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Edições Anteriores 170 A Brinquedoteca Como Espaço Para Aprendizagem
A Brinquedoteca Como Espaço Para Aprendizagem PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Terezinha Corrêa Lindino   
Qua, 20 de Agosto de 2008 21:00
Terezinha Corrêa Lindino1
Sandra Martins2

1. Doutora em Educação, Professora no Curso de Pós-graduação em Educação/ Universidad Tecnológica Intercontinental - UTIC, Py.
2. Educadora no Centro Municipal de Educação Infantil e Mestranda em Ciência da Educação, Universidad Tecnológica Intercontinental - UTIC, Py.


A Brinquedoteca é compreendida como um espaço no qual se prioriza o livre brincar da criança. Este livre brincar se caracteriza pela realização do seu desejo e caberá somente a ela escolher neste espaço aquilo que vai de encontro a sua necessidade afetiva, como também psicológica. Acreditamos que por meio do brincar a criança elabora e reelabora as suas vivências. É a partir do brinquedo que ela realiza uma espécie de catarse, pois o brinquedo inconscientemente serve à elaboração e resolução de suas frustrações e medos, ou ainda como um simples e importante ato de brincar.

O brinquedo é a essência da infância e o brincar como um ato intuitivo e espontâneo. Assim, ao valorizar a livre expressão da criança estamos contribuindo para um momento no qual a criança comunica seus anseios, seus medos, ou ainda, compartilha coletivamente tudo aquilo que lhe tem valor.

No espaço da Brinquedoteca acreditamos que o educar é construir junto, como já dizia Célestin Freinet (pedagogo francês). Ao considerarmos importante o trabalho realizado neste espaço, devemos encontrar nele: Cooperação (como forma de construção social do conhecimento); Comunicação (como forma de integrar esse conhecimento); Documentação (registro da história que se constrói diariamente) e Afetividade (elo entre as pessoas e o objeto de conhecimento). A cooperação na Brinquedoteca impulsiona que, desde muito pequenas, as crianças poderão aprender a se relacionar harmoniosamente, como também podem ser chamadas a aprender a resolver conflitos - já que o objetivo primordial da escola, na Educação Infantil, é experimentar a própria vida e não se preparar para a vida. Ou seja, levar a vida à escola como um elemento importante e essencial para a mudança na concepção do processo de ensino-aprendizagem.

A partir desta mudança, Freinet (1975) acreditava que a criança passaria a ser o elemento condutor do educador. Isto porque, seria a partir de suas descobertas e ações que o educador planejaria estratégias para que ela se desenvolvesse e vivessem intensamente tais experiências. E, do ato em se deixar conduzir pela criança, na Brinquedoteca observa-se que o educador atua como mediador deste livre brincar. Ele toma como seu objetivo acolher e apoiar as escolhas lúdicas das crianças, mediando as suas interações com as outras crianças e com o brinquedo em si. Neste sentido, o educador deve gerar projetos no espaço da Brinquedoteca que priorizem o desenvolvimento cognitivo, afetivo e emocional.


O educador brinquedista tem que estar comprometido com valores, princípios e atitudes que influenciarão na formação e na compreensão de Mundo dessas crianças. Mais ainda, acreditamos que o educador brinquedista deve ser o parceiro no brincar no processo de internalização de conceitos, idéias, linguagem, competências etc. Especialmente, a Brinquedoteca deve dar importância às escolhas da criança e ao desenvolvimento das atividades segundo a sua necessidade. Neste espaço, a comunicação entre a criança e o educador se faz constantemente necessária e presente, pois é por meio do desejo expressado pela criança que o educador participa do seu livre brincar.

