Login

Sugestões

Faça o login e visualize as sugestões

Usuários on line

Nós temos 3074 webespectadores online

Revista

Gestão Universitária

Edições Anteriores 271 Empreendedorismo jovem: ser, criar, criticar para transformar
Empreendedorismo jovem: ser, criar, criticar para transformar PDF Imprimir E-mail
Avaliação do Usuário: / 20
PiorMelhor 
Escrito por Targelia Ferreira Bezerra de Souza Albuquerque   
Qua, 04 de Maio de 2011 00:00

Qualquer coisa que você possa fazer, ou sonha que possa fazer, comece   a fazê-la. A ousadia tem em si a genialidade, força e magia. (Goethe)

Estamos perplexos com as inovações do mundo contemporâneo! Mas, somos parte dele – sujeitos sociais – capazes de intervir no curso da história. Porém, há necessidade de nos reconhecermos como seres de relação no mundo e entendermos que  nos constituímos nele, entrelaçados numa  teia de relações sociais, culturais, econômicas, políticas, educacionais. Esta “rede” é tecida na complexidade do mundo do trabalho, no cenário da globalização da economia, dos impactos da reestruturação produtiva e, em especial, dos enfrentamentos entre os saberes locais e os processos globais, entre tantas outras questões.



Diante desse cenário,  precisamos aprender a problematizar, para compreendermos criticamente a realidade e não sermos aprisionados pela nossa própria “ingenuidade”, ou pelos condicionamentos sociais e culturais que podem dificultar que tenhamos sonhos e enxerguemos as nossas  possibilidades.  Assumimos, assim, com Gaarder (1997, p.28) que “ A resposta é sempre um trecho do caminho que está atrás de você. Só uma pergunta pode apontar o caminho para a  frente”.

Muitas são as questões que nos inquietam, porém nesse momento destacamos: quem somos nós? O que podemos ser? Como nos integrarmos com autonomia no mercado de trabalho? Será que estamos investindo na realização de nossos sonhos? Como demonstramos que somos seres éticos numa lógica social hegemônica que defende a competição, a seletividade, a exclusão, a expropriação da nossa humanidade? Em que medida, os/as jovens podem fazer a diferença como coautores de uma cidadania planetária, cuja base seja a qualidade de vida para todos os seres humanos e não humanos.

A velocidade das mudanças é imensurável. Nesse contexto, ficam cada vez mais visíveis, as aceleradas transformações advindas da criação de novos materiais, da microeletrônica, das inovações extraordinárias no campo das Tecnologias da Informação, da Nanotecnologia,  da Engenharia Genética, Biotecnologia, Neurociências, das pesquisas sobre clonagem, células tronco e reprodução humana. Isto nos  fascina e  coloca em xeque a nossa própria condição de seres humanos, mobilizando e desafiando os nossos  jovens a assumirem novos papéis na sociedade.

Vivemos num mundo de paradoxos; por um lado, as  transformações e  os avanços  já possibilitam as condições objetivas de se acabar com a miséria no planeta, de se democratizar o acesso aos bens de consumo, de se contribuir com a produção da existência humana e da melhoria da qualidade de vida, fundamentalmente, das nações mais pobres. Por outro lado, presenciamos o agravamento das contradições sociais, mecanismos antidemocráticos de inserção social, estratégias  discriminatórias e excludentes, orquestradas pela “nova direita”. Esse é o cenário em que nossos jovens precisarão se integrar e interagir. Como, então, fazer parte, sem perder a sua identidade e a própria condição de sujeito humano? (ALBUQUERQUE, 2007).

Nos últimos trinta anos, as transformações sociais vêm se radicalizando e exigindo posicionamentos científicos e tecnológicos, cada vez mais inovadores. A sociedade do conhecimento gera poder na medida em que constrói as relações de subordinação. Por essa razão, uma educação emancipadora se torna indispensável, cada vez mais cedo. Não se pode esperar mais o término de um curso superior ou o ingresso no primeiro emprego para se pensar em empreender e inovar. A excelente formação acadêmica e tecnológica/profissional de nossos jovens continua a ser uma das exigências  de sua educação plena, porém novas demandas estão se impondo como necessárias à inserção crítica e com autonomia no mercado de trabalho e colocando novos desafios à reinvenção da sua empregabilidade. O emprego, na ótica tradicional, já, não dá conta das exigências planetárias de sobrevivência, de desenvolvimento sustentável, entre outras demandas, em síntese, da produção de uma sociedade digna, fraterna e justa.

Problematizar sobre novas possibilidades de emprego e alternativas criativas de sobrevivência, que contribuam para o desenvolvimento das comunidades locais e de processos mais amplos, passa a ser responsabilidade de todos(as) os(as) educadores(as) e profissionais que direta ou indiretamente participam da vida dos(as) jovens no nosso país. Isso, também, vai fazendo parte da vida  do próprio jovem, na medida em  que  constrói e/ou conquista autonomia.

Pensemos com Ricca que, se o emprego da forma que conhecemos hoje está cada vez mais escasso, por que continuamos exclusivamente a formar jovens para serem empregados? Por que não formamos também nossos jovens para serem empregadores? Ou, melhor, empreendedores?  (RICCA, 2004).

