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Edições Anteriores 109 A Universidade: o processo ensino-aprendizagem e o papel do professor como gestor do pensar
A Universidade: o processo ensino-aprendizagem e o papel do professor como gestor do pensar PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Verno José Gustavo Weiss   
Qua, 23 de Agosto de 2006 21:00

Neste ensaio, pretendemos fazer uma re-flexão sobre a Universidade, o processo ensino-aprendizagem e o papel do professor para o século XXI.

A Universidade é uma instituição reconhecida pela sociedade como encarregada de formar pessoas, profissionais e cidadãos, por meio do processo da educação, que deve envolver três dimensões da vida do ser humano: a subjetiva ou da consciência, a que forma o profissional, e a político-social, formadora do cidadão.

Em nível filosófico, muito se tem discutido a respeito da perenidade e/ou temporalidade com relação aos fins da educação. Não discutimos aqui os fins perenes da educação, pois não mudam, e, em nossa cultura ocidental cristã, estão os valores que, acreditamos serem duradouros e imutáveis para qualquer ser humano. Sejam quais sejam, os valores éticos, por meio da educação formal ou informal, precisam ser perpetuados e conservados.

Com relação à temporalidade, defrontamo-nos com os fins históricos e sociais, propostos pelas aspirações e interesses da sociedade de cada época. A Universidade precisa saber captar e identificar essas expectativas para a formação do profissional e do cidadão.

As mudanças sociais são dinâmicas, rápidas. Muitas vezes, os responsáveis pela Universidade não os observam com a devida atenção. Não refletem sobre elas e permanecem na rotina do cotidiano, procedendo de forma habitual com relação aos conteúdos do ensino, que se tornam, então, completamente desligados da realidade.

Quando falamos em Universidade, referimo-nos ao que ocorre de mais importante, que é o processo de ensino-aprendizagem. Este é um processo em que as duas ações, ensino e aprendizagem, se complementam. Não haverá ensino se o aprendente não aprende. A aprendizagem até ocorre sem o ensino. Entretanto, este precisa que aquela ocorra para ser verdadeiro.

E... o que é aprendizagem? Eis o dilema. A verdadeira aprendizagem ocorre "dentro" do "eu", do próprio "ser". É preciso que aquilo que o professor ensina, mexa com seu interior, que o transforme, que o modifique. Por isso, aprender não é simplesmente "repetir" uma leitura feita, responder textualmente a algumas questões na prova, "decorar" regras. É "conhecer", "aplicar", "analisar", "julgar".

É evidente que a aprendizagem começa com o conhecimento e este exige o recurso da memória. Exemplo: para escrever bem e para compreender um texto, é preciso conhecer as regras da gramática. Para calcular uma equação ou resolver problemas, é preciso conhecer as regras da álgebra ou da aritmética. Quem ensina precisa verificar se o aprendente realmente aprendeu, observando se compreendeu (capacidade de explicar com suas próprias palavras, de expressá-lo de outras maneiras), se sabe aplicar esse conhecimento às situações adequadas, se é capaz de analisá-lo (perceber suas partes e saber relacioná-las com outros conhecimentos ou situações), se sabe sintetizar o mesmo (percebê-lo na sua essência, reduzi-lo ao essencial) e se é capaz de julgar, avaliar esse conhecimento, reconhecendo a sua importância, o seu valor.

Observamos que, de tudo o que aprendemos em nossa vida acadêmica, ficou somente a aprendizagem verdadeira, ou seja, aquela que realmente passou pelas etapas mencionadas e, da qual restou em nosso eu o sentido principal, quer dizer, a síntese do seu valor, da sua estrutura mais significante.

Até que ponto o professor é responsável por esse processo, por essa re-reflexão? Qual o seu papel e o seu compromisso? Propomos refletir esse papel à luz da pedagogia construtivista, que reúne em sua fundamentação o perfil pedagógico de Rogers, Piaget, Vygostky, Freire, Gadotti, Giussani e outros.

Segundo o humanista Carl Rogers, o professor deve ser autêntico, paciente, compreensivo e empático. Rogers preocupa-se com o aspecto humano na relação professor-aprendente, pois o amor (o afeto do professor) é a base que dá suporte à aprendizagem, isto é, à re-flexão.

