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Escrito por Edilma Cotrim da Silva / Claudionor Brito da Silva Júnior   
Qua, 16 de Março de 2011 00:00

É esperado da educação provinda dos meios instituídos que ela sirva de alavancagem para o ser humano retirando da ignorância e o colocando em um patamar de desenvolvimento pessoal e social. Essa afirmativa está prevista em todas as missões que as instituições educacionais pregam , resumidamente é unânime a busca da promoção social do indivíduo. Nós projetos de cursos profissionalizantes ou de graduação essa premissa é uma obrigação para o Ministério de Educação. A missão dessa forma  cria o seu  perfil da finalidade da educação que é possível afirmar que é a busca do ser humano em ser mais. Cabe destacar que está embutido no ser mais:



a) Libertação supõe, evidentemente, a existência de opressão: só se liberta quem está preso, subjugado, oprimido. Por que e como libertação da situação? Recordemos quais são os elementos ou fatores que tornam opressora uma determinada situação. Já os conhecemos de sobra: os fatores determinantes (físicos, biológicos e psicológicos) e os fatores condicionantes (culturais). Dos fatores determinantes  não há como escapar. Podemos, no máximo, manipulá-los para nosso uso e proveito, driblá-los e...aceitá-los! Dos condicionantes, sim, podemos, livrar-nos por meio de (auto)transformações culturais. (Mais adiante veremos que cultura e transformações culturais são meios e mediações imprescindíveis no processo educacional).

b) Não confundir libertação com liberdade: liberdade, nas suas duas vertentes de opção e de adesão, é a capacidade de intervir na situação para aceitá-la ou transformá-la, enquanto que a libertação é  decorrência ou fruto desta atuação da liberdade que nos confere o ser mais.

c) Conscientização é o termo que, por brevidade, utilizamos acima, cuidando entretanto, de não tomá-lo como sinônimo de ideologização (fazer cabeças), doutrinação ou mera instrução, mas como ação que leva à tomada de consciência da situação. 

d) Situação, recordemos, não é termo facilmente recambiável por realidade, contexto, meio ambiente...Tem sempre, para nós, o significado de conjunto dos fatores que, por determinismo ou por condicionamento, limitam o ser humano. A situação, portanto, é sempre, em  maior  ou menor grau, opressora e  promover-se é estar  dela  se libertando, já que nos fica sempre algo a mais a conquistar.

Segundo FIORI (1999)

"Os homens se humanizam trabalhando juntos para fazer do mundo, sempre mais, a mediação das consciências que se coexistenciam na liberdade". O tecido textual da educação chega a perfeição quer seja amparado na filosofia, na antropologia, na sociologia  e ou na psicologia, mas ao depararmos com o contexto prático social salta aos olhos realidades que retratam o desconhecimento pleno dos fins da educação. E ao depurar a visão é evidente que é inócua a ação do processo de educar seja ele instituído ou não.

Afunilando a realidade na qual focamos citamos o caso do nordeste brasileiro, especificamente a região chamada polígono da seca. Essa área geográfica é marcadamente destacada pela falta de chuva e principalmente pela condição subumana dos moradores. Em 1951, um grupo de estudiosos determinou os limites da região atingida por estiagens periódicas, que passou a ser assim denominada.

A seca no sertão nordestino, está entre as questões mais graves do Brasil. Há séculos os governos têm tentado resolvê-la, sem sucesso. As políticas de combate à seca no Nordeste remontam à época do Império. D. Pedro 2º determinou a construção de açudes, entre outras ações, para diminuir os efeitos da estiagem, entre os anos 1877 e 1879. O próprio imperador declarou: "Não restará uma única jóia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome".

O texto abaixo ressalta muito bem sobre a contextualização humana e as possibilidades de mudança deste:

Vale dizer, brotamos de um “útero  cultural”  constituído  por valores dados. Ele nos molda, de certa forma  e, até certo ponto, nos faz  frutos  do meio que outros,  no decorrer dos tempos, bem ou mal, construíram  e nos legaram.  Esses valores  não apenas nos influenciam como também compõem, na sua  intrincada contextura histórica e geográfica, uma sólida plataforma do nosso  “ser homem"  individual. Não são, contudo, determinantes como os de ordem natural: são  "condicionantes", uma vez que podem ser - e o são, de fato, ao longo da vida  – superados, quer por rejeição, quer por troca ou assimilação de outros valores: aprendem-se outras línguas, adotam-se costumes diferentes, assume-se, no todo ou em parte, outro código moral, mudam-se as convicções religiosas, transforma-se  a organização econômica e política e assim por diante.

Ao utilizarmos o termo  “situação”  reportamo-nos, por conseguinte, a todo este complexo de fatores  naturais (determinantes) e culturais (condicionantes) que, de um lado, limitam o homem e, de outro, constituem a matéria-prima de sua auto-construção, de sua  “humanização".

SAVIANE (1978)

Situando a escola nesse cenário é possível afirmar a sua inocuidade, pois é esperado dela a conscientização e a transformação social de um povo. Aqui no polígono da seca presenciamos um distanciamento ímpar do ensinado com o vivido. Costumeiramente alunos que saem das aulas de ciências vão para casa e de volta a seus afazeres buscam água para o consumo em galões de fungicidas (denominação para venenos aplicados para combater pragas na lavoura), costumeiramente o chiqueiro dos porcos são construídos ao lado do espaço de captação de água, manejo de cultura nenhum aluno sabe o que é, curva de linha também não.

Ele não sabe a família não sabe e possivelmente a professora não sabe. A pergunta é: Quem vai ensiná-lo?  O cotidiano da vida do aluno exige esse tipo de conhecimento e, no entanto é negado. O conhecimento adquirido em sala de aula não os auxiliam na demanda do cotidiano e enquanto isso a finalidade da educação fica inócua nesses espaços. É lugar comum discursos como brasileiro é alienado, não tem consciência, não faz nada para mudar sua realidade. Diante da exposição anterior fica intrincada que se construa condições para que o aluno se torne sujeito da sua própria história.

Enquanto isso ainda como registro o polígono da seca está abrigando três grandes mineradoras, sendo uma delas de extração de urânio. Excetuando algumas manifestações isoladas feita pelo greenpeace não é assunto de discussão nas escolas o estudo sobre o urânio sua radiatividade, os perigos de contaminação de solo, água, ar e também fisicamente. De uma forma descompromissada é comentado em bares, nas conversas de rua a incidência de Câncer na região, que animais nasceram com deformidade genética. A escola continua lá ensinando vários conhecimentos, mas o que constitui como problema parece não ser da sua obrigação.

É necessário dizer que a concepção não é de uma escola redentora da humanidade, mas reafirmar que o papel da instituição deve ir além dos conteúdos academicista que vislumbram um vestibular, ou mesmo a profissionalização conteudista desvinculado com a realidade dos atores que compõem o cenário acadêmico. Há de se preocupar com os descaminhos que a população vem tomando durante décadas. A exemplo está ai a criminalidade, o preconceito, a intolerância e, sobretudo o descompromisso social com o país. Não é possível conceber a finalidade da educação desvinculada da vida, pois há um entrelaçamento claro o ser humano é um todo e a educação não pode ser para a escola e sim para a vida.

 
Autor deste artigo: Edilma Cotrim da Silva / Claudionor Brito da Silva Júnior

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