A sincronia e a diacronia como proposta para desenvolver competências e habilidades nas escolas brasileiras Imprimir
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Escrito por Marinho Celestino de Souza Filho   
Qua, 08 de Junho de 2011 00:00

THE SYNCHRONY AND DIACHRONY LIKE PROPOSAL TO DEVELOP SKILLS AND ABILITIES IN BRAZILIAN SCHOOLS

Resumo: Nesse artigo, produzido a partir de pesquisa bibliográfica, pretendo mostrar dois critérios para um estudo sério, profícuo de uma língua natural, são eles: sincronia e diacronia. Pretendo ainda elencar como estes critérios influenciam o ensino de Língua Portuguesa nas escolas do Brasil.



Palavras-chave: 1. Sincronia. 2. Diacronia. 3. Habilidades. 4. Competências. 5. Escola Brasileira.

Abstract: In this paper, produced from literature, I intend to show two criteria for a serious study of a natural language proficient, they are: synchrony and diachrony. I intend to list yet how these criteria influence the teaching of the Língua Portuguesa in the schools of the Brasil.

Key words: 1.Syncrony. 2. Diachrony. 3. Skills. 4. Competencies. 5. Brazilian School.

Antes de iniciar o estudo profundo de uma língua, torna-se necessário estipular critérios técnicos, científicos que, segundo Ferrarezi e Souza Filho (2010) determinem os parâmetros de estudo e definam um método a ser seguido, de forma que os resultados do estudo feito possam ser comparados a resultados de estudos de outras línguas realizados nos mesmos moldes.

Assim ainda, de acordo com Ferrarezi e Souza Filho (2010) um dos primeiros linguistas a definir parâmetros de estudo bem claros para as línguas naturais foi Ferdinand Saussure, famoso linguista franco-suíço, considerado o pai da ciência que estuda a linguagem humana, a Lingüística. Saussure (1995) deixou claro que os estudos linguísticos poderiam ser realizados em duas perspectivas distintas, a saber, a diacrônica e a sincrônica, que Ramanzini: (1990, p.30), considera como dois tipos de Linguísticas, assim conceituadas:

[...] a Linguística sincrônica (do grego sin = conjunto, simultaneidade+ chronos = tempo), também chamada de estática ou descritiva, e a Linguística diacrônica (do grego dia = através + chronos = tempo), também chamada de evolutiva ou histórica.

De acordo com essa citação, vemos que a Linguística sincrônica procuraria fazer um recorte na linguagem e estudá-la em uma determinada época. Já a Linguística diacrônica é o estudo da linguagem durante o transcorrer do tempo, isto é, a perspectiva diacrônica determina um estudo histórico da linguagem, no transcorrer de distintas épocas, visando à descrição da evolução linguística.

Nesse aspecto, Ferrarezi e Souza Filho (2010), afirmam que essas duas perspectivas existiam antes de Saussure, mas não sistematizadas como ele as apresentou a seus alunos. Hoje, elas definem os programas de estudos dos cientistas da linguagem, marcados em dois grandes “troncos de pesquisa”: a sincrônica e a diacrônica.

Assim, a título de exemplo, vamos supor que quiséssemos estudar a evolução da palavra “você” no transcorrer do tempo, como procederíamos diacronicamente falando? Primeiramente, procuraríamos estabelecer duas ou mais épocas distintas para estudar a evolução desta palavra (você), ou melhor, faríamos um recorte no tempo; imaginemos que a palavra “você” foi utilizada no Brasil em 1560, mas não era conhecida com este nome, e sim, designada pelo seguinte vocábulo: “vossa mercê”, logo veríamos o que aconteceu com esta palavra de 1560 a 1900, ou seja, supondo que com o frequente uso “vossa mercê” por volta de de1800, transformou-se em “vossmincê” e aproximadamente em 1900, “vossmincê” evoluiu para “você”, dessa forma estaríamos fazendo um estudo diacrônico no que tange à linguagem, ou seja, um estudo histórico comparativo sobre a linguagem.

Porém, se fizéssemos um estudo sincrônico deste mesmo vocábulo (você), perceberíamos outra abordagem, isto é, suponhamos que faríamos um estudo sincrônico do já mencionado vocábulo acima, imaginemos ainda uma época para estudar tão referido vocábulo, o ano seria o de 1999 e o mês janeiro, vamos supor que neste referido mês, falássemos “você”, todavia em maio deste mesmo ano esta mesma palavra evoluísse para “ocê” e finalmente (tudo isso no campo da suposição) em dezembro de 1999, esta palavra evoluiu e transformou-se no vocábulo “cê”.

