A normalização da falta de ética na educação Imprimir
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Escrito por Hildelano Delanusse Theodoro   
Qui, 16 de Fevereiro de 2012 00:00

Apesar de ser muito discutida e pretensamente entendida, a palavra ética tem um contorno muito vinculado com a formação do caráter humano, principalmente quando considerada sob a ótica clássica de sua definição aristotélica. E mesmo com inúmeras outras possíveis definições, a anteriormente aqui colocada serve como mote para uma discussão urgente dentro das Instituições de Ensino Superior (IES): o aumento assustador da falta de ética profissional docente.

 

Este tema aqui se refere não somente ao baixo nível das discussões que ocorrem em salas de aula, com o favorecimento explícito ao aluno-cliente frente ao posicionamento autônomo dos professores, como, principalmente, ao fato de que uma grande parte dos docentes hoje em dia sequer ser formada nas áreas em que lecionam ou terem qualquer tipo de experiência comprovada e qualificada para tanto. E se levarmos em conta as orientações contidas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), instituída por portaria ministerial em outubro de 2002 – tendo por finalidade a identificação de ocupações no mercado de trabalho – o tamanho da desfeita se torna ainda maior.

Atualmente, o número de professores sem graduação/pós/experiência em determinas áreas, principalmente de humanas, para poder lecionar disciplinas vinculadas à ética profissional ou movimentos sociais, por exemplo, é assustador e se torna cada vez mais comum dentro das IES. Afinal, a pergunta que se deve fazer não deveria ser tanto o quê é necessário para uma postura ética e sim quais as qualificações para o exercício de atividades de ensino superior vinculadas ao tema. De outra forma, continuaremos a formar o que se vê diariamente dentro das salas de aulas dos mais variados cursos, que é um conjunto de aliança entre o aluno que quer apenas se formar o quanto antes e de qualquer forma (mesmo que para tanto tenha de se utilizar de mecanismos escusos) e o pseudo-docente que, mesmo sem ter a formação adequada, deseja mesmo é receber pela carga horária referida e, ao mesmo tempo, indevida (uma vez que poderia, teoricamente, aprender a repetir sobre os conceitos éticos em qualquer livro).

Mas o verdadeiro problema, talvez, não se esconde simplesmente nessa relação utilitarista e distante da formação do caráter do princípio ético, tão necessário nesse país que favorece o jogo das aparências sociais e onde os currículos muitas vezes não são comprovados nem demonstrados na prática cotidiana das instituições. O fato é, assim, como estas podem melhorar a si mesmas a partir de um posicionamento mais claro e crítico de seus interesses e objetivos de atuação dentro de um “mercado” educacional que se encontra em processo de crise: por um lado tem de buscar novos alunos e, por outro, deve tentar buscar excelência.

O único porém que se pode identificar claramente é que ética, assim como a excelência, estão intrinsecamente vinculadas ao estado de ser bom e correto no mais alto nível, no ensinamento pelo exemplo. O que se percebe, ao mesmo tempo, que isto talvez seja tudo o que nos falta, pois só pode nos ensinar sobre ética (assim como sobre qualquer disciplina), aquele que sobre tal pensou, estudou e agiu, sendo isto o reconhecimento do mérito. Normalizar sobre o desvio no ensino superior pode nos levar a caminhos ainda mais tortuosos e, possivelmente, sem volta.


Prof. MSc. Hildelano Delanusse Theodoro

Doutorando em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Engenharia/UFMG)

Pós-Graduando em MBA Gestão de Projetos (Cândido Mendes/WPos)

Docente de “Ética Profissional”; mestrado e MBA.



 

Autor deste artigo: Hildelano Delanusse Theodoro - participante desde Ter, 05 de Outubro de 2010.

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