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Projeto de Formação Profissional como estratégia de Capacitação Pedagógica Docente PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Andrea Volpato Wronski   
Qua, 12 de Abril de 2006 21:00

Desde o ano de 2003, o Curso de Psicologia - campus Tubarão - tem revelado crescente preocupação com os aspectos pedagógicos da Graduação. As exigências cada vez mais freqüentes e urgentes dos aspectos administrativos foram afastando a gestão do aspecto essencial da função e do objetivo do curso: promover o ensino, visando a formação de profissionais cidadãos marcado pela inquietude, tendo em vista a qualidade da formação oferecida para os alunos, uma caminhada é iniciada pelo curso com avaliações e diagnóstico das condições em que o mesmo acontece e da situação das disciplinas inseridas no contexto da formação profissional. Um longo caminho foi percorrido até que pode ser percebido que a chave para a reflexão pedagógica e organização curricular adequada passa pela construção consciente e coletiva do perfil profissional almejado pelo curso. Inúmeras atividades foram realizadas com os professores da Graduação para análise, reflexão e encaminhamentos sobre o problema, ficando clara a falta de objetivos de ensino que traduzissem que tipo de profissional se está desejando formar (quiçá uma percepção coletiva e coadunada entre as várias ações desenvolvidas pelos professores acerca dos objetivos da Graduação). Tal reflexão pedagógica ancorada em três momentos: agir, refletir criticamente sobre a ação e agir novamente, enfocando a práxis profissional dos professores, se caracterizou uma alternativa eficaz para buscar a solução do problema. Para Botome (2000), o conceito de práxis é um bom referencial para construir as interações humanas entre as pessoas que atuam, aumentar a criticidade e diminuir a possibilidade de justificar o que pode ser lesivo.

Não restam dúvidas que o ensino de graduação deve oferecer um repertório de informações e conhecimentos que possam permitir a aquisição de comportamentos profissionais adequados às exigências da sociedade. Neste sentido, cada disciplina deve conter um conjunto de objetivos que visem à construção de habilidades que integrem a formação da competência profissional desejada, caso contrário a disciplina deixa de ter um caráter formador para ter caráter informativo. Isto não significa desenvolver em todas as disciplinas comportamentos fundamentais ao exercício da profissão, comportamentos esses que podem ser intermediados pela aquisição de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais (Zabala, Antoni, 1998), pré-requisitos, para a aquisição de comportamentos mais complexos.

No entanto, destas reflexões emergiu uma pergunta que não quer calar: "o que realmente deve ser ensinado para alunos de Graduação em Psicologia?"

A resposta a essa pergunta remete para a reflexão sobre o projeto profissional dos futuros psicólogos pelos quais somos responsáveis. É ponto pacífico que a formação de Graduação deve produzir um agente profissional ativo e apto a desempenhar as funções que lhes são exigidas pela sociedade. Por outro lado, é indiscutível que a academia não pode restringir a formação à geração de quadros técnicos capazes, apenas, de responder as demandas, atualmente, dadas pelo mercado de trabalho. A formação profissional precisa ir além da "formação para o emprego", precisa ser caracterizada pelo desenvolvimento de competências que capacite as pessoas para a captura e identificação de novas demandas capazes de ampliar seu âmbito de atuação.

Para Silva (2003), o profissional que as organizações esperam, devem apresentar uma formação diferenciada da tradicional; os egressos dos cursos de graduação precisam ter competências relacionadas com a investigação e com o aprender a aprender, ou seja, a disposição para aprender continuamente em todas as ocasiões e situações

A década de noventa foi marcada pela expansão das IES no Brasil, principalmente das Instituições privadas de ensino. Permeadas por mudanças culturais e sociais, as Universidades precisaram, muitas vezes, abdicar de seus valores e princípios, rigidamente, desenhados para buscar uma adequação a tantas mudanças ocorridas. Zabalza (2004) aponta para algumas dessas mudanças enfrentadas no cenário da educação. A pressão pela qualidade, a preocupação com mercado de trabalho, a formação continuada, o ensino a distância, entre outras.

