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Juventudes contemporâneas e Escola. Serão, Agora, Outras as Configurações? PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Marcele Gonçalves de Ávila   
Qua, 23 de Julho de 2008 21:00
Marcele Gonçalves de Ávila

RESUMO: O presente Artigo busca refletir acerca da (in)visibilidade das manifestações juvenis no espaço escolar. Os autores como Miguel Arroyo, Philippe Perrenoud e Juarez Dayrell contribuem com a discussão da escola como espaço sócio-cultural e sobre o sentido dessa educação para os jovens contemporâneos. Maria Ângela P. Gandolfo problematiza as pautas dos espaços de formação continuada docente, cujo aprimoramento da profissão faz-se necessária pelos professores. Também compõe as abordagens do texto uma análise sobre a necessidade da geração de jovens manifestarem suas identidades e expressões no âmbito escolar podendo, assim, protagonizar experiências de aprendizagens significativas.

PALAVRAS-CHAVE: formação continuada docente, protagonismo juvenil, expressões juvenis.
A busca de sentido pelas juventudes contemporâneas para a educação escolar possibilita que os professores reflitam sobre a importância da escolarização para este segmento reconhecendo a relação que o conhecimento pode estabelecer com os diferentes projetos de vida dos jovens. Num contraponto, muitos destes jovens alunos por não serem ainda reconhecidos como sujeitos sócio-culturais buscam a escola apenas no que diz respeito à conclusão de uma etapa escolar. Para aqueles jovens que insistem na escola, ocorre a falta de seriedade no trabalho dos educadores, pois desconsideram as manifestações juvenis. Portanto, é responsabilidade dos professores e educadores a modificação de suas práticas frente à complexidade dos fenômenos sociais, permitindo ao jovem assumir o lugar de protagonista, o que possibilita maior aproximação entre as gerações adultas e jovens na escola.
Ao enfatizar as mudanças que devem ser projetadas para o futuro imediato, principalmente no espaço escolar, Ibernón (2000) afirma que "a educação não pode ser exercida apenas pelos professores" (p.80), pois a escola não é mais vista como o único lugar detentor de saberes e, por sua vez, saberes inquestionáveis. E para melhor contextualizar esta afirmação, é preciso
compreender que o jovem vai para a escola com uma bagagem de informações e vivências trazidas do âmbito das relações sociais como família, trabalho, igreja, grupo de amigos.
Dayrell (1996), no sentido acima citado, expressa que a educação ocorre em diferentes espaços e situações sociais, num complexo de experiências, relações e atividades. É por isso que a instituição escolar, como espaço socializador, deve mediar situações partindo da realidade e do contexto desses alunos favorecendo a construção de outros conhecimentos de vida, e não a simples transmissão de conteúdos que podem estar desconexos de suas experiências cotidianas.
A escola deve ser compreendida, tanto pelos professores quanto pela sociedade, como um espaço de construção contínua de saberes a partir das redes de sociabilidades onde os sujeitos inseridos nesse processo agem. De acordo com Arroyo (2004), "os próprios adolescentes e jovens constroem modos de ser adolescentes e jovens. Modos de sociabilidade e de convívio, modos de cultura e de aprendizagem" (p.27). Para melhor entender a escola como espaço sócio-cultural, os educadores precisam compreender a importância de sua aproximação com os jovens alunos, entendendo-os como alunos heterogêneos que possuem múltiplas histórias de vida, valores, sentimentos e projetos de vida diferentes dos, quem sabe, projetados pelos adultos. Isto quer dizer que nem sempre o que está (ou foi) delineado pelo mundo adulto corresponde às expectativas juvenis. E esta é uma mudança significativa nas relações entre jovens-alunos e adultos-professores que vale a pena pautar o cotidiano da escola.
A apropriação dos espaços, das regras, das normas, os conflitos existentes e os diferentes usos e significados que os jovens atribuem aos espaços dentro da escola, é que dão forma ao cotidiano escolar. É partindo do conhecimento que os professores precisam ter desses significados e dessa realidade, que o planejamento de práticas deve ser pensado de modo que possibilite relações intergeracionais construtivas.
