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Edições Anteriores 2 A institucionalização do calote
A institucionalização do calote PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Alessandro Silveira   
Seg, 09 de Fevereiro de 2004 21:00

Em recente aparição, o atual presidente da República, ao discursar na cerimônia de comemoração da abertura da conta Caixa Aqui de número 500 mil (uma conta especial destinada à população de baixa renda), asseverou que o pobre teria "ojeriza ao calote". O Presidente alinhou tal afirmação para justificar a criação de um novo programa de crédito a juros baixos para a população de baixa renda. De fato, uma análise mais minuciosa da economia brasileira permite assegurar que não é a população de baixa renda responsável pela incontável multiplicação de dívidas não pagas em todas as áreas e segmentos.

Ao analisarmos a dívida de bancos públicos estaduais que foram privatizados, não observaremos um único cidadão de baixa renda que deve valores significativos as instituições financeiras.

Ao nosso sentir, a utilização de subterfúgios e mecanismos para não saldar dívidas ultrapassa a barreira da classe social e encontra guarida na formação e no caráter das pessoas.

Todavia, a situação atualmente delineada beira a desordem total. A empresa não paga seus fornecedores, que não pagam seus funcionários, que não pagam suas contas, nem os impostos devidos ao Estado, que por sinal, registre-se, também não paga ninguém.

O reflexo da inadimplência desordenada está nas altas taxas de juros, uma vez que as instituições financeiras já imputam uma margem de lucro maior quando das realizações das operações justamente para que aqueles os quais cumprem em dia suas obrigações, paguem pelos inadimplentes.

A dívida não paga propositadamente produz conseqüências muito mais graves do que se imagina, em todos os setores da economia.

O volume de cheques sem fundos de janeiro a julho apresentou a maior marca desde 1991, com 15,9 documentos devolvidos a cada mil compensados no país. O número é 10,4% superior ao dos primeiros sete meses de 2002.

Segundo os técnicos, o aumento da inadimplência é reflexo da situação econômica do país, que combina renda em queda, juro elevado e desemprego alto. Normalmente, o período maior de inadimplência fica concentrado entre os meses de janeiro e março, devido às compras não pagas feitas no Natal. Este ano, porém, o índice de inadimplência não recuou em momento algum.

Quando o festival de endividamento chega ao fim, sempre são os países ricos e os especuladores que serão identificados como os culpados de "mais um ano perdido" No rastro do desastre argentino, o Brasil também está cada vez mais perto do calote. Como aconteceu na Argentina, a política econômica brasileira é caracterizada por uma obsessão em agradar ao FMI. Por quase duas décadas, as medidas de política econômica no Brasil foram determinadas quase que exclusivamente pelas propostas vindas do FMI; e assim, o país conseguiu acesso ao capital externo. Mas fazer o papel de um menino obediente tem custado caro: passo a passo, o nível de endividamento interno e externo tem se aproximado limite onde a inadimplência se torna iminente.

Na atual política econômica o significado de crédito se tornou equivalente ao de um brinde. O cálculo dos encargos futuros em termos de juros e pagamento são facilmente desprezados por uma atitude que permeia quase todos os aspectos da vida. O acesso ao crédito abre as portas para o consumo instantâneo; assim, a divida é acumulada, mesmo se o dinheiro não é necessitado com urgência. A mentalidade vigente diz que o dinheiro no presente é real, enquanto que o pagamento da dívida é algo para o futuro. Conseqüentemente, quando há chance de obter crédito, ele é usado.

Assim, por esta ordem de idéias, o cidadão da classe média vai paulatinamente montando sua forca, e fica cada vez mais susceptível a descer mais um estágio na pirâmide social.

Resta, desoladamente, esperar por um amanhã melhor.

 

Autor deste artigo: Alessandro Silveira - participante desde Qua, 11 de Fevereiro de 2004.

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