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Edições Anteriores 274 Sobre as Teorias de Chomsky: um brevíssimo comentário
Sobre as Teorias de Chomsky: um brevíssimo comentário PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Marinho Celestino de Souza Filho   
Qua, 25 de Maio de 2011 00:00

Resumo: Nesse breve ensaio, produzido a partir de pesquisa bibliográfica, pretendo mostrar como funcionam as Teorias formuladas por Chomsky. Pretendo ainda mostrar a importância dessas teorias para o desenvolvimento dos estudos de outras áreas do conhecimento que também se relacionam com a Linguagem Humana, são elas: Lógica, Matemática, Filosofia, Biologia e Psicologia.



Palavras-chave: Teorias. Chomsky. Linguagem Humana.

Abstract: In this short essay, produced from literature, I intend to show how operate the theories formulated by Chomsky. I intend still to show the importance of these theories to the development of studies from other areas of knowledge that also relate with the human language, they are: Logic, Math, Philosophy, Biology and Psychology.

Key Words: Theories. Chomsky. Human Language.

Trataremos nesse artigo sobre as teorias científicas acerca da Linguagem Humana propostas por Avram Noam Chomsky. Nesse sentido, abordaremos essas teorias na seguinte ordem, primeiro: as Dicotomias Chomskyanas e em seguida a Gramática Gerativa, a Sintagmática, e, finalmente, a Gerativa Transformacional. Dessa forma, sabemos que o termo dicotomia vem do grego e ao contrário do que muita gente imagina, não significa a divisão de um todo em duas partes, todavia, é a divisão do todo em várias partes. Em vista disso, teríamos as seguintes dicotomias advindas de Chomsky apud Luft(1995): Aceitabilidade/Gramaticalidade, Desempenho/Competência e, finalmente, a Performance.

Nesse processo, Aceitabilidade, um dos termos propostos pelo cientista acima mencionado, quer dizer o seguinte: são sentenças aceitas, possíveis em um determinado sistema linguístico, isto é, são sentenças que não seriam consideradas estranhas, exóticas a um falante/ouvinte de uma determinada língua, por exemplo, no caso da Língua Portuguesa:

a)      “Nóis vai ao Mercadu Centrá, sábado, à tarde.”
b)     “As moça de Belzonti e de Minas Gerais é linda.”
c)      “Nós vamos ao Mercado Central, sábado, à tarde.”
d)     “As moças de Belo Horizonte e de Minas Gerais são lindas.”

Todas as frases citadas, acima, são consideradas frases aceitas no português. Não obstante, alguém poderia afirmar: “as frases (a) e (b) não estão, “gramaticalmente corretas.” Mas isto depende de alguns fatores, como por exemplo: qual o tipo de gramática está sendo considerado? Uma vez que não há apenas um único tipo de Gramática.

Além disso, o que acontece com frases do tipo (a) e (b), não é uma questão de não pertencerem à Língua Portuguesa, mas, é um caso típico de modalidade da língua, ou seja, há, basicamente, duas maneiras distintas de falar ou escrever a nossa língua materna; uma modalidade que costumamos considerar popular: frases do tipo (a), (b) e outra que é considerada Culta ou Padrão, sentenças do tipo (c) e (d).

Dessa maneira, as duas primeiras frases acima citadas, pertencem ao português do Brasil e são aceitas independente da modalidade que se usa ou que se pretende usar, ao falante/ouvinte de nossa língua materna lhe é outorgado o direito de falar ou de escrever em quaisquer umas das variedades linguísticas, dependendo da situação e com quem se fala.

Logo, as duas primeiras frases (a) e (b) examinadas por nós são aceitas no português brasileiro, o que acontece, como já dissemos anteriormente, é uma questão de saber utilizar a língua adequadamente nas diversas situações sociais por que passamos, todavia, este fato é intrínseco ao desempenho comunicativo de cada falante/ouvinte de uma determinada língua, ou seja, depende de desenvolver melhor a Competência Comunicativa dos falantes/ouvintes de certa língua. E quanto à Gramaticalidade?

A Gramaticalidade, ligada, intrinsecamente, à Aceitabilidade, seria a característica imanente a todo falante/ouvinte nativo de construir sentenças possíveis, bem estruturadas em um determinado sistema linguístico, isto é, segundo Chomsky (1971 a), as pessoas, de uma maneira geral, nascem predispostas a falarem uma determinada língua, ou melhor, em toda teoria deste renomado filósofo da linguagem, temos o que  ele chamou de Teoria do Inatismo, os indivíduos nascem programados para falarem e compreenderem uma determinada língua, diante disso, a Gramaticalidade seria, justamente, a característica que  todo falante/ouvinte possui de falar bem e adequadamente, construir sentenças possíveis dentro de uma língua, o fenômeno da Gramaticalidade está ligado à gramática natural de uma determinada língua e não à Gramática Normativa dessa língua.

