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Edições Anteriores 151 O Outro - Uma condição de diálogo
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Escrito por Oziris Alves Guimarães   
Ter, 19 de Fevereiro de 2008 21:00
Não se pode reformar a instituição sem uma prévia reforma das mentes, mas não se podem reformar as mentes sem uma prévia reforma das instituições. Por detrás do desafio do global e do complexo, esconde-se um outro desafio: o da expansão descontrolada do saber. O crescimento ininterrupto dos conhecimentos constrói uma gigantesca torre de Babel, que murmura linguagens discordantes. A torre nos domina porque não podemos dominar nossos conhecimentos. T.S. Eliot indagava: Onde está o conhecimento que perdemos na informação e onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? (ELIOT apud MORIN, 2001, p.11-99)


Estamos diante de um problema para o qual não temos solução, temos unicamente aspirações. Mas aspirações também são problemáticas, a fórmula francesa de Liberdade, Igualdade e Fraternidade é muito bonita e tem a sua verdade. Entretanto, as três noções complementares estão em antagonismo, porque a liberdade sozinha mata tanto a igualdade como a fraternidade. Se a igualdade se impõe, mata a liberdade sem fazer a fraternidade. Este é um trabalho histórico do século XXI, o de a humanidade tomar consciência do futuro.

Todo nosso corpo nos fala da relação que temos com os outros: olhos para ver, pés para chegar perto, braços para abraçar, mãos para acariciar, ouvidos para ouvir, coração para sentir. Mas também podemos não ver, não ouvir, não chegar até eles, não os abraçar nem acariciá-los. Não basta estar no meio dos outros, saber que eles existem, estar com eles no mundo: precisamos também tomar decisões diante deles.

Nossa vida está relacionada com a de nossos semelhantes, com a liberdade que temos e com a liberdade que nós nos damos. As outras pessoas estão relacionadas a nós que, desde nosso nascimento, ou até antes, nossa vida está marcada cada vez que nos relacionamos com eles. Do mesmo modo, quando conheçemos uma pessoa, ela nos transmite informações que, para o bem ou para o mal, nos alimentam, nutrem, afetam nosso comportamento, nossas opiniões e decisões.

Às vezes, os outros influenciam tanto, que fica mais fácil entender por que temos problemas de autenticidade, auto-estima e identidade.

A relação entre os seres humanos faz com que tudo o que pertence à nossa personalidade seja limitado. A liberdade e a autonomia não podem ser absolutas. Estão relacionadas às dos outros, que limitam nosso espaço, nosso tempo, nossas opções. Cada um de nós “é o outro dos outros” e devemos tê-los em conta. Nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros. Entretanto, o fato de sermos seres em relação inevitável, mesmo que não queiramos encontrar-nos com alguém, esse alguém está influenciando nossa decisão de “não encontrar-nos com ele” por outro motivo (CANO,2000,p.21).

Não podemos impedir nossa relação com os demais. Mas podemos trabalhar para que esse relacionamento seja frutífero e contribua para o nosso desenvolvimento pessoal e para Instituição em que trabalhamos.

Nunca houve tanto discurso e, até mesmo consciência sobre ética. No entanto, nunca a humanidade teve tanto poder para destruir a vida globalmente. Hoje temos recursos para promover ética na educação do ser humano, porém, cada vez mais, temos dificuldades em colocar em prática esses recursos.

Estamos vivendo em um mundo moderno em que as Sociedades têm-se organizado. E, com esse avanço, passamos a perceber a necessidade de uma Ética para o nosso dia-a-dia. Isso se dá pelo desejo e necessidade de se reconstruir relacionamentos pessoais e comunitários.

A Ética significa um benefício para o desenvolvimento de hábitos e costumes. Como os conceitos mudam, o modo de viver bem dá lugar para novos paradigmas nos quais a principal exigência é o bem estar social, levando a sociedade a impor-se e na qual o indivíduo terá que rever seus conceitos.