Do ponto de vista do senso comum,  o empreendedorismo está relacionado à ação de empreender, que significa decidir fazer (tarefa difícil e trabalhosa); pôr em execução, realizar e ao resultado dessa ação - o empreendimento – ato de quem assume tarefa ou responsabilidade de elaborar um projeto, montar e /ou explorar um negócio. (HOUAISS, 2008).

Este conceito precisa ser ampliado, relacionando-o principalmente com as categorias de autonomia, criticidade e criatividade, como nos ensinaria Paulo Freire (2007). Precisamos  estar situados no mundo como sujeitos construtores da história, pois viver intensamente o presente e empreender é iniciar a construção de  um futuro, provavelmente promissor.

Eis um grande desafio a enfrentar!  É importante  considerar  o empreendedorismo como uma oportunidade a mais para a inserção crítica e com autonomia   do jovem no mercado de trabalho, como possibilidade de afirmação da sua identidade como ser humano. Isso pode torna-lo capaz de socializar ideias, de trabalhar junto, de inovar num processo colaborativo, de realizar-se em processos criativos de trabalho, rompendo com dependência dos padrões tradicionais de emprego. Empreender é ampliar uma visão de mundo, de si mesmo no mundo do trabalho.

Nessa ótica, precisamos investir no EMPREENDEDORISMO JOVEM, numa perspectiva de Pedagogia da Autonomia (FREIRE, 2007), ou seja, no protagonismo juvenil. As ações empreendedoras surgem como novas possibilidades de geração de trabalho e renda. Para Ricca (2004), isso não significa que apenas o empreendedorismo vai resolver toda a demanda por trabalho e renda. É evidente que a relação de emprego continuará a existir. Entretanto, ela não será mais exclusiva nem tampouco a grande geradora de postos de trabalho. Hoje, menos da metade dos empregados possuem relações formais de trabalho. Esse número fica cada vez mais reduzido. É mais uma vez a realidade indicando o caminho.

O desenvolvimento do comportamento empreendedor passa, necessariamente, pela valorização e pela capacitação para o associativismo. A associação, a rede social, o terceiro setor, a vida da forma como se vê hoje e tendo como perspectiva a preocupação com a sobrevivência no planeta, com a ecologia, a indignação com a miséria; toda essa dinâmica está gerando novas oportunidades de trabalho e de renda que serão, inclusive, vetores de oportunidades para o trabalho no futuro. (RICCA, 2004, grifos nossos).

A idéia das novas formas de trabalho e, não exclusivamente de emprego, vem ganhando força entre diversos segmentos da sociedade. Nesse contexto, torna-se cada vez mais necessária a  inclusão do tema “empreendedorismo/protagonismo juvenil” nos currículos da Escola Básica e da Universidade, para que o(a) jovem tenha o direito de ser educado para a mudança e não para estabilidade. Isso exige competências: política, ética, técnica e estética (RIOS, 2001) dos(as) envolvidos(as) nos processos educativos dos(as) jovens, em diferentes espaços formais e informais. A responsabilidade e o compromisso com essa formação incluem uma prática educativa dialógica que possibilite aos (às) jovens “ uma leitura crítica de mundo” e o reconhecimento de, como sujeitos históricos, podem ousar e  intervir com autonomia no mercado de trabalho, participando da construção de um mundo melhor.

“Ele deve ser ensinado a conviver com o risco e aprender com ele, a pensar grande, a ter autoestima, coragem, confiança e capacidade para gerir sua própria vida, vendo na mudança a oportunidade e não a ameaça. Abrir um pequeno negócio deveria ser objeto de realização pessoal, e não, de falta de opção”. (RICCA, 2004).

Nessa perspectiva, podemos afirmar que, por excelência, o empreendedorismo é um processo colaborativo, criativo, crítico, ético e solidário e  ser um jovem empreendedor é assumir-se  responsável pelo processo de humanização do ser humano; é constituir-se como cidadão do bem para contribuir com a melhoria da qualidade de vida no nosso planeta – nossa morada. Reafirmamos assim que o empreendedorismo jovem deve ser compreendido como PROTAGONISMO JUVENIL, porque o/a jovem constrói a sua marca no exercício da cidadania.

REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Targelia de Souza. Ética e avaliação: uma reflexão crítica à luz do pensamento de Paulo Freire. In: CALADO, Alder Julio Ferreira(org.). Conferências dos Colóquios Internacionais Paulo Freire (II). Recife: Bagaço/Centro Paulo Freire, 2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 35 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
GAARDER, Jostein. Ei! Tem alguém aí? São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1997.
HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
RICCA, José Luiz.  Texto sobre Empreendedorismo jovem. SEBRAE, 2004. (Texto recebido e aceito para publicação, on line, em 20 de julho de 2004). Para uma pesquisa mais completa, visitem os sites: http://www.gemconsortium.org/ (http://www.gemconsortium.org/category_list.asp?cid=123) ( (Consulta técnica em 9 de junho de 2009).
RIOS, Terezinha Azerêdo. Compreender e Ensinar. Por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2001.

 

Autor deste artigo: Targelia Ferreira Bezerra de Souza Albuquerque - participante desde Qua, 12 de Maio de 2010.

Veja outros artigos deste autor:

Please register or login to add your comments to this article.

Copyright © 2013 REDEMEBOX - Todos os direitos reservados

eXTReMe Tracker