Fora da leitura não há “saída” Imprimir
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Escrito por Maria de Fátima de Sousa Moreira Fonseca   
Qua, 07 de Outubro de 2009 00:00

Segundo a Câmara Brasileira do Livro (CBL), um brasileiro lê 1,8 livros por ano[1], em média, o que pode significar que um número imenso de cidadãos não lê nem mesmo um livro por ano. O problema começa na infância, porque a escola não desenvolve o hábito da leitura nas crianças.

Uma das causas dessa deficiência é a mentalidade mercadológica que impregna a pedagogia nacional, voltada mais para o treinamento em massa de profissionais do que para a formação do ser humano como pessoa e cidadão. Mas a escola não responde sozinha pela formação do indivíduo. A família exerce um papel decisivo, o que quer dizer que ambas, escola e família, são responsáveis pelo hábito que cada criança leva para a vida adulta de ler ou não. Considerando-se que fora da leitura não há salvação, começam os dramas. Um deles é queda progressiva do nível da qualidade do estudante brasileiro, processo que atinge o ápice quando ele ingressa na faculdade, que é o momento da pesquisa, do caminhar por conta própria em busca de conhecimento.

 

 

Por que fora da leitura não há saída? Por que ela é tão importante? A leitura e a escrita, conjugadas, formam o veículo de comunicação mais poderoso de que temos conhecimento na história da civilização humana. O homem primitivo já desenhava formas variadas na superfície das rochas, dando início ao registro histórico de acontecimentos e idéias, processo que continuou através de objetos e documentos escritos deixados pelos povos que se sucederam. É pela leitura que acessamos grande parte da herança cultural deixada por nossos antepassados. Quando abrimos um livro e travamos contato com seu conteúdo partilhamos não só conhecimentos técnicos, teorias e leis, mas também pensamentos e emoções, sentimentos e impressões. Nesse contato unimos passado, presente e futuro. Passado e presente, porque toda leitura é sempre um processo de interação entre os roteiros de vida de quem lê e de quem escreve. Futuro, porque aquele que agora lê é também aquele que escreverá tanto para o leitor contemporâneo, quanto para o da posteridade. O binômio ler-escrever ultrapassa barreiras temporais.

 

O conhecimento humano, em todas as áreas, é resultado do processamento e integração da herança cultural dos povos de variadas épocas, formando, assim, o magnífico patrimônio dos saberes da humanidade. As atividades exercidas pelo ser humano são frutos da interligação entre idéias de ontem e de hoje. A sociedade do século XXI não convive somente com pensadores, cientistas e artistas de seu tempo, mas com os de todos os tempos. Personalidades como Aristóteles, Platão, Pitágoras, Beethoven, Shakespeare, Leibniz, Descartes e outros, que não citamos agora, estão vivos no nosso dia-a-dia, através do legado intelectual que nos deixaram – e a leitura é o fantástico elo entre todo esse legado e nós.

 

Esse poderoso instrumento de comunicação, que é a leitura, além de perpetuar informações de todas as áreas, aumenta o vocabulário, auxilia a fixação das regras gramáticas do idioma no qual se lê, estimula a formação de novas idéias, movimenta o raciocínio de modos e intensidades variadas, provoca a imaginação, suscita emoções. Há livros que nos fazem rir, outros que nos fazem parar e analisar nossas vidas, outros que nos fazem esquecer dela e até mesmo aqueles que exercem um fascínio tão grande em nossas mentes, que a partir deles mudamos coisas em nós, como comportamentos, hábitos e crenças. Um simples parágrafo de um livro técnico, por exemplo, pode ser fruto do envolvimento e empenho de milhares de vidas: as pessoas que trabalharam na idéia ou teoria inicial, as que foram aperfeiçoando-a através de longas pesquisas e que, por sua vez, podem ter envolvido outras centenas de pessoas, sem falar naquelas que atuaram indiretamente, como familiares, e outros "desconhecidos". Por tudo isso, ler não é somente importante; é vital.

 

Conscientes da fantástica magnitude e alcance que a leitura tem, por que não cultivar o hábito? Se as experiências que tivemos com os livros, no passado, foram negativas precisamos recomeçar. Gostar de ler é um aprendizado e todo aprendizado requer tempo e constância. Livros são entidades vivas, onde pulsam as idéias, conhecimentos e emoções de seus autores. Lidar com eles é como lidar com pessoas. Simpatizamos com algumas e com outras, não. Amamos algumas – e nem sempre é amor à primeira vista - mas outras, apenas toleramos, ou nem isso. Nós integramos o conjunto de autores que escrevem a história do nosso país, por isso é a nós que compete mudar a trama e fazer do Brasil uma nação que gosta de ler.

 

 

 

 

[1] Fonte: COTES, Paloma. Um país que não lê. Época, vl. n. 411, p. 46, 2006.

 



 

 

Autor deste artigo: Maria de Fátima de Sousa Moreira Fonseca - participante desde Qui, 22 de Setembro de 2005.

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