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Escrito por Hercules Macedo   
Qua, 16 de Junho de 2004 21:00

Por que a avaliação na escola ocupa tanto tempo das reuniões pedagógicas, dos encontros de professores, dos seminários, dos congressos? Por que tem-se apresentado como tema central das conferências e preocupação de estudiosos da Educação?

Quanto tempo da formação dos professores tem sido destinado a compreender a avaliação escolar e seus processos?

As opiniões, dúvidas, conclusões expostas neste texto fazem parte desse amplo movimento que percorre todo o país, em várias redes de ensino e em todo o mundo. São contribuições, frutos do trabalho de vários educadores, síntese das reflexões e experiências desses profissionais em suas salas de aula.


POR QUE NOS PREOCUPAMOS TANTO COM A AVALIAÇÃO? Os educadores de hoje têm enfrentado diversos problemas no desenvolver do seu trabalho, entre eles o de tratar seu objeto de trabalho e seu público adequadamente, quer dizer, como se relacionar com eles conforme os novos conceitos das relações sociais e como entender as múltiplas dimensões do exercício da cidadania.

Há um certo descompasso entre os princípios e os conceitos que nortearam nossa formação profissional, calcados não só na pedagogia tradicional, mas em toda a representação cultural alicerçada na seleção, na estratificação, na padronização e a real performance do público com o qual lidamos hoje. Um público questionador, resistente ao que o agride, crédulo que pode mudar o rumo das coisas quando deseja. Esse fenômeno tem-se manifestado com muita freqüência na escola. Isso tem levado os educadores a se debruçarem sobre o assunto, sem tréguas.

A princípio, os professores sentem uma frustração: empenham-se em fazer o melhor na exposição do assunto, na organização das aulas e, quando chega a hora da avaliação, aliás, da prova, os resultados revelam-se desanimadores. Então, as explicações vão desde "Os alunos não querem nada com os estudos" até "A culpa é toda minha, não consegui fazê-los entender a matéria". Esse é um sentimento geral e tem levado muitos de nós ao aprofundamento desse estudo. Muitos dos problemas já conseguimos identificar e também muito já caminhamos no sentido de achar soluções.


POR QUE É IMPORTANTE AMPLIAR O CONCEITO DE AVALIAÇÃO? É muito simples tratar a avaliação no nível de importância de seus instrumentos. Alguns teimam em entender por avaliação os tipos de provas, de exercícios, de testes, de trabalhos etc. Não compreendem a avaliação como um processo amplo da aprendizagem, indissociável do todo, que envolve responsabilidades do professor e do aluno. Ao tratar a avaliação dessa forma, afastam-na de seus verdadeiros propósitos, de sua relação com o ensinamento, de seu aspecto formativo.

Faz-se necessário nos opormos à simplificação desse problema. O alargamento do conceito da avaliação nos faz ver suas diversas faces e como o poder está associado a ela. Mostra o seu fim e os seus meios. Falar da avaliação no âmbito da educação escolar, no campo da educação de direitos, nos leva a pensar a sua função, o papel social do professor, a razão da existência da Escola. Traz a discussão sobre inclusão e exclusão, privilégios e direitos, direitos e obrigações, instrução e formação, sobre que alunos queremos formar, que escola estamos construindo para a nossa sociedade.


SOBRE A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA A avaliação é um dos meios pelos quais podemos conhecer os alunos. Ela permite acompanhar os seus passos no dia-a-dia. Descreve as trajetórias, seus problemas e suas potencialidades, favorecendo que o trabalho de ensino-aprendizagem se dê de forma coerente com os objetivos e desejos de professores e alunos. Portanto ela é diagnóstica.

Informa-nos sobre o material humano que temos, as expectativas criadas ou o que podemos fazer para provocá-las quando existe clima de apatia. Mostra-nos os conhecimentos que a turma já acumulou e os que ainda não domina e, assim, as possibilidades de projetos a serem desenvolvidos. Diagnóstica, em todo o decorrer do processo. Uma diagnose que depende de diálogo, que não se configura como instrumento legítimo sem essa premissa. Mesmo o médico, ao examinar seu paciente, não pode ter uma opinião unilateral e tomar medidas sem o histórico do seu paciente, suas sensações, suas impressões, suas opiniões, para prosseguir com um tratamento.

A avaliação, na sua forma, é fruto de negociações e cumplicidade dos seus autores.