As pesquisas atuais de Gollerman, autor do best-seller "Inteligência Emocional", mostram que as emoções realmente são muito importantes. O mundo hoje está necessitando mais das pessoas equilibradas emocionalmente do que de pessoas com alto nível intelectual. É preciso até uma "alfabetização" das emoções (Celso Antunes).

Sem dúvida alguma, o "clima" da sala de aula, onde passa grande parte do seu dia, contribui muito para "formá-lo" emocionalmente.

Piaget, Vygotesky, Freire, Gadotti e Giussani consideram a vivência daquilo que o meio pode oferecer como uma interação com o sujeito, a fim de que este possa "construir o seu conhecimento", o que realmente dá sentido ao aprendido.

Na Universidade e na sala de aula, quem melhor representa esse meio de forma sistematizada nos programas, nas estratégias, é, sem dúvida alguma, o professor. E então, surge o papel do "profissional do ensino" que deve sistematizar para o estudante os conteúdos, preparar as vivências, comunicar, ouvir, interagir, proporcionando, enfim, o apregoado desenvolvimento, ou seja, a aprendizagem do aprendente.

Para desempenhar adequadamente esse importante papel, o professor, como os demais profissionais da época atual, não pode ser acomodado, alguém que já considere ter chegado ao máximo em sua sabedoria. Pelo contrário, deve estar sempre "insatisfeito" com o seu trabalho no sentido de que sinta que há sempre algo a mais a fazer. Há muito que aprender...deve ser usado, no sentido de fazer tentativas, experimentos de novos procedimentos. Enfim, deve sempre procurar aperfeiçoar o seu trabalho, lendo jornais, revistas especializadas, novos livros, para fazer da sala de aula suas conquistas e pesquisas... Comparamos a função do professor à de um garimpeiro.

É educativa a postura do professor como um garimpeiro do ensino, como alguém que não tem métodos ou processos definitivos, mas alguém que está sempre procurando uma forma melhor de exercer o seu trabalho,contando mesmo com a parceria dos estudantes, pois, passa para o aprendente o conceito verdadeiro da avaliação, visando um aperfeiçoamento contínuo, e a atitude de busca, de procura de novas soluções, tão importantes no mundo atual.

Qual o perfil desejado do homem para o século XXI? Autores como Toffler, em sua obra intitulada "Criando uma nova civilização... a política da terceira onda", delineia um perfil de homem flexível, criativo, rápido em suas decisões, comunicativo e capaz de enfrentar situações inesperadas... O professor, como formador desse ser para o futuro, não poderá ser diferente. Essa é a razão pela qual não acreditamos em métodos prontos, acabados, em formas de planejar e avaliar padronizadas e imutáveis.

Como professor, devemos ser continuamente reflexivos, a fim de detectarmos novos procedimentos, novas maneiras de fazermos o que sempre fizemos. Quem nos indicará os caminhos, senão o contexto, a situação do dia-a-dia, as trocas com os próprios profissionais e com os outros aprendentes?

Giussani (2000) afirma que o objetivo da educação é o de formar um homem novo; portanto, os fatores ativos da educação devem tender a fazer com que o educando aja cada vez mais por si próprio, e sempre mais por si enfrente o ambiente. É preciso então, de um lado, colocá-lo constantemente em contato com todos os fatores do ambiente; de outro, deixar-lhe a responsabilidade da escolha, seguindo uma linha evolutiva determinada pela consciência de que o aprendente deverá chegar a ser capaz de, perante qualquer situação, "agir por si".

Precisamos quebrar alguns paradigmas e refletirmos sobre a necessidade de compreender a crise e o diálogo no processo ensino-aprendizagem. "Crise" e "crítica" não coincidem com dúvida e negação. Quando se pensa numa "sociedade nova", o grave perigo no qual se pode cair é imaginá-la como algo totalmente novo, onde a novidade é identificada com o diferente e o futuro com a eliminação do passado. É exatamente contra esse perigo gravíssimo que paira sobre os jovens, por tentação, e sobre muitíssimos adultos, por política, que se pode utilizar a palavra "crise".

