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Perspectivas, Desafios e Possibilidades da Educação No Século XXI PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Oziris Alves Guimarães   
Qua, 14 de Novembro de 2007 21:00
Perspectivas, Desafios e Possibilidades da Educação no Século XXI Profs. MSc. Oziris Alves Guimarães e Verno José Gustavo Weiss


Jean Paul Sartre afirmava que o homem é a única criatura que recusa ser o que ele mesmo é. Entretanto, o filósofo Confúcio ousa contrapor, expressando que a verdade consiste em amar os homens e a sabedoria em compreendê-los. Tais afirmações nos remetem à compreensão do sentido de ser a partir da observação de nós mesmos. No momento em que ocorrer uma radical transformação de nós mesmos estabelece-se o zelo no mundo. Tal transformação desvela que a verdade não é "o que é", mas a compreensão de "o que é" abre a porta que conduz à verdade.

O texto nos permite adentrar nas questões desafiadoras sobre a educação no século XXI. Ninguém duvida que, nos tempos que ora vivemos, a humanidade entrou num processo de mudanças cuja amplitude, profundidade e, sobretudo, rapidez provavelmente nunca teve um equivalente na história. A internacionalização da vida das sociedades nacionais, o fenômeno da mundialização, os problemas do meio ambiente, as tensões e os conflitos de um novo tipo de homem, bem como a generalização de certas normas e de certos comportamentos culturais que entram em conflito com os valores tradicionais, os problemas éticos cada vez mais complexos, dos quais nem os indivíduos nem as sociedades podem escapar, são alguns dos fatos relevantes da nossa época. As sociedades, as relações entre os indivíduos, entre estes últimos e as instituições, entre diversos grupos e entre nações tornam-se cada vez mais complexas. Um nível inicial de educação cada vez mais elevado, constantemente renovada e completada no decorrer da vida passou a constituir necessidade absoluta para todos os seres humanos, a fim de que eles possam levar uma vida com sentido, obter um rumo na sociedade, enfrentar os inúmeros novos desafios e evitar-se de cair numa situação sem identidade e objetivos claros.

De acordo com Morin (2001), a cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores, mitos, que se transmitem de geração em geração, se reproduzem em cada indivíduo, controlam a existência da sociedade e mantêm a complexidade psicológica e social. Não há sociedade, arcaica ou moderna, desprovida de cultura, contudo não podemos esquecer que cada cultura é singular. Assim, sempre existiu a cultura nas culturas, entretanto a cultura existe apenas por meio das culturas.

O conceito de educação ao longo de toda a vida aparece, pois, como uma das chaves de acesso ao século XXI. Ultrapassa a distinção tradicional entre educação inicial e educação permanente. Vem dar resposta ao desafio de um mundo em rápida transformação, mas não constitui uma conclusão inovadora, uma vez que já anteriores relatórios sobre educação chamaram a atenção para esta necessidade de um retorno à escola, a fim de se estar preparado para acompanhar a inovação, tanto na vida privada como na vida profissional. É uma exigência que continua válida e que adquire até mais razão de ser. E só ficará satisfeita quando todos aprendermos a aprender.

Rebuscando o perfil da história da educação no Brasil, identificamos alguns paradigmas que impediram e impedem de certa forma as possibilidades de se olhar a cultura nas culturas. Sabemos que cuidar da educação nunca foi o forte dos governos brasileiros. Educar foi, inicialmente, obra de padres, de padres jesuítas, que pelos objetivos da Companhia de Jesus (catequizar pagãos, espelhar a fé católica e ir à frente da reforma luterano-calvinista), não adentraram nas questões norteadoras da inclusão do homem no processo ensino-aprendizagem.

A educação do século XXI apresenta uma exigência renovadora diante das culturas. É urgente intervir através da re-flexão sobre o fenômeno da mundialização que nasceu para acelerar as competições e os conflitos sociais. Quem não tem condições para competir sobra nas estradas da vida acaba levando uma vida sem sentido, sem identidade e sem objetivo.

Há um sonho de liberdade planetária. O mesmo requer uma consciência ética do cuidado. Os problemas éticos são resultados de uma educação não planejada coerentemente com a vida do ser humano. A crise que vivemos e que se espalha no cosmo, é resultado da má administração política do poder público.

Na Conferência de abertura da XVIII Reunião Anual da ANPED Paul Singer (1995) afirma que o grande dilema educacional hoje está sendo debatido, no Brasil e em todo planeta. O universo dos educadores, dos estudantes e administradores de aparelhos educacionais, políticos e gestores públicos está dividido e polarizado em duas visões opostas dos fins da educação e de como atingi-los. Os dois lados são entusiásticos defensores da educação que a consideram importantíssima. A sua caracterização, a seguir, deliberadamente, acentua as diferenças, mesmo sabendo existirem muitos que se posicionam de forma menos extremada. É que as diferenças permitem compreender melhor o teor do debate e ajudam a dele participar.

O ensino, no Brasil e fora do Brasil, está em crise e esta já deu lugar a um impasse. De um lado a posição produtivista que propõe reformas que são consistentes com a concepção liberal da sociedade. De outro, a posição civil-democrática que clama pela preservação da escola pública em nome do direito universal à educação e enfatiza a necessidade de restaurar a base material indispensável para que a escola possa cumprir sua missão.