Já a Competência estaria, intimamente, ligada à sociedade, ou seja, a Competência para Chomsky (1971 a) é um fator social, desse modo, “a priori”, todos nascem com Competência para falar uma língua, no entanto, a questão de bem fazê-lo ou não, depende de outro fator: o Desempenho. E o que seria o Desempenho? Seria justamente, a boa, a eficiente atuação individual de cada pessoa para falar e compreender melhor uma determinada língua, já a Competência é um fator social, isto é, ligado, diretamente, ao sistema linguístico de cada pessoa, ou seja, ao idioma, a língua que cada um possui.

É bom frisar que a Competência à luz das Teorias Chomskyanas não tem relação com a competência que conhecemos, isto é, atuação eficiente e individual de cada pessoa perante uma tarefa ou um trabalho a ser realizado. E quanto à Performance? A Performance seria a execução da tarefa ou do trabalho dado, ou melhor, o ato ou efeito de executar algo, o fazer, propriamente, dito. Assim, pode-se inferir que as Dicotomias Chomskyanas estão intimamente ligadas ao conceito de Gramática Gerativa, porque o Desempenho seria justamente a capacidade de o indivíduo com um conjunto finito de regras gerar, engendrar um número praticamente infinito de sentenças gramaticais e aceitas num determinado sistema linguístico e a Competência funcionaria para o sujeito como elemento essencial para se integrar na sociedade, porque, “a priori”, ninguém fala sozinho, já que a língua consiste num fator social, quanto à Performance, ela baseia-se  no ato ou efeito de falar.

Nesse contexto, o princípio básico da Gramática Gerativa fundamenta-se na geração, na criação, no engendramento de frases gramaticais e aceitáveis de uma dada língua, a saber; o seu principal pressuposto seria o seguinte: “com um conjunto finito de regras, o falante/ouvinte de uma determinada língua produz um conjunto infinito de enunciados.” Já a Gramática Sintagmática se alicerça sobre o conceito de Sintagma. E o que seria o Sintagma? Nessa perspectiva, quem criou esse termo foi Ferdinand Saussure, franco-suíço, pai da Linguística, ciência que com método próprio procura descrever o funcionamento de todas as línguas que existem no nosso planeta.

Saussure (1969), ao utilizar o termo Sintagma, utilizou também à palavra Paradigma.  Sintagma, conforme esse estudioso da linguagem humana, seriam todos os constituintes de uma oração, ou melhor, os Constituintes imediatos e os Constituintes Oracionais. Tanto os constituintes Imediatos quanto os Oracionais, segundo Saussure (1969), fazem parte do eixo da combinação, ou seja, quando combinamos as palavras para formar frases ou orações estamos utilizando o que o autor acima referido, chamou de Sintagma. Vejamos como isto funciona na prática:

a)      meninas      Belo Horizonte         de      AS         são         lindas.

                  1                  2                   3        4            5               6 

            Combinando as palavras, acima, teríamos:

b)     As meninas de Belo Horizonte são lindas.

Logo, esta frase do português contém cinco Sintagmas diferentes, porém, relacionados semanticamente, entre si. Os Constituintes Imediatos da Oração seriam, respectivamente:

c) 1, 2, 3, 4, 5 e 6 que combinados, como vimos, gera uma frase do português.

Já os Constituintes Oracionais seriam, apenas, os dois termos considerados essenciais da oração, por exemplo:

d) (As pessoas de Minas Gerais) (são simpáticas).

                     I                                      II


Sendo assim, temos em (I) – Sintagma Nominal, conhecido pela Gramática Normativa ou Escolar como Sujeito e em (II) – Sintagma Verbal, Também conhecido pela Gramática Normativa ou Escolar como Predicado. Quanto ao Paradigma pertenceria ao eixo da seleção, da escolha, ou seja, o falante/ouvinte de qualquer língua para formar frases dessa língua, utiliza duas operações, a saber; a Paradigmática e a Sintagmática, porque, primeiro, selecionamos as palavras ou termos que desejamos utilizar para gerar a frase de uma determinada língua, vamos supor que quiséssemos gerar a seguinte frase de nossa língua materna:

        I                      II

     e) (OS meninos) (jogaram bola.)