Estas mudanças e desafios aumentam, também, as exigências em relação ao desempenho docente: "é evidente a necessidade de reforçar a dimensão pedagógica de nossa docência para adaptá-la às condições viáveis de nossos estudantes." (Zabalza, 2004, p. 31).

É necessário compreender, também, o papel ocupado ou a ocupar pelo docente. Ao docente dos cursos de graduação cabe mediar a aquisição/produção do conhecimento pelo aluno em todos os níveis: conceituais, procedimentais e atitudinais. Do profissional, hoje, é exigido mais do que seu simples arsenal técnico ou conhecimentos específicos. Tais exigências demandam competências e comportamentos específicos que incluam valores, ética e cidadania. Além do conhecimento formal e acadêmico, um profissional precisa de autonomia na tomada de decisão, na regulação das situações que se apresentam no exercício profissional.

Que competências são necessárias para ensinar por competência? Por que, atualmente, é possível assistir o desprezo das competências pedagógicas e a supervalorização das titulações no ensino superior?

Dos docentes universitários, além das dimensões técnicas, é esperado seu aprofundamento político nas questões institucionais. Um professor, que não integra à sua prática docente a relação entre currículo e Projeto Pedagógico, é um docente definido por Silva, Carlini e Fonseca (2003) como completamente acrítico, sem nenhuma competência de análise crítica sobre seu próprio trabalho.

"Os professores, em sua maioria, dada as circunstâncias das condições de trabalho, os equívocos de gestão, recebem planos, ementas, conteúdos já prontos e definidos. A eles nenhum estímulo para discussão sobre a qualidade e pertinência de tais conteúdos é proposta. Muito ao contrário, estimula-se apenas que encontre estratégias eficazes e atrativas para a transmissão destes." (PIMENTA E ANASTASIOU, 2002, p. 62)

Esse professor mencionado pelas autoras jamais se encontrará sujeito - autor - do processo de ensinamento. Na prática, é comum professores receberem um documento intitulado ementa da disciplina e, a partir desta irem para a sala de aula, acreditando que são profissionais sérios e competentes. Isto porque, na maioria são profissionais que estão professores, ou seja, não foram formados para o exercício da docência.

Em se tratando da atuação profissional do psicólogo, esta se caracteriza como prática-interventiva, o que exige análises e interpretações da realidade, construção de estratégias de ação e referência a valores ético-morais para a efetividade da intervenção. A formação profissional do psicólogo tem natureza teórico-prática: substantivos, conhecimentos teóricos e científicos são a condição para operacionalizar estratégias prático-interventivas capazes de responder as demandas sociais. Esta formação deve conduzir a um Psicólogo apto para investigar (pesquisar, diagnosticar, analisar, elaborar), planejar (projetar, antecipar, organizar) e executar (gerir, implementar, operar, intervir), com ênfase na capacidade de atuação em equipes interdisciplinares, sobretudo para selecionar estratégias adequadas de ação eficiente para a resolução de problemas.

Grande parte da dificuldade de descrever ou objetivar o perfil profissional adequado ao exercício profissional do Psicólogo reside no fato de ainda haver confusão entre o que é fim e o que é meio no exercício da docência. Formar um psicólogo com este perfil significa expressar que são necessários docentes também preparados e atuem nesta perspectiva

Refletir sobre o projeto de formação profissional na Graduação remete à promoção de uma capacitação pedagógica de seus docentes. Não basta um conjunto de técnicas, estratégias de aprendizagem, recursos didáticos se os professores não interiorizam seu compromisso e responsabilidade formadora. Promover essa perspectiva ampla de formação, extrapolando os muros de sua disciplina, é qualificar o professor para a prática da docência do ensino superior.

E o que falar da arte de ser professor nos dias atuais?

