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Proposta de Reorientação Metodológica para o Ensino de Graduação |
Escrito por Cleide Nébias |
Ter, 01 de Julho de 2008 21:00 |
Cleide Nébias* LetÃcia Sampaio Suñé** A expansão do ensino superior e as novas exigências sociais e econômicas têm provocado mudanças de diferentes naturezas nas instituições universitárias que, previstas ou não nos planos de metas institucionais, abrangem novos perfis dos gestores, do corpo docente e dos funcionários, maiores investimentos em áreas fÃsicas e em equipamentos tecnológicos e laboratoriais e serviços administrativos mais ágeis e eficazes, entre outras mudanças. Entre as mudanças necessárias, as que merecem a nossa atenção neste texto são as voltadas ao ensino e que, na maioria das vezes, são as que enfrentam maiores resistências para ocorrerem. No que se refere ao ensino de graduação, acompanhamos uma preocupação crescente com a oferta de novos cursos e com a atualização dos tradicionais, visando à formação dos alunos para um desempenho cidadão e profissional de sucesso. O próprio MEC orienta a organização desses cursos, definindo Diretrizes Curriculares, que, consequentemente, norteiam o perfil do egresso proposto nos projetos pedagógicos das instituições de ensino superior. A nossa experiência profissional e a condição de especialistas em avaliação nos permitiram a análise de muitos projetos pedagógicos de diferentes cursos de bacharelado, licenciatura e mesmo tecnológicos de faculdades, centros universitários e universidades em todas as partes do Brasil. O que observamos é que muitos desses projetos apresentam uma caracterÃstica comum, qual seja _______________________________________________________________ * Cleide Nébias - Doutora em Ciências da Comunicação pela USP e Pró-reitora Acadêmica das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU ** LetÃcia Sampaio Suñé - Doutora em Engenharia QuÃmica pela UNICAMP e Vice-reitora das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU a ênfase em algumas competências na definição do perfil profissional previsto na formação dos alunos. Não raro, os projetos definem como competências a serem adquiridas pelos alunos a autonomia para promover a sua formação inicial e continuada, o espÃrito colaborativo no desenvolvimento de trabalhos em equipes e a capacidade para tomar decisões e assumir responsabilidades. Entretanto, na execução dos projetos, observamos que as disciplinas continuam compartimentando o conhecimento - sem a prática da interdisciplinaridade - e as metodologias permanecem centradas no professor, explicitando uma situação que privilegia mais o ensino, ou a simples transmissão de informações, do que a aprendizagem, ou seja, mais a internalização de informações do que a aquisição das competências. Não estamos negando a necessidade de os cursos de graduação garantirem aos alunos uma sólida formação teórica, e nem as contribuições valiosas dos professores que construÃram sÃnteses conceituais das áreas de conhecimento a que se dedicam. Mas isto não é suficiente para a aprendizagem e o desenvolvimento das competências anunciadas nos projetos dos cursos. Esse descompasso entre o texto e as práticas pode ser identificado na desmotivação que o aluno expressa em vários momentos do curso, na dificuldade que enfrenta quando submetido ao ENADE, e a outras provas e concursos que contém situações - problema que não podem ser resolvidas apenas com conhecimentos acumulados, e nas dificuldades do egresso no exercÃcio inicial da sua atividade profissional. Há a necessidade de se introduzir metodologias inovadoras que possam promover as competências tão proclamadas. Destacamos a seguir três aspectos que entendemos fundamentais à proposição de novas metodologias: um melhor conhecimento do atual aluno universitário, e ouvi-lo nos permite conhece-lo melhor; uma busca constante pelo avanço da qualidade do ensino oferecido; e uma preocupação com a sustentabilidade do curso, sem a qual inviabilizamos a sua oferta. O ALUNO O perfil e as expectativas do aluno atual diferem dos que buscavam um curso superior até a década de 70 do século passado. Se até então, predominavam alunos jovens, egressos do ensino médio de escolas particulares e sem inserção no mercado, atualmente o professor de graduação encontra, na maioria dos cursos, e em especial nos do perÃodo noturno, grupos bastante heterogêneos: há alunos das mais variadas idades; oriundos de diferentes segmentos sociais; com escolaridade anterior variada; com diferentes expectativas; alguns cursando um segundo curso superior e muitos já exercendo uma atividade profissional, com tempo reduzido para estudar e pouca disponibilidade para atividades em horários extras. Mas eles têm em comum motivação para a aplicação imediata dos conhecimentos que trazem e dos que vão adquirindo durante o curso e reduzido interesse por conhecimentos necessários em um futuro distante; preferem aprender para resolver problemas e desafios e seus interesses se direcionam para o