Aos sete anos, na primeira série Imprimir
Avaliação do Usuário: / 1
PiorMelhor 
Escrito por Luiz Pfluck   
Qua, 02 de Março de 2005 21:00

Muitos pais pretendem matricular o filho na 1a série, quando o mesmo faz 06 anos durante o ano letivo. Com a experiência em educação em vários anos de docência e da administração de uma organização educacional desde a Educação Infantil ao Ensino Superior, queremos dividir a nossa preocupação, especialmente com pais e professores, visto as inúmeras dificuldades que se interpõem a esta criança, motivo pelo qual sugere-se que os pais aguardem mais um ano para matricularem na 1ª série. O que apuramos é o que segue.

- A história - Os educadores da antiga Grécia (que elaboraram a base do processo da educação de todos os tempos), já naquela época orientavam os pais a entregarem os filhos aos sábios, quando
estivessem próximos dos sete anos de idade.

- A importância de uma boa base - Os estudos das ciências comprovam que a criança está em processo de formação no período compreendido de zero a sete anos (ver Daniel Goleman, livro "Inteligência Emocional", pág.35) quando o físico da criança está em constante transformação, como também e principalmente, os neurônios. Nesta fase que se alicerça a base deste "prédio" ou como diriam os engenheiros, a planta baixa, através da formatação da personalidade do futuro cidadão em vigas fortes e sapatas profundas, do inculcar de valores, da cidadania, do bom senso, justiça social, democracia, liberdade, especialmente através do exemplo dos pais e das boas instituições pré-escolares. O sábio construtor-educador não lançaria maiores pesos se ela não estiver pronta.

- O método utilizado - Existe diferença entre o método de ensino nas instituições educacionais: nas instituições pré-escolares e no ambiente familiar, a questão pedagógica se desenvolve basicamente sobre a parte concreta (brincadeiras, dramatizações, jogos, pinturas, colagem, dobraduras, tempo livre,...), enquanto que nas escolares são trabalhadas as abstratas, ou seja, o conhecimento, pela utilização da inteligência lógica e a lingüística eis porque os neurônios estão prontos (ver Robert Kyiosaki, o livro "Filho Rico, Filho Vencedor"). Assim, o aluno de pouca idade não entende o método da escola.

- Queimar etapas - Na construção de um prédio, não se pode deixar lacunas ou fazer uma má construção, sob pena de comprometer o edifício. Assim também acontece no "prédio humano", pois ele se constrói dia após dia, mês após mês - tanto é que para nascer foram necessários nove longos meses - e esta aprendizagem, em grande parte, é feita pela repetição. Quer dizer, o aluno com seis anos na 1ª série, estará, em média, 300 dias atrasado em experiências, alegrias, frustrações, tombos, correrias, brincadeiras em relação a seus colegas. Entrar muito cedo na escola é a mesma coisa que deixar um espaço vazio no 6o andar de um "prédio" de 74 anos.

- A educação da escola - Diz-se que a educação vem de casa e a escola deve ensinar. Este ensino se entende genericamente na transmissão do conhecimento, a interpretação de dados históricos, de dados atuais e projeções de futuro, a interpretação dos códigos da sociedade. Contudo, neste serviço oferece aos alunos situações de educação incontroláveis, como, por exemplo, formas diferentes da educação do lar, que o aluno supere dificuldades, entre elas saber perder, cumprir horários, resolver temas, sofrer a pressão dos pais no caso de dificuldades, assumir compromissos... Percebe-se que ler e escrever, não são os únicos ensinamentos da escola, mas aprender a conviver com muitas pessoas diferentes, crescer física, psíquica, emocional e espiritualmente com seus colegas e professores, posicionando-se perante situações erradas, errar, conviver com um colega não comportado, é algo que exige maturidade.

- Ler antes da escola - Ler e escrever antes de entrar na escola, pintar, recortar, brincar de "escolinha", não atesta a capacidade da criança em absorver todo este contexto, muito menos teste psicológico ou parecer de educador torna apta uma criança a esta nova realidade. Para que o aluno vença estes obstáculos, é fundamental que esteja preparado e maduro.

