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Educação de jovens e adultos à luz da andragogia PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Terezinha de Jesus Vasconcelos Gomes   
Qua, 27 de Abril de 2011 00:00

Resumo - O presente artigo objetiva uma reflexão sobre a Educação de Jovens e Adultos Sob um Olhar Andragógico, ou seja, sob novos paradigmas e práticas educativas adequadas à realidade cultural e ao nível de subjetividade dos jovens e adultos; ressalta a importância dessa modalidade de ensino relegada a últimos planos;  aborda a andragogia e a importância da concepção andragógica na educação de adultos e visa mostrar que toda comunidade escolar numa gestão democrática e participativa, é responsável pela preparação do aluno crítico e autônomo para o exercício da cidadania.



Abstract - This article aims to reflect on Young and Adults Education under an Andragogic  look,  in other words, under new paradigms and educational practices appropriate to cultural reality and to level of subjectivity of the young and adults people; highlights the importance of this teaching method relegated to latest plans; discusses the andragogy and the importance of angragogical idea in adult education and aims to show that all school community in a democratic and participative management, is responsible for preparing critical and autonomous students for the exercise of citizenship.

Palavras-chave - Educação1 , Andragogia 2, Relação 3, Autonomia 4.

1 INTRODUÇÃO

A escola, enquanto instituição social tem diante de si um dos seus principais objetivos: construir o espírito de cidadania e desenvolver habilidades na preparação de um indivíduo atuante, capaz de resolver problemas e enfrentar desafios. Sobretudo, quando sua demanda é de jovens e adultos inseridos na sociedade de forma passiva, muitas vezes excluídos, e considerados analfabetos funcionais, por não terem conquistado a autonomia necessária a sua emancipação política. É da responsabilidade da escola traçar objetivos coerentes e eficazes para atender as especificidades desta clientela.

A escolha deste tema surgiu da necessidade de abordamos o assunto “Educação de Jovens e Adultos Sob um Novo Olhar”, ou seja, urge pensar e repensar a Educação de Jovens e Adultos (EJA) à luz da andragogia.

2  ANDRAGOGIA É A CIÊNCIA DA EDUCAÇÂO DE ADULTOS

Andragogia é a ciência que estuda como os adultos aprendem. E quem primeiro usou esta nomenclatura foi o educador alemão Alexander Kapp, em 1833. Segundo Bellan (2008), a Andragogia questiona o modelo da pedagogia aplicada à educação de adultos, porque entende que o adulto é sujeito da educação e não objeto desta.

A Educação de Adultos é uma prática tão antiga quanto a história da humanidade, ainda que só recentemente ela tenha sido objeto de pesquisa científica. Assim confirma  Oliveira (2005), Aristóteles, Sócrates e Platão, na Grécia antiga, foram exclusivos educadores de adultos. A percepção desses grandes pensadores quanto à aprendizagem era de que ela é um processo de ativa indagação e não de passiva recepção de conteúdos transmitidos. Por isso suas técnicas educacionais desafiavam o aprendiz para a indagação.

Para Goecks (2008), o significado de Andragogia, é o ensino para adultos que tem como princípios e caminhos,  promover o aprendizado através da experiência. Com isso, a vivência estimula e transforma o conteúdo, tornando mais fácil a assimilação. Andragogia é a ciência e a arte que, sendo parte a Antropologia e estando imersa na Educação Permanente, se desenvolve através de uma prática fundamentada nos princípios da participação e da horizontalidade, cujo processo, orientado com características sinérgicas pelo Facilitador do aprendizado, permite incrementar o pensamento, a autogestão, a qualidade e vida e a criatividade do participante adulto, com o propósito de proporcionar uma oportunidade para que se atinja a autorrealização" ( GOECKS, 2008 ).

Oliveira (2005), Lindeman (USA) contribuiu muito para pesquisa da educação de adultos, através do seu trabalho "The Meaning of Adult Education" publicado em 1926. Suas ideias eram fortemente influenciadas pela filosofia educacional de John - Dewey. Segundo ele a educação de adulto será através de situações e não de disciplinas.

Sabemos que, nosso sistema acadêmico cresce em ordem inversa onde disciplinas e professores constituem o centro educacional. Na educação convencional é exigido que o estudante se adapte ao currículo estabelecido; na educação de adulto o currículo é construído em função da necessidade do estudante. Todo adulto se vê envolvido com situações específicas de trabalho, de lazer, de família, da comunidade, - situações essas que exigem ajustamentos. É o que afirma Oliveira: “ O adulto começa nesse ponto. As matérias (disciplinas) só devem ser introduzidas quando necessárias. Textos e professores têm um papel secundário nesse tipo de educação; eles devem dar a máxima importância ao aprendiz".

