"Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas. Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido." Rubem Alves APRESENTAÇÃO: O objetivo deste artigo surgiu da necessidade de discutir o papel da universidade frente ao perfil dos seus alunos e proporcionar aos estudantes recém-chegados ao ensino superior , uma série de informações que contribuam para minimizar o impacto gerado pela saÃda do ensino médio e a entrada na universidade. Ao perceber as diferenças e se adaptar a elas, o aluno tem condições de obter um melhor aproveitamento do seu curso.
O ingresso ao mundo universitário gera várias expectativas em todo estudante. Além da grande sensação de vitória pela conquista de uma etapa importante, o "novo" provoca algumas incertezas.
Os critérios de seleção, a cada ano, ficam mais sofisticados e muitas instituições além do vestibular procuram conhecer seus futuros alunos promovendo entrevistas individuais com os candidatos aprovados realizadas pelos setores pedagógicos. Além disso, oferecem aos futuros alunos e seus familiares palestras proferidas pelos diretores e coordenadores dos cursos. Ou seja, a expectativa em relação aos alunos que irá receber também está presente na universidade. Há várias décadas, um ponto de conflito entre a universidade e os estudantes que nela estão ingressando , é a grande diferença da metodologia utilizada no ensino médio para a realizada na universidade . Essa diferença vem sendo objeto de estudo de muitos educadores preocupados em encontrar um consenso. As estatÃsticas ao longo dos anos nos apontam esse impacto imposto aos adolescentes recém-chegados à universidade. A maioria dos alunos ingressa no ensino superior com dezessete ou dezoito anos e muitos deles com dúvidas em relação ao curso que escolheu. Apesar de muitas escolas de ensino médio oferecerem aos alunos um programa de orientação vocacional fatores como: incerteza em relação a escolha da carreira , imaturidade , a diferença na linguagem do professor, o nÃvel de exigência do curso e falta de autonomia dos alunos têm sido alguns entraves que provocam a desmotivação que geralmente leva ao abandono do curso nos primeiros anos de estudo.
. A metodologia adotada pela escola, de um modo geral, direciona o estudo do aluno, e, como as disciplinas possuem a duração de dois semestres, a distribuição do conteúdo e as diversas técnicas para fixá-lo tornam-se menos complexas.
O estudo na universidade exige do aluno uma mudança em sua forma de estudar, é preciso que ele desenvolva autonomia, argumentação, raciocÃnio lógico e eleve a sua capacidade de reflexão.
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. Nas aulas de um professor no ensino superior, são lançados conceitos fundamentais para a compreensão do conteúdo de cada disciplina, mas cabe ao aluno, por meio de estudo individual ou em grupo, internalizá-los. Aquela "velha história", muitas vezes utilizadas na escola, de estudar apenas na véspera das avaliações não funciona no mundo universitário. O aluno precisa se conscientizar de que o estudo na universidade não deve ser encarado apenas como uma forma de estudar para obter aprovação, e sim como um "passaporte" para definir o seu futuro. Na universidade, cada disciplina tem um semestre de duração, sendo ele composto apenas de quatro meses. Por esse motivo, se o aluno não conseguir dividir adequadamente o seu tempo para estudar cada disciplina oferecida no perÃodo, poderá ser levado ao insucesso no curso.
Organizar um cronograma de estudo é importante; entretanto, ele precisa ser bem utilizado. Quantas vezes dedicamos muitas horas ao estudo num determinado conteúdo de uma disciplina e não conseguimos assimilá-lo de forma adequada? Isso é muito comum no universo dos estudantes, e a má utilização do tempo não facilita o aprendizado e acaba gerando frustração e ansiedade. O papel da coordenação pedagógica é fundamental para minimizar esse impacto.
Não há fórmula mágica que garanta um melhor aproveitamento das horas dedicadas ao estudo, mas é necessário observar se elas estão sendo utilizadas de forma correta. Para tal, apontaremos alguns fatores simples, mas que podem ajudar aos jovens universitários no ato de estudar. 1- Quanto ao ambiente estabelecido para o estudo " Estabelecer uma rotina de estudo em um ambiente favorável para tal. É preciso separar todo o material necessário para o estudo daquela matéria. Procurar não sofrer influências externas que facilitem a desatenção e ter disciplina para cumprir a quantidade de tempo reservado para o estudo.
2- Concentração na hora do estudo " Trabalhar a concentração é muito importante para a assimilação do conteúdo estudado e para a melhor distribuição do tempo dedicado ao estudo. É muito comum os alunos terem dificuldade de concentração e acharem que nunca conseguirão entender aquele assunto. " As influências externas são facilmente contornáveis, basta apenas ter determinação e disciplina para eliminá-las, mas as influências internas também precisam ser vencidas. O que podemos chamar de influências internas? " A resistência ao estudo é uma delas. Muitas vezes não há empatia com a matéria estudada e nem com o próprio professor que a ministra, mas essa dificuldade precisa ser eliminada. Procurar uma aproximação com o professor a fim de esclarecer possÃveis dúvidas, é um processo simples que sempre funciona. " A preocupação com problemas pessoais. Todos nós enfrentamos problemas em várias fases da vida, mas é preciso não supervalorizá-los, pois, se um determinado problema não puder ser resolvido naquele momento, é fundamental concentrar esforços para deixá-lo de lado no momento em que dedicamos o nosso tempo para os estudos. 3- Grupos de estudo . " . O estudo em grupo ajuda a vencer as dificuldades e possÃveis resistências em relação a algumas disciplinas. Além de resgatar a autoconfiança e desenvolver o espÃrito coletivo.
