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Edições Anteriores 150 Ética e cuidado na convivência com o outro
Ética e cuidado na convivência com o outro PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Oziris Alves Guimarães   
Qui, 24 de Janeiro de 2008 21:00

Introdução
O presente trabalho pretende introduzir o leitor ao conceito de cuidado na construção do diálogo pedagógico-educativo e abordar a complexidade do viver em prol do ser que é o Outro.
Como tema central das discussões éticas nos últimos 100 anos, o assunto tem-se demonstrado inesgotável, razão pela qual, aqueles que tiverem interesse de se aprofundar mais, devem recorrer à referência apresentada no final do artigo. Destinado principalmente a um público que se inicia no tema, limitamos o alcance deste trabalho, evitando muitos dos desdobramentos teóricos que o mesmo tem suscitado. A base bibliográfica que fundamenta esse trabalho foi buscada nas teorias do comportamento, nas atitudes e motivação, no entendimento das emoções humanas, registrando o quanto a ética, como princípio de valor que gera e orienta as relações humanas, precisa ser solidificada para o bem-estar do convívio da Comunidade de Vida. A nossa intenção foi a de elaborar um texto bem didático e, portanto, bastante claro e simples.

O ser outro, o colocar-se ou constituir-se como outro.
A alteridade é um conceito mais restrito do que diversidade e mais extenso do que a diferença. Aristóteles considerou que a distinção de um gênero em várias espécies e as diferenças dessas espécies na unidade de um gênero implica uma alteridade inerente ao próprio gênero, isto é, uma alteridade que diferencia o gênero e o torna intrinsecamente diverso. Do conceito de alteridade valeu-se Plotino (205-270) para assinalar a diferença entre a unidade absoluta do primeiro Princípio e o intelecto que é a sua primeira emanação: sendo o intelecto ao mesmo tempo pensante e pensado, é intelecto enquanto pensa, é ente enquanto é pensado. É caracterizado pela alteridade, além de sê-lo pela identidade.
Quando experimentamos um adentramento no diálogo, como fenômeno humano, este se nos revela algo que já podemos dizer ser ele mesmo: a palavra. Essa busca revela-nos sua dupla dimensão: ação e reflexão que são de tal modo solidárias, que numa interação radical, se uma delas for sacrificada, imediatamente a outra se ressente. Não há palavra verdadeira que não seja ação. Daí que dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo de verdade.
A palavra falsa, por outro lado, com que não se pode transformar a realidade, resulta da dualidade que se estabelece entre seus elementos constituintes. Desta maneira, uma vez esgotada, penalizada a palavra de sua dimensão de ação, automaticamente, a reflexão também se transforma em palavrearia, verbalismo. Por isso mesmo, alienada e alienante. É uma palavra oca, da qual não se pode esperar a denúncia do mundo. Qualquer dessas dicotomias, ação-reflexão, ao gerarem formas inautênticas de raciocinar, reforçam a matriz em que se constituem.
Exibir humanamente é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, e por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. A palavra não é privilégio de alguns homens, mas direito de todos. Ninguém pode dizer a palavra verdadeira sozinho, ou dizê-la para outros, num ato de prescrição, com a qual rouba a palavra dos demais.
Essa é a razão por que não é possível o diálogo entre os que não querem a pronúncia do mundo, os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham negados deste direito.
Se, dizendo a palavra com que “pronunciam” o mundo, os homens o transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual ganham significado enquanto homens. Por esse motivo, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco se tornar simples trocas de idéias a serem consumidas pelos permutantes. A conquista que implica no diálogo é a do mundo pelos sujeitos dialógicos, não a de um pelo outro.

Experiência da Ética e do Cuidado Dar centralidade ao cuidado não significa deixar de trabalhar e de intervir no mundo, significa despojar-se de todo despotismo, pôr limites à exceção, pela eficácia, a qualquer custo, derrubar a ditadura da racionalidade fria e abstrata para dar lugar ao cuidado. Significa respeitar a comunhão que todas as coisas entretêm entre si e com conosco (BOFF, 1999, p.102).

O cuidado é um processo de libertação, pois permite que os sujeitos assumam uma posição profética, como capacidade de identificar e denunciar as estruturas de morte e, ao mesmo tempo, anunciar um novo projeto de sociedade. Não há sociedade sem a experiência da ética e do cuidado. Este anúncio profético de um novo projeto de sociedade supõe o conhecimento da realidade e a transformação da mesma, pois constituem a meta da pedagogia ética da libertação.

