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Escrito por Marlos Pires Gonçalves   
Qua, 22 de Março de 2006 21:00

A nossa língua é mesmo dotada de uma versatilidade invejável. Isso porque ela possibilita a criação de "anti-corpos" que se adaptam às necessidades de seus usuários num dinamismo surpreendente. Basta participar de qualquer bate-papo online para nos depararmos com variações do tipo: "tudo blz?"; " ta ocupado?" " naum!" ; "e vc?" ; "tb naum"; " eh msm? "...

Tais estruturas revelam, na verdade, mais uma mutação ou adaptação da nossa língua. O que se pretende nas salas de bate-papo é teclar praticamente na mesma velocidade em que se fala. E para isso é necessário, é claro, um código lingüístico mais econômico e que tente acompanhar a velocidade da fala. Pois bem, aí está mais uma prova de que a língua existe para nos servir e não deve ser tratada como única e inalterável.

Do ponto de vista lingüístico, a língua ou a linguagem se efetivam quando se estabelece um processo comunicativo eficiente. Sendo assim, é possível afirmar que o código utilizado nas conversas online é simplesmente mais uma variação da nossa linguagem popular. Dito de outro modo, tais formas lingüísticas são exemplos de uma língua viva, que se transforma e se adapta à necessidade ou realidade contextual do seu falante. Dizer aos adolescentes, por exemplo, que tais expressões estão "erradas" e que eles não devem utilizar tais formas, é inútil. Seria o mesmo que obrigá-los a usarem a mesma roupa em todas as ocasiões. Ora, cada evento pede uma vestimenta que varia de acordo com o contexto, formal ou informal, não é mesmo? Assim é a língua. Então, não há como convencê-los do "erro", já que a interação entre os falantes naquele contexto comunicativo se realiza com eficácia.

A ordem dos fatos é de outra natureza. Primeiramente precisamos assumir, definitivamente, que ninguém comete "erro" em língua. O que normalmente se comete são transgressões da norma culta/padrão. De fato, aquele que, num momento informal, íntimo do discurso diz: "Ninguém deixou ele falar" não comete propriamente "erro"; na verdade, transgride a norma culta, assim como não seria apropriado um banhista, numa praia, vestido de fraque e cartola. Veja que não há roupa "certa" ou "errada", mas podemos falar em traje adequado à determinada situação. Temos de pensar a linguagem sob este mesmo prima, ou seja, o da adequação. Numa situação de caráter informal, como num bate-papo descontraído entre amigos é adequado que se utilize a língua de maneira espontânea, em seu nível coloquial. Já uma situação formal, como um discurso acadêmico ou uma palestra, exigirá não somente uma vestimenta, mas também uma linguagem adequada. O momento do discurso é que definirá se alguém transgrediu a norma padrão ou não, isto é, se a linguagem está adequada ou não. Por isso, no contexto de intimidade presente nos bate-papos online, devem ser consideradas perfeitamente normais construções do tipo: "keru ki vc vem aki hoje heim". Vale ressaltar mais uma vez que o objetivo desse tipo de código lingüístico é ser tão rápido quanto à fala. Daí a necessidade de economia de letras ou sílabas. A idéia é, então, digitar o menos possível. Assim, a informalidade prevalece sobre a norma culta, deixando mais livres seus interlocutores, naquele momento comunicativo.

Já os pais, preocupados com a nova "onda" de escrita dos filhos, devem simplesmente orientá-los e/ou conscientizá-los quanto ao contexto de produção desses textos. Ao professor cabe ensinar ou trabalhar as duas modalidades da língua (Coloquial e Padrão), mostrando as características e as vantagens de uma e outra, sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade ou inferioridade, que em verdade inexiste. Afinal, nenhuma modalidade lingüística se sobrepõe a outra em importância, visto que todas satisfazem igualmente seus falantes. O mais importante, portanto, é fazer o educando perceber que a norma lingüística e o nível da linguagem devem variar de acordo com a situação em que se desenvolve o discurso.


 

Autor deste artigo: Marlos Pires Gonçalves - participante desde Dom, 12 de Março de 2006.

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