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Edições Anteriores 124 Conceituar Tecnologia Educacional
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Escrito por Claudia Menezes Nunes   
Qua, 06 de Dezembro de 2006 21:00

Um dos primeiros trabalhos pedidos no curso de Tecnologia Educacional pela Profa. Carly Machado foi "Conceitue Tecnologia Educacional". Minha turma (a primeira turma), começando a se equilibrar em meio aos muitos temas do curso, ficou apreensiva. Mas, como estávamos em processo de especialização, entendíamos que "se estávamos na chuva, tínhamos que nos molhar". Eu, particularmente, por estar iniciando leituras sobre o tema, me senti desafiada e pensei: "como estabelecer um conceito sobre um tema tão amplo?" E cheguei à conclusão de que, mais do que temer, eu deveria experimentar esse desafio com liberdade. Pensando assim escrevi o seguinte texto:

Interessante o ato de conceituar. Pensa-se que, diante de um conhecimento já amplificado pelo tempo, pela leitura, pela vivência, somos capazes de estabelecer certezas diante de quase tudo, principalmente diante de aspectos característicos de nossa vida profissional. Que engano!!! Que dificuldade!! Entre nós e a folha de papel (ou a tela de um computador) perpassam sentidos os mais diversos sobre os mais variados aspectos. Logo, no momento de conceituar, precisamos remexer as águas profundas (sujas ou não) de nossa memória, pinçar elementos coerentes e de acordo com a temática estipulada a fim de certificar nossa argumentação. Essa certificação implica em certa linearização legível das várias formas de se entender um ponto. Dizemos várias formas porque sabemos que as diferentes ciências (Filosofia, Antropologia, Sociologia, Psicologia, etc.) incutem diferentes moldagens a um mesmo objeto de estudo.

Mas o exercício é: conceituar Tecnologia Educacional. E isso não é confortável! Então o que fazer? Acreditamos que, primeiro, é necessário nos reconhecermos nos espaços menores (sala de aula) com todas as suas implicações pedagógicas e pessoais. Depois, é necessário trabalharmos o redimensionamento do conhecimento junto com todos os meios de comunicação de massa. E, por fim, é necessário criar / ter uma leitura crítica da própria vivência profissional com a inserção da tecnologia. Nessa atitude, aceitaremos a participação da tecnologia como outra ferramenta de promoção do ensino-aprendizagem e, sendo assim, poderemos reverberar criatividades, potencialidades, saberes, habilidades e competências, com dinamismo e ludicidade.

Conceituar Tecnologia Educacional exige o conhecimento dos papéis exercidos pelo educador, pelo aluno e pela escola na sociedade, no conjunto, em rede. Essa comunhão conformará os processos ensino-aprendizagens, os processos de cognição, dentro de alguns padrões sociais pré-estabelecidos (desse panorama não há escapatória!), gerando melhores e outras formas de inserção de valores, de conhecimento e de crítica em geral¹.

Diante dessas e de outras dificuldades, optamos por construir essa conceituação em fragmentos. Esses oferecem uma onda cada vez maior de análise de um mesmo conteúdo na medida em que tentam oferecer todos os possíveis olhares sobre esse mesmo tema. Esses também amenizam uma angústia nascida da obrigatoriedade de fechar (conceituar) um denominador comum para uma expressão que, em si mesma, traz uma grande ambigüidade, segundo muitos teóricos (segundo Umberto Eco, teóricos divididos entre apocalípticos / integrados): Tecnologia e Educação.

Um pouco de história
Após a Revolução Industrial, a percepção sobre as diversas questões educacionais tomou um novo rumo: era necessário modificar as estratégias pedagógicas de forma a estabelecer-se um diálogo mais paralelo e profundo com as chamadas "novas tecnologias" em curso. As relações até então, num continuum e sob a égide do poder, entre educador-educando-escola para a apreensão do conhecimento, obrigou-se a um repensar, a uma renovação, diante do acelerado avanço das tecnologias². Por que? Porque estas penetraram no âmbito escolar e acadêmico como novas mediadoras das atitudes impulsionadoras / criadoras dos processos cognitivos pela multiplicidade de opções de aprendizado oferecidas em sua estrutura. Em conseqüência, rompeu-se (pretendia-se) com a linearidade conteudística (curricular) de forma quase que definitiva. E todas as figuras dessa relação (educador-educando-escola) tiveram que repensar suas metodologias tanto para ensinar quanto para aprender. Afinal, ensinar (etimologicamente) é indicar, fazer sinal, apontar numa direção; logo ensinar e aprender, sugerem, juntas, aberturas de linhas estratégicas para que os educadores sofistiquem suas práticas, os educandos participem da cotidianidade como criadores de seu próprio mundo e a escola atravesse a história mantendo sua proposta de vértice do conhecimento continuado.

