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Primeiras Impressões sobre o Estágio no Instituto EMMI PIKLER - LÓCZY - BUDAPEST PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Maria Lucia A. Peçanha   
Seg, 06 de Agosto de 2007 21:00
Primeiras Impressões sobre o Estágio no Instituto EMMI PIKLER - LÓCZY - BUDAPEST
MAIO 2007
MARIA LUCIA A. PEÇANHA

Após 5 dias de observações do trabalho feito dentro do Instituto Pikler, em Budapest, Hungria, a coordenadora das visitas, a eficiente e clara Eva Kàllo, me pediu que escrevesse durante o almoço uma avaliação da semana que passei. Marcamos que teria um tempo, dali umas 2 horas, para conversar sobre isso com a atual diretora, Ana Tardós, uma senhorinha sempre atarefada que eu tinha trocado umas poucas palavras. Não quis sair para almoçar e além de desfrutar meus últimos momentos naquela sala clara, espaçosa e cheia de livros do mundo todo sobre o trabalho lá realizado (agora tem um brasileiro!), com as miniaturas dos móveis feitos especialmente para as crianças, queria colocar no papel toda a emoção que trazia dentro de mim, daí escrevi assim:

Aqui estou, depois de 5 dias dentro do lugar que ocupou meus sonhos nos últimos 2 anos, o que aconteceu desde que tive nas mãos um pequeno livro sobre como "educar a criança nos 3 primeiros anos de vida, experiência de Lóczy" no Curso de Extensão da PUC - Rio, através das professoras Adriane Ogeda e Daniela Guimarães.

Minha última tarde escutando esses pássaros cantando, a certeza da presença das rosas, uma cerejeira carregada de frutos e esse silêncio carregado de vida de muitas crianças crescendo.
Procuro e não acho o papel que anotei nervosamente os primeiros dados concretos sobre o lugar, deixei no hotel, mas depois disso foram tantas anotações, observações silenciosas e encantadas com as delicadezas do cuidado em cada gesto desses profissionais que os dados concretos não importam nesse momento, pois quero falar das mais profundas emoções que tive.
Nesse último dia levaria um tesouro: livros e filmes sobre essa incrível instituição fundada pela pediatra Emmi Pikler em 1946.

Lembrei que essa linda e enorme casa, no alto de uma colina de muitas rosas pode acolher o dobro das crianças de hoje. A visão dos governantes, dos grandes e poderosos é acabar com orfanatos e como mágicos conseguirem "casas de acolhida" e pessoas que adotem todas as crianças abandonadas ou vítimas de maus tratos que não podem viver com suas famílias "naturais", temporariamente ou para sempre. Mas já começaram a funcionar com uma creche, como nós conhecemos melhor, com pais levando e buscando todos os dias.

Há um temor no ar de que tenham que fechar a instituição com as novas medidas do governo, mas tenho absoluta certeza que um lugar como esse é protegido por alguma Força maior, pois isto aqui tem valor - e, por isso, é para sempre! Pode até ser com outras formas, como a creche que se estrutura, mas a essência está perfeita, pois foi feita com amor, carinho e atenção baseados em conhecimentos e surgidos das cinzas da dor de uma guerra.

Pode parecer longe de minha realidade, nunca houve uma Guerra de verdade no meu país, mas também nunca houve uma Paz verdadeira! O Brasil precisa aprender como se pode ter um olhar de amor e de doçura com violência ao redor.

A pobreza de meu país, a violência das cidades grandes dominadas pela corrupção e pelo tráfico de drogas pode e deve ser vencida ou, talvez, tocada por pessoas que acreditem na infância e na força de fazer crianças crescerem acreditando nelas mesmas e nos seres humanos que têm ao seu redor.

Em Lóczy vi muitas crianças - nomes e sons muitos diferentes: Ibolya, Zolika, Sanyi,Fecó - os grupos e as colaboradoras (nome que dão às enfermeiras e professoras), estas bem seguras de suas funções e da maneira certa de fazer. Vi várias situações: comer, dormir, tomar banho, trocar fralda, trocar a roupa e brincar e brincar e BRINCAR! Mas com consciência das regras e com absoluta e total certeza que teriam atenção e cuidado.