Oliveira (2005) relata ainda que, para Lindeman ensino autoritário; exames que predeterminam  o  pensamento  original;  fórmulas pedagógicas rígidas – tudo  isto não tem espaço na educação de adulto. Para ele, adultos  que desejam  manter sua mente fresca e vigorosa  começam a aprender através do confronto das situações pertinentes, buscam seus referenciais nos reservatórios de suas experiências, antes mesmo das fontes de textos e fatos secundários e são conduzidos a discussões pelos professores, os quais são, também, referenciais de saber e não o dono do saber. “Isso tudo constitui fontes para a educação de adultos”.

De acordo com Oliveira (2005), Lindeman identificou, pelo menos, cinco pressupostos-chave para a educação de adultos e que mais tarde transformaram-se em suporte de pesquisas. Hoje eles fazem parte dos fundamentos da moderna teoria  de aprendizagem de adulto:

1. Adultos são motivados a aprender na medida em que experimentam que suas necessidades e interesses serão satisfeitos. Por isto estes são os pontos mais apropriados para se iniciar a organização das atividades de aprendizagem do adulto.

2. A orientação de aprendizagem do adulto está centrada na vida; por isto as unidades apropriadas para se organizar seu programa de aprendizagem são as situações de vida e não disciplinas.

3. A experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; por isto, o centro da metodologia da educação do adulto é a análise das experiências.

4. Adultos têm uma profunda necessidade de serem autodirigidos; por isto, o papel do professor é engajar-se no processo de mútua investigação com os alunos e não apenas transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los.

5. As diferenças individuais entre pessoas crescem com a idade; por isto, a educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem.

Resumindo, o importante é o envolvimento do aluno adulto no processo da aprendizagem, desde o planejamento até a avaliação do conteúdo estudado. M. Knowles (1973) indica que, em situações de aprendizagem os adultos diferenciam-se de crianças e jovens, principalmente em relação a:

autoconceito - a criança e o jovem percebem-se mais dependentes do professor, enquanto os adultos se consideram responsáveis pelo próprio processo de aprendizagem;

experiência - adultos trazem experiência de vida acumulada, o que pode servir como fonte comum, sendo cada integrante um novo recurso de aprendizagem para  os outros;

prontidão – crianças e jovens precisam atingir certo nível de amadurecimento físicoe psíquico para aprenderem determinados comportamentos e/ou conhecimentos. Os adultos também desenvolvem maturidade em áreas diferenciadas, porém de cunho social, levando-os a desenvolver interesses específicos e aprender formas mais complexas de conduta em termos de papéis sociais;

perspectiva temporal - as crianças e jovens aprendem para o futuro, enquanto o adulto aprende para aplicação imediata;

orientação da aprendizagem – crianças e jovens aprendem assuntos constantes em um currículo que serve de base de conhecimentos  para a vida profissional e social, enquanto os adultos procuram aprender aquilo que possa contribuir para resolver os problemas que enfrentam no presente, aquilo que carecem para melhorar seu desempenho  e enfrentar  os  desafios que surgem no dia a dia.

2.1 IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO DE ADULTOS

Conforme os pressupostos da andragogia, em primeiro lugar, a  situação de aprendizagem deve caracterizar-se por uma "atmosfera adulta", e não por uma réplica da sala de aula infanto-juvenil. Isto requer relações horizontais, paritárias, entre coordenador/facilitador e aprendizes como sócios, colaboradores de um empreendimento conjunto, em que os esforços de todos são somados.

De acordo com Morin (2000), a tecnologia  andragógica utiliza a motivação e a experiência do aprendizes  adultos como molas principais. Os aprendizes participam plenamente do diagnóstico de necessidades  individuais e do grupo para estabelecer e negociar objetivos da aprendizagem, no planejamento e na implementação da própria aprendizagem, juntamente como coordenador / facilitador.

As experiências de cada um podem servir de ilustração e exemplos para facilitar a compreensão e aquisição de conceitos/conhecimentos novos e técnicas, pois são significativas mais reais e concretas que qualquer exemplo ou caso de livro trazido pelo coordenador/faciltador.

