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Edições Anteriores 13 O que pode e o que deve ser a pedagogia hoje?
O que pode e o que deve ser a pedagogia hoje? PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Maria Amélia Santoro Franco   
Qua, 12 de Maio de 2004 21:00
A substância da Pedagogia está muito menos nos procedimentos empregados e muito mais nas razões teóricas pelas quais se chega a tais procedimentos; pelas quais se julgam e se compreendem tais procedimentos. Por isto a trato como ciência da educação. Marion, 1887

Há décadas estão os educadores discutindo a problemática do espaço sócio-profissional dos pedagogos. Essa discussão tem girado em torno da questão da identidade desse profissional, bem como, em decorrência, da configuração de um curso que venha a se adequar a tal perfil de profissionalidade.

As reflexões em torno dessa temática têm-se enredado na polarização de posicionamentos que, em última análise, contrapõem o bacharelado e/ou a licenciatura como focos nucleares ao curso de Pedagogia. Dito de outra forma: qual a base identitária desse profissional? Ser ou não ser a docência sua base identitária, eis a questão centralizadora.

Apesar da consensualidade produzida pelos movimentos de educadores, especialmente a ANFOPE, em direção a um posicionamento que reafirma ser a docência a base dessa formação, tenho, em meus estudos e pesquisas, reafirmado que, essa posição tem nos conduzido, como pedagogos e educadores, a uma armadilha histórica. Ou seja, na realidade, o que se configurou, em decorrência desse posicionamento, foi a situação de que, na prática, não transformadora, para se formar um docente não se precisa do curso de Pedagogia. Bastam cursos de formação de docentes, que podem ser visualizados de diferentes formas, até sob forma de Institutos Superiores de Formação, ou de Cursos Normais Superiores, atendendo, conforme a intencionalidade, os quesitos de uma formação técnico instrumental. Essa situação já produziu uma representação social da quase desnecessidade da pedagogia. Basta uma análise crítica dos textos da legislação educacional, a partir da LDB, para se perceber esse paradoxo. Ao mesmo tempo em que tenta se preservar o referido curso, nas interpretações da própria lei, ele passa a ser dispensável.

Tenho reafirmado que devemos, por conta da complexa epistemologia dos processos de educação, inverter esse posicionamento e considerar que a Pedagogia é que deve ser a base identitária da formação do docente.

No entanto considero que, no momento, não deve ser este o foco das discussões para o próximo Fórum de Pedagogia. Acredito que esta polarização não é pertinente, até porque não nos tem feito caminhar na direção do novo. O que precisamos é dar um passo além, ou retomar uma visão antecedente, para poder caminhar e, finalmente, considerar: Afinal, o que pode e deve ser a pedagogia hoje?

Para enfrentar as respostas nesta direção creio que precisamos olhar o problema dentro da dimensão própria do pensamento crítico, isto é, em duas direções:

a) Como crítica interna, produzindo uma análise rigorosa nos argumentos teóricos e metodológicos que tem permeado a problemática; e.
b) No pensamento voltado às condições de regulação social, de desigualdade e de poder.

Na articulação das duas dimensões o pensamento crítico estará voltado para as possibilidades de transformação social.

Considerando assim acredito que, dentro das possibilidades de temáticas do futuro Fórum, poder-se-ia pensar:

- Balanço crítico das produções acadêmicas, com foco, na ciência pedagógica nos últimos dez anos: o que se produziu? Como se produziu? De que forma o conhecimento produzido foi organizado em sínteses de pensamentos e teorias sobre a questão da pedagogia? Como tais produções foram sendo apropriadas na prática pedagógica?

- Balanço crítico das práticas pedagógicas e de formação do pedagogo em relação aos cursos formadores. Como ocorreu, nesses dez últimos anos, a transformação dos cursos de Pedagogia? Como, neste processo, se organizaram os saberes docentes? Como tais saberes qualificaram a prática docente? Quais as possibilidades construídas na direção de formação de um docente articulado às necessidades de sua profissão? Em que sentido os cursos de Pedagogia têm qualificado a formação docente?

- Numa terceira dimensão poderíamos pensar nas demandas expressas pelo mundo contemporâneo: como se alteraram as condições de regulação social/ de desigualdade/ de poder? Que necessidades sociais tais regulações impõem ao profissional pedagogo? Como dimensionar uma nova profissionalidade pedagógica?

- Ainda nesta perspectiva há que se refletir: como tem caminhado a construção de uma ciência do ensino e dos "ensinadores"? (professores-formadores). Em que pressupostos teóricos pode tal ciência se organizar? Na certeza de que os antigos conhecimentos produzidos a partir da racionalidade técnica, não podem dar conta de formar o professor, inserido num quadro de complexidade social e cultural, por onde começar a organização dos conhecimentos, que fundamentariam a ciência pedagógica? Em que ciência tem se balizado os cursos de Pedagogia que se comprometem à formação de docentes?