A figura imortalizada do mestre nos primórdios da educação foi perdendo seu viço, ganhou espaço um cidadão comum que, muitas vezes, relega preceitos pedagógicos essenciais na sua práxis. Quanto menos exigência existe em torno de seu fazer, mais distanciados os professores ficam daquilo que deveriam ser seus verdadeiros objetivos de ensino. Se as exigências externas estão se diferenciando em termos do tipo de profissional que é necessário formar, as exigências internas dos espaços escolares, também, devem acompanhar tal modificação. Uma verdadeira quebra de paradigma é necessária. Aos professores convém que abandonem o paradigma ultrapassado da autoridade professoral da cátedra, e adotem, em seu fazer, a postura de investigador, de pesquisador do conhecimento crítico e reflexivo. Isto implica uma mobilização política por parte dos professores.

Perder a liberdade da Cátedra é ameaçador para os professores, Muitas vezes, concebida como desprestígio ou desvalorização. Para Silva, Carlini e Fonseca (2003), ainda é preconizada a idéia positivista de que o professor é o senhor absoluto do conhecimento, que deve decidir sozinho como transferi-lo para seus alunos, decidir quais meios, estratégias e recursos irá adotar.

Por outro lado, a aridez da prática docente sobrecarrega o professor e o distanciam das atividades desenvolvidas no curso e na Instituição de Ensino. O Curso de graduação acaba resumido nas disciplinas, as disciplinas resumidas em grades fragmentadas, desarticuladas.

O fazer da docência é complexo, envolve ambivalências, incertezas, idiossincrasias. O professor neste processo depende basicamente de si mesmo - a competência não elimina o medo, tampouco o fracasso. O professor pode acumular e aumentar seu repertório didático, mas a realidade efetiva do seu fazer, raramente, são transferíveis para outros contextos e mesmo outros professores. Ainda que seja necessária a construção coletiva de pressupostos e do perfil profissional, as boas práticas contextualizadas na Instituição, a atividade docente, ainda, ficam impregnadas desta solidão.

Reforçando a idéia de solidão, Silva, Carlini e Fonseca (2003) afirmam não ser novidade que o professor está isolado em sala de aula. Vão além da simples constatação e apontam que esse isolamento traz conseqüências negativas para seu trabalho. Mobilizados por contingências externas e pelo regime de contratação, existe menos disponibilidade para interagir com os colegas, para que possam estar comprometidos com o projeto da instituição. A própria Instituição atua como reforçadora desta solidão. Para os autores, há um consenso de que lugar de professor é na sala de aula, espaço intitulado por excelência, como adequado para o exercício do seu trabalho e cumprimento das diretrizes do Curso e da Instituição. E, neste sentido, a estrutura física, também, colabora, segundo os autores. O professor luta para a manutenção de seu espaço solitário e inalterado:

" O isolamento na sala de aula não se constitui um mal em si mesmo, mas é uma conseqüência da forma como a atividade docente é praticada e, portanto, não traz nenhum prejuízo. Cumpre, entretanto, refletir como chegavam os professores, naquela época, a catedráticos em relação à grande maioria de profissionais que lecionam, atualmente".(SILVA E CARLINI, p. 3)

As discussões ensejadas no Curso de Psicologia, sobre seu compromisso com o Perfil Profissional do Psicólogo a ser formado, deixam claro que sua dinâmica está ancorada em quatro eixos fundamentais: criticidade, competência, compromisso e ética.

O crítico: diz respeito a um profissional capaz de identificar alternativas, avaliar prioridades, propor soluções de problemas e apreciar as implicações das soluções escolhidas. Acima de tudo trata da capacidade de compreender o significado de sua intervenção profissional;

A competência: diz respeito aos comportamentos profissionais que deverão ser apresentados pelos alunos ao concluírem a Graduação. Envolve um conjunto de comportamentos que vão desde o domínio teórico e consistente do conhecimento científico da Psicologia, da identificação do seu objeto de estudo. Talvez o mais importante comportamentos que revelem o pleno domínio das técnicas e metodologias específicas da ciência psicológica.

