Eurípides A. Silva

Alan Roger S. Silva

Quando um jovem sai de casa para se matricular numa universidade, sobretudo se localizada numa cidade distante, tendo que abrir mão do conforto e da proteção do lar, a experiência costuma deixá-lo inseguro (como inseguros costumam ficar os próprios pais). E não sem razão. A adaptação à nova vida – mesmo no caso de jovens que já saíram de casa para fazer, por exemplo, um curso pré-vestibular – não é imediata, demandando, como talvez poucas vezes cogitado no lar, mudanças de hábitos e acréscimos de responsabilidades importantes. Enfim, trata-se de um desafio e tanto!

Todavia – se este for seu caso –, saiba que com determinação, prudência e bom senso as coisas podem se ajeitar a contento. Daí o sentido das dicas aqui repassadas, simples, porém certificadas por quem já enfrentou esse desafio; aliás, como o enfrentam, anualmente, dezenas de milhares de estudantes país afora. (Em tempo: o Brasil possui, atualmente, cerca de 6,3 milhões de universitários matriculados em cursos de graduação, 1,6 milhão em instituições públicas e 4,7 milhões em instituições privadas.)

Definida a cidade para a qual vai se transferir, uma das primeiras providências que você terá de assumir é a escolha da nova moradia. Portanto, tão logo possível, disponha-se a consultar colegas, professores, repúblicas, pensões, imobiliárias ou mesmo a universidade onde vai estudar (consulte, inclusive, o coordenador do curso). Não desconsidere, no entanto, que nas proximidades ou no interior do campus você vai deparar com faixas, cartazes, fôlderes, etc., com ofertas de moradia. É claro que isso tudo torna recomendável uma visita prévia à cidade, antes mesmo da efetivação da matrícula, a fim de checar condições e conveniências. Enfatizam-se, ainda, duas coisas. Não é incomum o surgimento de ofertas interessantes após o início das aulas, o que validaria a opção por acomodações provisórias. Além do que as instituições públicas costumam manter moradias ou auxílio-aluguel destinados a estudantes socioeconomicamente carentes. (Informações são obtidas junto ao seu setor acadêmico, pessoalmente, via site ou via telefone.)

Resolvida a questão da moradia, é importante estar ciente de que pessoas mal-intencionadas costumam rondar as imediações de faculdades e repúblicas – talvez acreditando que estudantes sejam pouco precavidos. Por isso, providencie para que as trancas da casa sejam reforçadas, se possível instalando “olho mágico” nas portas. Acautele-se mesmo ao se ausentar de casa por pouco tempo: não deixe portas abertas (nem mesmo uma simples janela, se não tiver grades), nem bens de valor à vista. Um lembrete: seguros residenciais são baratos e podem incluir notebook, bicicleta, smartphone, etc. Evite conflitos e zele por uma relação respeitosa com vizinhos. No caso de residir em prédio de apartamentos, fique ligado às regras estabelecidas pelos moradores, sobretudo ao receber colegas (ainda que para meras reuniões de estudo). Em qualquer circunstância, tenha jogo de cintura, aja com diplomacia e assertividade, respeitando as regras de convivência.

Mantenha em casa, em local de fácil consulta, mapas da cidade e do campus (encontrados em livrarias ou na Internet, quando não disponibilizados pela administração da universidade). Da mesma maneira, não dispense listas de contatos, incluindo números de telefones de familiares, amigos, polícia, emergências, taxis, rodoviárias, aeroportos, etc. Nos primeiros dias de aula, anote (e deixe-os à vista, em casa) os horários de atendimento (ou funcionamento) de instâncias como setor acadêmico-administrativo, núcleos ou serviços de apoio a discentes, coordenadoria de curso, bibliotecas, laboratórios multiusuários de informática, ambulatórios médicos e odontológicos, assistência social, restaurante universitário, moradia estudantil, postos bancários, etc. Entre outros benefícios, esse tipo de providência evita perda de tempo com deslocamentos infrutíferos e, muitas vezes, dispendiosos até o campus. Por ocasião das semanas de recepção aos calouros, as universidades têm por hábito distribuir manuais contemplando essas e muitas outras informações importantes. Tenha um exemplar sempre à mão.

Comunique as pessoas com quem resida, entre outras de sua confiança, quando tiver de se ausentar de casa por conta de situações imprevistas ou não habituais (por precaução, não custa dar uma ligada para a casa dos pais). Esse é o tipo de situação que pode ocorrer nos casos de viagens para fins de participação em excursões, estágios, congressos, etc. Ao sair de casa, certifique-se de que esteja munido de documentos de identidade e de números de telefones que possam ser acessados numa eventualidade. Detalhe: não descuide da carga da bateria de seu celular; tenha com você um carregador, se for o caso.

