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Melhorar o ensino médio, mas qual? PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Qua, 19 de Maio de 2004 21:00

Reforma não é sinônimo de melhoria. Melhorias concretas só são possíveis quando, antes de qualquer mudança, define-se com clareza o que se deseja alcançar e não se subestima os obstáculos. Do contrário, desperdiça-se tempo e dinheiro. Isso vale, sobretudo, para a educação secundária, que, no Brasil, permanece no limbo da indefinição, apesar de tantas reformas implementadas por diferentes governos (revistas e interrompidas), incluindo a que se seguiu à LDB (1996). Está em tempo, porém, de aprender algo com os insucessos e estudar uma fórmula que faça o ensino médio deixar de ser problema para se converter em solução, já que sua ineficácia tem sido citada, com freqüência, em discussões sobre as causas da expansão sem qualidade do ensino superior (e seus subitens, como a reserva de vagas), dos descaminhos da educação profissional, da falta de qualificação do trabalhador brasileiro e da exclusão de jovens carentes. É hora da sociedade questionar a que e quem ele se destina, se o modelo único que lhe foi imposto é válido e que modificações devem ser introduzidas para que este nível de ensino, cujo número de concluintes cresceu 250 por cento nos últimos 20 anos, efetivamente funcione.

No último mês, a fase pós-ensino obrigatório foi para a berlinda. Um motivo foi o estabelecimento de cotas em universidades para negros e carentes, que, vítimas do ensino público, não podem disputar vagas em pé de igualdade com estudantes da rede privada. Outro: o MEC propôs unificar ensino médio e profissionalizante, separados desde 1997, e elevar a escolaridade de 65 milhões de trabalhadores sem ensino médio completo ou qualificação profissional. Isso será feito por meio de parcerias com o Sistema S, ONGs, empresas e entidades que ofereçam o ensino médio na modalidade da educação de jovens e adultos, aliada ao profissionalizante.

Além disso, o MEC anunciou a liberação de R$ 60 milhões para este nível de ensino que, apesar do crescimento, ainda abrange uma minoria: segundo o Caderno de Educação do Censo Demográfico, do IBGE, dos 85,5 milhões de brasileiros com mais de 25 anos, só 23 por cento o concluíram. Dos 8,3 milhões entre 15 e 17 anos, 77,7 por cento estão na escola, mas somente 33 por cento cursando o ensino médio, que reúne 9.072.942 alunos (1.127.517 na rede privada e a maioria, 7.667.713, em redes estaduais). Mais de 50 por cento estão atrasados: de 1,85 milhão de concluintes, há dois anos, 950 mil tinham entre 17 e 19 anos; 435 mil, 20 e 21; 256 mil, de 22 a 24; mais de 102 mil, de 25 a 29; cerca de 105 mil, mais de 29. Os números lembram que o primeiro problema do ensino médio está no ensino fundamental, que os alunos levam, em média, 10 anos para completar. Outros, após concluí-lo, só retomam os estudos anos depois. Para piorar, a baixa qualidade do ensino obrigatório contribui definitivamente para o baixo desempenho do nível médio.

O ensino médio parece ter se tornado um enorme e confuso supletivo, cujas turmas são compostas por alunos com idades, expectativas e necessidades educacionais diversas. Há os que trabalham e precisam estudar à noite (de mais de 191 mil turmas das redes estaduais, mais de 101,1 mil são noturnas), os que tentarão a graduação, os que desejam se inserir no mercado e os que freqüentam cursos técnicos. Para estes, a separação das duas modalidades foi um desastre, exigindo-lhes o corre-corre entre duas instituições e gastos que pesam no bolso dos mais pobres - problema que o MEC promete resolver e incluiu na proposta de Lei Orgânica da Educação Profissional e Tecnológica.

Há, porém, problemas mais espinhosos. Na verdade, as reformas no ensino médio (cujo objetivo, segundo as novas diretrizes, é desenvolver competências que capacitem os jovens para a vida e o trabalho) começaram como se as mazelas do ensino fundamental tivessem sido sanadas com a universalização, a criação do FUNDEF e a queda da repetência. Sabemos que não foram, e que o ensino médio não passa de prolongamento do fundamental, no qual mais de metade dos alunos está chegando à quinta série sem dominar a leitura, e à oitava sem habilidades requeridas pelo ensino médio, que, por conseguinte, fica travado. Os professores, perdidos, tentam suprir deficiências do ensino obrigatório e, ao mesmo tempo, transmitir conteúdos que constam no Enem, o exame nacional e opcional criado para aferir o desempenho dos alunos do "novo" ensino médio.

Como as turmas são particularmente heterogêneas, alunos com maior potencial são subaproveitados, enquanto os que têm dificuldades não são ajudados. Uma solução seria testar conhecimentos dos que estão ingressando e dar tratamento diferenciado aos mais fracos, evitando, assim, que sejam somados à lista dos que se evadem ou concluem o curso sem saber o que aconteceu lá. Medidas como equipar escolas com computadores e laboratórios e capacitar docentes são óbvias, mas nada funcionará se não computarmos, em nossos projetos, as possibilidades e limitações das pessoas para quem vamos lecionar.

A uniformização do ensino penaliza todos os alunos. Sofrem os que fizeram um bom ensino fundamental, pois a dinâmica das aulas diminui em função dos colegas que não tiveram tal sorte, e estes sofrem pois nada aprendem. Sofrem os que sonham com o ensino superior, pois estão despreparados para a competição. E os que não têm pretensões universitárias, porque não são preparados para o trabalho. Resultado: mais de um milhão abandonam o ensino médio no espaço de um ano. Mais de 591 mil, na primeira série..

As escolas devem dispor de autonomia para se adequar ao seu público, mas o que se nota é a ansiedade de ensinar, a qualquer custo, conhecimentos testados no Enem, que, na realidade, só interessa aos que tentarão o ensino superior, já que o MEC convenceu centenas de IES a considerarem as notas nos processos seletivos. Assim, apesar da reforma do ensino médio indicar que ele deve ser um fim em si mesmo, ainda é tratado como ponte para a graduação ao forçar as escolas a se moldarem a um exame que, na prática, é um vestibular, e cujos conteúdos muitos não têm condições de apreender.

Qual a solução? Diversificar o ensino médio? Talvez. Sem prejuízo da educação geral a que todos têm direito, jovens que querem trabalhar deveriam receber formação, e informações, que os habilitassem para o mercado. Os que têm a graduação como meta receberiam formação mais acadêmica, sem que o curso resvale para um pré-vestibular de três anos. O principal, contudo, é nos conscientizarmos que a grande melhoria da educação secundária só ocorrerá quando o ensino obrigatório cumprir seus propósitos. Mas uma melhoria relativa é possível, se o foco dos investimentos e programas recair sobre as necessidades dos jovens que estão sendo atendidos hoje, ainda incapazes de corresponder ao ideal de um novo ensino médio que foi pensado para alunos irreais, que concluem com sucesso um excelente ensino fundamental que nunca existiu.

 
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