4- Apoio da coordenação pedagógica " É um setor que deve ser utilizado com freqüência pelo aluno, não apenas para o fechamento de plano de estudo, mas também para dividir as suas expectativas e ansiedades.
5- A participação nas aulas e a interação com o professor " Assistir às aulas, prestar atenção à explicação do professor, fazer as anotações necessárias, participar das discussões propostas e aproveitar o momento para tirar dúvidas é um processo simples, mas muitas vezes não utilizado pelos alunos.
" A aula é o momento mais importante do curso, pois a interação com o professor e demais colegas de turma facilita a compreensão da matéria. Uma dúvida de um aluno pode também ser de outros,e a exposição ao professor no momento adequado facilitará a assimilação do assunto apresentado. " As notas de aulas são importantes, mas é preciso ter disciplina para fazê-las. Deve-se anotar apenas os pontos relevantes, não perdendo tempo em anotar tudo, pois esse procedimento impede que o aluno preste atenção na explicação realizada pelo professor. " É recomendado deixar espaços em branco nas anotações de aula, pois posteriormente algumas observações importantes podem ser acrescentadas. " Todos os espaços abertos pelo professor para tirar dúvidas sobre a matéria devem ser aproveitados. Na universidade, esse momento não pode ser desperdiçado. Faltar à s aulas ou apenas assistir a elas sem o menor interesse no assunto resultará no acúmulo de dúvidas e conseqüentemente, o perÃodo será menor para recuperar o tempo perdido.
6- Leitura, reflexão e compreensão " Os textos trabalhados na universidade possuem uma linguagem bastante diferente dos textos trabalhados no ensino médio. " Para compreendê-los, é preciso fazer uma leitura mais atenta, procurando perceber a idéia do autor. Uma leitura em voz alta de algum trecho que não ficou muito claro, na maioria das vezes, ajuda a perceber o sentido da frase. " Marcar os pontos no texto que considerar mais importante e leve-os para a discussão em sala promovida pelo professor. " Fazer uma sÃntese do que foi discutido em sala e realizar uma nova leitura no texto organiza o pensamento e ajuda na reflexão na hora de produzir um texto. " A reflexão ajuda a organizar o pensamento e facilita na hora de elaborar um texto. ,(...) elaborar conclama a postura de sujeito capaz de projeto próprio, iniciativa que comparece com idéias e interpretações do ponto de vista do observador, capacidade de confronto com polêmicas e teorias, com vistas a construir maneira própria de ver, argumentar, redigir. ( Demo: 2004; 23) " . Pesquisar sobre o autor e o assunto discutido em outras fontes facilita o entendimento. (...) quem não pesquisa, não aprende, pois continua copiando, reproduzindo, imitando. (Demo: 2004:33) " A reprodução de textos alheios sem as devidas referências de acordo com as normas da ABNT será interpretada como plágio. É de suma importância ficar bem atento a isso. 7- Listas de exercÃcios " As disciplinas quantitativas geralmente oferecem listas de exercÃcios para facilitar a compreensão da teoria. Fazê-las é uma excelente maneira de medir a assimilação sobre o conceito estudado. Nunca desistir na primeira tentativa. " Se posteriormente o gabarito for liberado pelo professor, procurar verificar os acertos e corrigir os erros. Não tentar decorar o gabarito, e sim compreendê-lo. CONCLUSÃO: As informações prestadas neste material devem ser encaradas como sugestões, pois não é nossa intenção implantá-las como uma regra que deva ser rigorosamente cumprida por todos. Afinal, o mundo é composto de pessoas diferentes. A metodologia do professor universitário deve estar voltada para as dificuldades apresentadas pelos alunos e levá-los ao crescimento intelectual. Todas as disciplinas presentes na grade curricular de cada curso têm um propósito e são de grande importância para a formação de um jovem universitário. Não há método de estudo ideal. Cada aluno deve eleger o seu e ele deve ser sempre reformulado quando não estiver mais dando resultado. O mais importante é ter disciplina, vontade de aprender, saber superar seus limites e nunca desistir. A sociedade, inclusive o mercado, espera da universidade que garanta acesso ao melhor conhecimento possÃvel e disponÃvel, em particular a formação de gente capaz de construir e reconstruir conhecimento . (Demo:2004:48) Referências Bibliográficas: DEMO, Pedro. Universidade, aprendizagem e avaliação: horizontes reconstrutivos- Porto Alegre: Mediação. 2004 VEIGA, Ilma Passos Alencastro, CASTANHO, Maria Eugênia L.M (Orgs). Pedagogia Universitária. A aula em foco. Campinas, SP. Papirus. 2000 BIBLIOGRAFIA: DEMO, Pedro. Universidade, Aprendizagem e Avaliação: Horizontes reconstrutivos, Editora Mediação, 2004. MELLO, Guiomar Namo de. Educação escolar brasileira: o que trouxemos do século XX? Editora Artmed, 2004. MORIN, Edgar; Os setes saberes necessários à educação do futuro. Editora Cortez, 2005. PERRENOUD, Philipe; THURLER, Monica Gather. As competências para ensinar no século XXI : A formação dos professores e o desafio da avaliação, Editora Artmed, 2002. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Educação Básica e Educação Superior: Projeto PolÃtico Pedagógico, Editora Papirus, 2004.
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