Nas obras “Saber Cuidar e Humanismo do Outro Homem” os autores Boff e Lévinas afirmam que a crise que afeta a humanidade se revela pelo descuido e pela falta de cuidado com que se tratam realidades importantes da vida: a natureza, os milhões e milhões de crianças condenadas a trabalhar como adultos, os aposentados, os idosos, a alimentação básica, a saúde pública e a educação mínima, além do mais, alienante.
A crise é civilizatória. Para sair dessa crise precisamos de uma nova ética. Ela deve nascer de algo essencial ao ser humano, pois a função criadora e desafiadora do cuidado ético é de ser um processo educativo coerente e incluidor. Essa nova ética proporciona uma consciência humana planetária que permite uma mudança radical da ação humana da realidade. É através do cuidado ético que se transforma qualquer realidade, que se conscientiza a crise. A conscientização toma posse da crise e exige da ação humana uma consciência transformadora. As categorias da consciência humana e da ação libertadora possuem um conteúdo muito vasto. Na visão boffiana, a conscientização ética planetária se expressa como processo de uma ação pedagógico-ético-libertadora que pode ser identificado do seguinte modo:
A atitude ética se distancia do poder sobre os outros (e sobre a natureza) e evita ser objeto de qualquer ideologia, conforme se posiciona Boff (2000, p.132): Ela “busca caminhos entre as ideologias procurando desmistificar ilusões idealistas que crêem na possibilidade de humanização do ser humano fora do cuidado ético. A libertação ética se dá na história quando esta é perene e conscientemente reelaborada sempre para não ferir o essencial da consciência humana e da Comunidade de Vida”.
A ética é o fator que constrói o relacionamento de pessoas: em casa, no trabalho na igreja, na escola e na universidade, portanto em qualquer espaço onde exista a relação humana. É revelada como um procedimento de cuidado com todas as coisas da vida humana, mormente com o ser humano.
O cuidado ético acontece quando somos capazes de criar nas ações formas coerentes em prol da vida e de sua plenitude. O conceito de cuidado ético referenciado pelos autores Boff e Lévinas é compreendido não só como necessidade de cuidar do planeta, mas também de transformá-lo em Comunidade de Vida, pois só há cuidado propriamente dito quanto o essencial da consciência humana se torna ação transformadora da realidade presente.
O ato de educar não só é um ato político como pode vir a ser uma ação de libertação democrática de toda a sociedade. A ética do cuidado é um ato contundentemente político não só enquanto interesse pelo patrimônio natural comum da vida e da humanidade, mas pelo simples fato de sê-lo já é e sempre será um ato político. A isto chamaremos de “cuidado ético como processo de libertação política” (LÉVINAS, 1993, p.98).
A ética visa o acolhimento do Outro que é a possibilidade ética de o homem tornar-se realmente humano. Como nos indica o grego, epifania é uma aparição, revelação ou manifestação. O infinito se revela no rosto, sendo o acolhimento do rosto, do Outro, o fato último. Assim o rosto torna-se uma revelação, que proporciona no seu revelar possibilidades transformadoras e humanizantes.
A ética é o fator que constrói o relacionamento de pessoas: em casa, no trabalho na igreja, na escola e na universidade, portanto em qualquer espaço onde exista a relação humana. Aqui a ética é revelada como um procedimento de cuidado com todas as coisas da vida humana, mas especialmente com o ser humano.
Do ponto de vista da educação, promover o ser humano aos cuidados éticos significa torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação e intervir nela, transformando-a. “É nessa relação com a revelação do rosto que aparece a ação ética como ato do bem pedagógico e do cuidado” (LÉVINAS, 1993, pp.119-124).
O que estamos precisando é compartilhar a própria compaixão com a compaixão do Outro, sair de si mesmo e do seu próprio círculo e entrar no Universo do Outro, para sofrer com ele, cuidar e se alegrar com ele com solidariedade.
Saber cuidar é um eterno pensar e refletir. Precisamos estar abertos ao novo. É indispensável ao indivíduo desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questões que interferem na vida coletiva, superar a indiferença e intervir de forma responsável.

Considerações Finais
Nossa proposta é enfatizar a importância do cuidado ético na educação, visando o aprimoramento da essência do ser cuidado em busca da plenitude de vida. Ou seja, vidas em que haja respeito mútuo e nas quais os direitos sejam válidos para todas as classes sociais, independente de raça, cor ou religião. Cada um saiba considerar o Outro igual a si mesmo, resgatando assim os valores indispensáveis aos seres humanos através da educação.
Depois de acurada investigação através dos referenciais bibliográficos e analisando o parecer e posição dos autores diante do objeto de pesquisa, concluímos que há uma urgência de uma profunda reflexão sobre que cuidado que estamos tendo com o Outro. A missão do ser ético é evitar o sofrimento do outro, do coletivo. Elevar o Outro ao estado de estar em harmonia consigo mesmo, com a natureza e com os outros, e buscar recursos para encontrar juntos a solução.
Logo, a ética tem como objetivo facilitar as realizações pessoais, levando-as ao aperfeiçoamento, pois acreditamos, sobretudo, que o mais importante é dar aos outros o melhor de nós mesmos. Isso implica em respeito, tolerância, em ser paciente e justo diante de seus pensamentos, sentimentos e discordâncias, sem discriminá-los, simplesmente respeitá-los como seres humanos.

REFERÊNCIAS BOFF, Leonardo. Saber cuidar: Ética do Humano – Compaixão pela Terra. Petrópolis: Vozes, 1999.
BOFF, Leonardo. Princípio de compaixão e cuidado. Petrópolis: Vozes, 2000.
CANO, Betuel. Ética: arte de viver. São Paulo: Paulinas, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
LÉVINAS, Emmanuel, Humanismo do outro homem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
SOUZA, Herbert; RODRIGUES, Carla. Ética e cidadania. 19. ed. São Paulo: Moderna, 2001.

Sobre os autores:

Prof.MSc Oziris Alves Guimarães Filósofo (Ucb) e Mestre em Educação pela UFAM, Professor nas Pós-graduações: Educação Ambiental - Disciplinas: Metodologia da Pesquisa Científica e Participação, Comunicação e Meio Ambiente, Ensino da Matemática – Disciplina: Metodologia para pesquisa em Ciência e Matemática, Ensino da Língua Portuguesa e Didática do Ensino Superior – Disciplina: Metodologia da Pesquisa Científica e Diretor da Universidade do Estado do Amazonas – UEA / Tabatinga/AM

Prof. Verno José Gustavo Weiss Especialista em Língua Portuguesa – Professor de Português, Latim e Literaturas Latina e Amazonense na Universidade do Estado do Amazonas – UEA / Tabatinga/AM
 

Autor deste artigo: Oziris Alves Guimarães - participante desde Qua, 04 de Maio de 2005.

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