O crescimento da importância dos meios de comunicação de massa modificou todo um contexto social e trouxe um novo ícone: a velocidade. Informações e imagens entraram em um processo alucinado de supressão dos vácuos deixados por uma educação autoritária. Logo logo esses meios impuseram uma interação entre educador/escola e os educandos tendo em vista, ainda, a concepção geral de que a escola visa formar indivíduos capazes de desvendar a realidade. À Educação, então, exige-se um rompimento com os liames de uma tradição enlameada de tendências até então (e apesar de tantas adjetivações) mantenedoras de um extrato político, social e econômico criado para justificar todas as exclusões possíveis, sem ser tocada.

"É preciso desmitificar sua credibilidade, imparcialidade, competência, fascínio, veracidade e autoridade. (...)" (Leite, 2003: 106)

Dentre os meios de comunicação de massa, atualmente inserimos, sem temor, está a Informática (Internet): suporte de recursos lúdicos (cor, som e movimento), agora aglutinadores, pela sedução da novidade, de todos os processos pertinentes ao ato de conhecer pelo seu aparente aspecto de possuidor de todas as informações necessárias a continuidade desses mesmos processos. A rapidez e a versatilidade (mais uma do que outra), elementos que caracterizam sua funcionalidade e seu uso, passam a ser elementos integrantes de uma geração caótica de sentido, de valores, de objetivos e do próprio conhecimento. O título do Cd do grupo Os Titãs, "Tudo ao mesmo tempo agora", definiria com toda a clareza essa geração e sua relação com a informática (computador).

Mas aquilo que condenamos, a relação de nossos jovens com os meios de comunicação como, por exemplo, a Internet, acontece, para eles, como lugar quase de "salvação" de suas individualidades porque se sentem desmembrados de seus pais. Nesse mundo "careta" não há diálogo entre vontades, há ríspidas discussões entre o que se considera banal e o percebido como primordial.

Para os jovens, ler código de barras, operar terminais bancários, jogas videogames, pesquisar na Internet ou a partir de CD-ROM, entender o funcionamento de aparelhos de DVDs, são suas ações habituais e ações feitas "sem pensar". O jovem atual é simbiótico em relação à tecnologia. Logo é claro que sua percepção, sensação, atenção estejam redimensionados de acordo com essa "habitualidade" tecnológica. Ter intuição não é mais um desejo, agir por intuição não é mais tão atraente, a intuição torna-se o elemento base para cada uma das suas escolhas. Maturação (processo que exige estancamento do tempo para uma verticalização no/do que se queira criar ou saber) nem passa perto dessa geração. É uma ação cuja acessibilidade demora demais. Essa geração exige dinamismo e muita ludicidade! Mas essa é outra discussão!

Diante de tantas controvérsias, e mesmo assim, inaugura-se a Cibercultura. E com ela, a discussão sobre tecnologias e as novas formas de conhecer. Estamos em Rede. Estamos na Rede. Estamos em eterno (!) estado de construção. Logo, conceituaremos Tecnologia Educacional por partes:

è A Tecnologia Educacional ocupa-se em desenvolver as diversas formas de inteligência na interação indivíduo-máquina-indivíduo (virtual) prestando um serviço criador, fortalecedor e "imaginador" de novas atitudes diante de uma forma tradicional de se processar o ensino-aprendizagem;

è A Tecnologia Educacional é uma vertente teórica que, a partir de seus elementos constitutivos, multifaceta (pulveriza?) ainda mais as possibilidades de ser criativo, inerente ao ser humano, ainda que reprimido por instâncias referendadas por uma tradição secular, por exemplo: ainda falamos em disciplinas;

è A Tecnologia Educacional incorpora e aproxima o corpo (docente e discente) de uma construção ainda maior de possibilidades de manutenção da construção hetero do indivíduo na medida em que tem como objetivo implodir o olhar, a percepção, a memória, atingindo e englobando o mundo virtual;

è Tecnologias Educacionais promovem novas formas de reconstrução do conceito de Escola, na medida em que implementam novas formas de educar, novas formas de produzir um espírito crítico, novas maneiras de movimentar os conceitos educacionais ao nível das subjetividades tornadas virtuais;