Quando pensamos em Ética do Cuidado com o Outro queremos dizer que isso implica mais que zelo, desvelo ou simplesmente em cuidado. É de fato uma atitude de ocupação, preocupação, amor, afetividade com o Outro, passando a existência desse ser a ter importância para nós, dispondo-nos a participar do seu dia a dia, de seus sonhos, suas buscas, sofrimentos ou sucessos.

Logo, a base da Ética é o cuidado com os seres vivos e transcende a inteligência, liberdade ou criatividade e a inquietação no sentido de responsabilidade. Sua missão é evitar o constrangimento do Outro e do coletivo, para estarem todos em harmonia. A Ética tem por objetivo direcionar, facilitar a realização das pessoas, a se descobrirem como tais, capazes de se aperfeiçoarem para produzir bem.

Podemos justificar que sem cuidado a vida perece e com ela os sonhos, as realizações. Por isso, o cuidado deve fazer-se presente na vida, no corpo, no espírito, na alma, na natureza, na saúde, na pessoa amada, no que sofre, no que se alegra e por que não nos animais?

O conhecimento é fundamental, bem como, a necessidade de saber socializar as melhores informações, pois, isso nos confere poder, mas não podemos olvidar que sempre estaremos aprendendo coisas novas.

Precisamos descobrir novos caminhos que se fazem no caminhar coletivo pela percepção da realidade. Não existem somente relações sociais, há as pessoas concretas, homens e mulheres. Como humanos, as pessoas são seres falantes. Pela fala vão construindo o mundo com suas relações. Deste modo, o ser humano é, na essência, alguém de relações ilimitadas.

O Rosto possui um olhar e uma irradiação da qual ninguém pode subtrair-se. O rosto e o olhar lançam sempre uma proposta em busca de uma resposta. Nasce assim a responsabilidade, a obrigatoriedade de se dar uma resposta. Aqui encontramos o lugar do nascimento da Ética que reside nessa relação de responsabilidade diante do rosto do outro, particularmente do mais outro que é o oprimido. É na acolhida ou na rejeição, na aliança ou na hostilidade para com o rosto do outro que se estabelecem as relações mais primárias do ser humano e se decidem as tendências de dominação ou de cooperação.

Cuidar do outro é zelar para que a ação de diálogo eu-tu, seja libertadora, cinegética e construtora de aliança perene de paz e de amorização.

O outro se dá sempre à forma de homem e de mulher. São diferentes, mas se encontram no mesmo chão comum da humanidade. Ambas realizam, em seu modo singular, a essência humana, a diferença entre os dois não é algo fechado e definido, mas algo sempre aberto e plasmável, pois se encontram em permanente interação e reciprocidade. O homem desperta na mulher sua dimensão masculina expressa culturalmente pelo modo de seu trabalho. A mulher evoca no homem sua dimensão feminina, concretização histórica pelo modo de ser cuidado.

Cuidar do Outro implica um esforço de superar a dominação dos sexos, de demonstrar o patriarcalismo e o machismo, por um lado, e o matriarcalismo e o feminismo excelente, por outro. Exige inventar relações que propiciem a manifestação das diferenças não mais entendidas como desigualdades, mas como riqueza única e complexa, que na diversidade cria espaço para uma experiência mais global e integrada de nossa própria humanidade, uma maneira mais cuidada de ser.

A vida está relacionada com a de nossos semelhantes, com a liberdade que temos e com a liberdade que nos damos. A relação entre os seres humanos faz com que tudo o que pertence à nossa personalidade seja limitado. A liberdade e a autonomia não podem ser absolutas. Estão relacionadas às dos outros, que limitam nosso espaço, tempo e opções. Eu “sou o outro dos outros” e devo tê-los em conta: “Minha liberdade termina onde começa a liberdade dos outros” (LÉVINAS, 1993, p.58).

Porém, o fato de sermos seres em relação é inevitável. Mesmo que nós não queiramos encontrar-nos com alguém, esse alguém está influenciando nossa decisão de “não encontrar-nos com ele” por algum motivo (LÉVINAS, 1993, p. 94).

