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Edições Anteriores 86 A Coordenação de Cursos no Ensino Superior - Um relato de uma experiência de implantação de curso no interior de Minas
A Coordenação de Cursos no Ensino Superior - Um relato de uma experiência de implantação de curso no interior de Minas PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Júio César Lopes Pereira   
Qua, 15 de Março de 2006 21:00

1) Introdução
Este artigo pretende apresentar um relato de algumas as experiências vividas durante a implantação de um curso superior de Ciência da Computação em uma faculdade isolada do interior de Minas Gerais. Pretende discutir alguns dos entraves à referida implementação, bem como compartilhar uma série de questões que se imagina serem comuns no cotidiano dos coordenadores de cursos de graduação, independentemente de atuarem em cursos de Computação ou de outras áreas.
Procurou-se dividir o texto em etapas que se relacionam com as atividades de implementação do curso, em ordem cronológica, começando pela autorização do curso, passando pela etapa de reconhecimento do mesmo através do Conselho Estadual de Educação até chegar às experiências relacionadas com os trabalhos de conclusão de curso da primeira turma a se formar.
Por fim, pretende-se, ao final, apresentar algumas dicas, se é que são possíveis, em função do aprendizado obtido, para que, nas novas implementações, alguns desses problemas comuns possam ser evitados.

2) A implantação do curso Conforme mencionado em artigo de Luiz Fernando Gomes Guimarães (Gestor ou Coordenador de Curso), a primeira constatação com a qual o coordenador se depara ao iniciar a implantação de um curso de graduação é o enorme grau de responsabilidade enquanto gestor do curso no qual está atuando. Tarefas como contratação de professores, negociação de valores salariais com a entidade mantenedora a fim de atrair bons profissionais, além do convencimento junto aos mesmos de que o curso será uma boa oportunidade para atuarem mostra bem como será a atuação do coordenador daí em diante. No caso vivido e aqui relatado, o responsável pela concepção do Curso de Computação convenceu a Fundação mantenedora de que era necessário um adicional aos salários vigentes à época para que conseguisse bons profissionais. O resultado prático disso é um processo impetrado anos mais tarde pelos professores dos outros cursos contra a Faculdade, exigindo isonomia salarial. Um gesto travestido de boas intenções, apoiado pela Fundação, gerou um tremendo problema gerencial para a mesma, anos mais tarde.

Além de conviver com esse tipo de situação, outra que merece ser lembrada e que não deve ser repetida de forma alguma se refere aos laboratórios. A desorganização da mantenedora permitiu que um curso de computação iniciasse suas aulas sem que 1 (um) único laboratório estivesse pronto e disponível para os alunos. Quem tinha que ir às salas de aula para conversar com os alunos era o coordenador, iniciando aí o seu acúmulo de desgaste ao longo dos anos de implantação do curso. Essa primeira turma, que será objetivo de análise posterior, inicia, com esse incidente, sua relação de cobrança infindável junto à faculdade. Novamente, junto ao coordenador, espelho e pára-raios da faculdade, e que tinha que bancar o papel de interessado em atender aos alunos, mas como responsável pelo curso, deveria justificar as dificuldades da mantenedora e tentar convencê-los de que o problema seria temporário. O que não sabia é que o temporário duraria mais tempo do que gostaria.

3) A primeira turma Todos que já haviam passado pela experiência de implantar um curso da etapa zero eram unânimes em afirmar: a primeira turma ninguém se esquece. E não foi sem razão que esse ditado era repetido na escola. Lidávamos com os alunos da primeira turma e o seu "irrefutável" argumento: "Nós somos cobaias de tudo aqui - tudo de ruim acontece conosco e depois é consertado". Não podíamos contra-argumentar que a escolha foi deles - quem se inscreveu no vestibular, fez a prova, foi aprovado e decidiu se matricular foi cada um desses alunos. Nada do que fazíamos era reconhecido pelos alunos. Só conseguiam se lembrar dos problemas acontecidos, nunca do esforço para resolvê-los.

Achamos que essa experiência realmente nos preparou para encarar o curso com mais segurança: coordenador que conhece o curso desde o seu início seguramente terá mais firmeza em sua atuação por ter vivido as agruras de ter de se relacionar com a primeira turma do curso.

4) A infra-estrutura A implementação dos serviços de infra-estrutura para um curso de Graduação é um capítulo à parte na história de sua implementação, sobretudo quando se fala de um Curso superior de Computação. Laboratórios bem equipados, com equipe técnica competente e que resolve as coisas rapidamente é coisa que só se consegue vislumbrar com algum tempo de funcionamento. E no início, em geral, cometem-se os mesmos erros:

1) Uso de alunos do próprio curso para atuar como bolsistas: têm-se a ilusão de que, ao serem colocados alunos do próprio curso para cuidar dos laboratórios, serão os primeiros a colaborar para que tudo funcione lindamente. Ledo engano. Não resolvem as coisas a contento, são poupados de críticas pelos colegas e, no final, a culpa será sempre do coordenador que não "fez o seu trabalho direito". Não adianta, temos que colocar profissionais desvinculados do curso, para podermos cobrar resultados efetivos e sermos os responsáveis pelo seu funcionamento adequado.