è A Tecnologia Educacional é uma forma de ultrapassar (transformar?) ícones da filosofia como autonomia, alteridade, ética, estética e o próprio conhecimento, pois, além da possibilidade de interferência em alguns deles, não necessita de nenhuma presentificação como detonadora (impulsionadora) de outras. A eleição de outras formas de pensar esses conceitos ocorre no virtual, na relação virtual. Ser ou não ser alguém, ter ou não ter um nome, fazer ou não fazer certas coisas, são opções, são escolhas oferecidas sem que o processo de culpa se instaure no momento dessa escolha;

è As Tecnologias são formas de ampliar o espaço ocupado pelos indivíduos através da sensação do todo;

è A Tecnologia Educacional ultrapassa o saber informacional na medida em que se reconstrói em comunhão com a inteligência humana³;

è A Tecnologia Educacional transforma o atual, transforma a momentaneidade em que ocorre (sala de aula, pesquisa para o professor, pesquisa individual etc.) como também transforma o virtual, pois estabelece meios, recursos possíveis para um mesmo aprendizado (aprendizagem?)

è A Tecnologia Educacional amplia as formas de comportamento, reelabora conceitos / valores, imprime novas marcas na cotidianidade (pela transformação das subjetividades), inaugura novas alteridades (o outro não é só físico, é virtualizado), empresta novos sentidos / sentimentos, ou seja, a Tecnologia Educacional reinaugura o indivíduo pelo nível de criticidade que alcança em seu manejo;

A intelectualidade, em sua maioria, investe contra a exacerbação da importância do uso das tecnologias educacionais, pois teme perder seu lugar, teme mudanças, teme a perspectiva de não-sobrevivência³ já que se quer figura centralizadora do imaginário social. Essa intelectualidade ainda não percebeu que as mudanças já estão em processo a um certo tempo!!

è A Tecnologia Educacional então promove, a partir de um professor mediador, uma tomada de posição mais séria sobre a responsabilidade desse sob tantos sujeitos que o cercam na medida em que, em núcleos pequenos (sala de aula), estimula a uma procura crítica, compactua com as vontades advindas do fora-escola e recria as diversas "vozes" do social, as ultrapassando, as problematizando, as engrandecendo e, lógico, as fixando. Diante disso, os conteúdos perpassarão essa lógica, na medida das carências, dos graus de importância, dos interesses, de cada sujeito, mas o nível do alcance dessas exposições se dará de forma diferenciada. Todos estarão (expostos) as mesmas problematizações, mas cada um a absorverá ou não, diante das próprias expectativas.

è Tecnologias Educacionais são recursos fora-escola, advindas do viés científico, que agilizam, ampliam, transformam, implementam os processos de ensino-aprendizagem de forma a, constantemente, poder inaugurar um novo indivíduo com uma leitura cada vez mais crítica.

Essas tantas possibilidades de conceituação também oferecem contrapontos menos positivos, mas isso penso depois.
Notas:
¹ Lógico, partimos do princípio de que todas as tecnologias devem se prestar às linhas mestras da Educação brasileira. O caminho é usar a tecnologia e não ser usado por ela.
² Primitivamente, a máquina foi um objeto pensado como gerador de qualidade de vida aos indivíduos, pois eliminaria o tempo "perdido" em ações repetitivas cuja criatividade jamais se apresentava.
³ Destacamos o adjetivo, pois não o consideramos tão óbvio diante dos conceitos de Inteligência Virtual, Inteligência Competitiva, Inteligência Artificial etc., que refletem o envolvimento do homem com a máquina.
³ Sobrevivência leia-se manutenção de um lugar fixo.

Referências bibliográficas:

BLANCHOT, Maurice. Anexos: I- A solidão essencial e a solidão do mundo (págs. 253-255). In. O espaço literário. Trad. de Alvaro de Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
DOMINGUES , Diana (org). Introdução: A humanização das tecnologias pela arte (págs. 15-29). In. A arte no século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997 (Primas).
LEITE, Lígia Silva. Leitura crítica dos meios de comunicação de massa (págs. 105-114). In. Tecnologia Educacional: descubra suas possibilidades na sala de aula. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
LEMOS, Maria Brum et alli. "Intelectuais e Cibercultura.
www.observatoriodaimprensa.br/artigos
LEVY, Pierre. Cibercultura. Trad. de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999, 264p (Coleção TRANS).
___________. Cap. III - Rumo à uma Ecologia Cognitiva. In. As Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Trad. de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993, 208p (Coleção TRANS).


 

Autor deste artigo: Claudia Menezes Nunes - participante desde Seg, 26 de Junho de 2006.

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