- Ainda se pode colocar como elemento de sugestão de temática a questão de diferentes prismas de referências conceituais: ou seja, a Pedagogia como área de conhecimento; a Pedagogia como curso de formação e a pedagogia como prática social. Apesar de pressupostamente, essas três dimensões devessem caminhar articuladamente, em mútua fecundação, não foi o que ocorreu historicamente. Há necessidade de olhar os descompassos, historicamente construídos, entre a epistemologia, a práxis e o campo teórico.

Em resumo: Temática Geral: O que pode e deve ser a Pedagogia hoje?

Subtemas norteadores:

- Balanço crítico da produção de conhecimento sobre a Pedagogia: o que este balanço nos sugere para responder sobre o que pode e deve ser a Pedagogia hoje?
- Exame crítico das experiências educacionais nos cursos de Pedagogia como formador de docentes: o que nos indicam tais experiências na direção da temática geral?
- Quais as bases teóricas que têm fundamentado a formação de docentes nos cursos de Pedagogia? Os cursos têm dado conta de responder às demandas atuais?
- Quais os pontos articuladores/desarticuladores entre epistemologia, práxis e teoria pedagógica? Como caminhar na articulação dessas três esferas do conhecimento para dar conta da problemática enunciadora do evento?
- Que pedagogo estamos formando?Que pedagogo podemos formar? Que pedagogo deveríamos formar? De que pedagogo a sociedade brasileira carece?
- Qual o papel da Pedagogia frente a grandes demandas de nossa educação? Como organizar a sociedade, a escola, as salas de aula para produção efetiva do processo de formação de pessoas? Como a Pedagogia pode estar construindo a ciência de suporte ao ensino/formação e aos ensinadores/professores/formadores?
- Como deve a Pedagogia desvencilhar-se de seu papel meramente instrumental de formação de docentes, para assumir-se como ciência política, crítica, emancipadora e transformadora?

Parte II:
Para aprofundar nosso debate a respeito da questão da Pedagogia julguei importante trazer uma contribuição de quatro pensadores franceses que têm se dedicado ao estudo da Pedagogia, buscando sempre superar o desafio de manifestar a natureza, o sentido e a urgência da Pedagogia. Esses pensadores são: Jean Houssaye; Michel Söetard; Daniel Hameline e Michel Fabre e fazem o Manifesto a favor dos pedagogos, assim resumido(1):

Consideramos que:

- a pedagogia é legítima;
- a pedagogia é um saber legítimo;
- a pedagogia produz saberes legítimos e historicamente legitimados;
- a pedagogia produz saberes específicos;
- a formação pedagógica é legítima;
- a formação pedagógica é específica;
- a formação pedagógica deve ser construída em torno desses saberes legítimos e específicos;
- a formação pedagógica deve ser construída por pedagogos;
- os saberes pedagógicos se produzem na articulação de ações realizadas, de concepções científicas e didáticas, de convicções normativas e de intenções filosóficas;
- os saberes pedagógicos são produzidos pelos pedagogos;
- os saberes pedagógicos se inscrevem numa tradição de pedagogos (...);
- os saberes pedagógicos de tal tradição são tão legítimos quanto os saberes produzidos pelos filósofos e pelos cientistas da educação;
- os saberes pedagógicos não podem ser confundidos com os saberes disciplinares;
- os saberes pedagógicos não podem ser confundidos com os saberes sobre educação, o ensino e a pedagogia;
- os saberes pedagógicos não poderiam ser reduzidos aos saberes didáticos, devendo, ao contrário, articular-se sobre eles;
- a pedagogia não exclui os outros saberes, ela os articula na formação;
- ninguém pode dizer-se pedagogo se não aceitar teorizar suas práticas e submetê-las à discussão;
- os saberes pedagógicos, por sua vez, também são capazes de gerar saberes sobre a pedagogia, a educação e a humanidade. A pedagogia é portadora de uma abordagem específica do homem e de seu devir;
- na formação pedagógica, somente os pedagogos estão aptos a articular os saberes pedagógicos com os saberes disciplinares e com os saberes sobre a educação, sobre o ensino e sobre a pedagogia;
- na formação pedagógica, somente os pedagogos podem assumir a articulação desses saberes, pois é o que comprovam em sua prática profissional;
- a formação pedagógica deve ser assumida pelos pedagogos, assim como sua legitimidade de formadores é mantida por sua legitimidade de pedagogos;
- a formação pedagógica supõe a instauração, o respeito e o reconhecimento de um espaço institucional autônomo e específico que não seja submetido aos saberes disciplinares ou didáticos, nem aos saberes sobre a educação, o ensino e a pedagogia.

***
(1) Houssaye, Jean (org). Manifesto a favor dos pedagogos. Porto Alegre. Artmed.2004.

 

Autor deste artigo: Maria Amélia Santoro Franco - participante desde Ter, 11 de Maio de 2004.

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