O autor afirma que, o uso de técnicas de dinâmica de grupo e de laboratório, de aprendizagem  vivencial, possibilita comunicação mais fluente entre os participantes no sentido de troca de experiências, comparação e discussão das mesmas, levando-os a descobrir como podem aprender com os outros, como ajudar e serem  ajudados e como trabalhar com outros em várias modalidades de tarefas em grupo. O papel do professor/instrutor também sobre modificações, passando de "transmissor de informações e conhecimentos", na orientação pedagógica, para o de "facilitador de aprendizagem",na orientaçãoandragógica.

O coordenador/facilitador em educação de adultos é primordialmente uma  pessoa recurso de conteúdos e processos. Sua função consiste em ajudar a abrir canais de comunicação entre os aprendizes os principais aspectos do processo de aprendizagem, tais como o diagnóstico de carências/interesses, planejamento de atividades, participação no processo de avaliação de resultados.

Morin (2000), a prática andragógica orienta-se pelos  pressupostos  sobre a capacidade dos adultos e suas necessidades específicas e por uma filosofia de ação social em que valores humanistas de  respeito à pessoa humana e de participação plena no processo decisório e na implementação de ações são considerados os mais elevados.

3  A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NA EDUCAÇÃO DE  JOVENS E ADULTOS

Para ser um ato de conhecimento o processo da aprendizagem de adultos demanda, entre educadores e educandos, uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que os sujeitos do ato de conhecer (educador-educando; educando-educador) se encontram e caminham juntos, interagindo durante todo o processo de aprendizagem. É importante que o adulto compreenda o que está sendo ensinado e que saiba aplicar em sua vida o conteúdo aprendido na escola. (FREIRE, 2002, p. 58)

O autoritarismo por parte dos professores aparece como uma das principais questões que influenciam a relação professor-aluno. É relevante notar que a questão disciplinar é necessária em sala de aula, porém as regras ou limites criados devem ser discutidos com o outro participante do processo, o aluno. Para que os mesmos desenvolvam autonomia de ideais e principalmente uma visão crítica de mundo. Para Navarro (2006, p.9),

"a mente humana expande-se, cria possibilidades, estabelece conexões entre os fatos. Enquanto isso, os métodos de ensino continuam baseados na transmissão de conhecimento do professor para o aluno; somos pouquíssimos estimulados a usar a curiosidade, aprender por conta própria, desenvolver nossa percepção pessoal sobre a realidade e contribuir para a construção do conhecimento".

O verdadeiro educador (professor), para Freire (1986), atua numa linha de educação problematizadora ou conscientizadora, visando ajudar a superar a relação opressor e oprimido. Essa educação problematizadora ou conscientizadora objetiva o desenvolvimento da consciência crítica e da liberdade. Professor e aluno são, portanto, sujeitos de um processo em que crescem juntos, porque, nas palavras de Freire (1987, p.29) “ [...] ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

Para Furlani (1990), um professor que esteja engajado nessa pratica transformadora procurará desmistificar e questionar, com o aluno, a cultura dominante e autoritária, valorizando a linguagem e cultura deste, criando condições para que cada aluno analise seu contexto social e produza seus conhecimentos.

O professor procurará juntamente com seus alunos, criar condições para que a consciência ingênua seja superada e que estes possam perceber as contradições da sociedade e grupos em que vivem. Haverá preocupação com cada aluno em si, com o processo e não com produtos de aprendizagem padronizados. O diálogo é desenvolvido, ao mesmo tempo em que são oportunizadas a cooperação, a união, a organização, a solução em comum dos problemas onde os alunos participarão do processo juntamente com o professor.

Segundo Furlani (1990) , a relação professor-aluno jamais deve ser cercada pela pedagogia do  fingimento,“finjo que ensino e você  finge que aprende”. Cabe ao professor quebrar essa  pedagogia do fingimento, trazendo o aluno para a realidade que ele vai enfrentar quando encarar uma sociedade esmagadora e rotuladora. No dia a dia é evidenciado que a relação entre o educador (professor) e o educando (aluno) é necessária, mas não é suficiente para o processo ensino-aprendizagem, o domínio do conteúdo por parte do professor e o comprometimento do aluno com  a aprendizagem, fazem necessário para esse processo.

O referido autor afirma que a assimilação dos conteúdos e o domínio de capacidades e habilidades e competências ganham sentido quando essa relação leva os alunos a terem determinadas atitudes e convicções que orientam a sua atividade na escola e na vida, constituindo o caráter educativo do ensino.