Utilizado, inclusive, até hoje nas falas de muitas pessoas, entretanto, acreditamos que esse vocábulo “cê”, nunca será utilizado como “ê”, porque, sabemos que a língua evolui com certa lógica, aliás, é imprescindível saber que a língua não evolui, é o falante dessa língua que a faz evoluir, quando a utiliza no seu dia a dia para as diversas funções que a língua se presta, tais como: informar, interpelar, expressar o pensamento, integrar-se socialmente, comunicar-se, convencer, ou ser convencido, declarar, afirmar, concordar, discordar, enfim, mostrar a sua identidade, sua cultura e, inclusive, revelar a sua personalidade e ainda a dos outros que o cercam, já que “a priori” ninguém fala sozinho, apesar de sabermos que existem pessoas as quais falam com elas mesmas. É óbvio que isso não é um problema, desde que o ato de falar consigo mesmo não seja considerado patológico.

Do exposto anteriormente, pensamos ser necessário adotar, escolher uma postura, isto é, um método para se estudar uma língua, por isso recomendamos que o estudo da língua seja feito através do método sincrônico. Por quê?

Porque, conforme vimos neste trabalho, um estudo diacrônico da língua, seria um estudo histórico, evolutivo, desse modo, para este tipo de estudo teríamos que ter acesso a uma série de documentos e fatos históricos ocorridos no transcorrer do tempo, o que talvez se tornaria uma árdua tarefa estudar a língua pelo método acima mencionado, já que somos cônscios de que primeiro a humanidade falou e depois escreveu, isto é, a fala surgiu muito antes da escrita, e, inclusive muitas das grandes obras literárias foram antes faladas, ou seja, transmitidas de geração em geração em forma de versos, poemas, para que fossem, assim, preservadas, dentre elas: “A Ilíada” e “A Odisséia”, ambas obras atribuídas ao grande poeta grego, Homero.

Como se isso não bastasse, Kehdi (2000, p.7), mostra-nos que: [...] Não julguemos, todavia que a utilização de uma ou de outra postura seja uma mera questão de escolha; sincronia e diacronia podem contrapor-se quanto a métodos e resultados.”

Por isso, insistimos no caráter sincrônico como forma de estudar a linguagem humana, devido a muitas dificuldades que podem surgir, principalmente, se precisarmos recolher documentos históricos escritos antigos para estudar esse tipo de linguagem.

Nesse aspecto, o ato de recolher ou de pesquisar fontes históricas bastante antigas, pode tornar o estudo de uma língua algo extremamente complicado, difícil e, praticamente, impossível, uma vez que muitos desses documentos podem ter se perdido no tempo ou se deteriorado com o passar dos anos, e ainda em se tratando de sincronia e diacronia, de acordo Kehdi (2000, p.7), devemos optar pelo método de estudo alicerçado na sincronia, porque:

De um ponto de vista metodológico, é aconselhável, portanto, que se separem as duas posições. Adotaremos, ao longo de nossa exposição, uma postura sincrônica com relação a alguns aspectos da morfologia portuguesa, porque acreditamos que o conhecimento dos mecanismos de funcionamento de um idioma no seu “aqui e agora” deve anteceder as explicações de caráter histórico, indiscutivelmente necessárias e esclarecedoras, mas que devem ser invocadas num segundo momento.

Do exposto, pensamos que se torna muito mais vantajoso estudar os fatos linguísticos, considerando-os sob o prisma da Linguística Sincrônica, já que, pelos motivos anteriormente expostos e ainda especialmente, porque de acordo com Ferrarezi e Souza Filho (2010), a escola deve optar por uma perspectiva sincrônica, pois, adotando-a, a escola proporcionaria aos alunos da educação básica uma visão mais ampla, mais completa dos fatos linguísticos que o cercam, dessa forma, eles poderiam se tornar mais eficientes no que tange ao uso adequado da linguagem em quaisquer situações de interação social por que passem.

Em consequência, isso contribuiria para desenvolver melhor a competência e a habilidade sócio-comunicativa que o aluno já possui, desde tenra idade, porque, segundo Chomsky (1971), nascemos com capacidades fisiológicas, biológicas e psicológicas para falar determinada língua. Assim, Ferrarezi e Souza Filho (2010), ratificam que a perspectiva sincrônica é a mais adequada para o ensino-aprendizagem de nossa língua materna nas escolas brasileiras, apesar de que a perspectiva diacrônica poderia aparecer, mas, só apareceria raramente, a título de incremento cultural do aluno sobre sua própria língua.

Referências
CHOMSKY, Noam. Linguagem e pensamento. Petrópolis: Vozes, 1971.
FERRAREZI Jr., C., SOUZA FILHO, M.C. Alfabetização e Linguagem: a vida na escola. In: no prelo.
KEHDI, Valter. Morfemas do Português. 6 ed. São Paulo: Ática, 2000.
RAMANZINI, Haroldo. Introdução à Linguística Moderna. São Paulo: Ícone, 1990.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 20 ed. São Paulo: Cultrix, 1995.

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Mestre em Linguística, Professor da Cadeira de Língua Portuguesa do IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ariquemes.

 

Autor deste artigo: Marinho Celestino de Souza Filho - participante desde Qui, 24 de Março de 2011.

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