O compromisso: refere-se ao compromisso com a ciência psicológica que deve estar presente em todas as ações profissionais desenvolvidas. Também ao respeito e proteção da integridade física e emocional de todas as pessoas, grupos, instituições com as quais se trabalhará. Compromisso, este, expresso em ações que visem a promoção da qualidade de vida da pessoa e a busca constante por uma sociedade mais justa e humana; expresso pela luta do exercício pleno da cidadania de todos em quaisquer instância ou circunstância da vida.

A Ética: eixo matriz de todos os demais, faz referência à adesão a uma ética humanista, expressa pelas ações voltadas à não discriminação e estigmatização das pessoas. Respeito pela pessoa e preservação de sua dignidade. O sigilo profissional como prerrogativa essencial do exercício profissional do psicólogo.

O Perfil Profissional ou o Projeto de Formação Profissional é (ou pelo menos deveria ser) balizador de todas as ações ensejadas num curso de Graduação que deve estar presente constantemente em cada disciplina trabalhada durante o curso.

Ao propor a reflexão do perfil profissional entre os professores, chamando-os a representarem suas áreas de conhecimento e disciplinas por meio do Perfil, constitui uma forma de promover a integralização curricular, combatendo a noção de grade curricular que tem remetido para a fragmentação e compartimentação do conhecimento.

Para Silva, Carlini e Fonseca (2003), O Projeto Pedagógico de um curso é o seu DNA. Precisa ser dinâmico e estar em permanente construção. Inovações pedagógicas, conteúdos, enfoques e formas não podem apenas ser prescritas. O Projeto Pedagógico do Curso precisa estar sujeito à permanentes revisões e aperfeiçoamento, necessitando, obrigatoriamente, do envolvimento constante dos docentes. Os professores necessitam ser os agentes de transformação, capazes de um questionamento contínuo de tudo que seja dado ou concebido institucionalmente.

Vale lembrar que a construção de um projeto profissional possui os eixos mencionados, mas exige, também, a definição em termos de que comportamentos profissionais deverão ser desenvolvidos pelos alunos ao enfrentarem o mercado de trabalho. O Objetivo da Graduação que é formar profissionais competentes e aptos a transformarem a situação social com a qual irão defrontar, deve estruturar suas ações nos pressupostos científicos e éticos das profissões.

Fica evidenciado, portanto o significativo papel dos professores de ensino superior na formação das competências que serão traduzidas em comportamentos profissionais essenciais, pelos alunos.

O trabalho do professor, argumenta DELORS (1999), não consiste, simplesmente, em transmitir informações ou conhecimentos, mas em apresentá-los sob a forma de problemas a resolver, situando-os num contexto e colocando-os em perspectiva de modo que o aluno possa estabelecer a ligação entre a sua solução e outras interrogações mais abrangentes. Esses problemas devem conduzir a soluções que revelem comportamentos profissionais concretos.

Nesta perspectiva, é possível entender o argumento de DELORS (1999) quando afirma que a experiência profissional docente fora dos muros das Organizações de Ensino é o que os familiariza com outros aspectos do mundo do trabalho. Somente por meio da ação profissional concreta é que os docentes podem dimensionar, em sua prática, quais os comportamentos que estão formando em seus alunos. Antes de conhecer o conteúdo que irá ensinar, o professor precisa dimensionar que comportamentos profissionais sua disciplina, sua área e seu curso deverão desenvolver e qual o melhor caminho para fazê-lo (Garrido, 2001). A prática do professor conteudista precisa ser substituída pela prática da construção inovadora que conduza os alunos a uma evolução nos seus conceitos, habilidades, atitudes e comportamentos (Garrido, 2001, p. 114). Isto remete a uma nova concepção acerca do ensino, ou como propõe ANASTASIOU (2004), ensinagem. Ensinagem, porque do ensino, efetivamente, decorre a aprendizagem, resultante de um processo de parceria entre professor e aluno que é a condição fundamental para o enfrentamento do conhecimento, na argumentação da autora que, é necessária à formação do aluno durante o cursar da Graduação, argumenta a autora.