Todas estas considerações não se alienam do contexto da educação de jovens e adultos, uma vez que estes se constituem em indivíduos que contemplam os mesmos princípios gerais de educação, onde a boa relação professor-aluno poderá facilitar a melhoria e o desempenho dos alunos em diversos sentidos como sociais, políticos, econômico, afetivo dentre outros. Tal relação forneceria instrumentos catalisadores na aquisição de novos conhecimentos, formando cidadãos pensantes, críticos e sociais.

4  GESTÃO COMPARTILHADA NA EDUCAÇÃO DE ADULTOS

Considerando a Educação de Jovens e Adultos como uma modalidade de ensino desafiadora para as instituições escolares que precisam buscar  qualidade de ensino capaz de garantir a permanência desses educandos, elencamos a reflexão feita sobre os diversos fatores e problemas enfrentados no cotidiano escolar. Dentre esses fatores, está a evasão escolar como um dos maiores problemas enfrentados pela EJA, cuja visibilidade  é notável nesta modalidade de ensino. As causas deste fenômeno assolador apresentam-se sob quatro aspectos: o político, o social, o econômico e o curricular.

* O Social - quando se trata de educandos que não tiveram acesso à escola na idade adequada, vivenciam um estado de pobreza e vêem na escola uma solução para mudança de sua condição, entretanto submetem-se a uma  jornada dupla, muitas vezes tripla:  Família x Trabalho x Estudo. A dificuldade em  conciliar horários e prioridades leva-os à opção de abandonar a escola;

* O Político - há uma cultura imersa nas Políticas Públicas e no Sistema Educacional que privilegia o Ensino Fundamental, renega os desfavorecidos, principalmente jovens e adultos;

* O Econômico - principal fator causador da evasão escolar pela perversa distribuição da renda do País;

* O Curricular -  em efeito cascata a produção de metodologias obsoletas que não condizem com a realidade dos educandos, que espelha-se no Ensino Regular e acabam por convidar, entre aspas,  o jovem ou adulto  a desistir.

Outro fator relevante  é a tarefa fundamental do gestor de revestir de credibilidade também uma educação para jovens e adultos, através do compartilhamento da organização de atividades, metodologias, ideologias e estratégias a serem utilizadas pelo coletivo escolar incentivado a criatividade, a ousadia e experimentação. Estas estratégias negociadas e traçadas coletivamente, sob a liderança do gestor, poderão intervir nos problemas do processo educativo, na coordenação do processo de construção do conhecimento e das possibilidades de levar o aluno e o mestre  a aprender a aprender, sempre, partindo-se do ponto em que se encontram , respeitando e estimulando educadores e educandos.

Sendo assim, o trabalho com projetos tem a finalidade de contextualizar as atividades e os conteúdos apresentados que ao invés de serem reproduzidos de livros, se tornam mais ativos e dinâmicos, podendo ser explorados de forma interdisciplinar, possibilitando inúmeras atividades individuais e em grupo, facilitando a interação entre os elementos do grupo.

Sabemos que a aprendizagem por projetos ocorre por meio da interação e articulação entre conhecimentos de distintas áreas, conexões estas que se estabelecem a partir dos conhecimentos cotidianos dos estudantes, cujas expectativas, desejos e interesses são mobilizados na construção de conhecimentos científicos. Os conhecimentos cotidianos emergem como um todo unitário da própria situação em estudo, portanto, sem fragmentação disciplinar, e são direcionados por uma motivação intrínseca. Cabe ao professor provocar tomada de consciência sobre os conteúdos implícitos nos projetos e sua respectiva formalização, mas é preciso empregar o bom senso, para fazer as intervenções no momento apropriado.

Este trabalho com projetos é uma forma de vincular o aprendizado escolar aos interesses e anseios dos alunos, professores e de toda comunidade escolar, à realidade fora da escola e as questões culturais do grupo. A escola passa a ser um espaço de busca, de leitura de mundo e de reflexões críticas vencendo a pedagogia do oprimido e passando a ter conteúdos, conhecimentos e saberes sociais trabalhados na experiência da EJA.