Há, portanto, a necessidade de práticas escolares que viabilizem as relações entre as gerações de adultos e jovens da escola permitindo a construção de linguagens comuns e trocas de experiências conduzindo, assim, a um sentido da educação escolar para seu crescimento integral. Perrenoud (1995) destaca que "o sentido constrói-se pelo diálogo, pela forma de apresentar as coisas, de
negociar, procurando um compromisso" (p.194-5) comum às gerações. Essas formas de negociações para a construção do sentido da aprendizagem escolar devem ser mediadas pelo professor. Esta idéia também é salientada por Gandolfo (2005) quando expressa que
"[...] há de se considerar o crescente e diferenciado rol de responsabilidades que foram direcionadas ao professor. Pontuase, assim, a capacidade que o professor precisa desenvolver para enfrentar as situações conflituosas no cotidiano escolar, considerada como um dos aspectos indispensáveis de sua competência social e profissional". (p.56)
Este aspecto, bastante significativo no que diz respeito à educação na contemporaneidade, deve estar presente no projeto pedagógico da escola, assegurando multiplicidade e constância de diálogos entre os profissionais que compõem o corpo docente a fim de desenvolver objetivos comuns às trocas intergeracionais. Ou seja, oferecer espaços, momentos, experiências no âmbito escolar para que o adolescente possa interagir com os colegas, com os docentes, com a equipe diretiva, expondo idéias, valores e concepções a cerca de seus projetos de vida. Dessa forma, a escola também poderá fazer parte de seus objetivos, não apenas com a finalidade da conclusão da escolarização e - conseqüentemente - o diploma de finalização do ensino médio, mas como um meio onde o jovem possa ser reconhecido na sua subjetividade, construindo conhecimentos que possibilitem, então, seu crescimento integral.
Mas de quais espaços na escola contemporânea estou me referindo? Aqueles espaços onde os jovens alunos possam expressar suas identidades e significados que têm da escola, mesmo observando que esta realidade ainda está longe de acontecer. "Frente à disciplinarização dos saberes, perde-se uma das dimensões básicas da ação educativa: aprender a ser [...]." (GANDOLFO, 2005, p.55). Em vista disso, para cumprir o rígido currículo pré-estabelecido dos anos escolares, os adultos docentes, acabam ignorando a possibilidade de se construir, juntamente com seus jovens alunos, estratégias educativas que possibilitem e assegurem espaços para expressão de experiências de protagonismo3 juvenil.
O protagonismo juvenil é entendido para muitos educadores como manifestações em que os jovens possam contribuir como autores, planejando e coordenando atividades sociais, culturais, educacionais a favor de seu próprio interesse e aprendizado tendo os professores, ou não, como uma das referências. Essa forma de expressão juvenil deve ser mediada pelo corpo docente mobilizando-os para a construção de sua autonomia, iniciativa e responsabilidade perante as atividades que participam na cidade. Os espaços onde os jovens podem exercer esse protagonismo são, por exemplo, em grupos da comunidade e, principalmente, na escola em que estudam.
Entretanto, o que ainda se observa no cotidiano escolar é a desconsideração, por parte dos professores, quanto às manifestações de suas identidades juvenis, negando ao jovem o direito de protagonizarem o sentido que constroem a partir de suas aprendizagens na escola ou fora dela. Deve ser compreendido pelos professores que a escola é o lugar onde os jovens alunos precisam sentir-se incluídos para poderem manifestar sua cultura, tornando público que suas expressões também contribuam para o enriquecimento de suas trajetórias escolares. Isto significa que, na contemporaneidade, os jovens alunos também são produtores de cultura. Significa, também, que a visibilidade dessa produção cultural ainda não é reconhecida nem pelos professores nem pela sociedade em geral.
