir aos alunos para não gritarem ou xingarem, bem como para permanecerem em seus respectivos assentos. Ouvi alguns de meus colegas professores relatarem que alguns de seus alunos, os hostilizavam ou agrediam com palavras e/ou expressões chulas, assim como com o lançamento de pequenos objetos (bolinhas de papel e fragmentos de giz), durante os momentos de ausência de luz em suas aulas noturnas.

Há uns cinco ou seis anos não leciono para alunos do Ensino Fundamental e Médio, sobretudo no horário noturno, pois redirecionei a minha carreira para a docência na graduação, em instituições privadas de Ensino Superior localizadas em Belo Horizonte e em cidades circunvizinhas. Tenho me mantido informado sobre as questões atinentes aos diferentes níveis de ensino da Educação Básica, por intermédio de "antigos" colegas e dos atuais alunos de graduação. Os relatos destes convergem para um aumento da agressividade dos alunos dentro da sala de aula, no horário noturno, sobretudo quando há falta de energia elétrica ocasionada por chuvas torrenciais, acidentes ou qualquer tipo de "atentado" a Rede elétrica alimentadora de suas escolas. No início deste mês , um desses "meus" graduandos de 3º período desfiou, durante uma de nossas aulas, as orientações fornecidas pela diretora de uma Escola Estadual localizada na periferia de Belo Horizonte, por ocasião de sua designação para lecionar no ensino noturno. Dentre as orientações dadas, uma chamou-me atenção:

Preste atenção: Se você estiver dando aula dentro de uma das salas e a luz acabar, saia o mais rapidamente possível, antes mesmo que os seus alunos. Caso você não consiga fazer isto, busque abrigo debaixo da mesa do professor, porque é prática comum dentre os alunos, além de gritarem e xingarem, arremessarem tudo que tiverem ao seu alcance no professor, inclusive cadeiras e carteiras.
Esta breve e superficial análise desencadeada por uma simples falta de energia elétrica fez-me pensar na universalização da educação brasileira, que, nos anos 70, iniciou com a melhoria do acesso ao antigo I grau e hoje chega ao Ensino Superior. Fico muito satisfeito por ver tantas pessoas poderem ter acesso a escola, inclusive aos cursos de graduação, mas por outro lado fico muito triste ao evidenciar que, estamos universalizando, incluindo e expandindo a educação sem primarmos pela qualificação deste processo. Vários problemas poderiam ser elencados neste momento, mas o que gostaria de destacar é a total falência das nossas instituições sociais e com elas dos princípios ou referenciais reguladores da convivência coletiva. Todos nós temos responsabilidade nisto. Não dá para não nos comprometermos com a saúde coletiva do povo brasileiro. Caso contrário, em breve evidenciaremos, com o apagar das luzes, também os professores dos cursos de graduação sendo agredidos com mesas e cadeiras, pois se tudo (in)evolui esse grupo de profissionais da educação não deve se achar protegido ou desinteressado/despreocupado com esta problemática, que, por hora, tem acometido os seus pares de outros níveis de ensino.

Imaginemos o quão estranho será lermos ou ouvirmos falar que um aluno de pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado), aproveitou-se da falta de energia elétrica durante uma aula e lançou uma cadeira em seu professor. Eu não desejo pagar
 

Autor deste artigo: Gounnersomn Luiz Fernandes - participante desde Qua, 23 de Março de 2005.

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