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Edições Anteriores 98 OTP: pedagogia ou pedagogismo
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Escrito por Renata Cabrera   
Qua, 07 de Junho de 2006 21:00

A Organização do Trabalho Pedagógico (OTP) tem sido alvo de várias discussões no universo da educação escolar. Em meio a esses debates, está em questão a seguinte premissa: como dar ensino de qualidade para todos? Essa discussão passou por vários estágios: a luta pelo acesso, o enfrentamento do fracasso escolar e o grande foco deste século será a qualidade da educação. Não que antes a discussão pela qualidade não estivesse em pauta, mas é agora que ela surge com mais ênfase em todos os discursos. Mas de qualidade estamos falando? Essa qualidade atende a quem e a quais interesses?

Sem a pretensão de esgotar o assunto, gostaria de apontar alguns elementos que julgo importantes nesse debate. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que a escola não é um ente dissociado da sociedade. Como parte da superestrutura, ela recebe influências da sociedade inteira, principalmente da lógica do modo de produção da vida material que estrutura essa sociedade. Mas, olhando para dentro da escola, o que significa isso? Significa considerar que todas as relações que se estabelecem no interior da escola (relação professor-aluno, organização do currículo, metodologia de ensino, conteúdos teóricos selecionados, autores trabalhados etc,) refletem as contradições existentes numa sociedade pautada pela divisão de classes. Desconsiderar isso na organização do trabalho pedagógico é pautar-se por uma compreensão de escola enquanto entidade neutra, desvinculada do todo social, uma espécie de ilha de pureza. Em segundo lugar, é preciso que esse todo que compõe a escola tenha clareza de qual projeto educativo pretende seguir. Para que tipo de sociedade a escola está desenvolvendo suas atividades? Não sou reducionista, portanto não concebo a escola como instância de salvação das relações de exploração impostas pelo modo de produção capitalista. Todavia, não posso desconsiderar que nela há espaço, dentro das suas relações contraditórias, para que uma educação que pretenda contribuir com a transformação social seja implementada.

Como conseguir isso? Há de se levar em conta que, em se tratando de educação, não temos respostas prontas e acabadas, modelos que, uma vez aplicados, todas as mazelas serão extintas. Não! Compreender educação dessa forma seria desconsiderar os múltiplos determinantes que constituem o fenômeno educativo.

A pedagogia, segundo o dicionário da Língua Portuguesa Houaiss, é a ciência que trata da educação de jovens, que estuda os problemas relacionados com o seu desenvolvimento como um todo; considerando esse desenvolvimento relacionando com o todo, não podemos deixar que a essência dessa ciência seja deturpada com o pedagogismo que, segundo o mesmo dicionário, é a tendência a excluir tudo o que contraria os preceitos pedagógicos. Lembrando o grande mestre Paulo Freire: o pedagogismo é a deturpação do pedagógico.

Dessa maneira, os estudos e a compreensão da escola relacionando os aspectos do intra com o extra-escolar é o caminho mais correto para se construir uma educação de qualidade. Desconsiderar essa relação implica em manter a escola como mera correia de transmissão da cultura e das ideologias predominantes na sociedade marcada pela exclusão. A rigor, quem trabalha na ótica só do intra-escolar pode acabar sendo massa de manobra de interesses escusos.

O que fazer então? Os formadores dos professores, pedagogos, licenciados, devem permitir que uma compreensão mais ampla de educação, e das práticas pedagógicas, seja oferecida aos futuros docentes. Não se pode continuar discutindo a organização do trabalho pedagógico considerando apenas o aspecto intra-escolar; ao contrário, tem-se que lutar para que a OTP avance para além do pedagogismo, relacionando e explicitando as influências que recebe do complexo de relações sociais que está fora da escola. Só então teremos elementos sólidos para pautar um trabalho que contribua com a efetivação de uma educação de qualidade, ou seja, aquela que permita que todos os alunos possam se apropriar de forma crítica dos conhecimentos que foram historicamente construídos pela sociedade da qual fazem parte.

Referência Bibliográfica
FREITAS, Luís Carlos de. Crítica da organização do trabalho pedagógico e da didática. 6ª ed. Campinas-SP: Papirus, 2003.

HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção Docência em formação: saberes pedagógicos).

PARO, Vitor Henrique. Administração escolar: introdução crítica. 13ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.


 

Autor deste artigo: Renata Cabrera - participante desde Sex, 18 de Fevereiro de 2005.

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