Em vista disso, é importante considerar que até os próprios jovens desconhecem seus direitos de participação nesse processo de produção de cultura, apesar de estarem tentando manifestar suas identidades na escola, já que o espaço de liderança é sempre do professor que deposita conteúdos em seus alunos (in)dispostos à sua frente apenas na posição de ouvintes. Assim, os jovens culpabilizam-se pelo fracasso escolar deixando evidente o autoritarismo do professor em sala de aula que ignora o direito do aluno aprender a pensar e fazer escolhas.
O professor deve assumir-se como sujeito aprendente e perceber o aluno como um indivíduo que participa na construção de novos significados. Por isso, através de um planejamento conjunto entre professor e aluno, é possível verificar
o quanto o jovem é capaz de liderar situações, contribuir com experiências, mostrar seus conflitos, opiniões, aprendendo a partir de suas próprias
participações no espaço que lhes é proporcionado pelo professor na instituição escolar.
No universo juvenil, a maneira como o jovem se expressa através das grafitagens - inscrições comuns nas manifestações juvenis - ou mesmo nas letras das músicas características dessa etapa da vida do sujeito, é vista pelos adultos como fuga às regras e normas comuns a todos nas relações sociais. Entretanto, é a partir dessas configurações que a juventude instaura nas suas relações e construindo significados a essas expressões é que eles poderão reafirmar-se como membros da sociedade. Esta afirmação é reiterada por Ávila (2006) quando pontua que
"[...] os jovens passam a pertencer à sociedade e aos acontecimentos da contemporaneidade. Porém, muitas vezes, a própria sociedade não consegue acompanhar, os impedindo de enxergar a multiplicidade de escolhas e diferentes contextos que vivem esses jovens". (p.9)
Uma tendência atual do mundo globalizado e que vem tornando-se bastante freqüente entre os jovens, é o interesse deles pela era tecnológica. A utilização de meios informatizados como a Internet facilita o processo de ensinoaprendizagem, principalmente se o professor souber utilizá-lo a seu favor. Na matéria divulgada na Revista Eletrônica Clipping Educacional, observou-se que "cada vez mais presente no setor educacional, as ferramentas de informática e de tecnologia da informação auxiliam nos processos de ensino e aprendizagem e possibilitam o surgimento de novas propostas". Esta realidade contemporânea disponibiliza aos alunos aprendizagens que vão além de, simplesmente, saberem mexer no computador, mas aprenderem a ter responsabilidade e autonomia diante de tantas informações que são oferecidas. Além disso, ainda cresce o número de adolescentes que possuem celulares, "mp3" 4, e que utilizam essas ferramentas em momentos não propícios como a sala de aula.
Para tanto, o corpo docente deve estar sempre atualizado frente a essas novidades, usando-as a favor da educação e das aprendizagens em sala de aula. A partir da adoção dessa postura, os docentes podem aproximar-se ainda mais dos jovens, construindo práticas interessantes a eles, momentos dos quais eles possam interagir, contribuindo com os seus saberes a cerca dessas tecnologias.
A escola, portanto, é mais um espaço entre tantos onde os jovens querem e precisam se reafirmar como sujeitos pertencentes a um agrupamento, participando das decisões e deixando de ser meros expectadores. Cabe às gerações adultas "reconhecerem, compreenderem esse universo juvenil se, de algum modo, quiserem transformar as ações educativas" (SPOSITO, In DAYRELL, 1996, p.101), permitindo maior aproximação entre as diferentes gerações.
Frente ao exposto acima, é importante considerar que o papel do professor modificou-se e amplia-se a cada dia. Entretanto, assim como pontua Ibernón (ibid.), o professor já não é mais o único a "oferecer" essa educação, é imprescindível que os adultos, sejam eles educadores ou apenas professores, assumam uma postura investigativa sobre as configurações juvenis contemporâneas que esta geração vem inscrevendo na sociedade.