Faz-se urgente entender o mecanismo de perpetuação do poder ideológico do Estado na historicidade da educação brasileira. Tal afirmação nos provoca questionar: afinal, o que é educação? Educação poderia confundir-se com simples repasse de conhecimento? Seria, por acaso, sinônimo de escolarização ou, então, um conjunto de métodos e técnicas aplicados, insistentemente, na escola?

Segundo Cinel (1988) se consideramos que a educação é um fenômeno inteiramente concretizado no crescimento pessoal e grupal, pode-se afirmar que a ação educativa é um processo de busca de identidade, de desenvolvimento global do ser humano, a partir dele próprio.

Educar, então, é oferecer melhores condições para que as pessoas e os grupos realizem, mais facilmente, a busca do seu próprio eu e concretizem nele seu plano de vida.

Educação é o esforço conjunto de seres humanos e instituições na realização do verdadeiro sentido da existência do homem e de sua participação na obra do bem comum a partir de valores e fins capazes de mantê-los presentes. Concebemos educação como uma tarefa significativa da área social, comprometida com o ser humano e sua autoconstrução, no tempo e no espaço, atentando para as prioridades da época, para os bens culturais e os valores da sociedade em que vivemos. Esta concepção remete-nos à idéia de que cada uma de nossas escolas, no conjunto de seu esforço, na ação de cada serviço e, especialmente, na realização de cada atividade em sala de aula ou fora dela, deveria atentar para seu modo de agir e adotar uma atitude científica e responsável na organização do currículo em vista a atingir objetivos e fins, potencializando valores.

Um fato histórico, reconhecidamente importante, nos permite entender o alcance de tal concepção.

Por ocasião do Tratado de Lancaster, na Pensilvânia (EUA), no ano de 1744, entre o governo da Virgínia e as seis nações indígenas, os representantes da Virgínia informaram aos índios que em Williamsburg havia um colégio dotado de fundos para educação de jovens índios e que, se os chefes das seis nações quisessem enviar meia dúzia de seus meninos, o governo se responsabilizaria para que eles fossem bem tratados e aprendessem todos os conhecimentos do homem branco. A essa oferta, o representante dos índios, respondeu:
- Apreciamos, enormemente, o tipo de educação que é dado nesses colégios. Damo-nos conta de que o cuidado de nossos jovens, durante sua permanência entre vocês, será custoso. Estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos isso de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. ... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando voltaram para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores da Virgínia que nos enviem alguns de seus jovens que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles, homens (PILETTI, 1990, p.11-12).

As idéias-chave ora transcritas, certamente, apóiam um conceito amplo de educação e cultura que não só abrange as manifestações e produtos das ciências, da tecnologia e das artes, mas também, com maior razão, todas as formas produtivas do pensar e do agir com as quais o homem se articula consigo mesmo, com o outro e com o meio em que vive. Implicam também, numa tomada de posição responsável, cooperativa e crítica de educadores e educandos na detecção das necessidades primárias do contexto sócio-econômico e cultural e no trabalho para o alcance de objetivos e fins educacionais.

É na escola, em cujo ambiente a educação se processa de forma sistemática, que a experiência de cada cidadão, comunidade ou grupo social deveria ser transformado em fonte de questionamentos, de criatividade e participação, de forma autêntica no processo ensino-aprendizagem.

Dessa forma, refletir sobre o que é educar, para que educar, como educar e para quem educar deve constituir-se estímulo para a imaginação, inspiração e ponto de referência para aqueles que desejam viver uma educação que não seja aprendizado de desigualdade e experiência de dependência. A gente se educa cada dia, durante a vida inteira, aprendendo das experiências que vive, e, aprendendo ainda mais, se elas são vividas e discutidas em comum (CECCON,1986, p.92).

Referências

CECCON, Claudius et al. A vida na escola e a escola da vida. 15 ed.Petrópolis : Vozes: Instituto de Ação Cultural(IDAC),1986.
CINEL, Nora Cecília L. Bocaccio. Afinal, o que é educação? Revista do professor, junho a setembro de 1988, p. 50.
FREIRE, Patrícia. O papel da comunicação impressa e das novas tecnologias para a aprendizagem organizacional. Comunicação apresentada ao NP de Relações Públicas e Comunicação Organizacional da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares - INTERCOM, no XXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado em Campo Grande-MS, em 2001, (CD-ROM)
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2001.
PILETTI, Claudino. Didática geral. São Paulo : Ática, 1990.
SINGER, Paul. Poder, política e educação. XVIII Reunião da ANPED. São Paulo: Revista Brasileira de Educação, 1995.

Sobre os autores:

Prof.MSc Oziris Alves Guimarães
Filósofo (Ucb) e Mestre em Educação pela UFAM, Prof. na Pós-graduação em Educação Ambiental - Disciplina: Metodologia da Pesquisa e Diretor da Universidade do Estado do Amazonas - UEA / Tabatinga/AM

Prof. Verno José Gustavo Weiss
Professor especialista em Língua Portuguesa e professor de Português, Latim e Literatura Latina na Universidade do Estado do Amazonas - UEA / Tabatinga/AM




 

Autor deste artigo: Oziris Alves Guimarães - participante desde Qua, 04 de Maio de 2005.

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