Por isso a contribuição especifica do gestor escolar é muito importante para que a EJA seja uma modalidade de ensino com uma perspectiva democrática e dialógica, na busca pela democratização do ensino. O gestor democrático, deixa o passado histórico de controle e assume um papel crítico e responsável na preparação para o exercício da cidadania e para a formação do aluno autônomo. Neste pensamento, identificamos  dois itens que estes julgamos  essenciais e contributivos para a consecução de seus objetivos:

- Planejamento participativo – que tem por finalidade organizar e orientar as etapas de trabalho a serem seguidas, a fim de atingir os objetivos propostos. Através do planejamento o gestor poderá acompanhar o processo ensino-aprendizagem, dinamizando a ação educativa e a prática docente. Mas para ser significativo este precisa  ser  pensado e discutido coletivamente.

- Ação legalizadora – É fato que muitos jovens e adultos ao retornarem à escola, regressam sem documentação escolar, já que nunca estudaram ou tiveram seus documentos extraviados, sendo necessário que o gestor regularize sua vida escolar.

Dentre os trechos referentes a este questionamento, observamos a preocupação com o coletivo e a documentação dos educandos: “Poderá contribuir agindo integradamente com os outros componentes da escola, realizando um planejamento participativo que dará ao currículo uma forma caracterizada, pois todos têm conhecimento da realidade vivida “. Tudo isto podemos comprovar  através do próximo relato.

5 CESEC PROF. HERMELINDA TOLEDO: UMA EXPERIÊNCIA POSITIVA

O CESEC Professora Hermelinda Toledo está situado a Avenida Doutor Lisboa, número 31, Centro, Pouso Alegre MG. É uma Escola Estadual que tem a finalidade de matricular alunos jovens e adultos, em qualquer época do ano, para eliminar disciplinas do Ensino Fundamental (após 15 anos) e Médio (após 18 anos) ou concluir estes níveis de Ensino Básico, através do estudo e da avaliação no processo de sucessivos módulos didáticos, a fim de melhor se situarem diante dos desafios do mundo contemporâneo.

O CESEC atende em uma rede física adaptada - quatro apartamentos alugados pelo Estado, no centro da cidade de Pouso Alegre – num espaço precário, sem nenhuma caracterização escolar, entretanto de excelente acessibilidade.

A demanda anual crescente e ininterrupta soma hoje 2595 alunos e, a metodologia é muito diferenciada do Ensino Regular, com frequência semipresencial, onde o aluno pode escolher por quais disciplinas começar seus estudos e também a modalidade de atendimento de melhor compatibilidade à sua disponibilidade de tempo e a carga horária do professor que faz atendimentos modulares diferenciados pela manhã, à tarde e à noite.

A diretora Lizabete Lázara, em seu artigo ( Passagem Necessária à Escola Pública) publicado na revista Partes relata que O CESEC “Prof.ª Hermelinda Toledo” de Pouso Alegre recebeu a visita do educador, Dr. Romualdo Dias, filósofo da UNESP de Rio Claro, no dia 07 de março de 2008, para uma profunda reflexão sobre a vida curricular da instituição, que traz em seu plano gestor uma grande inquietação: construir coletivamente um currículo adequado à sua modalidade reparadora de ensino.

Dr. Romualdo Dias, em sua palestra, trouxe a proposta de oportunizar aos presentes um momento para que se cuidasse dos cuidadores, num espaço que não estava isolado do real: parar, debruçar, analisar, recolher, acumular... para  identificar  sabedoria ou equívocos, em meio à tão rica diversidade. Como nos alerta a fábula da ratoeira, urge realizar um trabalho para implicar-se, deslocar-se para  mobilizar participações. Não basta conscientizar. É pouco!

É preciso capturar as armadilhas do poder com a arte de aprender ensinando. Este filósofo  chamou-nos também a atenção para a verdadeira autoridade do educador: a experiência. Ela é o fazer real, o poder e o saber. O fato de refletir a prática já implica poder. Poder estar ali naquele  momento ou poder conferir ao aluno o seu certificado para ingressar no trabalho ou fazer concursos. O educador amplia o poder de ler e de escrever, ou seja, realiza um trabalho político,  até mesmo comprovado no Projeto: Histórias de Vida e Lições Aprendidas, onde os próprios alunos narram seus traços de despossuídos.)

O Professor Jeferson Natali relata em sua experiência: “Mas nosso trabalho vai, além disso. É preciso conhecer a bagagem cultural que esse aluno já tem e somente através dessa informação é que trabalharemos os conteúdos necessários a completar o que lhes falta”. A orientadora educacional Rosemary  em seu texto - A Luta Pela Democracia, p.39-40 publicado no livro a Arte do Mosaico afirma:  “Ouvir tem sido uma de nossas melhores experiências. Como é bom ouvir e compartilhar pensamentos!