Acrescenta-se, no entanto, à afirmação da autora: o processo de ensinagem precisa incluir um terceiro elemento fundamental além do professor e alunos: o Projeto Pedagógico com seu processo de gestão. Este é o tripé ideal que deveria sustentar a aquisição de novos comportamentos profissionais. Caso o processo de ensinagem ocorra somente nessa íntima relação de professor e aluno, o que assegurará que esta prática está focada no compromisso da Graduação com o Perfil Profissional que se deseja formar?

Mais uma vez fica evidente o importante papel e espaço que ocupa o docente de Graduação. Sua prática deve perpassar, constantemente, pelas indagações: que alunos queremos formar? Como o Curso promove essa formação? Que papel desempenha minha disciplina nessa formação?

Quando o professor organiza o ensino com base na compreensão sobre as finalidades do que ensina, em termos concretos, aumenta a visibilidade de sua disciplina e do próprio curso. Isto requer do professor um olhar dos aspectos políticos e pedagógicos daquilo que perpassa seu curso. A consciência da capacidade de projetar é fator preponderante para a constituição da ação educativa. O Projeto Pedagógico chega na sala de aula, quando o professor interiorizar a noção de que é agente criador e que impacta a realidade social por meio de sua ação.

O aluno quando entra na Graduação não sabe exatamente aquilo que vai encontrar, por isso o Curso (Projeto Pedagógico, gestão e professores) precisa lhe explicitar quais as perspectivas de formação profissional ele as tem.

Refletindo sobre esses aspectos da formação profissional, o Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL, campus Tubarão, está desenvolvendo estratégias para que o Projeto Pedagógico se constitua, efetivamente, num balizador das ações propostas no Curso e não, apenas, num documento, oportunizando a que os professores se sintam sujeitos do processo de ensino aprendizagem e qualifiquem, ainda mais, a formação profissional proposta pelo Curso.

Entre as estratégias e ações, uma análise crítica e criteriosa dos planos de ensino tem sido sistemática. E, desta, muito freqüentemente, aparecem os equívocos no tocante a estruturação dos objetivos de ensino.

Os objetivos tendem a estabelecer relações e interfaces com a atividade meio, sem sequer mencionar a atividade fim das disciplinas, ou seja, os comportamentos que pretendem desenvolver. Refletir sobre quais comportamentos profissionais o Curso e cada disciplina deve se debruçar contribui para a consolidação comum do que é pretendido formar. A execução planejada coletivamente do Projeto Pedagógico assegura que, progressivamente, o curso sugere o modelo fragmentado de grade curricular para uma ação mais integrada de currículo.

Nas palavras de Pimenta e Anastasiou (2002), quando o professor encontra-se autor de sua prática docente, faz com que seja e se sinta parte integrante de um todo. E isto é que faz com que o Projeto Pedagógico seja vivenciado, cotidianamente na sala de aula. O ensino de técnicas didáticas fica estéril caso não seja vislumbrada uma reflexão mais aprofundada somente do fazer do professor de onde quer chegar.

O ensino por competência, tão enaltecido nos dias atuais traz em seu conceito algumas armadilhas importantes de serem mencionadas.

O que significa competência?
Um comportamento profissional inclui um conjunto de elementos, uns que são do próprio sujeito e outros que devem e podem ser aprendidos. A competência profissional envolve um conjunto de comportamentos e atitudes, o conhecimento técnico e científico de sua área (Gramigna, 2002 p. 20). Quando professores e gestores estiverem atentos a esse conjunto de elementos é possível identificar quais serão, efetivamente, ensinados e de que forma. De nada vale um perfil profissional que não chegue de fato na sala de aula. Em última instância, os professores são os responsáveis diretos pelo desenvolvimento das chamadas competências e, somente, após, ampliarem a visibilidade sobre seu fazer docente é que estão aptos a prosseguirem suas funções docentes.