desenvolvimento das habilidades que utilizam no seu papel social e na sua profissão. A QUALIDADE A qualidade do ensino depende diretamente da aprendizagem alcançada pelo aluno, entendendo o aprender como um processo de construção de significados. O aluno aprende um conteúdo, um procedimento, uma norma de conduta, um valor, quando é capaz de atribuir-lhe um significado ou o entendimento de que o conhecimento lhe é útil, ou lhe será útil no futuro. Em conseqüência, é necessário que a cada momento da escolaridade, o professor atente para que a aprendizagem seja a mais significativa possÃvel. Propostas mais centradas no aluno, na sua independência e na auto-gestão da sua aprendizagem, em questões que o desafiem a buscar fundamentação teórica e soluções práticas para problemas reais, tornam a aprendizagem mais significativa. Ao construir significados o aluno estará envolvido afetivamente, porque além da motivação intelectual, mas óbvia e conhecida, ele estará incorporando valores que explicam o quotidiano, constroem compreensão de problemas do entorno social e mundial, ou facilitam viver o processo da descoberta A SUSTENTABILIDADE O custo de um curso foi uma variável menos preocupante quando havia maior ocupação das vagas oferecidas e baixos Ãndices de evasão discente. No quadro atual, é importante dar maior destaque a esta variável, buscando adequar qualidade x custo, sem, no entanto, defender uma equação equivocada de que aumento de carga horária com presença permanente do professor = qualidade. Novos modelos metodológicos poderão ser introduzidos e, sem dúvida, atenderão satisfatoriamente os pontos defendidos até aqui. Um desses novos modelos é o PROJETO INTEGRADO que pode constituir componente curricular dos Projetos Pedagógicos dos Cursos, previsto nas matrizes curriculares dos mesmos e, portanto, com carga horária atribuÃda e computada em aulas. Objetivos Oferecer condições para que o aluno: Integre teoria e prática. Compreenda um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista. Responda à s questões e aos problemas reais. Analise e sintetize informações. Seja desafiado à auto-aprendizagem, à curiosidade e à investigação. Tenha autonomia e iniciativa. Trabalhe em equipe. Organize e planeje o tempo. Viva a vida acadêmica em todas as suas dimensões. Situação desencadeadora A situação desencadeadora poderá ser um tema atual ou um fenômeno real para ser pesquisado, um caso a ser analisado, ou, ainda, uma situação-problema a ser solucionada e que desafie o aluno, provocando-o a propor hipóteses, trabalhar em grupos e, em suma, aprender. Em qualquer um dos casos, é importante que o objeto do projeto seja tratado de forma interdisciplinar e contextualizada, por que o mundo não é disciplinar e nem constituÃdo de unidade isoladas. Para podermos dar conta da complexidade do conhecimento sobre o mundo, ele é organizado em disciplinas. Mas para que o conhecimento sobre o mundo, se transforme em conhecimento do mundo isto é, em competência para compreender, prever, extrapolar, agir, mudar, manter, é preciso reintegrar as disciplinas num conhecimento não fragmentado. É preciso tratar os temas, conhecer os fenômenos ou lidar com os problemas de modo integrado, inter-relacionado e dinâmico (Nilson MACHADO). Já a contextualização - enraizar o conhecimento, é uma estratégia fundamental para a construção de significações. Quanto mais próximos estiverem os conhecimentos curriculares e os contextos presentes na vida pessoal do aluno e no mundo no qual ele transita, mais o conhecimento terá significado, pois a resolução de problemas práticos induz à necessidade de ilumina-los com a teoria. É quase inesgotável a quantidade de contextos que podem ser utilizados para ajudar os alunos a dar significado ao conhecimento. Didaticamente os contextos podem ser classificados em três grandes categorias: - a vida pessoal e quotidiana dos alunos em sua riqueza e complexidade, que inclui de problemas econômicos a questões de convivência pessoal; de sexualidade a relações com o meio ambiente; do mundo do trabalho ao mundo da famÃlia; da gestão da vida financeira à gestão do corpo e da saúde; - a sociedade ou mundo em que o aluno vive, também rico e complexo, incluindo toda sorte de temas, questões e problemas numa perspectiva globalizada e unificada pelas tecnologias da comunicação e transmissão de informação: polÃtica, economia, desenvolvimento cientÃfico, entre muitos outros; - o mercado de trabalho e as oportunidades profissionais como empregado e empreendedor; - o momento histórico, as circunstâncias e o local do processo de produção do conhecimento tratado. Professores Um professor por turma, com atribuição semanal de 2 horas/aula presenciais, responsável pela coordenação dos trabalhos. Alunos O projeto poderá ser proposto para uma turma especÃfica, para mais de uma turma de um mesmo curso, ou, ainda para duas ou mais turmas de cursos diferentes. Cabe destacar que os projetos devem ser compatÃveis com o desenvolvimento esperado dos alunos em cada estágio do