Também, lembramos que a Brinquedoteca é o lugar que proporciona a convivência da criança com seus iguais, contribuindo fortemente para o seu desenvolvimento social, a partir do relaciona-se com o outro. Pois, a criança aprenderá a colaborar, compartilhar e tornar-se paciente frente à espera do momento oportuno para brincar com o objeto antes escolhido pelo amigo e, também, aceitar a escolha do outro frente à brincadeira decidida. Na Brinquedoteca, as crianças constroem registros de suas experiências. Por exemplo, desenhos sobre um passeio pelo jardim. Estes desenhos, que por sua vez são compartilhados por meio de trocas entre as crianças (cada criança observará a atividade de seu colega), podem ser expostos no cantinho das atividades para melhor apreciação de todos.

Como a Brinquedoteca é subdividida por espaços que chamamos de cantinho (cantinho da casinha, cantinho das atividades, cantinhos dos livros, cantinho dos carrinhos, cantinho da beleza, cantinho dos ursos e cantinho do escritório) é importante ressaltar que estes cantinhos não são fixos, mas podem se transformar em outros espaços de interação para a criança. Como há um número limitado de participantes em cada cantinho, as crianças aprendem a esperar a sua vez para realizarem tal atividade e se organizam, desenvolvendo a cooperatividade.

Outro fator importante para a aprendizagem da criança é a construção de sua autonomia e isto é priorizado na Brinquedoteca, pois a impossibilidade de o educador estar em vários cantos ao mesmo tempo faz com que a criança busque, seja em conjunto seja individualmente, a solução para os seus problemas. Além disso, observamos o desenvolvimento da autonomia quando cada criança guarda a sua própria bolsa no espaço que lhe é reservado na Brinquedoteca. Mas, estes fatores não completam o que chamaremos de desenvolvimento integral da criança, pois acreditamos que o elo principal para a aprendizagem integral da criança está no aspecto da afetividade - elemento primordial que liga as crianças ao educador, como também ao objeto que estas buscam conhecer.

Para Wallon, "a afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica (...) No início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da primeira" (LA TAILLE 1992, p.90). Mediante esta importante ferramenta para o desenvolvimento da criança, cabe ao educador ir se apropriando de metodologias que possibilitem o elo de afetividade entre educador e educando, e isto, ele fará após demonstrar o mútuo respeito pelo interesse que a criança exprime em relação a algum objeto, ou até mesmo outro assunto que queira conhecer.

Será a relação de interesse que possibilitará que a criança aprenda, pois ela só aprenderá daquilo que buscou compreender, que partiu de sua mais tenra necessidade, isto porque só se tornam hábitos construtivos se resultantes de uma experiência afetiva. Concluindo, concordamos com Freinet (1975), quando ele afirma que a escola deve ser prazerosa. Deve ser um lugar onde a criança queira estar, permanecer e que haja satisfação no descobrir e no aprender e, acima de tudo, seja democrática e extremamente preocupada com o desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo de cada criança.

Há quem diga que as crianças já não têm interesse por nada e nada desejam realizar. Há quem diga que a escola é o último lugar em que as crianças desejam freqüentar. Mas, onde está à origem de todo desinteresse e descrédito desta instituição? De quem é a culpa? Dos profissionais ditos defensores das causas da educação? Dos pais desta nova geração caracterizada como desinteressada pelos assuntos ensinados na escola? Muitos são os questionamentos e críticas que permeiam e permanecem na nossa sociedade. No entanto, nenhuma exatidão foi proclamada até então.

Talvez porque ninguém esteja certo; ou todos tenham razão, em diferentes aspectos. Todavia, salientamos que cabe a cada educador ser um questionador de suas práticas, uma espécie de perscrutador das mais tenras necessidades de nossas crianças, um exímio desbravador do mundo que encanta que faz sonhar a todos. Certamente que a magia não se perdeu. Que o desejo não se calou. Apenas está adormecido no íntimo de cada educando.

REFERÊNCIAS:

FREINET, Célestin. As técnicas Freinet da escola moderna, 4. ed. Lisboa: Estampa, 1975.

LA TAILLE, Yves de (org.). Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

 

Autor deste artigo: Terezinha Corrêa Lindino - participante desde Seg, 24 de Março de 2008.

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