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Leitura não é obrigação só na disciplina de Língua Portuguesa PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Laudelino José Sardá   
Qua, 09 de Abril de 2008 21:00
Dois professores da Unisul analisam por que o nível de leitura entre os jovens brasileiros é baixo e criticam os que ainda responsabilizam a disciplina de Português

O baixo índice de leitura entre os estudantes brasileiros não pode ser atribuído apenas ao ensino do Português, mas principalmente à ausência de exercícios de reflexão e de crítica nas demais disciplinas. A constatação é dos professores de leitura e de produção textual Mônica Mano Trindade e Curt Hadlich.

Mônica Trindade, que coordena o curso de Letras da Unisul, lamenta que disciplinas teóricas, como história, filosofia, sociologia e outras, não estimulem a juventude a ler também. “Por isso, virou mania imputar ao ensino de Português a causa da rejeição de parte dos estudantes à leitura”, justifica.

- É comum, por exemplo, alunos de universidades serem reprovados em Português e aprovados nas demais disciplinas. Isso ocorre porque nas demais matérias não há exercício de texto e a maioria dos docentes não corrige erros e nem estimula a redação - explica.

Para o professor Curt Hadlich, ouvidor da Unisul, a leitura ajuda a desenvolver o raciocínio, a lógica e o discernimento, “motivo pelo qual todos os professores, independente da matéria que lecionam, deveriam exercitar com os alunos a interpretação de textos e a reflexão".

Mônica lembra que é preferível trabalhar em sala de aula com apenas um capítulo de uma obra de Machado de Assis, produzindo discussões sob as óticas social, econômica, étnica, do que obrigar alunos a ler um romance inteiro.

- Claro que se houver motivação para a leitura de um romance, ótimo, mas não podemos coagir - pondera.

Mônica calcula que o jovem de hoje lê menos porque ele não tem mais paciência para o tempo da leitura.

- O seu envolvimento com a internet, por exemplo, acelera-o, em meio à instantaneidade da informação. O livro exige mais horas, principalmente o romance - interpreta a docente.

Já o professor Curt pensa diferente e acredita que a juventude de hoje está lendo mais. “Há mais recursos; os acessos às informações são maiores e popularizados. Antigamente, precisávamos ir para a biblioteca ou comprar livros a preços exorbitantes”, avalia.


SC ESTÁ MELHOR

Para a professora Mônica Trindade, o melhor desempenho da juventude catarinense em leitura pode ser justificado pela conformação geopolítica e econômica do Estado.

- Santa Catarina tem o privilégio de somar pequenas e médias cidades e isso obriga a escola a interagir com a comunidade, o professor a estar comprometido e o ensino a ser melhor. Em São Paulo, por exemplo, a educação nos menores municípios é superior ao das cidades grandes - percebe a coordenadora do curso de Letras.

Formandos em Letras da Unisul, em seus trabalhos de conclusão de curso, constataram que alunos de Santo Amaro da Imperatriz estão em nível de aprendizagem superior aos da capital.

- Quando o professor está comprometido com a escola, acaba exigindo e motivando mais o aluno. E, assim, o jovem sente vontade de ler, interpretar - compara Mônica.

A estrutura da escola pública do Estado é melhor, observa Curt. “Pelo menos há esforço no sentido de melhora, embora o professor não ganhe ainda o suficiente e a sociedade reconheça que o magistério deveria ser melhor remunerado. Precisamos desse plus para a grande arrancada”, sugere.

A escola precisa ser mais lúdica, defende a professora Mônica, ao apontar para o risco de as instituições de ensino ficarem à margem das mudanças se não refletirem e se adequarem rapidamente. “Se o professor não entender o que está se passando lá fora, não tem condições sequer de fazer o seu plano de aula”, adverte.

- Se o docente disser aos alunos que o código da internet é impróprio à educação, ele estará automaticamente se indispondo contra a juventude. Mas se disser que o aluno pode criar outros códigos, haverá disposição a aprender os conteúdos - exemplifica Mônica.

Além do professor recalcitrante, Curt vê a escola se distanciando à medida que não se instrumentaliza para vencer os desafios do século.

- É preciso rever as metodologias do ensino, para que a leitura não se limite a ser um exercício de leitura, mas de expressão de idéias, de reflexão. Infelizmente, a escola está ensinando como há 30 anos e não sentiu ainda a velocidade da informação e de imagens - angustia-se Curt.

Curt lembra a campanha desenvolvida pelo curso de Administração em 2001, intitulada “Quem lê escreve melhor” para enfatizar a importância de todas as disciplinas valorizarem a leitura. “A leitura ajuda a formar líderes”, ilustra.

Mônica observa que até o quarto ano primário, a criança sente-se estimulada a ler, até porque ela vive a expectativa de aprender a ler e a escrever. “A partir do 5º ano, a divisão de disciplinas amortece a leitura, porque justamente as matérias não interagem”, explica.

MUDANÇA E ATROFIA

Mônica Trindade alega que a lingüística lançou, depois de estudos de mudanças gramaticais, a Norma Urbana Culta, “mas não tem força política para remover as barreiras que impedem a atualização”.

- Com uma série de entrevistas gravadas com pessoas de alto nível cultural, lingüistas passaram a identificar regras gramaticais obsoletas ou as que deveriam permanecer. A mesóclise, por exemplo, já não se usava com freqüência. Mas o difícil é aplicar as mudanças. Os gramáticos dizem que os lingüistas estragam a língua, como se estivessem estimulando as pessoas a falar diferente - lamenta Mônica.

TALENTOS NEGLIGENCIADOS

O professor Murilo Matos Mendonça representou a Unisul na etapa estadual classificatória do programa Soletrando, promovido pelo Caldeirão do Huck, da TV Globo. “No princípio, achei que seria algo enfadonho, mas no decorrer do jogo fui desenvolvendo uma simpatia pelos competidores, todos provenientes de escolas públicas e de diversas cidades de Santa Catarina”.

“Como eles soletravam direitinho todas as palavras cuja ortografia nós adoraríamos que nossos alunos do ensino superior conhecessem e muitas outras além dessas”, idealiza o docente.

Para ele, a pior parte – “de cortar o coração” – foi soar a sineta para desclassificá-los, pois a cada palavra correta, cada um reagia à sua forma, ora comemorando, ora deixando escapar um suspiro de alívio e vitória.

- Eliminar participantes mirins: que árdua tarefa. A cada aluno eliminado, pensava nos sonhos que traziam consigo e nas dificuldades que cada um enfrentara. Não pude, por isso, evitar uma pontinha de melancolia e lamentei ao refletir sobre o quanto se tolhe e até mesmo extermina por não se investir em educação em nosso país. Quantos talentos negligenciados. Quanta dignidade subtraída. Quanta privação. Quanto “não chegar a ser”. E para as crianças reféns de professores de formação tão débil quanto os seus salários.....Quantos estragos. O grupo que vi deveria ser a norma. Dolorosamente é a exceção. Foi, portanto, um dia em que o meu coração amoleceu - deplora o mestre.
 

Autor deste artigo: Laudelino José Sardá - participante desde Qua, 06 de Dezembro de 2006.

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