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Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Qua, 12 de Maio de 2004 21:00

Do modo como os planos para reformas no ensino superior têm sido encaminhados, a impressão é de que a prioridade é equacionar a questão do sustento das universidades públicas e do acesso de jovens carentes à graduação - sem esquecer questões agregadas, como o controle de qualidade dos cursos privados. O fato de que a nova sociedade torna imperioso que se repense o porquê e o como da educação superior, ou seja, seus objetivos e seus métodos, é menos abordado e não resulta em ações congruentes com as mudanças que a área requer e o mundo real demanda. Contudo, a julgar pela procura crescente por novos modelos de cursos superiores, como os tecnológicos e seqüenciais, de menor duração que a conhecida graduação, isso não demorará a ocorrer. A despeito do apego a velhos princípios que regem o setor, estudantes, profissionais e educadores estão concretizando as mudanças permitidas pela Lei de Diretrizes e Bases do Ensino e apostando na transformação.

Os números parecem tímidos - são cerca de 3,5 milhões de matrículas em cursos de graduação presenciais, 81,3 mil em centros de educação tecnológica e 45 mil em seqüenciais de formação específica. Mas a velocidade com que estes números têm aumentado é significativa. Os seqüenciais, criados em 1996, cresceram 147 por cento entre 2000 (quando registravam 15 mil matrículas) e 2002. No mesmo período, os cursos para tecnólogos cresceram 74,7 por cento e o número de matrículas, 29 por cento - os cursos de graduação tradicionais, nestes dois anos, cresceram 36 por cento. A Secretaria de Educação Média e Tecnológica do MEC (Semtec) não ficou desatenta e está capacitando avaliadores para o credenciamento, na rede federal, dos cursos para tecnólogos.

Embora os mais procurados sejam os ligados à informática, os cursos de curta duração estão proporcionando um leque bem maior de opções de carreiras para quem sai do ensino médio (e já chegamos à casa de 2,5 milhões de concluintes/ano): segundo o Inep, eram 125 em 1991 e, hoje, são 572, sendo que 204 surgiram só nos últimos três anos. As vantagens que tais cursos oferecem: a oportunidade de ingressar rápido no mercado e a chance de aproveitamento das disciplinas cursadas para continuar os estudos em uma graduação, se o aluno desejar. Desvantagens: são olhados com desconfiança, como não estivessem inseridos no sistema de educação superior. É uma pena que não contemos mais com Darcy Ribeiro para participar deste debate. O chamado "pai" da nova LDB, que abriu as portas da educação brasileira para a modernização, apostava com entusiasmo nestes novos modelos de educação pós-secundária, nas quais países desenvolvidos investem há tempos. Nos Estados Unidos, por exemplo, eles concentram mais de 40 por cento das matrículas no nível superior. Estariam estes países errados ao diversificar e o Brasil (onde minguados 3,43 por cento da população passaram por uma universidade) certo ao persistir em seu modelo único e insustentável de ensino superior?

As pesquisas apontam para o equívoco brasileiro. Recentemente, um estudo da USP revelou índice de 20 por cento de evasão na graduação (mais de 40 por cento delas, no primeiro semestre). A instituição, agora, busca o motivo. A taxa de evasão em outras universidades públicas, cujas vagas são igualmente superdisputadas, é semelhante. Uma das causas da debandada é óbvia: a incerteza dos alunos quanto à carreira escolhida e a frustração com a maneira como os cursos são ministrados, tantas vezes montados sobre currículos engessados, com um excesso descabido de disciplinas, que parecem estar ali apenas para que o curso se estenda por quatro anos e seja considerado um bacharelado. Como os currículos são fechados e é difícil navegar entre cadeiras de diferentes cursos, o estudante, descobrindo-se sem mobilidade dentro da instituição, prefere abandoná-la. Ambos, instituição e estudante, jogam tempo e dinheiro fora.

Os cursos de menor duração estão ganhando adesões porque muitos jovens estão interessados em uma formação mais específica e voltada para o trabalho. Não desejam, ao menos momentaneamente, seguir carreira acadêmica nem obter o "canudo", mas sim obter uma boa qualificação. São minoria, assim como são minoria os jovens brasileiros na faixa entre 20 e 24 anos (a ideal para o ensino superior) que estudam: a quarta parte deles (e, desta pequena parcela, 37 por cento ainda estão no ensino médio e 27 por cento no ensino fundamental, enquanto 12 milhões já deram adeus às salas de aula).

A grande maioria dos jovens que chegou ao ensino superior (e permaneceu) encontra-se na graduação tradicional, sendo que 40 por cento lotam a área das Ciências Sociais Aplicadas e seus cursos de Administração e Direito, como se no Brasil houvesse uma explosão de vocações para essas áreas. Não há. O que há, mesmo, é falta de informação, e uma grande resistência a qualquer tipo de inovação em educação, pela qual estamos pagando um preço alto.

Estabeleceu-se que a qualidade da formação superior está associada à pesquisa e que as instituições devem manter cautelosa distância do mercado de trabalho, como se a proximidade pudesse poluí-las. Seguindo esta linha, será mesmo difícil, para o governo, facilitar o acesso dos jovens ao sistema de educação superior, multiplicar vagas e sustentar suas instituições. A insistência em manter o ensino superior funcionando nos velhos moldes é que o torna elitista e ineficaz, inibe seu crescimento, dificulta seu custeio e incentiva o surgimento de cursos de graduação ruins, que procuram vender a imagem daquilo que, no Brasil, se determinou como o ideal. Não é. Se fosse, funcionaria.

Não respondessem a uma demanda real da sociedade, os cursos de curta duração não cresceriam tão rápido. Sua expansão está associada à necessidade de um mercado onde novas ocupações surgiram, abrindo espaço para profissionais qualificados, e onde antigas ocupações requerem, agora, um grau maior de especialização e conhecimentos mais complexos. Está associada, também, à diversidade de interesses da multidão de jovens que estão saindo do ensino médio, para os quais devemos acenar com uma educação superior também diversificada, que lhes permita ingressar logo no mundo do trabalho, se quiserem, retornar aos estudos, quando precisarem, e construir sua vida profissional, com segurança, dentro de um mercado instável. Esta seria a reforma verdadeira. Na verdade, ela já está se fazendo sentir e mandando seu recado.

 
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