Ao utilizar caixas eletrônicos, esforce-se por fazê-lo somente durante o dia, dando preferência aos postos bancários de seu campus. À noite não dispense a companhia de colegas e busque por caixas estrategicamente bem localizados. Na rua ou nos coletivos, mesmo no interior do campus universitário, fique atento às suas mochilas ou bolsas. Em qualquer situação, sentindo-se seguido, abrigue-se num local de maior afluência. Na dúvida, ligue para a segurança (caso esteja no campus) ou para a polícia. Alarmes pessoais, discretos e baratos, podem ser úteis em situações de emergência; no exterior não é de todo raro universidades distribuírem esse dispositivo gratuitamente aos alunos. Porém, lembre-se: nenhum bem material se compara à sua vida ou à sua integridade física.

Não deixe pertences no interior de veículos, mesmo dentro do campus. Estacione em locais com boa afluência e iluminação (seguro do carro e alarme são essenciais). Permanecendo no campus fora do horário acadêmico-administrativo, comunique os responsáveis pela segurança e evite andar só. Cuidado ao pedir ou oferecer carona, mesmo no interior do campus! Cobre da administração da universidade e do Diretório Acadêmico programas que incrementem a segurança interna: rondas motorizadas, câmeras de monitoramento, circulação de ônibus, pontos de taxi (credenciados junto à instituição), controle de acesso, cartilhas de orientação, etc.

Ao sair para locais desconhecidos, mesmo a convite ou em companhia de colegas, informe-se como chegar e retornar de modo seguro. Ocorrendo imprevistos, não titubeie: recorra aos amigos (telefone!). Tenha separado da carteira dinheiro para a condução, seja ônibus ou taxi; se utilizar taxi, confira as credenciais do motorista, dando preferência às cooperativas ou empresas do ramo. Antes de chegar à sua residência tenha as chaves de casa às mãos; sem nenhum constrangimento, se for o caso solicite que aguardem pela sua entrada. Não se esqueça de ligar para os colegas de casa quando estiver chegando fora de horas (é bem provável que seus pais já lhe fizessem esse tipo de recomendação). Em determinadas situações cabe, também, uma ligação para tranquilizar as pessoas com quem você estava, cientificando-as de sua chegada.

Nos abomináveis trotes (infelizmente frequentes no ambiente acadêmico), nas festas ou baladas fuja de tumultos e discussões e não ignore os riscos de sabotagem em bebidas (via a adição de álcool ou de outras drogas). Acima de tudo, não ignore o grave problema e as devastadoras consequências decorrentes do consumo de drogas, lícitas ou ilícitas, fora ou dentro dos campi universitários. Da mesma forma, não subestime a triste prática do bullying (ou do cyberbullying), também de lamentáveis consequências, embora já com proposta de tipificação como crime no âmbito da violência escolar. Não deixe que eventuais problemas nessas áreas se acumulem; busque auxílio profissional o quanto antes (a universidade dispõe de setor específico para esse tipo de atendimento).

Oportuno, ainda, citar a Lei Federal n° 10.861/2004, que criou o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, destinada a promover a eficácia acadêmica e social das instituições universitárias e orientar a população acerca da qualidade de seus cursos. Ciente das responsabilidades que lhe cabem como aluno, matriculado numa instituição pública ou particular procure inteirar-se da legislação educacional como suporte à reivindicação de seus direitos (a exemplo da lei citada). Familiarize-se com os portais de sua universidade e do MEC; você se surpreenderá com a oportunidade e a diversidade de informações relativas à vida e aos interesses acadêmicos e profissionais de discentes e de egressos.

Por fim, entre outras coisas, tenha em mente o seguinte. Primeiro, o tempo voa! “Tudo passa – dizia Camões (1524–1580) –; não sabe o tempo ter firmeza em nada; e a nossa vida escassa foge tão apressada, que quando se começa é acabada.” Depois, conforme asseverava Voltaire (1694-1778) referindo-se ao trabalho, o estudo pode nos livrar de três males que afligem a humanidade: o tédio, o vício e a pobreza...

Eurípides Alves da Silva, mestre e doutor em Matemática pela USP, aposentou-se como diretor do Ibilce, campus da Unesp em S. J. Rio Preto, além de ter sido diretor-presidente da Fundação Vunesp. Atualmente trabalha como consultor na área de educação superior.

Alan Roger S. Silva, cirurgião-dentista pela FOA/UNESP, mestre e doutor em Estomatopatologia pela FOP/UNICAMP (com período de doutorado sanduíche pela Universidade de Sheffield, Inglaterra), é docente-pesquisador da FOP/UNICAMP e estomatologista colaborador do ICESP/FMUSP.

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^(*) Para uma abordagem acadêmica do tema sugerimos a leitura do artigo “A Saga dos calouros universitários”, revista Gestão Universitária, edição nº 148, de 14/05/2008.