curso. Assim um mesmo tema ou problema pode ser trabalhado com turmas separadas, de acordo com os seus conhecimentos e habilidades, mas pode, também, ser desenvolvido com turmas reunidas, desde que as atribuições de cada turma sejam especificadas. Procedimentos Inicialmente é fundamental que os coordenadores e o corpo docente dos cursos realizem encontros de estudo sobre a metodologia e discutam as possibilidades de desenvolvê-la com sucesso. Na matriz curricular, ao Projeto Integrado poderão ser atribuÃdas 6 horas/aula semanais, para cada semestre letivo. Por se tratar de prática pedagógica que prevê uma forma flexÃvel de aprendizagem, 2 horas/aula terão a presença do professor e 4 serão de trabalho autônomo. Sugere-se que todos os cursos de uma mesma área e todas as turmas de um mesmo curso mantenham o Projeto no mesmo horário, viabilizando qualquer composição de alunos. À cada semestre, o coordenador e o colegiado do curso definirão o número de projetos, seus temas e a composição das turmas envolvidas. Aulas com a presença do professor Nos momentos presenciais o professor desenvolverá as seguintes atividades: Apresenta a metodologia do componente curricular e deixa claro os objetivos da mesma, especialmente a importância das horas nas quais os alunos irão trabalhar autonomamente. Apresenta e discute a proposta do projeto a ser desenvolvido com a classe, incluindo um cronograma de trabalho. Forma os grupos e define o número de componentes de acordo com a especificidade de cada projeto. A formação dos grupos poderá variar a cada novo projeto, justificada pelo princÃpio de que a troca de conhecimentos e experiências entre pares favorece a aprendizagem. Analisa e aprova o planejamento de cada equipe para desenvolver o projeto, orientando-a sobre o melhor aproveitamento das atividades. Introduz metodologia cientÃfica na transversalidade, esclarecendo os alunos sobre a forma adequada de desenvolver uma investigação cientÃfica, como elaborar o projeto, realizar a pesquisa bibliográfica, apresentar relatórios parciais, etc., respeitadas as especificidades de cada área do conhecimento. Acompanha a realização das atividades fazendo com que os alunos falem sobre o desenvolvimento do trabalho, as dificuldades que estão enfrentando e a forma como o estão conduzindo para que o mesmo ocorra de forma produtiva. Alterna, nos encontros semanais, o atendimento de cada equipe para orientações especÃficas e o atendimento do grupo classe para a socialização das atividades que vão sendo cumpridas pelas equipes e, também, para as orientações gerais. Quando necessário, realizará entrevistas individuais. Coordena, no encerramento do projeto, a sua finalização, as formas de comunicação e divulgação dos resultados obtidos e os debates. Avalia, no momento da apresentação dos temas, o desempenho de cada aluno e do grupo, analisando o nÃvel de participação de cada membro do grupo e a consistência da apresentação. Os alunos farão uma auto-avaliação e, também, serão avaliados pelo grupo. Obs: o padrão constante na avaliação deve ser sempre em relação à aquisição de competências. Aulas sem a presença do professor Os alunos permanecerão na Instituição nos horários estabelecidos, sempre que necessário, para se dedicarem à s diversas etapas do trabalho, como consultas à biblioteca e fichamentos de leituras e atividades de grupo, como discussões, registros escritos e avaliações do desenvolvimento do próprio trabalho e redirecionamentos, quando necessários. A atuação do bibliotecário é essencial, principalmente no atendimento dos alunos primeiranistas. Deverão, também, utilizar outras formas de coleta de informações, como consulta a sites para a pesquisa sobre dados sociais e econômicos, polÃticas públicas, legislações especÃficas, a realização de entrevistas, observações de campo, entre outras. Poderão ser orientados, trocar experiências e esclarecer dúvidas com o professor coordenador, participando de grupos de discussão pela internet. Atividades de campo deverão ser agendadas e autorizadas antecipadamente pelo professor. O Projeto Integrado se constitui, como já mencionado, em uma possibilidade de introduzir metodologias inovadoras no ensino superior e o seu sucesso depende, em grande parte, do preparo dos professores, que devem se dispor a dialogar, trabalhar em grupo e aceitar os desafios para, também, aprender. Experiências bem sucedidas, ou mesmo as que se deparam com dificuldades, deverão ser divulgadas e discutidas com a comunidade acadêmica interna e externa das IES, permitindo uma aproximação cada vez mais efetiva entre o declarado nos nossos documentos institucionais e o que é efetivamente realizado. Cleide Nébias Faculdades Metropolitanas Unidas Rua Taguá, 150. São Paulo, SP Cep - 01508-010 e-mail: Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. LetÃcia Sampaio Suñé Faculdades Metropolitanas Unidas Rua Taguá, 150. São Paulo, SP Cep - 01508-010 e-mail: Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. |
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