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Edições Anteriores 83 O mercado da educação e seus rumos
O mercado da educação e seus rumos PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Haroldo Araujo Filho   
Qua, 15 de Fevereiro de 2006 21:00
Já há algum tempo, mais precisamente oito anos, venho refletindo à respeito dos caminhos que a educação tomou no país.

Na época, estava no terceiro ano da Faculdade de Nutrição em Ouro Preto, Minas Gerais, e o contato com alguns professores e colegas fazia-me pensar sobre o assunto, me trazendo até os dias atuais ainda sob uma névoa de dúvidas e incômodo desconforto.

A discussão acadêmica se limitava à preocupação com o mercado de trabalho, isto é, como faríamos num mercado tão inchado, com tantos profissionais que vinham por aí.

Especificamente em relação à Nutrição, onde possuía mais conhecimento, minha grande esperança de articulação da classe estava chegando junto a isso, na mesma onda de força de trabalho (mesmo entendendo que o número de cursos autorizados estava abusivo). Acreditava, naquele momento, que pessoas que passariam por instituições particulares seriam mais críticas em relação ao seu futuro, já que muito dinheiro teria sido investido em sua formação. E vários concordaram comigo nessa reflexão.

Passados todos estes anos, não é bem isso que estou vendo!

Desarticulação de classes, competitividade na hora e da forma errada, falta de criticidade, desemprego, remuneração baixa e sem critérios... alguns dos reflexos já sentidos - são minhas impressões.

A ênfase nos efeitos, com total falta de cooperação entre os indivíduos, vem formando profissionais cada vez mais técnicos e reprodutores desse aprendizado mecanizado. Profissionais que se submetem a salários mais baixos, mesmo após tanto investimento, já que a lei da oferta e da procura toma proporções até então não imaginadas. Cursos superiores de dois anos, ensino à distância sem fiscalização adequada, instituições sem adequadas condições de funcionamento para formar um profissional de verdade, um cidadão.
Vejo exemplos diariamente: as pessoas não querem se expor, e isso é ruim para todos. Tirando as raras exceções, está claro o quanto o profissional de hoje (geração após a minha) foi influenciado pela mercantilização da Educação. O "boom" de cursos na última década trouxe um enquadramento ideológico que vai se refletir por muito tempo.

Para onde vai essa mão de obra? Para muitos graduandos ou recém-formados seu objetivo profissional é dar aula na instituição que o formou ou o está formando: sem dúvida, muito bem capacitados para reproduzirem o que aprenderam - mais um círculo vicioso na nossa história. A grande maioria já se forma preocupada com a "pós", pois sentimos diariamente que a Graduação, tão almejada por gerações, não tem mais tanto valor: ou se faz a "especialização", ou você será apenas mais um.

Já ouvi representantes de instituições particulares, ao serem questionados sobre a qualidade do ensino, falarem que "... o mercado se regula, só os bons vão ficar...". Mercado? O martelo foi batido, transformaram a educação em comércio, negócio, e eu nem fiquei sabendo. Essa mercantilização foi e está sendo extremamente prejudicial - e só.

Pressionados pelo Governo, que exige mais titulação nos quadros docentes, e aplica avaliações de final de curso, entre outros métodos, as instituições mal estruturadas facilitam o ingresso e enchem suas salas de aula com cursos, no mínimo, duvidosos. Além de fazerem o discurso de parceiros do país e centros de conhecimento para a sociedade.

A Educação deveria tornar as pessoas mais capazes de pensar, mas como disse Paulo Freire: "A Educação reflete a estrutura do poder", e continua argumentando que o "homem passivo" permite que a Educação o enquadre ao modelo "bancário", de depósito de informações.

E é isto mesmo, não podemos nos iludir, acreditando que a técnica pedagógica é neutra diante do contexto político que estamos inseridos.



Notas:
[1] A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, responsável por estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional, proporcionou a abertura de inúmeras Instituições de Ensino Superior, e um outro sem número de cursos de graduação e pós-graduação.


 

Autor deste artigo: Haroldo Araujo Filho - participante desde Ter, 10 de Janeiro de 2006.

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