2) Dimensionamento de equipamentos: no caso de cursos de Computação, podemos colocar supercomputadores ultramodernos para os alunos e eles ainda vão falar que na outra escola X, há micros mais velozes, rede mais bacana, Internet com mais recursos, etc... independente do que estiver disponível para eles. Há relatos não só na instituição em que atuamos mas em várias outras. Não há como fugir deste desgaste.

3) Falta de uma política de uso dos equipamentos: em geral, somente se resolve a criar uma política mais restritiva depois que "detonaram" os softwares instalados, além de uma série de outros problemas de segurança, típicos de uso em laboratórios. Vale aquela máxima: "sentou no banco de escola, virou aluno - independente da idade".


4) No caso da primeira turma, ainda reclamarão da altura do quadro, do horário do intervalo, que a cantina não os atende adequadamente, e por aí vai.

5) A relação entre professores, alunos e faculdade
Até o tópico anterior, as coisas ainda estavam muito bem. Resolver problemas concretos como computadores e horários é mais simples se comparado com a atuação como mediadores entre FACULDADE, ALUNOS E PROFESSORES. A implantação do curso é o momento no qual ficamos conhecendo, de fato, como se comportam cada um destes entes para, e então, atuar na mediação dos conflitos que certamente surgem.

A nossa experiência nesse sentido passou por fatos que vão desde separar brigas entre aluno e professor - quase com agressões físicas, identificar perseguições e preconceitos, tanto de um lado quanto de outro e, por último, tentar estabelecer critérios que possam servir de balizamento nestas condutas.

Essa sim, uma atividade relevante e fundamental para a implantação de curso. Criar uma cultura relacionada ao curso, que faça com que o mesmo seja reconhecido como de boa qualidade é uma das metas de qualquer escola. Entretanto, muitas das vezes, não se sabe como fazer isso. Nessa hora, a atuação do coordenador, ao dirigir as ações no cotidiano, procurando encaminhar a solução dos conflitos para uma forma que efetivamente contribua para o desenvolvimento da organização parece ser a chave. Em nossa experiência, vimos que várias das ações puderam contribuir neste sentido: ao mantermos um professor tido como rigoroso, em disciplinas do início do curso, a contragosto de vários alunos, mas com o reconhecimento dos mesmos de que o referido docente era competente, serve como exemplo deste tipo de atuação. Por outro lado, a constatação de que outros que foram mantidos com base no mesmo entendimento não mereciam sua permanência faz com que seja percebida a necessidade de se criar mecanismos eficientes de avaliação e acompanhamento, tão exigidos pelos órgãos de avaliação quanto evitados pelas instituições. Sobretudo aquelas que são dirigidas por professores eleitos por seus pares.

Conforme já dito por Pedro Demo, a atuação da coordenação no sentido de que o foco da aula deve ser a aprendizagem é ponto chave para que o curso seja bem implementado. Discutir como devem ser as aulas, atuar junto aos professores para que efetivamente trabalhem em prol da garantia do aprendizado é tarefa que a experiência de implantação de um curso permite à exaustão. Como as tarefas do cotidiano tendem a tomar todo o tempo, vai uma dica: centrar na aprendizagem. Essa deve ser a tônica para que o curso seja realmente "reconhecido" por seus alunos.

6) A conclusão do curso

Outra atividade que merece toda a atenção da coordenação e que, por vezes, não é vista com essa importância, é a atividade relacionada à conclusão do curso. Trabalhos de conclusão de curso, monografias e afins compõem hoje o material que poderíamos dizer como "produto final de nossa gestão acadêmica", se nos colocarmos como "gestores de produção acadêmica". Neste sentido, a experiência com a implantação de curso de Computação mostrou que se não houver um envolvimento grande da coordenação com os alunos em final de curso, nada de relevante será produzido neste momento final. Ao atuar na motivação destes alunos, buscando indicar aos mesmos possibilidades de atuação profissional bem como reconhecimento de seu potencial, a coordenação na verdade atua para garantir a produção acadêmica do curso e para o acúmulo de "produtos" que, mais tarde, servirão para dar consistência e peso ao mesmo, atraindo novos professores e alunos, além de permitir visibilidade junto à comunidade. A experiência mostrou exatamente essa valorização do curso, na medida em que a coordenação procurou atuar mais perto dos alunos em fase final de graduação.


7) Conclusões
Poder-se-ia enumerar diversos aspectos da experiência de implementação do curso superior de Computação mencionado no título deste artigo. Entretanto, optou-se pela seleção de alguns dos temas que mais ocuparam o tempo de trabalho da coordenação, por exigirem, seja a tomada de decisões, por vezes drásticas, seja a execução de ações efetivas para afirmação e entendimento da missão do curso por parte de seus alunos e professores. A experiência com a implantação do curso comprovou a necessidade do coordenador ser um profissional com perfil multidisciplinar, apto a atuar em questões institucionais, gerenciais, acadêmicas e operacionais e, muitas vezes, questões que envolviam alguns destes aspectos ao mesmo tempo. Com isso, entende-se que a capacitação dos coordenadores em todos esses aspectos e o reconhecimento da importância de sua atuação são fundamentais para o sucesso dos cursos de graduação.


 

Autor deste artigo: Júio César Lopes Pereira - participante desde Sáb, 11 de Março de 2006.

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