          1        2                 3          4


I e II seriam os Sintagmas Oracionais: Sintagma Nominal – Sujeito
e Sintagma Verbal – Predicado.

Apesar de Saussure (1969) ter criado os conceitos de Sintagma e Paradigma, quem desenvolveu uma gramática cujo arcabouço teórico fez uso dos Sintagmas foi Avram Noam Chomsky. E o que seria esta gramática que é conhecida como Gramática Sintagmática? Quais algumas de suas vantagens? É o que tentaremos deslindar no transcorrer desse trabalho. A Gramática Sintagmática como o próprio nome diz, procura descrever a estrutura sintática de uma língua, utilizando como suporte, base a teoria dos Sintagmas, elementos fundamentais para a construção de sentenças, frases.

Desse modo, como vimos anteriormente, nesse trabalho, para formamos frases de uma determinada língua, podemos utilizar tanto os Sintagmas Nominais como os Verbais, apesar de as Gramáticas Normativas ou Escolares pregarem que os termos essenciais da oração seriam o Sujeito e o Predicado, e depois elas mesmas postulam no bojo de sua teoria sintática Orações Sem Sujeito e orações cujo Sujeito é Indeterminado, ou seja, não se pode determinar, saber quem é o Sujeito, dessa maneira, acreditamos que o único termo, realmente, essencial à oração seria o Predicado.

Por isso, mostraremos algumas vantagens de se descrever os termos sintáticos e morfológicos de uma língua tomando como base tanto os Sintagmas Verbais, quanto os Nominais para este tipo de descrição; a saber, a Gramática Sintagmática.

Primeiramente, ao invés de termos um grande número de Classes e Funções, isto é, Adjetivo, Pronome, Numeral, Artigo, Substantivo, Sujeito, Predicado, Objeto Direto, etc. Teríamos apenas duas Classes ou Funções: Sintagmas Nominais e Sintagmas Verbais. Dessa maneira, com esta visão, economizaríamos e simplificaríamos a descrição sintática e morfológica de uma determinada língua. Além disso, frases de nossa língua materna que a Gramática Normativa, abreviada por G.N., por uma questão de economia lingüística, não consegue descrever, sintaticamente, como por exemplo:“Falamos de Sônia ao diretor da escola.” A Gramática Sintagmática descreve. Por que a G.N. não consegue descrever tal oração? Porque, a dita oração possui dois Objetos Indiretos e a G.N. não descreve orações desse tipo.

Verbos considerados, tradicionalmente, como Verbos Intransitivos: morrer, viver, etc. Na Gramática Sintagmática podemos postular complementos para estes tipos de verbos, como, por exemplo, em Rondônia, em alguns municípios é muito comum frases do seguinte tipo: “Fulano morreu de morte matada.” E ainda: “Fulano morreu de morte morrida.” Além de percebemos a existência de complementos verbais nas frases anteriores, apesar de os verbos serem considerados Intransitivos na doutrina tradicional, também notamos algo, extremamente importante, ou seja, as diferenças semânticas que o falante/ouvinte quer marcar, porque, ao enunciar a primeira frase este mesmo falante/ouvinte do português quer dizer que uma determinada pessoa foi assassinada, não morreu de “causa natural”,  já na segunda frase o mesmo falante/ouvinte pretende dizer que um determinado indivíduo morreu de “morte natural”, isto é, não foi assassinado.

No caso do verbo viver, também considerado Intransitivo pela G.N.: é perfeitamente aceitável no português frases do tipo: “A mulher viveu uma vida tranquila.” E: “O homem vivia de amarguras.” Diante do exposto, notamos a importância, a relevância de se descrever uma língua, utilizando também a Gramática Sintagmática.

Após tratarmos da Gramática Sintagmática, teceremos algumas considerações sobre a última parte de nosso trabalho: a Gramática Gerativa Transformacional. E o que seria este tipo de gramática? A Gramática Gerativa Transformacional consistiria na transformação de Estruturas Profundas em Superficiais.

Segundo Chomsky (1971 a), a Estrutura Profunda (abreviada, nesse momento, por E.P) seria um dos mecanismos alojados no cérebro humano responsável pela produção dos enunciados, das sentenças, o próprio Chomsky (1971 a), parece que não precisou exatamente, o que é este mecanismo e em qual parte do cérebro humano se aloja, ou seja, o que se sabe, é que no bojo da Teoria Chomskyana, Teoria do Inatismo, construída sob a base de que todos os indivíduos nascem predispostos para falar uma determinada língua, isto é, o indivíduo nasce com condições biológicas, fisiológicas e psicológicas para falar, apreender certo tipo de língua.