As vivências e as relações sociais mais significativas desses jovens acontecem fora da escola. É na comunidade, na formação de grupos de amizades que o aluno desempenha seus diferentes papéis. Nessa perspectiva, a escola e o professor assumem o desafio de reconhecer esses jovens alunos em sua diversidade, compreendendo que em suas histórias de vida também estão o trabalho, a família, os grupos com os quais compartilham, mesmo que provisoriamente, uma mesma realidade. A escola deve fazer, também, parte da realidade do aluno, onde ele possa construir histórias estudantis estabelecendo conexões com sua realidade e fora dela.
Sendo assim, o corpo docente deve buscar assumir responsabilidades que ultrapassem os muros da escola através de um maior conhecimento de seus alunos, trazendo para o cotidiano escolar essas contribuições das expressões juvenis vivenciadas em outros ambientes. Preparar-se em espaços de formação continuada docente, pode contribuir para a ampliação do olhar e para a reflexão quanto às novas atitudes a serem tomadas pelos professores em relação às gerações juvenis e a complexidade desse fenômeno na contemporaneidade, uma vez que autores que pesquisam essa temática também pontuam que
"[...] a necessidade de refletir com os professores, em espaços de formação continuada, sobre seus entendimentos a respeito da forma de produção de cultura e a implicação que ela tem na construção de suas práticas, bem como pensar com eles (os
professores) a complexidade dos fenômenos educativos". (GANDOLFO, p.59)
As formações continuadas docentes são espaços destinados para professores especializarem-se em temáticas sociais que transcendem os espaços educacionais, proporcionando, assim, subsídios para que o corpo docente possa atualizar-se nas práticas pedagógicas. Esses espaços são oportunidades oferecidas aos docentes, afim de que haja a continuidade da reflexão sobre sua ação em sala de aula.
Os docentes precisam assumir outras configurações, novas posturas frente ao contexto da educação para os jovens; práticas que busquem aproximar, cada vez mais, das diferentes gerações. Os espaços de formação continuada docente possibilitam que os professores compreendam sobre a importância dos jovens protagonizarem diferentes manifestações da cultura juvenil junto às práticas escolares e tentarem perceber que as aprendizagens dos jovens-alunos acontecem a partir da cultura que experienciam, que vivem. Essas aprendizagens tornam-se significativas a partir do momento em que a escola reconhece a produção cultural juvenil, ou seja, reconhecem a cultura produzida pelos próprios jovens.
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1 Artigo orientado pela professora Maria Ângela Pauperio Gandolfo do Centro Universitário Ritter dos Reis em Porto Alegre/RS.2 Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Ritter dos Reis em Porto Alegre/RS.

3 Ações onde os jovens planejam e lideram atividades favorecendo aprendizagem significativa e com sentido para eles.

4 MPEG Áudio Layer-3: aparelho de gravação digital de áudio. MP3 é um formato eletrônico que permite ouvir músicas, assim como o LP, o K7 e o CD.

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REFERÊNCIAS: A tecnologia que encurta distâncias nos aproxima do conhecimento. Folha Dirigida, Rio de Janeiro, 26/06/07. Clipping Educacional. Disponível em: http://www.clippingeducacional.com.br. Acesso em: 27 junho, 2007.
ARROYO, Miguel g. Imagens Quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
ÁVILA, Marcele Gonçalves. Juventudes x Escola: Qual o sentido da educação escolar para os jovens contemporâneos? Porto Alegre: UniRitter, 2006. Relatório de Estágio.
DAYRELL, Juarez (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e Cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996.
GANDOLFO, Maria Ângela Pauperio. Relações intergeracionais nas histórias da escola: pauta para a Formação Continuada Docente. In: FILIPOUSKI, Ana Mariza; MARCHI, Diana Maria; SHÄFFER, Neiva Otero (Orgs.). Teorias e Fazeres na Escola em mudança. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2005.
IMBERNÓN, Francisco. Amplitude e profundidade do olhar: a educação ontem, hoje e amanhã. In: IMBERNÓN, Francisco. A Educação no século XXI: os desafios do futuro imediato. POA: Artmed, 2000.
PERRENOUD, Philippe. Ofício de aluno e Sentido do Trabalho Escolar. Porto Editora, 1995.

 
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