Não podemos impedir nossa relação com os demais. Mas podemos trabalhar para que esse relacionamento seja frutífero e contribua para nosso desenvolvimento pessoal e para o da comunidade.

Assim como o poder de mudar está no interior de cada pessoa, o apoio para preservar está nos outros. Recebemos esse apoio se nos encontrarmos, se dialogarmos, se conseguirmos que o seu seja o meu, e o meu seja o seu.

Entre nós e os outros deve existir um constante relacionamento, como o que há entre os vasos comunicantes, para nos alimentarmos mutuamente nos aspectos físico, mental e social. Quando ouvimos os outros, permitimos que falem, “toleramos” suas características sem pretensão que sejam diferentes, eles se tornam verdadeiros patrocinadores de nosso conhecimento e de nossa reflexão pessoal.

Nossa comunicação deve estar permeada de respeito ao outro como um igual, como um interlocutor válido sem quaisquer preconceitos ou discriminação. É a aceitação do outro como ele é, sem exigir que mude, ou que deixe de ser como é, com o compromisso de o eu com o você chegar ao “nós”, sem perder a identidade. Esse compromisso pessoal de progresso levar-nos-á a corrigir-nos e aperfeiçoar-nos, para que possamos ser um “presente especial” para quem convive conosco.

De acordo com Souza (2001, p.42), ética é um conjunto de princípios e valores que guia e orienta as relações humanas. Esses princípios devem ter características universais e precisam ser válidos para todas as pessoas e para sempre, isto é, em qualquer lugar.

A ética é uma espécie de cimentação na construção da sociedade. Manter-se-á enquanto bem estruturada, organizada, mas se esse sedimento se romper ela entra em crise auto-destrutiva. Segundo Freire (2002, p.39), só é possível falar em ética se há escolha que advém da capacidade de amparar, se há responsabilidade assumida.

Relações de cooperação com predomínio do respeito mútuo possibilitam a descoberta das regras e leis da construção humana, racional e social. Perduram enquanto essas regras forem relevantes. Aprender a considerar o Outro além de nós mesmos depende muito das relações sociais que nós vivemos.

Todos precisam de regras para viver. Contudo, as regras humanas da dimensão política necessitam maiores ordenações para que os indivíduos possam se inspirar em critérios éticos. Só com os critérios éticos seremos capazes de distinguir o erro da verdade que é fundamental para se adquirir um comportamento ético. Respeitar o Outro implica tolerar suas características, proteger sua imagem, não invadir sua integridade, não descriminá-lo por sua cor, sexo ou grupo ético, ser paciente e justo diante de seus pensamentos, sentimentos e discordância.

REFERÊNCIAS CANO, Betuel. Ética: arte de viver.São Paulo: Paulinas, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
LÉVINAS, Emmanuel, Humanismo do outro homem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
SOUZA, Herbert; RODRIGUES, Carla. Ética e cidadania. 19. ed. São Paulo: Moderna, 2001.

Sobre os autores:
Prof.MSc Oziris Alves Guimarães Filósofo (Ucb) e Mestre em Educação pela UFAM, Professor nas Pós-graduações: Educação Ambiental - Disciplinas: Metodologia da Pesquisa Científica e Participação, Comunicação e Meio Ambiente, Ensino da Matemática – Disciplina: Metodologia para pesquisa em Ciência e Matemática, Ensino da Língua Portuguesa e Didática do Ensino Superior – Disciplina: Metodologia da Pesquisa Científica e Diretor da Universidade do Estado do Amazonas – UEA / Tabatinga/AM

Prof. Verno José Gustavo Weiss Especialista em Língua Portuguesa – Professor de Português, Latim e Literaturas Latina e Amazonense na Universidade do Estado do Amazonas – UEA / Tabatinga/AM
 

Autor deste artigo: Oziris Alves Guimarães - participante desde Qua, 04 de Maio de 2005.

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