Dessa forma, podemos afirmar que a E.P está localiza em alguma parte do interior do cérebro humano, mas, quando os falantes/ouvintes de uma determinada língua produzem certos enunciados, discursos, isto é, produzem a fala, temos, neste caso, a Estrutura Superficial – E.S está intrinsecamente ligada à E.P. Por quê? Porque, primeiramente, as ideias, os pensamentos são processados no cérebro humano (não nos interessa, neste momento, discutir neste artigo os processos neurofisiológicos por que perpassam o cérebro humano para a produção, realização e emissão do discurso ou fala) e só depois disso se tornam enunciados, ou seja, transformam-se em frases, orações, discursos, falas propriamente ditos.

Logo, a Estrutura Profunda – E.P tem primazia sobre a Estrutura Superficial.

Na E.P, os pensamentos alojados no cérebro humano são expressos numa determinada ordem, cumprindo certa função, isto implicaria dizer que o componente essencial da Gramática Gerativa Transformacional seria, basicamente, o sintático. Este componente procura identificar as funções, relações e a ordem das palavras numa determinada oração, ou melhor, se naquele contexto, ou naquela situação a palavra ou um grupo de palavras estão funcionando como sujeito, predicado, objeto direto, indireto, etc.

Mas também, segundo Chomsky (1975 b), o componente sintático cumpre ainda uma das funções mais relevantes numa dada língua, porque, é o responsável pelo caráter criativo, ou melhor, através de tão referido componente é que são geradas todas as frases de uma língua, além do componente sintático, a Gramática Gerativa Transformacional engloba outros dois componentes em seu bojo: o fonológico e o semântico, o primeiro responsável pela produção dos sons das frases, orações de uma determinada língua, já o segundo trata do aspecto interpretativo, do sentido das frases e orações de certa língua.

A Estrutura Superficial correspondente à forma física de realização concreta das frases, orações, ou seja, neste tipo de estrutura, as frases, as orações já estão prontas, escritas ou proferidas por um falante/ouvinte de certa língua. Diante do exposto, vejamos como funcionariam na prática a Estrutura Profunda e a Superficial. Assim, vamos supor que tivéssemos a seguinte oração do português brasileiro:

(I)       O escritor e a escritora enfrentam diversos problemas.

Desdobrando-se esta oração, teríamos:

(i)                 O escritor enfrentar diversos problemas.
(ii)               A escritora enfrentar diversos problemas.

Somando-se (i) + (ii), obteríamos, neste contexto:

(iii)             O escritor e a escritora enfrentam diversos problemas.

Chomsky (1971 a), parece acreditar que os pensamentos, as expressões linguísticas eram gerados no interior do cérebro humano no infinitivo, o que justificaria a terminação em r dos verbos em (i), (ii) e estas duas orações seriam a Estrutura Profunda, por outro lado, (iii) seria a Estrutura Superficial. É Claro que esta crença de Chomsky, qual seja, os pensamentos, as expressões lingüísticas são gerados no interior do cérebro humano no infinitivo, carece ainda de comprovação científica. Embora saibamos que a função primordial da Gramática Gerativa Transformacional, seria a de descrever, explicitar, mostrar como os mecanismos da E.P se transformam em E.S.

Do exposto, podemos asseverar que as teorias acerca da Linguagem Humana propostas por Chomsky (1971 a e 1975 b) trazem para a Linguística contribuições valiosas no que tange à apreciação científica nas áreas da Lógica e da Matemática e ainda propõem uma nova abordagem no que se refere ao desenvolvimento dos estudos sobre os fundamentos biológicos, fisiológicos e psicológicos da Linguagem Humana.

Referências Bibliográficas
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12 ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
CHOMSKY, Noam. Linguagem e pensamento. Petrópolis: Vozes, 1971.
________________. Aspectos da teoria da sintaxe. Coimbra: Armênio Amado, 1975.
KOCH, Ingedore Villaça & SOUZA e SILVA, Maria Cecília Pereira. Lingüística Aplicada ao Português: Sintaxe. 9ed. São Paulo: Cortez, 2000.
LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. 4ed. São Paulo: Ática, 1995.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Trad de A. Chelini, José P. Paes e I. Blikstein. São Paulo: Cultrix, USP, 1969.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no para o 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.

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SOBRE AS TEORIAS DE CHOMSKY: UM BREVÍSSIMO COMENTÁRIO - Para saber mais sobre Chomsky e sua teoria, ver: LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. 4 ed. São Paulo: Ática, 1995.

MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO - Mestre em Linguística e Professor de Língua Portuguesa do IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ariquemes.

 
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