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Escrito por Robspierre Miconi Costa   
Qua, 20 de Setembro de 2006 21:00

Quinta passada, quando já estava me preparando para ir trabalhar, vi na TV em um programa matinal cenas da Câmara dos Deputados totalmente vazia, a exceção de um faxineiro que cumpria solitariamente seus afazeres diários, e logo pensei tratar-se de mais um escândalo ou talvez noticias acerca de uma possível falta de quorum na votação de algum importante projeto para a nação, quando percebi que na verdade o foco da reportagem era o próprio faxineiro, um daqueles brasileiros invisíveis a que nos referimos em trabalho anterior.

O Cidadão em tela era o Sr.Clodoaldo Silva Santos, Auxiliar de Serviços Gerais no Senado, o qual valendo-se do inato talento dos Brasileiros, a criatividade, quando do nascimento de seu filho ocorrido em 1998, resolveu homenageá-lo desenhando a Bandeira Nacional em alto-relevo no carpete logo abaixo e à frente da Mesa diretora no Plenário, valendo-se para tanto de seus instrumentos de trabalho (escovões e escovas do aspirador de pó).

Na primeira vez que a executou, demorou dois dias e sequer assinou sua obra, por não saber que reações despertaria, o resultado, no entanto, foi belíssimo e todos pensaram tratar-se da obra de uma máquina tamanha sua perfeição. Já a imagem de nosso Pavilhão Sagrado, que a princípio seria perfeita na chamada "Casa do Povo", pareceu imprópria em um ambiente onde atualmente impera o espírito de pilhagem, e que nos perdoem os homens e mulheres honestos que por ali ainda transitam em número cada vez menor, conforme nos lembram as sanguessugas e agora as toupeiras de plantão.

A beleza do gesto me tocou profundamente por demonstrar a união de dois dos mais puros amores que o ser humano pode ter na vida: por seus filhos e por sua pátria, e mais, o "trabalho" extra somente era executado por Clodoaldo após a realização de todas as suas obrigações diárias, era algo voluntário e que não se encaixava sequer em suas funções, mas foi algo feito com o coração para a melhoria de seu "ambiente de trabalho", do mundo a seu redor, e é este tipo de trabalho que realmente faz a diferença, e é deste trabalho que nosso Brasil precisa, todos podem colaborar e se não puder fazer tudo, faça tudo o que puder, mas infelizmente poucos se dispõem a fazê-lo nestes dias sombrios.

Normalmente, ficamos à margem esperando que alguém faça as coisas por nós, e sem se falar que quando surge a oportunidade de darmos nossa contribuição, nos recusamos, pois mormente pensamos: o que eu vou ganhar com isso se nem é minha obrigação? E ainda: para quê bancar o bobo? Pois se ninguém faz nada (principalmente aqueles que podem e tem a responsabilidade de fazê-lo), porquê logo eu é que vou fazer? Afinal de contas hoje em dia ser honesto e fazer o mais e melhor do que se deve, é bancar o otário, pois malandro é malandro e mané é mané (apesar de a sabedoria popular nos recordar que a mulher do malandro fugiu com o Mané!).

Hoje o trabalho de Clodoaldo é elogiado e reconhecido por parlamentares e servidores do Senado, e mesmo sem não ter mais a obrigação de realizar o serviço de limpeza do carpete do Plenário, pois hoje ele já é o encarregado da limpeza e manutenção do Senado, Santos não abre mão de trabalhar a Bandeira Nacional toda semana, só que agora a conclui em até 20 minutos, sobrando tempo para efetuar nos espaços vagos existentes nas laterais da mesa diretora desenhos de cunho abstrato.

Pois é meus amigos, grande Brasileiro este Clodoaldo, além de se constituir um exemplo de profissionalismo pois chegou lá fazendo o que sabia bem e com amor, sem passar por cima de ninguém, sem fazer nada de ilegal, sem considerar seu trabalho um fardo, e mais sem se envaidecer após ser descoberto e reconhecido. Durante a entrevista mostrou ser uma pessoa tranqüila e politizada, declarando sem estardalhaço que não irá repetir seu voto nestas eleições, pois aquele que havia angariado sua confiança anteriormente a perdeu! (possivelmente atolado no lamaçal que insiste em tomar conta da cena política brasileira) e quanto a nós profissionais do "saber", será que faremos o mesmo?

Sigamos todos estes exemplos caros Colegas, não façamos da Docência um martírio, não percamos a luz no olhar e a paixão por nosso sagrado ministério, pois assim agindo poderemos formar mais que alunos, formaremos Cidadãos, homens de bem, que saberão que na vida o que vale é o bem comum, o crescimento espúrio, egoísta e vertiginoso cria apenas mais distância e infelicidade para todos, e se por ventura dentre nossos alunos surgir um Clodoaldo não nos envaideçamos pois como é sabido desde a clássica antiguidade Romana: A Pedra de Tarpeia fica ao lado do Capitólio! (1)



Notas:
(1) A colina do Capitólio era o centro religioso da antiga Roma onde os vencedores iam para receber as honras de seu triunfo. Num dos picos do Capitólio ficava a Pedra de Tarpeia, de onde eram jogados os traidores condenados à morte...

 

Autor deste artigo: Robspierre Miconi Costa - participante desde Dom, 23 de Abril de 2006.

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