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A Dengue e o Meio Ambiente PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Ter, 26 de Junho de 2007 21:00
A Denque e o Meio Ambiente
Magno de Aguiar Maranhão *

Fala-se em "guerra" contra o Aedes aegypti como se estivéssemos lidando com um predador alienígena, quando trata-se apenas de uma espécie de mosquito pra lá de conhecida e que, como ocorre com qualquer forma de vida, também sofistica suas defesas para garantir a sobrevivência - a despeito do orgulho que os humanóides alimentam em relação a um progresso científico e tecnológico que nunca levou em conta, realmente, a necessidade de conhecermos e estabelecermos uma relação harmônica com o ambiente a fim de garantir nossa segurança e qualidade de vida, o que seria a única resposta eficaz contra a dengue e outros diversos males que vêm se alastrando (ou ainda estão por surgir) no país e no mundo, com rapidez maior do que gostaríamos de admitir.

Declarar "guerra" às "agressões" da natureza é adotar uma postura de Don Quixote, pois ela não está nem aí para nós; busca somente manter seu equilíbrio e se, para isso, alguns exemplares de uma espécie, mesmo da humana, tiverem que ser sacrificados, serão. O que importa para este sistema natural e extremamente inteligente é continuar a existir. Nesta "guerra", somos, de antemão, os vencidos, o que pode ser atestado pelo aparecimento de novas doenças e reemergência de outras, que julgávamos apenas em páginas viradas da Medicina, ou circunscritas a grupos populacionais isolados. A atitude mais inteligente é conhecer os "inimigos" invisíveis a fim de evitá-los. Contra-senso é querer expulsá-los depois que lhes abrimos as portas e os convidamos para entrar. Estamos falando em educação ambiental, nas escolas, meios de comunicação, empresas e órgãos públicos.

Nas escolas, crianças são ensinadas a eliminar quaisquer chances de sobrevivência do Aedesi. Este é um dos maiores problemas de saúde pública do planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde, 80 milhões de pessoas se infectam anualmente, 550 mil são hospitalizadas e 20 mil vêm a falecer.
Do Oiapoque ao Chuí, multiplicam-se mutirões e campanhas. Isso é ótimo; evitará que mais pessoas sejam infectadas. Mas tais medidas não darão resultado a longo prazo. A Organização Panamericana de Saúde (Opas), que em 81 alertara que o Aedes, transmissor também da febre amarela, estava de volta, crê que o Brasil errou na sua luta contra a epidemia ao centrar esforços na eliminação do mosquito, não na prevenção e controle, o que passaria pela redução da pobreza e, acrescentamos, na educação sanitária da população. O Aedes ressurgiu, transmitindo novos sorotipos do vírus da dengue, renovado, como se, combalido após enfrentar o sanitarista Oswaldo Cruz, tivesse recuperado a velha forma do início do século XX em um spa.

A epidemia será controlada e o assunto cairá no esquecimento, até o ressurgimento da dengue ou outra doença qualquer, estimulado pelo crescimento desordenado das cidades, pelo desmatamento, pelas precárias condições de higiene, pela falta de uma coleta de lixo inteligente e, sobretudo, pela falta de educação. Felizmente, temos cérebros trabalhando: a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, por exemplo, tem o projeto 2006, que visa, em quatro anos, à alfabetização científica dos brasileiros, no qual o MEC também deveria apostar, assim como as secretarias de educação, as empresas e emissoras de rádio e TV. O objetivo é explicar, entre outras coisas, porque deve-se lavar a mão antes de comer; como escolher, limpar e armazenar alimentos; como tratar a água e o esgoto; como evitar a proliferação de insetos nocivos; porque não desmatar; porque preservar os mananciais, etc.

Outras providências precisam ser tomadas. Algumas, repressivas, com base na legislação ambiental, como punir quem suja rios e fontes e protegê-las. Outras cabem aos órgãos de saúde, como expansão do atendimento nos postos e hospitais e investimento em medicina preventiva.
Lembremos que a dengue é uma entre outras ameaças. A febre amarela, que registrou três casos em 1997, três anos depois chegava a 84. Os casos de malária, que em 1970 chegaram a 50 mil, em 2000 ultrapassaram a marca dos 600 mil, e, pior, a doença está se disseminando nos centros urbanos da região Norte devido à ocupação da floresta. Outros males grassam pelo país em conseqüência das migrações humanas e da devastação ambiental, e chegarão a nós, se continuarmos guerreando contra um adversário que não existe. O ambiente em que vivemos é nosso mantenedor, não um inimigo, e pode suprir nossas necessidades ad infinitum, se soubermos como funciona e agirmos de acordo com suas regras. Nossa luta real é contra a desinformação, contra o desenvolvimento predatório, contra um sistema de saúde que mal cura e não previne, e contra uma educação alheia ao mundo concreto em que vivem os indivíduos, com todos os seus Aedes, insetos mil e microorganismos para os quais jamais estaremos à altura.

* Educador e Presidente da Associação de Ensino Superior do Rio de Janeiro

 
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