- Ler antes da escola II - Outros ainda dizem que a criança já nasce lendo. Realmente, na comparação da aprendizagem com os pais, o aumento do conhecimento exponenciou nestes últimos anos, de sorte que a quantidade de informação gerada por ano no século 16 era de 200 livros/ano, ao passo que só no ano de 2002, houve 15 trilhões de livros editados, afora todo o aspecto cultural e incentivo à leitura promovidos no âmbito familiar. Quantas horas de televisão a criança já assistiu antes de entrar na escola? O que aqui se discute não são técnicas ou formas de adiantar o conhecimento, mas a capacidade de suportar uma carga de conhecimentos, mais formação, mais experiências, mais vivências de uma criança ainda não apta a suportar tanto peso. Do conhecido jornalista e também especialista em educação Gilberto Diemenstein: "O máximo da excelência (sucesso) é igual ao máximo do esforço educacional, que é ligado ao prazer da conquista e à dor do processo... Você acha que o Guga tem o prazer em ficar 05 horas treinando na quadra?".

- A sabedoria - O aluno dos nossos dias tem muito mais conhecimento que os pais, muitos até entram sabendo ler e escrever. Contudo, se o conhecimento fosse condição para uma sociedade melhor, evoluiríamos para outro estágio melhor e não haveria mais guerras. Percebe-se que precisamos ainda educar-nos para a sabedoria e ela não se obtém "queimando" etapas ou apenas no puro conhecimento, mas ela se constrói ao longo do tempo, dia após dia, com boas amizades, com ótimos professores e boas escolas; pelo cultivo dos valores, convivência com bons amigos, respeito às autoridades e aos mais velhos.

- A reprovação - As escolas infelizmente não divulgam os vários casos de alunos que reprovam por imaturidade. Na reprovação, o que mais traz dissabores não é aquela ao final do ano, mas a reprovação diária: o aluno não compreende a matéria, é empurrado aos estudos, sofre a ação dos professores e todos os envolvidos estão aflitos. E aqueles que disseram que a criança está preparada ao entrar cedo na escola, pagarão aos pais todo o investimento por um ano letivo? E o sofrimento, quanto custa?

- A criança deve brincar - Até os 07 anos, a infância deve ser cultivada ao máximo. Depois disto vem os estudos e, então, adeus brincadeiras! Porque colocá-la na escola, tirando o seu direito constitucional de brincar? E se a expectativa de vida aumentou para 72 anos, o período da infância também não deverá ser maior? Deixemos a criança ser criança! Nós adultos, não podemos outorgar-nos em tirar das crianças o seu direito à brincadeira, à alegria e ao ócio, ou forçosamente torná-las adultas.

- O tempo é uma das respostas - Em educação, as nossas ações somente têm retorno depois de muito tempo, talvez dentro de 20 anos! Quer dizer que o tempo é quem vai apontar se as decisões em educação foram acertadas (ou não). E em educação, a melhor orientação de futuro é a experiência e os exemplos do passado.

- Único no mundo - Não existe criança pessoa igual no mundo. Isto quer dizer que cada um tem necessidades especiais, sendo que a escola e o sistema educacional podem muitas vezes não atendê-las, pois oferecem uma educação genérica. Assim, a maioria das escolas não está preparada para atender esta criança, devendo os pais procurarem uma escola especialista neste assunto, caso entenderem que ela esteja preparada para tal.

Concluindo: O assunto, em decorrência de sua complexidade, deve ser tratado com muita cautela, para não prejudicar um futuro cidadão em potencial. Contudo, os fatos que vivenciamos diariamente nos obrigam a divulgá-los, pois muito grande é o prejuízo àquele aluno que entrar cedo numa escola, especialmente agora quando se discute em ampliar o ensino fundamental em um ano "para baixo", quando se deveria se discutir o oferecimento da 9ª série. Lógico que existem casos em que o aluno está maduro aos seis anos de idade, mas são as exceções. Obviamente que respeita-se especialmente a opinião dos pais, caso tiverem entendimento diferente, pois deles é a primeira e última responsabilidade pela educação dos filhos.

 

Autor deste artigo: Luiz Pfluck - participante desde Sex, 18 de Fevereiro de 2005.

Please register or login to add your comments to this article.

Revista Gestão Universitária - www.gestaouniversitaria.com.br