A AUTO-AVALIAÇÃO É SINAL DE DEMOCRACIA NAS RELAÇÕES ESCOLARES
Outro instrumento que tem sido muito utilizado em muitas redes de ensino é a auto-avaliação. Há várias formas de se entendê-la. De certa forma, ela está acompanhada de um movimento que vem de fora da escola: o movimento da participação, do exercício da democracia; ou seja, há uma pressão para que todos expressem suas opiniões. O aluno já não aceita pacatamente julgamentos daqueles que ele considera um igual, do mesmo nível, quer dizer, ele quer dividir (participar) com o seu professor aquela informação prevista na sua história escolar e que o acompanhará por toda a sua vida. Muitas vezes, isso não é bem visto pelos professores, pois afeta sua autoridade, seu território, seu domínio.

A auto-avaliação tem sido utilizada em muitas escolas de diversas formas e com várias finalidades. Através de questionários, de conversas no coletivo, de entrevistas individuais. Pretende-se que ela ajude o aluno a criar senso de responsabilidade, faça-o exercitar a capacidade de autocrítica e incite-o a refletir sobre sua conduta. E esse é realmente o papel da auto-avaliação. Todavia, assiste-se a distorções na aplicação desse instrumento ou, pelo menos, à contradições. Não raramente, as opiniões dos alunos registradas sob diversas formas (notas, conceitos, relatórios descritivos etc) são contestadas pelos professores, que, tendo os boletins e os livros de aproveitamento escolar (diários de classe) nas mãos, optam por interpretar a opinião do aluno com seus critérios, seus olhos .

Assim, o que deveria ser espaço livre do exercício democrático da construção de valores, da autonomia e da responsabilidade se transforma numa batalha de opiniões, que gera clima de desconfiança nessa relação. O que passa pelo entendimento dos alunos é que a auto-avaliaçao não passa de engodo. O professor, considerando que os alunos não estão preparados para serem honestos em sua auto-avaliação, desconfia de qualquer opinião que eles possam emitir. Dessa forma, ninguém educa, ninguém se educa; e a auto-avaliação se empobrece, perde o seu fim, não justifica-se como elemento construtivo da aprendizagem.


PROCESSO: NÃO SE PODE VÊ-LO, MAS É PRECISO ACOMPANHÁ-LO
A maior dificuldade que se tem hoje na discussão sobre a avaliação é enxergá-la como um componente do processo curricular. A idéia de processo não é fácil de ser assimilada. Porém, é o seu entendimento que determina o quanto se pode compreender sobre os vários aspectos e as várias dimensões que a avaliação possui. É preciso discutir a palavra, o que se entende por ela, que imagens ela nos sugere.

Processo pode significar para muitos uma linha reta com percurso definido, tempo definido, tamanho estipulado. Pode significar também um caminho cheio de variáveis, sem pontos de parada pré-estabelecidos. Sugere ainda a noção de movimento, de evolução, algo que não pára, que está sempre se transformando.

É preciso fazer essa discussão e perseguirmos um entendimento mais claro. A idéia de processo tem sido tão colocada em nossas conversas e em nossos debates sem uma discussão mais aprofundada, que acaba se esvaziando. Ela é associada a um objeto concreto, num tempo concreto, com expectativas que ignoram o real movimento da vida com seu espetáculo de surpresas e imprevistos. Portanto a idéia de processo cai no lugar comum, é vulgarizada, o que compromete o desenvolvimento dos nossos trabalhos.

Ao começar qualquer trabalho com uma turma, disparamos o desenrolar de um movimento que, se planejado, nos orienta quanto aos possíveis resultados, problemas, horizontes, ligações com outros trabalhos, relação com o restante da realidade. Mas, por ser uma relação humana, ela não é exata nem está completamente sob controle.

A nossa função passa a ser de mediadores desse trabalho, quer dizer, administradores, personagens decisivos do processo. Isso requer acompanhar as reações, medir os ingredientes que os alunos vão trazendo, as informações que vão surgindo, confrontando as opiniões que se expõem, provocando o conflito e aproveitando-o como a ferramenta mais apropriada para a aprendizagem e o crescimento humano.

A avaliação não pode ser fechada aos novos elementos que surgirão no decorrer do caminho. Os pesos e as medidas terão que ser relativizados. Os alunos, principais personagens, terão que ser tratados como partícipes desse processo. Deverão ter seus espaços garantidos, no que diz respeito tanto aos seus direitos quanto com igual importância às suas obrigações, pois elas também constituem tal processo disparado.


DOMINAR A CONCEPÇÃO PARA COMPREENDER OS INSTRUMENTOS
Antes de se discutir a importância dos instrumentos de avaliação, faz-se necessário abordarem-se os seus fundamentos, a sua concepção. Não nos fará crescer travarmos longas horas de debates sobre o fim ou não da prova, ou se ela deva ser de múltipla escolha ou dissertativa. As experiências inovadoras vividas em muitas escolas têm mostrado que não há problema em utilizarem-se provas, testes, trabalhos diversos etc. Por si só, não guardam nenhuma oposição a uma avaliação mais processual e contínua nem ofendem a definição de um modelo mais democrático. Essas formas de avaliação têm sua devida importância. E a importância que elas têm não se explica na obrigação que a escola tem de preparar o aluno para fazer provas lá fora .