Acredito que somos todos iguais, em qualquer lugar do mundo. Acredito que vivo no Planeta Terra com SERES HUMANOS. Há culturas diferentes. E isso só e só isso é lindo.

Mas no Instituto Emmi Pikler as crianças são mais crianças e são tratadas com mais humanidade. Os adultos são adultos só porque viveram mais tempo porém dividem seu saber com respeito, sem grandes explosões artificiais de amor e alegria ou de raiva, isto é óbvio, mas com serenidade e certeza de que há uma rotina, há uma maneira boa de fazer as coisas e sempre explicando cada detalhe dos acontecimentos. Os adultos conversam com bebês de 2 meses como conversariam comigo (se eu pudesse entender alguma palavrinha de Húngaro). Provavelmente, a coisa mais difícil de convencer os outros é que é dessa maneira. O mais incrível é que os bebês entendem e respondem!!!!!

Há muitas crianças especiais, com problemas de audição, visão e locomoção. Não me surpreendi, pois no meu país as leis obrigam que deva haver esta integração. O que me deixou impressionada foi ver que ninguém fica surpreso com os que eles fazem ou do que ainda não conseguem fazer.

Com esses especiais tive duas lições marcantes: um ruivo delicioso que foi para Lóczy com menos de 2 meses, hoje com quase 4 anos, nasceu sem os fêmures, andar era quase impossível, mas agora ele corria e amava carros. Estávamos todos no enorme pátio lateral e quando vi que ele queria descer uma pequena ladeira no velocípede, fiz um gesto negativo

(que vergonha para uma pesquisadora!) ele parou, mas pensou e resolveu descer, meu instinto foi colocar o braço e impedir. Contra a filosofia do lugar e contra tudo que já tinha visto. O choro foi escandaloso e eu queria entrar em um buraquinho, optei por ir para o outro lado e fingir que nem via...ele desceu correndo, melhor do que eu teria feito.

Outro momento foi com um menino que seria logo classificado com letrinhas começando com "T"... Ele era bem instável: aquele era o dia de bater em colegas: empurrou, implicou e escutou algumas palavras prováveis de que devia pensar no que estava fazendo...Aí passou por um colega com sérios problemas de locomoção e visão.Parou e fez carinhos na sua cabeça. Fiquei tão comovida que ele deve ter percebido porque veio se sentar ao meu lado, na escada de pedra ao sol e me fez carinhos e até me deu um estalado beijo na bochecha. Minha observação científica ficou prejudicada, mas meu coração ficou bem aquecido.

É bem importante registrar a organização que existe para receber os visitantes observadores. Eles, humildemente, alegaram que são assim porque recebem gente do mundo inteiro e o fazem há muito tempo. Mas é impressionante como podemos ter segurança em agir do modo correto e como temos todas as informações desejadas.

Quero registrar meu agradecimento de coração à Eva Kalló com seu francês maravilhoso que ultrapassou o meu inicial, que estava meio emperrado. E à Dra. Gabriela que, na ausência de Eva, passou a tarde assistindo filme e falando inglês comigo. Delícia de conversa e conseguimos uma intimidade imediata. Vou tentar ultrapassar as barreiras e entender mais de Húngaro para poder ser mais simples divulgar mais as idéias piklerianas. É importante haver intercâmbio com esse fantástico instituto.
Obrigada às crianças que viveram sem se deixar perturbar tanto com minha presença (até o bebê Jani, que tanto chorou, me aceitou no último dia). Obrigada às colaboradoras que deixaram que eu ficasse por perto.

Meus sinceros parabéns a todos e espero voltar ou poder convidar algumas das profissionais para alguma palestra em meu país. Vou mostrar todas as fotos e filmes e traduzir muitos trechos dos livros lindos que falam de "novos paradigmas e da casa de crescer".

Tenham certeza que me tornei pikleriana desde pequenininha, agora!
Ah! A conversa com Dra. Ana Tardos foi rápida e emocionante.


 

Autor deste artigo: Maria Lucia A. Peçanha - participante desde Sex, 07 de Julho de 2006.

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