Para Silva (2005), o banco escolar é o lugar onde os professores trabalham para ensinar aos alunos diversos conhecimentos e contribuir para o desenvolvimento de determinadas competências que vão desde as básicas às mais complexas. E, neste sentido, profere o autor: "os professores que trabalham para formar cidadãos profissionais competentes pelo ensino de conhecimentos específicos de disciplinas deverão contribuir e auxiliar os estudantes a terem suas competências profissionais e humanas desenvolvidas e, para isto, necessitam desenvolver suas próprias competências."

Para Perrenoud (2000), a competência está sempre associada a uma mobilização de saberes. Não é um conhecimento acumulado, mas a virtualização da ação, a capacidade de recorrer ao que se sabe, incluindo as experiências pessoais. Ou seja, uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimento, mas sem que estas ações sejam limitadas a eles.

Acreditar que educar, no ensino superior, significa, ao mesmo tempo, preparar os jovens para se elevarem enquanto cidadãos ao nível da civilização atual e compreender suas idiossincrasias, é necessário se encontrar no Projeto de Formação profissional (perfil profissional) a chave para a integração e capacitação pedagógica dos Cursos de Graduação. O domínio de determinadas competências determinam que profissionais e organizações, no contexto atual, façam a diferença no mercado (Gramigna, 2002, p. 15).

O Curso de Psicologia vivencia esse processo de construção coletiva de um Projeto de Formação Profissional desde o final de 2004, com o intuito de conseguir definir, coletivamente, que perfil de aluno pretende formar. Assim, apostar na reflexão do Perfil Profissional como estratégia para garantir à formação do professor decorre do entendimento de que isto representa o eixo central - a medula espinhar - do Projeto Pedagógico é o perfil do profissional que o curso deseja formar, que efetivamente chegará em sala de aula e será vivenciado pelos alunos por meio das ações dos professores. Perseguir um único projeto de formação profissional é apostar que a integralização das disciplinas ocorrerá como conseqüência, na perspectiva de uma organização de currículo.

Bibliografia:
ANASTASIOU, Lea das Graças Camargo e ALVES, Leonir Passete. Processo de esnsinagem na Universidade: pressupostos para as estratégias de trabalaho em aula. Joinville: UNIVILLE, 2004.
_____ e PIMENTA, Selma Garrido. Docência no ensino superior. Volume 1. São Paulo: Cortez, 2002.
ARAÚJO, Claisy Maria Marinho. Psicologia escolar e o desenvolvimento de competências: uma opção para a capacitação continuada. Tese de Doutorado, UNB, 2003.
GARRIDO, Elsa. Sala de aula: espaço de construção do conhecimento para o aluno e de pesquisa e desenvolvimento profissional para o professor. IN: CASTRO, Amélia Domingues e CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e média. São Paulo: Pioneira, 2001.
GRAMIGNA, Maria Rita. Modelon de competências e Gestão dos talentos. São Paulo: Makron books, 2002.
DELORS, Jacques. Educação, tesouro a descobrir: relatório para UNESCO da comissão internacional sobre educação para o século XXI. São Paulo: Cortez, 1999.
PEDROZA, Regina Lucia Sucupira. A Psicologia na formação do Professor: uma pesquisa sobre o desenvolvimento pessoal de professores do ensino fundamental. Dissertação de mestrado, UNB, 2003.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
SILVA, Luiz Alves. Formação docente e profissional do professor. TP&S - Consultoria educacional: São Paulo: 2005.
____, CARLINI, Angélica e FONSECA, Josefa Sonia. Projeto Político Pedagógico e formação de professores universitários. TP&S - Consultoria Universitária, São Paulo, 2003.
ZABALZA, Miguel A. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004.
ZABALA, Antoni. A Prática Educativa: como ensinar. Porto alegre, 1998.

 

Autor deste artigo: Andrea Volpato Wronski - participante desde Ter, 24 de Maio de 2005.

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