Finalizando, o texto “ Os Cartógrafos”, p.6 e 7 do livro A Arte do Mosaico mostra o compromisso de mestres criadores e aprendizes  do CESEC que  atuam em uma demanda tão diversificada.

6 CONCLUSÃO

É sabido que a criação da Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), tornou possível certa autonomia das instituições escolares para criar o seu projeto pedagógico, com intuito da melhoria na qualidade do ensino. Em razão disso, entendemos que apenas a organização, a participação e as transformações no interior da escola, ligadas ao processo de uma gestão democrática, é que atenderão as perspectivas e anseios dos sujeitos articulados no projeto pedagógico.

Observamos que a contribuição específica do gestor na EJA se dá em três dimensões:

- Política – na orientação para construção de valores, exercício da cidadania, e da prática social, aí estando incluída a educação.

- Administrativa – na supervisão dos dias/horas letivos estabelecidos legalmente e da documentação escolar dos alunos e da escola.

- Pedagógico – em articular e orientar o processo educacional.

Tudo isto nos leva a perceber  a importância da ação dos gestores, como suporte, apoio para que o processo educativo aconteça. Neste sentido, quer seja apoio, planejamento ou execução, os gestores devem primar por uma prática voltada para uma gestão que incorpore a especificidade da EJA, atentando para problemas de evasão, metodologias, planejamento e documentação escolar, como maiores problemas na Educação de jovens e adultos. Por isso, o gestor deve assumir a EJA como modalidade de ensino tão importante quanto a educação, chamada regular, dando a mesma importância e significado, pois se assim não o fizer, corre-se o risco de impedir o bom andamento dos trabalhos deste tipo de ensino, relegando-o ao que aqui chamaremos: sub-educação.

Assim chegamos a conclusão que diversos fatores presentes na EJA relevantes em sua identificação têm que ter uma ação preventiva. Contudo, esta reflexão pretende ser um estímulo a outros estudos.

Sendo assim, se faz necessário que o Projeto Político Pedagógico, esteja preocupado com a questão de uma educação de adulto baseado na andragogia. Por isso, o gestor escolar neste processo, com suas atribuições, têm um papel fundamental no sentido de desempenhar a função de agente articulador entre professor-aluno-escola e comunidade, promover a integração destas ao âmbito escolar, atentar-se às necessidades apresentadas nesta integração para oferecer os subsídios necessários a atendê-las, dando um caráter social e uma visão humanista na efetivação da proposta pedagógica adotada pela instituição de educação supletiva.

7  Referências

BELLAN, Zezina Soares. Andragogia em Ação: Como Ensinar Adultos Sem se Tornar Maçante. Santa Bárbara d’Oeste, SP: SOCEP Editora, 2005
BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 20 julho 2009.
______.Lei de Diretrizes e Base da Educação nº 5692 de 11.08.71, capítulo IV. Ensino Supletivo. Legislação do Ensino Supletivo, MEC, DFU, Departamento de Docu-mentação e Divulgação, Brasília, 1974.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 9872002.
FREIRE , Paulo. Educação Como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 26ed, 2002.
FURLANI, Lucia Maria Teixeira. Autoridade do Professor: Meta, mito ou nada disso?. Coleção Polemica de nossos tempos, Vol. 28. Editora Cortez, 1990.
GOECKS, Rodrigo. Educação de adultos: Uma abordagem andragógica. Disponível em: <www.andragogia.com.br>. Acesso em: 26/07/2009.
HADDAD, S. E DI PIERRO, M. C. Escolarizaçao de Jovens e Adultos. Revista Brasileira De Educação. Nº 14. São Paulo: Anped, Mai/Jun/Jul/Ago De 2001.
MORIN, Edgar, 1921- Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro / Edgar Morin ; tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya ; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. - 2. ed. - São Paulo : Cortez ; Brasília, DF : UNESCO, 2000.
NAVARRO, Leila. O que a universidade não ensina e o mercado de trabalho exige. São Paulo: Ed Saraiva, 2006 (Sua carreira, seu sucesso; v.1).
OLIVEIRA,B.A  - Andragogia – Educação de Adultos, publicação no site: // www.serprofessor.pro.br – 28/03/2005, Acesso em 13/02/11
Coletânea  2008 – A Arte do Mosaico – 25 anos CESEC Professora Hermelinda Toledo

 

Autor deste artigo: Terezinha de Jesus Vasconcelos Gomes - participante desde Sáb, 16 de Abril de 2011.

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