Os cursos pré-vestibulares, que foram criados a partir da corrida para o ingresso na Universidade, trabalham com o conceito de que têm que passar o máximo de informações possível das várias áreas de conhecimento e principalmente devem treinar seus alunos para fazer testes, como se os considerassem jogos que são cheios de macetes para serem resolvidos. Essa forma reduziu a concepção da avaliação aos tipos de instrumentos utilizados nas escolas, e toda a ação do professor se voltou para atender a essa prática. Assim, os professores ocupam-se mais em montar questões de provas que consigam "pegar" os seus alunos, ou então, no caso dos cursinhos , em treiná-los com malícias para decifrar os enigmas criados por eles próprios. Fica em um segundo patamar o esforço para criar maneiras mais atraentes de ensinar os conteúdos, de explorar a matéria para além dos livros didáticos e das paredes da sala de aula.

A Escola existe para ser um dos espaços de educação das pessoas, entendendo como educação a aprendizagem de conhecimentos importantes para sua vida, relacionados com a sua história, com o seu tempo e com a contribuição para o crescimento humano. A escola justifica-se pela possibilidade de configurar-se num ambiente de manifestação cultural e de produção/criação de conhecimento.


PARTE DO TODO E RESPONSABILIDADE DO COLETIVO A avaliação na escola ainda precisa ganhar, realmente, a preocupação dos coletivos constituídos. Sair do campo de preocupação individual, da angústia de cada um e ganhar as dimensões dos grupos de trabalho dos turnos e de toda a escola. O enfoque sobre os conteúdos, a maneira de professores e alunos se relacionarem, os projetos de trabalho desenvolvidos, os objetivos do projeto da escola, pensando este como resultado dos desejos do coletivo, estão ligados à concepção de avaliação que se vai trabalhar.

Ela, a avaliação, é um dos componentes do sistema da escola, não está separada de outros elementos. Não deve ser discutida isoladamente, não é mais importante que discutir regras de convivência ou como criar maneiras mais eficazes de ensinar, ou ainda como trabalhar a inter-relação das várias áreas do conhecimento.

A avaliação tem esbarrado em um problema crônico da educação: a dificuldade do trabalho coletivo. E é exatamente na hora em que vão se discutir resultados ou normas que o problema mais aparece. Nos conselhos de classe e nas reuniões de planejamento (início de ano), os professores tentam achar critérios comuns, ações conjuntas para valorizar ou punir, formas únicas de distribuição de créditos. A dificuldade é que, sem aprofundar o conteúdo do problema, não conseguem seguir em frente. Então a culpa é da dificuldade de se trabalhar em equipe. É como se isso fosse empecilho natural dos homens, contrariando todas as conclusões das Ciências Sociais.

Sendo parte de um processo, que exige de todos uma contribuição, a avaliação exige co-participação, exige comprometimento, auto-avaliação de todos que vivem esse processo e a análise crítica das ações: que facilita e orienta o replanejamento, a elaboração e desenvolvimento de projetos coletivos e, acima de tudo, o aprimoramento das relações escolares. Avaliar, configura-se portanto, numa atitude eminentemente política e humana. Só tem sentido, na educação, se for utilizada para proporcionar a todos conhecer o seu mundo, propiciar prazer e favorecer a auto-descoberta nos seres humanos. Ela não se justifica, na educação, para punir, selecionar ou sustentar a idéia do darwinismo social .

O enraizamento do conceito seletivo da avaliação a transformou autoritariamente no lastro do ensino da escola, ignorando os elementos vivos, sua história, o seu contexto, suas aspirações. Imposta pela política da exclusão (que não é nenhum fantasma), atropela todas as negociações, nega qualquer possibilidade de diálogo (ainda incipiente em nosso país), não tem nenhuma relação com o avaliado (se diz neutra, igual para todos), estrangula desse modo tudo que nasce para contestá-la. É preciso transformá-la.

Sem dúvida, ela pode expressar a qualidade do ensino com muito mais fidelidade se acondicionada dentro dos próprios limites, se estiver alinhada à filosofia de trabalho da escola (seu projeto político-pedagógico), e não ser tratada como um fim em si mesma.

 

Autor deste artigo: Hercules Macedo - participante desde Seg, 31 de Maio de 2004.

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