Infelizmente, na nossa mentalidade, a palavra crise (do grego "crino", peneirar) normalmente é entendida de forma duvidosa e negativa, como se crise e crítica coincidissem automaticamente com negação, e, por causa disso, de fato, a crítica é concebida como motivo de escândalo, como busca de motivos para fazer acusação e de realidade para opor alguma coisa. Evidentemente esse é um conceito "míope" de crise, de crítica.

Pelo contrário, antes de qualquer coisa, a crítica é a expressão da genialidade humana que está em nós, uma genialidade totalmente voltada a descobrir o ser, a descobrir os valores. Basta acrescentar um mínimo de sinceridade, basta acrescentar o equilíbrio realista, e a afirmação dos valores descobertos, que implicarão com clareza também os seus limites.

A palavra crise está muito mais ligada a uma outra palavra, a palavra problema: não "dúvida", mas "problema", que na sua etimologia grega indica-nos a postura fundamental que o acadêmico deve assumir para construir uma sociedade de sentido, de afeto, de comunhão. Com efeito, a palavra problema significa colocar algo na frente dos olhos. Cada um de nós nasce com um complexo de dons, que uma magnífica palavra resume (outra palavra cuja etimologia nos permite perceber sua beleza), a palavra "tradição".

Segundo Giussani (2000, p.76), nenhum de nós existia. Portanto, cada um de nós é formulado por um fato anterior, por um complexo que o constitui, que o plasma. A palavra problema se refere a esse fenômeno fundamental para uma verdadeira novidade na existência de cada um de nós e na vida do cosmo humano. A tradição, o dom com o qual a existência nos enriquece ao nascermos e no nosso primeiro desenvolvimento, deve ser colocada diante dos olhos; e a pessoa, na medida em que é viva e inteligente, "peneira", avalia e examina (crinei). A tradição deve "entrar em crise", deve se tornar problema. Crise significa, então, tomada de consciência da realidade pela qual nós nos sentimos formulados.

Se estivéssemos totalmente isolados do mundo, dos outros homens, se uma pessoa fosse totalmente só, absolutamente sozinha, não encontraria novidade alguma. A novidade acontece sempre pelo encontro com o Outro; é a regra da qual nasceu a vida: nós existimos porque Outros nos deram a vida. Uma semente sozinha não cresce; mas se for colocada em condições de ser solicitada por outra, então se liberta. O Outro é essencial para que a minha existência se desenvolva, para que aquilo que eu sou se torne dinamismo e vida. Essa relação com o "Outro", seja ele quem for ou como for, é dialógica.

O professor: um ser de crise-sentido. Não podemos perder o sentido do que fazemos. Ensinar vem do latim insignare, que significa 'marcar com um sinal', indicar um caminho, um sentido. Somos essencialmente profissionais do sentido. Educamos, quando ensinamos com sentido. Educar é impregnar de sentido a vida. A profissão docente está centrada na vida, no bem querer. Muitos acadêmicos chegam hoje à universidade, muitas vezes, sem saber por que estão aí. Não vêem sentido no que estão aprendendo. Querem saber, mas não querem aprender o que lhes é ensinado. E aí entra o papel do professor: construir sentido, transformar o obrigatório em prazeroso, selecionar criticamente o que devemos aprender, numa era de impregnação de informações.

Ser professor hoje (Gadotti, 2004, p.21) é viver intensamente o seu tempo, com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem professor. Eles não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Eles fazem fluir o saber, porque constroem sentido para a vida dos seres humanos e para a humanidade, e buscam, numa visão emancipadora, um mundo mais humanizado, mais produtivo e mais saudável para a coletividade. Por isso eles são imprescindíveis.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALVES, Rubem. Tempus Fugit. São Paulo: Paulus, 1990.
AEC. Ensino-aprendizagem: o papel do professor. Encarte nº 60, Ano VII - Março, 2000.
GIUSSANI, Luigi. Educar é um risco: como criação de personalidade e de história. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2000.
LIPMAN, Mathew. A filosofia vai à Escola. São Paulo: Summus, 1990.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita, repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
KOHAN, Walter Omar. Infância. Entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
REVISTA DO PROFESSOR (entrevista com Moacir Gadotti) - ANO 1, nº 2, Novembro / 2003.

 

Autor deste artigo: Verno José Gustavo Weiss - participante desde Ter, 09 de Outubro de 2007.

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